Fazia oito meses desde que Laura havia partido, sem deixar notícias. Ele sentia como se já não tivesse mais um lugar para voltar, de sua varanda olhava para a janela trancada ao lado e suspirou ao reviver todas as lembranças, todos os momentos que eles haviam passado juntos naquela casa.

Nada havia mudado para ele durante todo o tempo que esteve fora, continuava perdidamente apaixonado por ela enquanto Bárbara dera a volta por cima ficando noiva de um americano. Ele havia super lotado todos os semestres com todas matérias que pudesse dar conta, mas nada disso foi capaz de tirá-la de seus pensamentos, nem mesmo saaber que ela estava casada com seu irmão.

Tinha terminado a Faculdade de Administração mais cedo e esperava o semestre seguinte para fazer o mestrado quando soube que Marco faleceu. Um desespero havia se apossado dele, sentia a perda, a dor, e a saudade. Um misto de incredulidade, raiva por vê-lo partir e impotência por saber que a morte era o único evento que ninguém podia alterar.

Único... Que ironia! E no entanto, o amor por Laura também ele não conseguia alterar e guardava no íntimo um resquício de esperança que nada teria mudado para Laura, assim como nada havia mudado para ele... E uma voz lhe dizia “esta é a sua chance”, como pôde pensar em algo tão idiota?

Quando a viu sofrendo calada quis estreitá-la nos braços, ter retirado a tristeza de seu olhar, aplacado a dor que sentia emanando de seus poros até perceber que ela não o via, ela olhava para Marco através dele, ele não estava preparado para perdê-la e agora seu peito sangrava. Bárbara surgiu como se fosse a sua consciência.

- Você vai deixar por isso mesmo?

- Deixar o quê?

- Eu não te reconheço mais, Luiz! Encontre-a e acabe logo com isso. Tire as suas dúvidas. Por pior que seja a resposta que encontrar, pelo menos o fará andar para frente e não ficar empacado.

- Você não viu o olhar dela? Ela nem me reconhece mais...

- Todos nós estávamos abatidos, chocados, tristes... Talvez não estivéssemos enxergando com clareza, mas agora... Já faz oito meses... O que você perde sabendo a verdade?

- O coração?!

- Você já não tem um há muito tempo, com certeza não está aqui com você, vá buscá-lo de volta!

- Você tem razão, mas não sei por onde começar.

- Vá até Jacqueline! Ela deve saber, oras...- ela riu à contra-gosto – Luiz, eu estou abismada com a sua incapacidade de pensar...

- Tudo bem! Voltarei a ser o Luiz, me dê alguns dias está bem?

- Você não tem dias.

- Como assim?

- Laura, está de volta! Jacqueline telefonou avisando, mas... Ela não vai ficar por muito tempo, está indo pra Itália.

- Itália?

- Vá antes que a perca de vez ou se perder pelo menos tentou, Luiz.

- Você tem razão... – Beijou-a na testa – Vou agora!

- Então, agora partirei tranqüila pra Miami. Lúcio me espera.

- Tranqüilo! Eu estarei bem... Torça por mim de qualquer forma.

- Sempre! Disponha – sorriu ao vê-lo sair correndo.