Mesmo depois da insistência de Sakura, as garotas só a deixaram dormir depois da meia-noite. De modo que Sakura acordou com uma cara horrível quando o maldito despertador do celular tocou e o aparelho tremeu ao mesmo tempo.

— Que droga! Quem foi o infeliz que ligou o despertador? — era Ino, acordando de repente, com uma cara ainda pior que a de Sakura.

— Eu, porca.

— E por quê?

— Porque eu quero receber salário no fim do mês. Vai, levanta. — e Sakura levantou e puxou a amiga consigo. — Fica de pé, Ino, vai cair em cima da Tenten!

Ino habilmente (para quem tinha acabado de acordar) passou por cima da amiga grávida, e ficou de pé, longe da cama, ao lado de Sakura.

— Eu estava bem no meio de um sonho! Estava quase chegando nos finalmente com o cara graçinha do Departamente de Artes! E você está com uma cara horrível, credo. Estou vendo que vou precisar de muita maquiagem pra disfarçar suas olheiras hoje.

— Isso é porque você ainda não se viu no espelho. — debochou Sakura.

— Mas estar pior do que você é impossível, testuda! — disse Ino.

— O espelho fica bem ali. — a rosada apontou para o banheiro.

Ino estreitou os olhos para a amiga e foi, a passos hesitantes, em direção do banheiro.

— AHHHHHH! Que horror! — a loira gritou para sua imagem refletida no espelho. — Essa luz parece que realça todas as minhas imperfeições! Dá até pra ver os poros! Que horror, meu Deus! Mas... bem, pelo menos a minha testa tem um tamanho normal... né, testuda?

— Bem, e eu não sou porca...

— Você é uma chata, Sakura. Mas tudo bem. Veja só, se você fizer o café da manhã, e faça coisas gordurosas como ovos com bacon, que se dane a dieta!, eu faço a sua maquiagem, e te deixo apresentável para o gatão do Gaara. Falando nisso, você já ligou pra ele? Você sabe que só tem uma semana para passar com ele, não é? Aproveite bem! Aliás, estava pensando em chamar a Konan para ser modelo, o que acha?

— É uma boa idéia, a Ko-chan vai adorar. E acho que o Sasori também. — respondeu Sakura, indo para a cozinha. — Vou fazer os seus ovos com bacon. Vá arrumando a maquiagem.

— Já ligou pra ele?

Sakura suspirou, antes de responder:

— Ainda não.

— Posso ligar?

— Não.

— Por favor?

— Nem.

— Onde está a sua bolsa?

— Você não vai ligar, Ino! — e Sakura a arrastou para a cozinha consigo. A uma distância segura, onde ele pudesse ter certeza de que Ino não planejava escapar e ligar clandestinamente para o ruivo. — Sente aí, e fique quieta.

— Você é tão careta, amiga! Não faço ideia do motivo para tanta recusa! Até parece que eu vou falar alguma bobagem para ele ou algo do tipo. Você sabe que não! — Ino disse, fazendo uma cara marota nada confiável. — Celular?

— De jeito nenhum, porquinha! Eu mesma ligo.

— Certo. Então faça isso agora.

Sakura a encarou, incrédula.

— Não vou, não!

— Vai sim! — gritou Ino. Com agilidade, se levantou da cadeira, driblou Sakura e correu até onde a mala da rosada estava. Encontrou o celular e a pasta amarela que a amiga trouxera, e digitou o números do celular do ruivo.

Sakura chegou depois de alguns segundos, e viu a loira com o polegar no botão “discar”, como se fosse uma ameaça.

— Ou você fala, ou eu falo — disse a loira. E apertou o botão.

Cinco segundos de silêncio mortal, e o barulho do telefone chamando parecia cada vez mais alto.

— Ah, me dê essa porcaria! — falou Sakura, e arrancou o celular da mão da outra, enquanto fuzilava-a com o olhar. Pensou em cancelar a chamada, mas assim que ia apertar o botão, uma voz pergunta:

— Alô?

Sakura não respondeu, e Ino gritou em expectativa:

— Fala alguma coisa, testuda! Sua lerda! Essa sua testa enorme está atrasando o seu raciocínio?

— Shhhh, Ino! — falou para Ino, tampando o telefone. — Errr... Alô? Gaara?

— Quem fala?

— Hum... É a Sakura.

— Quem?

— Sakura. Da Whim. Coleção de fotos, seu idiota, ladrão, e... — Sakura dizia, irritada, sendo interrompida por Ino.

— Sua idiota, não fale assim com ele! Seja gentil, fofa e carinhosa, senão você vai perder esse aí também... — disse a loira. Sakura levantou a mão em sua direção e fez um sinal nada bonito com o dedo do meio.

— Ah. É a Cereja.

— É Sakura. — continuou Sakura.

— O que você quer?

— Grosso. Tínhamos que... hã... marcar de nos encontrar para começar a trabalhar nas fotos para mostrar ao Sasori.

— Tá. Eu tenho todo o dia livre.

— Ótimo, fósforo. Eu vou para o escritório daqui a pouco, então... será que você pode me encontrar lá?

— Eu vou ter que ir atrás de você?

— Exatamente! Aparece lá. Sabe onde é?

— Não.

— Ligue pro Sasori que ele te fala.

— Quando?

— Lá pelas dez da manhã. Está bom pra você, fósforo?

— Tanto faz.

— Ótimo.

— Hum.

E Sakura desligou o celular na cara dele.

— Credo, Sakura, isso foi horrível. Da próxima vez eu falo com ele. Mas o que vocês combinaram? Se é que combinaram alguma coisa, pelo jeito que você foi super grossa com ele. Ainda não acredito. Nunca mais deixo você telefonar para um homem. A menos que seja pra terminar um relacionamento. Olha que ideia ótima: quando eu quiser terminar com alguém, é só ligar e passar o telefone pra você! Gostei. Farei isso.

Sakura ignorou os comentários.

— Ele vai me encontrar no escritório, às dez. Então, vamos logo com isso.

— Ainda são sete horas da manhã! Temos que ir tão rápido? E a Tenten e a Konan?

— É, tem que ser rápido, sim. Deixamos um recado pra elas, ok? Agora sente aí e coma.

oOoOoO

Gaara encarava o celular com um sobrancelha arqueada.

— Ela desligou na minha cara — falou para si mesmo, perplexo. Piscou e continuou encarando a tela do celular.

— Que você disse? — era Kankuro.

— Ela desligou na minha cara... — Gaara nem se importava com o irmão. — Na minha cara!

— Hein?

— Ela desligou na minha ca...

— Ahã, ahã. Já entendi. “Ela” — Kankuro fez aspas com os dedos. — desligou na sua cara. Deixa eu ver.

Kankuro arrancou o celular da mão do irmão, e com alguns cliques observou as últimas chamadas.

— Hahahaha. Não acredito! Ela desligou na sua cara! — e ria, apontando o dedo na cara de Gaara. Então se voltou para o corredor: — TEMARI, A SAKURA DEU UM FORA NO GAARA! HAHAHAHAHAHAH! O Gaara levou um fora!

— Não levei um fora!

— Nããããão, claro que não.

— Ela só desligou na minha cara.

— “Desligar na cara” é sinônimo de “fora”, no meu vocabulário.

— Atualise seu vocabulário, então. Está meio atrasado. — Gaara bufou, e ergueu o braço para tirar o celular das mãos do irmão. No minuto seguinte, a porta é aberta por alguém que já entrava fazendo barulho.

— Que história é essa de fora? — perguntou Temari.

— O Gaara levou um fora da Sakura!

— Não acredito!

Gaara revirou os olhos.

— Vocês dois só podem estar tirando com a minha cara. — falou consigo mesmo. — Primeiro ficam dizendo que eu vou casar com ela, e depois ficam jogando na minha cara que ela... desligou a porcaria do telefone na minha cara.

— Os dois fatos são verdade. Eu aposto que vocês dois vão acabar juntos. — disse Temari. — E seja menos frio com ela, okay? Seu grosso. Aliás, para que ela ligou?

— Eu vou encontrar com ela no escritório pra começarmos as fotos do Sasori.

— Huuuum, encontrar, é? — perguntou Kankuro, malicioso. Temari o socou no braço.

— Isso é ótimo! — disse ela. — Que mais?

— Só. Vou ligar para o Sasori. Não tenho o endereço.

— Eu tenho! Espera só um minutinho — Temari falou, pegando sua bolsa, que estava jogada em um canto qualquer, e tirando um cartão lá de dentro. — Aqui está. Endereço, número de telefone, etc etc. Pode ir se encontrar com a sua musa dos cabelos rosa, maninho! Chame ela pra sair, leve ela para um restaurante bonito, dê um beijo apaixonado e...

Gaara arrancou o cartão da mão dela de qualquer jeito, pegou sua melhor máquina fotográfica, sua carteira e celular, e saiu, antes que a loira pudesse terminar o que dizia.

Do lado de fora, ouviu a voz de Temari berrando:

— NÓS TE DESEJAMOS BOA SORTE, GAARA!

Ignorou. Seguiu na direção da porcaria do metrô, lamentando-se por não ter um carro.

oOoOoOo

Sakura digitava freneticamente no notebook, tomando um gole do copo de chocolate com caramelo da Starbucks a cada cinco minutos. Ino, na mesa em frente à sua, observava o post-it grudado no notebook e ria internamente, enquanto lixava as unhas. Sakura nem tinha percebido que o papel amarelo fluorescente ainda estava grudado lá.

— Testudinha do meu coraçãããão, já são dez horas... — Ino cantarolou.

— Que é que tem?

— O seu prícipe encantado está chegando logo, logo. Como se sente?

— Com os punhos coçando. Eu vou dar um soco na cara dele se ele não chegar em quinze minutos. — Sakura resmungou. — E aí vou demití-lo, e todos ficam felizes para sempre! The end!

Ino revirou os olhos, e olhou para a porta. Depois de alguns minutos, viu cabelos muito vermelhos aparecerem em sua visão.

— E a visão do paraíso acaba de chegar! — a loira cutucou o ombro de Sakura com a ponta da lixa. — Olha lá o seu príncipe, amiga! Olha, olha!

Sakura revirou os olhos e olhou para o ruivo. Cabelos revoltos e vermelhos como fogo, pele branca como marfim, olhos verde-água como se fossem feitos de água do mar, e a camiseta marcando os ombros largos e bem definidos, assim como a calça jeans marcava as coxas. Ah, onde está o maldito ar quando se precisa dele? Ela nem tinha percebido que segurara a respiração. Homens bonitos (ok, lindos de morrer) provocavam isso nela, mesmo que fossem grosseiros, mal-educados, machistas e tudo o mais.

— Testuda, limpa a baba, discretamente... Hehehe... — Ino deu outra de suas risadinhas sinistras. Sakura olhou feio e deu um leve tapa nela, e a loira girou a cadeira, dando o máximo possível de privacidade aos pombinhos, voltando a falar com vai-saber-quem no telefone.

Já Gaara, tinha o rosto impassível de sempre. Olhou a para a loira estranha que era amiga de Sakura e depois voltou sua atenção à Haruno. Nossa, agora que olhava com atenção, ela era mesmo bonita. Tinha cabelos de uma cor rosada exótica e olhos verdes mais voltados para o tom esmeralda. Apesar de ter a cara amarrada e olheiras abaixo dos olhos, podia perceber que seu rosto era bonito e em forma de coração, e os lábios eram grossos e sensuais. Mas ela era teimosa como uma mula, briguenta e cabeça quente.

Com alguns passos, e fazendo muitas mulheres do andar suspirarem, Gaara chegou até a mesa de Sakura.

— Está atrasado 10 minutos. Já posso despedir você, fósforo.

— Mas você não vai. — ele respondeu. Um papel fluorescente chamou sua atenção por alguns segundos, fazendo um sorriso presunçoso nascer em seus lábios.

— Por que acha isso? — Sakura decidiu que aquele sorriso não era um bom sinal.

— Porque sou eu o ruivo gostoso que você está procurando. Né, Cereja? — e ele tirou o post-it que estava colado do notebook, achando graça quando ela ficou mais vermelha que tomate maduro.

— Ruivo grosso, machista e idiota, você quer dizer, certo? — disse ela, nervosa e com o coração a mil por hora, enquanto arrancava o papel da mão dele e o jogou na cabeça da loira, culpando-a por sua desgraça, e ignorando o choque que percorreu seu corpo quando suas mãos se tocaram por alguns segundos.

Gaara, sentindo o mesmo choque, afastou-se bruscamente, assustado por dentro, mas sem mover sequer um músculo da face. O que tinha sido aquilo?

— Não se atrase de novo, tudo bem? — continuou ela, sem graça. — Na Whim nós não tolaramos atrasos, então... Da próxima vez eu, hm, demito você... Estou, erm, falando sério.

— Certo, não vou me atrasar, é só que... — ele, também nervoso, percebeu que estava falando demais e se explicando sem necessidade. Se recompôs rapidamente. — Bem, vamos logo com isso, Cereja. Você é quem está nos atrasando agora.

Tomada pela raiva pela última frase dita por ele, enquanto ela tentava melhorar as coisas — uma tentativa mínima, mas ainda assim uma tentativa —, Sakura levantou-se da cadeira, pegou sua bolsa, ajeitou a jaqueta e foi andando na frente do outro.

— Ruivo idiota. Argh!