POV Taeyeon

Eu levei um susto tão grande quando vi na sorveteria que Jessica estava vindo em nossa direção com Yoona, que já imaginei que ela não tinha conseguido conversar direito com a filha dela, e que agora tinhamos um senhor problema em mãos. Mas Yoona chegou alegremente conversando com Jessica, que quase não respondia. Coitada... Eu devia ter deixado ela dormir um pouco...

Yoona estava esquisita, mas conversava normalmente com a minha filha fofa. Aish... Dá vontade de apertar a bochecha dessas duas maknaes. Tentei procurar o olhar de Jessica várias vezes, mas ela estava tão distraída... Olhava para a rua, para o chão, pro teto... Inflava um pouco as bochechas e evitava entrar nos nossos assuntos. Hyoyeon e eu nos entreolhávamos vez ou outra como se conversássemos pelo olhar, tentando descobrir o que ela tinha. E não conseguíamos.

De qualquer forma, continuamos conversando e chupando sorvete, conversando animadamente sobre diversos assuntos, nos distraindo e rindo da pressa da nossa maknae. Ainda estava preocupada com Jessica, mas conforme continuamos a conversar, prestei menos atenção nisso, focando mais em nosso assunto. Eu tinha acabado de terminar meu sorvete quando Jessica levantou da cadeira graciosamente, dizendo que precisava ir ao banheiro. Não demorei um segundo em levantar, me oferecendo para ir com ela. Não devemos ter oportunidade melhor que essa para conversarmos sobre a conversa dela com Yoona.

Andamos pela sorveteria, quando Jessica parou no balcão, me chamando atenção. O atendente não demorou nada para chegar, sendo simpático, já nos perguntando se precisávamos de algo.

- Vocês tem uma tesoura? - Sica perguntou para ele, me fazendo arregalar os olhos. É, mais preocupada impossível. Quem essa louca quer matar? - Poderia me emprestar por alguns minutos, eu já devolvo?

- Mas é claro! - O atendente estranhou um pouco, mas emprestou a tesoura para minha amiga. Suspirei aliviada ao perceber que a tesoura não tinha ponta. Isso se resumia a um problema a menos. Pelo menos seria um problema “grande” a menos. É, eu devia ter deixado ela dormir um pouco...

Ela saiu andando, indo em direção ao banheiro, e a acompanhei, um pouco preocupada. Entramos no banheiro feminino e vi ela se aproximando do espelho, mexendo no cabelo, na franja. Lavei a mão na pia ao lado, ainda me preocupando com aquela tesoura.

- Eu falei com Yoona... - Ela começou a falar, ainda olhando para o espelho.

- Ah é? E foi tudo bem? Conseguiu falar com ela? - Sequei minhas mãos, olhando para ela, curiosa e preocupada.

- Foi sim... Você sabe, Yoona é uma ótima pessoa... - Ela me responde com um tom entediado, pegando a tesoura e me assustando muito.

- Jessica... O que você vai fazer com essa tesoura? - Perguntei sem conseguir esconder meu medo dela fazer algo.

Ela parou de olhar pro espelho, olhando direto para mim, ainda segurando a tesoura, mas sem ergue-la da pia. Por enquanto, né? Ela pediu a tesoura por algum motivo, então pretende usar... O que está me preocupando é o motivo desse pedido. Ela voltou a olhar para o espelho, mexendo mais um pouco no cabelo. Segurou uma mecha de cabelo. Sabe aquela que estava caindo no olho dela? Então... Essa mesmo. Ela ergueu a tesoura, e quando entendi o que ela ia fazer, segurei a mão dela, impedindo-a.

- Ah, qual é? Você pode sobreviver com essa mecha de cabelo! - Eu tremia um pouco, mas... É sério que ela pediu uma tesoura pra cortar o cabelo? Jessica, você está delirando por dormir pouco por um acaso?

- Eu... Vou... Ficar... Louca... Com ela! - Ela me respondeu com um olhar de desespero, que me fez rir. Ela fez um bico involuntário, tentando soltar a mão.

- Que acha da gente ligar pra cabeleireira cortar? Assim não tem nenhum perigo e você não suja a tesoura da sorveteria... - Tentei apelar pro bom senso dela. Bom senso da Jessica... Por favor apareça e faça essa garota soltar essa tesoura...

- Mas... Eu... Vou... Ficar louca... Desse jeito! - Ela suspirou frustrada e aproveitei essa chance pra tirar a tesoura da mão dela.

- Calma... Ligamos pra cabeleireira assim que sairmos do banheiro... - Olhei para ela, sorrindo calmamente, um pouco dorky. Ela não achou graça nenhuma. Droga, sempre esqueço que estamos falando de Jessica Jung... - Então... - Chamei a atenção dela. - Como foi com a Yoona?

- Então... - Ela começou a falar, mexendo de novo na mecha, tentando deixá-la de forma que não incomodasse tanto. - Eu consegui conversar com ela, né... E... Ela realmente gosta de Yuri... - Sorri muito feliz, sem saber como expressar a felicidade em saber que elas podem ser felizes juntas. Foi quando pensei no que Jessica disse...

- Peraí... Gosta... Ou “gosta” da Yuri?

- Ela ama Yuri, Taengoo... Eu pude ver isso no olhar dela... E no jeito que ela me respondeu... - Jessica me respondeu tranquilamente. É estranho, parece que realmente ela sabe do que está falando... Estranho... Bem estranho...

- Tá, então é certeza que Yul gosta de Yoona, e que Yoona gosta da Yuri, certo? - Perguntei só para confirmar.

- Sim, é certeza... - Ela me respondeu entediada.

- Então... Podemos tentar juntá-las? - Perguntei com um pouco de medo da resposta. Mas ela apenas suspirou antes de me responder.

- Depende de como... Essas duas são um pouco tímidas pra essas coisas... E não podemos nos meter muito... Porque... Tem que ser um mérito delas, não acha? - Ela me respondeu, e tive certeza que ela pensava como eu. Sim, eu concordo...

- Com certeza... Ninguém vai pegar as duas, trancá-las no mesmo cômodo e dizer “só vão sair quando contarem o que sentem!”...

- Então... No que está pensando? - Ela me perguntou segurando um bocejo. Jessica, realmente estou com dó de você, mesmo você dormindo mais do que nós...

- Então... Lembra que hoje era para ser nosso dia de folga? - Ela me olhou erguendo uma sombrancelha, como se eu estivesse louca de achar que ela esqueceria algo assim. - Então... Não vai ter ninguém no dormitório além de nós... Ou seja... Não teremos comida...

- Tá... E daí? - Ela me perguntou com um tom frio, me fazendo parar por alguns segundos antes de continuar.

- Lembra o entregador de pizza que passou cantada em algumas meninas? - Jessica me olhou, finalmente entendendo onde eu queria chegar. - Acha que a Yul é ciumenta?

Jessica sorriu como nunca vi antes. Não precisava de resposta. Se tudo corresse como o esperado, Yoona iria pegar nosso jantar, e iríamos instigar Yuri a ir atrás dela, por ciúmes. O resto, acho que o tempo faria, e talvez nem demorasse muito. Saímos do banheiro, devolvemos a tesoura para o atendente e voltamos para a mesa. Não demoramos muito para irmos embora... Agora era só falar para as outras meninas sobre o entregador de pizza. O resto... Só depende dessas duas.

É, acho que nosso plano será daebak!

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POV Yoona

Eu não deveria ter falado para Jessica-umma sobre a minha Yul... Passei uma boa parte da tarde enquanto ensaiávamos evitando o olhar dela, como se ela pudesse ler minha mente e descobrir o que pronunciei no almoço para a mãe mais preguiçosa existente na face da Terra.

Certo, certo. Não pularei etapas. Não sei como, Jessica-umma me convenceu a tomar sorvete com ela. E lá encontramos Taeyeon-unnie, Hyunnie e Hyo-unnie. Sim, socorro. Como sobreviver a uma ida à sorveteria com três mães e minha irmã mais nova? Pois é, tenho três mães, dá licença? Mas sabe quando você sente que algo foi planejado? Pois é, não acho que nosso encontro foi casual. Na verdade, eu poderia dizer com certeza que não foi casual! Mas Jessica-umma estava um pouco esquisita. Quer dizer, um pouco não... Muito!

Ela parecia alheia a todos os assuntos que começávamos, além de parecer ter pressa em ir embora e ficar olhando perdidamente para a varandinha que sentamos para tomar nosso sorvete. E não é coisa da minha cabeça. Tae-unnie e Hyo-unnie também perceberam e estranharam. Hyunnie parecia preocupada com o horário, e ficava nos apressando. Acho que só por isso ela não reparou que nossa colega estava um tanto agoniada. Será que é porque ela me falou sobre... Gostar  de alguém? Ou será que... Olhei ao redor uma a uma das meninas que estavam sentadas na mesa. Será que é alguém que está aqui conosco? Não... Provavelmente não. Ela nem me disse que era uma garota. Estou só supondo que seja pelo fato dela não ter estranhado eu gostar da Yul.

Chupamos nosso sorvete ainda conversando. Jessica-umma foi ao banheiro e Tae-unnie se ofereceu de ir com ela. Percebi Hyo-unnie olhando para Sica ainda com um olhar atento, como se estivesse preocupada, até sumir da visão dela. Depois disso, voltou a conversar com Hyunnie e eu animadamente como se nada tivesse acontecido. Tirou um pouco de sarro da pressa de Hyunnie, roubou um pouco do final do meu sorvete e fez piadas. Quando as duas voltaram do banheiro, tirou muito sarro da cara de sono da nossa Ice Princess. Tivemos mais um momento agradável onde conversamos e rimos animadamente, até percebermos que estava quase na nossa hora.

Andamos ainda conversando até a sede e fomos direto para a sala de ensaios. As outras garotas já estavam na sala, com excessão de Sunny. Tae-unnie foi atrás da danshin oficial do nosso grupo, enquanto eu me agarrava a Hyunnie, tentando fugir de Yuri-unnie... Minha Yuri-unnie. Nossa, como eu sou covarde...

Não demoramos a recomeçar nosso ensaio. Eu estava entretida. Tenho uma técnica para não ficar errando muito as coreografias quando estou só aprendendo-as. Sempre acompanho as outras meninas, só tomando cuidado com o posicionamento. Assim, deixo meus movimentos um pouco atrasados em relação às minhas irmãs, para poder ver os movimentos delas e ver se farei o certo ou não. Nisso o espelho é um ótimo aliado! Enfim, continuamos dançando até sermos interrompidas por SunYeon entrando totalmente atrapalhadas na sala de ensaio e nosso manager-oppa querendo torcer o pescoço das duas gentilmente até elas não se mexerem mais. O que? Não me olhem assim! Acham mesmo que ele é bonzinho depois de nos tirar nosso precioso dia de folga? Antes dele fazer uma besteira, ele saiu da sala de ensaio pisando duro, enquanto a dupla atrasada se aproxima de nós.

- Deixa eu ver se entendi... Nós que perdemos nosso dia de folga, e ele que fica estressado? - Yuri-unnie perguntou num tom de voz engraçado, imitando o tom de voz de Fany falando alegremente em inglês e seu eye-smile de forma falha, e todas nós começamos a rir. Todas, inclusive a nossa coreógrafa. Ainda rindo de forma descontrolada, olhei para Yuri-unnie e vi ela me olhando com os olhos brilhantes, também rindo. Mas provavelmente ela estava rindo de Sooyoung batendo no braço dela enquanto ria. Senti uma leveza em ver o olhar brilhante dela encontrando o meu... Ela não ficou chateada pelo que aconteceu mais cedo... Por eu ter fugido do olhar dela mais cedo. Uma vontade avassaladora de ir até ela me encontrou, e antes que eu pudesse pensar duas vezes, estava abraçando-a ainda rindo, sentindo-a me abraçar com emoção. Tive alguns poucos segundos nos braços dela, que mais pareceram uma eternidade num paraíso só nosso para mim, até que nossa coreógrafa parou de rir e começou a nos convencer a voltar a dançar.

Quase tive um ataque do coração logo em seguida. Sim, minhas mãos começaram a suar frio quando ela me soltou do abraço, mas deslizou as mãos dela pelos meus braços. E segurou minhas mãos, ainda olhando diretamente para os meus olhos. Fiquei nervosa. Não posso esperar nada dela. Não assim. Não agora. Ela não gosta de mim! Não como eu gosto dela! Yoona, pare de sonhar e vá dançar! Faça algo! Você não pode deixar ela perceber o que você sente! Isso acabaria com a amizade de vocês!

Foi só pensar em perder a amizade dela... Que desviei o olhar um pouco corada, e soltei minhas mãos das dela, me afastando. Yuri. Minha Yuri. Ela não gosta de mim. Eu sei disso. Ela só... Eu sou só uma irmã mais nova para ela. Alguém que ela quer proteger. Que ela acha que precisa proteger. E que entrou pra família dela como uma irmã mais nova. Uma irmã que talvez ela sempre quisesse ter... É, eu me afastei sem pensar que ela poderia ter se machucado com isso... Não pensei nisso... Pensei só mais tarde, quando me ocorreu que atitudes como essa poderiam estar fazendo-a se afastar de mim... Mas por enquanto, eu só queria que ela não percebesse.

Voltamos a dançar comigo me sentindo triste, cansada... Esgotada. Nunca consigo evitar de pensar que ela só me vê como uma irmã. Ela não pode descobrir. Não pode...

Terminamos nossos ensaios de hoje só seis e meia da tarde. Se bem que “só” e “seis e meia” não deviam ser usados juntos, né? Claro, nosso oppa voltou pra sala de ensaios um pouco mais calmo, mas disposto a nos deixar mais cansadas e estressadas. O número de vezes que implicou com Sunny-unnie e Yuri-unnie por dificuldade na coreografia foi tão grande, que todas nós ficamos estressadas. Oppa mal! Até Seohyun comentou isso conosco! E olha que isso realmente não é normal! Nos despedimos da nossa coreógrafa e voltamos para o estacionamento, querendo entrar logo na van, chegar em casa, tomar banho, jantar e dormir.

Entramos na van e um silêncio pesado caiu sobre nós. Estávamos cansadas. Eu pessoalmente estava dolorida e cansada, com a cabeça apoiada no ombro de Hyunnie, que conversava com Hyoyeon-unnie. Jessica conversava em sussurros com a minha Yul no banco atrás de nós, e eu não conseguia ver as outras meninas, por estar escuro dentro da van. Vi Yuri dando um abraço rápido em Sica... E olhei para frente de novo, esquecendo o mundo ao meu redor e me perdendo nos meus pensamentos. Ela não reserva esse cuidado somente para mim... Eu não sou tão especial para ela. Suspirei fundo, com os olhos marejando um pouco, mas me controlei o suficiente para não perceberem que estou com essa dor no peito, enquanto só conseguia pensar nela. Que dia... Hoje conseguiu ser o pior dia de todos que tivemos esse ano, por ser extremamente esquisito e estressante. Acho que realmente não tenho mais um estado emocional estável hoje. Na verdade, se eu ainda tiver um estado emocional, seria de se surpreender.

Não sei como ou quando peguei no sono, mas acordei com Hyunnie me chamando calmamente, com cara de sono, e algumas meninas já fora da van. Segurei na mão dela e saí da van acompanhando-a, percebendo que estava sendo observada. Olhei ao redor e vi minha Yul olhando para o chão com uma expressão tão cansada que me fez ter vontade de levá-la correndo para o apartamento e deixá-la dormir no meu colo. Como eu gostaria de ter essa coragem... Ao invés disso, esperei todas as minhas irmãs saírem da van, agradecemos o motorista e fomos para o elevador. Lá, para evitar meu mal estar rotineiro, abracei Hyunnie novemente, encostando minha cabeça no ombro dela, com uma sensação de estar sendo observada, mas não dei atenção para isso, deixando o cansaço me dominar novamente, quase adormecendo com o carinho que ela fazia no meu cabelo.

Nem percebi que já havíamos chegado no nosso andar. Não senti nada desta vez. Deve ser o cansaço, mais o fato de estar estressada, em conjunto com o meu desgaste emocional de hoje. Entramos no apartamento e estava tudo apagado. Estávamos sozinhas no apartamento. Isso não é normal. Normalmente durante a semana vinha alguém em casa fazer algo para nós comermos. Parabéns, oppa! Você esqueceu de avisar a moça que não teríamos mais um dia de folga, e não temos o que comer. Sim, acho que realmente estou de mal humor... Mas também, porque será não? Nem estou cansada, ou estressada hoje...

Sentamos na sala para decidir o que faríamos. Temos quatro banheiros para nove garotas. Decidimos quem iria tomar banho primeiro, enquanto as outras decidiam o que íamos comer. E fiquei momentaneamente feliz! Vamos comer pizza! Uhul!! Hyunnie para variar pediu uma pizza vegetariana, cheia de folhas, salada de maionese, etc, etc... Ainda não sei como ela come uma pizza assim... Para nós, pessoas normais, pizzas com queijo, e algum recheio que não sejam folhas ou coisas do tipo.

Enfim, todas nós tomamos nossos banhos e pedimos nossas pizzas. Ficamos conversando amenidades, enquanto esperávamos. Quando tocou o interfone, Young-unnie atendeu falando que já iríamos buscar as pizzas.

- Yoona, é sua vez de ir lá buscar! - Percebi algumas meninas se olhando, e senti a preguiça tomar conta do meu corpo. Ah... Não queeeero!

- Eu não! Eu mal to disposta a levantar do sofá! - Respondi para minha unnie, me aconchegando melhor em Fany-unnie, que estava sentada ao meu lado.

- Ah, qual é! Só porque tá com medo de ser aquele entregador cafona de novo? Só porque da última vez ele ficou passando cantadas em você? - Young me provocou e lembrei do incidente da última vez. Não quero vê-lo novamente... Realmente não quero...

- Você nem sabe se ele é cafona mesmo... Você não estava junto! - Fingi que não ouvi o resto do comentário dela.

- Mas você contou as cantadas para nós, lembra? - Young me cutucou novamente, e começou um coro de pedidos para mim ir buscar as pizzas logo, enquanto eu sentia meu corpo cada vez mais pesado de cansaço no sofá.

- Eu vou...

Todas olhamos para a pessoa saindo da cozinha. Yuri estava pegando a chave do dormitório e colocando a carteira no bolso do shorts que estava usando. A vi sorrindo para nós de forma cansada, andando até a porta.

- Mas é vez da Yoona! - Peraí, elas não queriam que fosse logo pegar as pizzas? Que diferença faz quem vai?

- Mas eu não me importo de ir se formos comer logo... Eu quero ir dormir... - Yuri apagou o sorriso do próprio rosto.

- E se ele te passar cantadas? - Sooyoung a provocava cada vez mais, e eu queria interromper aquilo. Eu não quero que ela vá... Ela não...

- Bom, vocês vão ter piadas pelo resto da noite... - Ela abriu um sorriso fraco e saiu do dormitório. Todas nós ficamos uns segundos em silêncio, quando Sunny-unnie me bateu com uma revista enrolada na cabeça.

- Ai! Que foi isso?

- Yoona, e se “ela” for cantada pelo entregador de pizza? Tudo bem?

Senti algo se mexer no meu estômago. Não, não estava tudo bem. Mas... Eu não queria ir...

Mas era minha Yuri...

Olhei para as outras meninas como se pedisse a opinião delas. Vi a cara de espanto de Hyunnie e Hyo-unnie, que definitivamente não estavam entendendo nada... Mas após a resposta de Tae, saí quase correndo do apartamento atrás da nossa Black Pearl.

- O que é que você ainda tá fazendo aqui?

Tive que esperar o elevador voltar para poder descer. Estava com pressa, e de novo não me senti afetada por ele. Quando cheguei no térreo, corri pro lado da minha unnie, que estava tentando segurar as pizzas e pegar o dinheiro na carteira para pagar o motoboy ao mesmo tempo. Eu queria socá-lo. O olhar dele para cima dela... E das pernas dela... Me irritavam profundamente. Peguei as pizzas que minha unnie segurava e fiquei fuzilando aquele mesmo rapaz que uma vez ficou me passando cantadas tão bregas e ultrapassadas que me impediu de jantar pela ânsia que me causou. Enquanto isso, ela procurava dinheiro na carteira para facilitar o troco desse... Cara. Nossa, pare de olhar assim pra ela... Seu... Seu... Nem sei como te chamar!

- Nossa, que academia você costuma ir? Que pernas, hein?! - Pronto, começou... Já posso socá-lo? Diz que sim? Enquanto eu estava fervendo vendo-o dar em cima da minha garota... Ela só ignorava, sem esboçar nenhuma reação, ainda procurando trocados para pagá-lo. - Mas que saúde... Quer ir ensinar a patroa lá em casa não? Porque ela tá precisando, viu... Aliás, não prefere passar uns tempos lá em casa?

Pra mim foi demais. Virei as costas para os dois e saí em direção ao elevador. Eu não sabia que era tão ciumenta, mas não estava aguentando aquilo. Quero distância desse cara. Quero distância de Yul por não ter falado nada. Entrei no elevador e fiquei apertando o botão para fechar logo a porta. E antes que ela fechasse, ela entrou, guardando os trocados que estava separando na carteira.

- Não deu os trocados para ele? - Perguntei o mais friamente possível.

- Não. Dei uma nota alta e falei para nunca mais voltar aqui. Se fosse pra entregar pizza aqui, que fosse outro entregador. - Ela me respondeu um pouco irritada, acho que me enganei. Ela não estava ignorando tanto assim as cantadas dele.

Ela pegou as pizzas que estavam comigo num gesto muito fofo, e ficou segurando, evitando bocejos e demonstrações de cansaço, e por uns instantes até esqueci que estava brava com a minha companheira de quarto. O silêncio no elevador ficou pesado demais. O ar ficou pesado demais. Comecei a suar frio novamente. O tempo não passava. Me encostei na parede do elevador, e comecei a tremer como nunca. Aquela sensação... Tinha me encontrado num momento muito vulnerável. Me forcei a abrir os olhos, para vê-la me encarando com um olhar preocupado. Os olhos dela focavam diretamente os meus. E os meus focavam os delas.  Eu tremia, e ela se aproximava lentamente, como se tivesse medo de quebrar uma barreira que eu ergui. Sim, agora eu vejo que fui eu quem ergui...

Eu suava frio. Tremia. O tempo não passava.

E num piscar de olhos, tínhamos mais uma coisa para nos preocuparmos. O elevador parou congelado, entre o terceiro e o quarto andar. Com a porta fechada. Congelado, sem sinais de que voltaria a se mexer tão cedo, as luzes apagando e acendendo, finalmente ficando acesas mas numa intensidade mais fraca que o normal...

Simplesmente parou... Nos assustou... E não se moveu mais.