Laura encarou o garoto como se ele fosse de outro mundo.

- Desculpa! – disse ainda abalada com os últimos acontecimentos – Você está falando comigo?

- É óbvio que não – ele se encaminhou para beijar a mãe no rosto e abraçá-la pocessivamente – eu estou falando com a minha mãe, Laura.

- Hem? – ele sabia seu nome e acabava de frisar que a “sua” mãe era a dele, não sabia como reagir, ela estava em estado de choque, piscou várias vezes tentando acordar de um sonho ruim e ficou olhando para eles estática.

- Conversaremos em casa – a mãe quebrou o silêncio – Entrem no carro você dois.

Luiz Henrique abriu a porta do carro para a mãe entrar enquanto a olhava desafiador, incitando-a a contradizê-lo. Ela não queria discutir, sua cabeça latejava, pois era muita informação para assimilar num mesmo dia, suspirou resignada e antes que tentasse entrar no carro, ele a surpreendeu abrindo a porta para ela também.

A viagem seguiu silenciosa, cada um ruminando os seus pensamentos, sua mãe fingia estar concentrada na direção e os dois no banco traseiro olhavam para a paisagem fora da janela para não precisar falar.

Então, a sua mãe havia realizado o sonho de morar num daqueles casarões com piscina, eles entraram na Zona Leste, o tipo de vida parecia ser diferente deste lado da cidade e pensar que nem era tão longe, uma hora de viagem, mas a sua mãe deixou de vê-la todos esses anos e agora ela descobriu a razão.

A família nova de sua mãe morava num condomínio fechado, cada morador ostentando e competindo com seu vizinho para manter a grama aparada e mais verde, o carro do ano na garagem e o cachorro com pedigree. Laura debochava em pensamento, mas o irônico de tudo isso era que antes de hoje era a vida que lhe atraía.

O carro finalmente parou numa casa branca de três andares com janelas grandes, não era suntuoso se comparada às outras casas vizinhas, mas se comparada ao cubículo que vivia com seu pai, aquele lugar podia ser o paraíso. Ela saiu do carro, porém não se sentiu entusiasmada, pois não saber o que lhe esperava era mais que angustiante.

- Venha, Laura! – a mãe a abraçou carinhosamente e ela se deixou levar, o desconhecido era assustador demais. – Janaína! Nós chegamos!

Janaína era uma mulher simpática, de olhinhos vivos, troncuda e da cor de uma jabuticaba. Laura sentiu alívio por ela ser uma entidade amistosa.

- D. Jaqueline o jantar vai ser servido na hora. – disse à mulher que era prática – O Marco Aurélio está no quarto, tava ansioso com a sua demora. Bem-vinda Laura – agarrou-a pelo braço já a conduzindo para escada – vou te mostrar o teu quarto.

Sem nem mesmo esperar pela resposta da mãe subiu com ela escada a cima, só viu pelo rabo do olho que Luiz Henrique a beijava na testa, não teve tempo nem para respirar quando deu de encontro com uma cadeira de rodas em seu caminho.

- Olha pra onde vai, menina! – Janaína disse indignada – Tudo bem contigo Marco Aurélio?

Bem, era ela quem estava no chão com a perna doída, ia dizer isso à mulher, porém ao levantar a cabeça empalideceu, isso estava virando rotina, ficou muda de choque ao ver quem estava na cadeira de rodas.