My Sweet Lady escrita por Éle


Capítulo 11
Capítulo 11: Diversão maior do que o esperado.




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 Me afastei bruscamente, empurrando-o. Caí sentado no banco em estado de choque. Eu juro que nunca fiz nada assim em todos os meus dezessete anos de vida! Mas é pecado ter gostado? É ruim eu estar me sentindo maravilhosamente bem? É errado eu querer mais, mesmo sem ter coragem de me aproximar...?

 Eu podia jurar que ele iria se aproximar de mim e tentar algo, não que eu fosse negar. Mas isso não aconteceu. Ele ficou alguns segundos afastado de mim, apenas me fitando, também com a respiração um pouco pesada, mas nem se comparava a minha.

 Aos poucos percebi que Alexander se acalmava antes de mim, na verdade, bem antes de mim. Logo ele desligou o rádio e saiu do carro, deixando-me naquele estado. Tive alguns segundos desesperadores para me acalmar, desesperadores porque era pouco tempo, enquanto ele dava a volta no carro. A porta foi aberta atrás de mim, tentei fingir que nada havia acontecido e aceitei sua mão para ajudar a sair do carro.

 -Te trouxe a um lugar o qual não costumo trazer garotas, seria um tanto estranho. Mas, você é minha prima e eu achei que você realmente gostaria. Se não gostar pode dizer que vamos a outro lugar – ele disse ignorando completamente o clima que houvera no carro. –Fique assim e não olhe.

 Permaneci de costas para o carro como ele mandara. Tentei esquecer o que havia acontecido no carro, mas parecia impossível.  Como pode ter sido tão fácil para Alexander esquecer? Ele não tem sentimentos? É claro que não Michel, ele só sente desejo. Isso de certa forma é decepcionante. Certo, estou começando a achar mesmo que sou bipolar.

 Ouvi o barulho do porta-malas sendo aberto e fechado. Pensei em espiar, mas logo eu descobriria o que era, então tudo bem agüentar um pouco mais.

 -Vamos, pela esquerda.

 Eu pude seguir de olhos abertos, mas Alexander permanecia ao meu lado um pouco atrás, escondendo algo. Guiou-me para entre um pouco de grama e árvores.

 -Se você não gostar é só dizer.

 Nossa, quanta preocupação, estou até começando a ficar com medo. Seguimos um pouquinho e eu logo dei de cara com uma quadra de esportes, sendo cercada por grades. Alexander estava me guiando para a porta. Será mesmo isso? Algum esporte? Ele desconfia de que sou um garoto? Muito receoso e com meu coração pulando, adentramos a quadra.

 Havia poucos bancos dentro da grade, porém fora da quadra. O Sol estava alto, iluminando de forma extraordinária o chão de cimento dali. Havia dois gols e duas cestas de basquete, uma em cada extremidade da quadra, nada fora do normal.

 -Você quer jogar Mel?

 Oh Meu Deus! Isso é sério? Mesmo? Alexander está me convidando para fazer um esporte? Mesmo achando que sou menina? Voltei-me bruscamente para ele, fitando-o assustado.

 -Como assim? Você quer que eu jogue?

 Em suas mãos ele carregava uma bola de futebol e em seus lábios um sorriso bobo brincava.

 -Só se você quiser. Meu pai disse-me que, como meu tio queria tanto um menino deveria tê-la criado como um. Então pensei que, como você é tão diferente das outras garotas e parece que gosta disso, pensei em lhe trazer aqui. O que acha? Pode recusar se quiser.

 Tentei ao máximo reprimir um sorriso, mas eu gritava e vibrava por dentro. Abaixei-me e, rapidamente retirei aquela sandália que tanto me incomodara. O chão de cimento morno contrastando com meu pé proporcionava-me uma sensação de extremo alívio. Segurei os dois pés pelas piras que prendiam o calcanhar e joguei o braço por sobre o ombro.

 -O que eu ganho se te vencer? – perguntei finalmente sorrindo, divertindo-me com aquela idéia. Eu realmente amo jogar futebol! Amo de paixão!

 -Está me subestimando? – ele perguntou sorrindo, deixando de lado o medo de eu não gostar daquilo por ser uma “menina”.

 -Você é quem está me subestimando! – eu brinquei empinando o nariz, jogando o cabelo comprido para trás.

 -Ok. Se você ganhar eu te carrego nas costas para onde você quiser, assim não precisa mais andar de salto alto.

 Pensei um pouco, maneando a cabeça de leve.

 -Uma boa proposta. E o que você quer se, caso um milagre daqueles que só acontecem uma vez a cada milênio resolver acontecer hoje? – eu perguntei ainda debochado, demonstrando claramente meu tom de brincadeira.

 -Decido depois que ganhar.

 Eu ri, já sabendo o que viria. Provavelmente ele me pedirá um beijo ou vai rolar outro clima... Mas tudo bem, é esse o objetivo mesmo. Andei até um dos bancos de madeira sem encosto dali, deixando minha sandália. Voltei para perto dele que já mantinha a bola no chão.

 -Hey! Isso não é justo! É muito mais fácil chutar uma bola de tênis do que com o pé descalço – eu reclamei, sorrindo. Ele entendeu o recado e realmente retirou os tênis e as meias, ficando descalço, assim como eu. Alexander fez uma careta.

 -Eu realmente não gosto disso, é uma sensação muito desconfortável. Meus pés irão ficar imundos.

 Revirei os olhos, levando na brincadeira. Esqueci que Alexander é metido demais para andar de pés descalços uma vez na vida.

 -Parece até que a mocinha delicada aqui é você! – eu brinquei, levando minhas mãos a meu cabelo, sem saber o que fazer com ele.

 -Você tem razão. Venha cá, deixe-me ajudá-la.

 Sem entender, me aproximei de Alexander. Ele me virou de costas, retirou minha boina e começou a mexer em meu cabelo, fazendo sei lá o que.

 -Dá para prendê-lo embaixo da boina, assim.

 Quando ele terminou, me virei de frente para ele e sorri. Percebi que realmente não havia mais cabelo incômodo caindo-me na face, escondendo meu pescoço e passando por meus ombros.

 -Obrigada.

 Depois disso, jogamos futebol. Eu consegui fazer alguns gols em Alexander, mas é claro que ele me venceu. Pelo menos foi por pouco. Sentei-me no próprio chão, exausto, sentindo meu coração acelerado e minha respiração descompassada.

 -Eu venci! – debochei, porque era óbvio que ele houvera vencido e ambos sabíamos disso.

 -O que...? Não, eu venci.

 -Mentiroso! Não aceita derrota! – eu brinquei rindo, juntando meus joelhos.

 Alexander também riu. Olhou para mim e se aproximou um pouco. Ele também estava cansado, mas muito menos do que eu.

 -Ok, você venceu. Espere aqui, vou trazer sorvete. Que sabor você quer?

 -Sorvete! – tenho certeza que meus olhos estão brilhando, porque eu simplesmente amo sorvete. –Quero de chocolate, mas tem que ser um bem forte, bem doce! Porque eu amo coisas tão doces que chegam a dar enjôo.

 -Ok – ele concordou rindo.

 Enquanto Alexander foi buscar o sorvete eu optei por continuar sentado, ali mesmo onde eu estava, rindo como um bobo. Meu coração dava pulos e pulos, enquanto meus pulmões teimavam em exigir mais ar que o normal.

 Foi realmente maravilhoso poder jogar futebol novamente! Algo de garoto, viva! Alexander acertou tão bem...

 Como Alexander conseguiu acertar tão bem?!

 Oh, não! Será que ele sabe que sou um garoto? Faria sentido, quem em sã consciência leva uma garota para jogar futebol assim, sem nunca antes tê-la levado a um encontro? Ele deve saber, só pode! Ah não, o plano de Richard! Não, espere, mas se Alex soubesse ele já estaria bem longe de mim!

 Medo! Se ele souber? Ele deveria estar me evitando. Mas, como ele sabe que eu gosto de futebol? Sou uma garota no momento! Deus, por favor me ajude!

 Enquanto esperava Alexander voltar eu não consegui ficar calmo. O nervosismo tomou conta de mim por completo, tanto que comecei a tremer. Tenho medo de voltar a ser o Michel e ser rejeitado como sempre. Decepcionar minha tia Rosane, meu primo Richard, sentir o merecido ódio de Alexander por enganá-lo...

 Oh Santo Deus, o que vou fazer? Eu amo ser menino, ser quem realmente sou, mas não quero voltar a ser Michel agora. Não quero estragar tudo para ninguém!

 Fiquei tanto tempo em conflito comigo mesmo que Alexander acabou voltando e eu nem percebi.

 -Tudo bem Mel?

 -Alex, por que me trouxe aqui?

 -Alex? – ele repetiu sorrindo.

 Eu estava tão focado em meu conflito interno entre saber ou não saber, Michel ou Melody que acabou saindo automaticamente o apelido de meus lábios.

 -Desculpe, Alexander.

 -Não, tudo bem. Pode me chamar de Alex, afinal, somos primos e amigos.

 Eu sorri, mas ainda nervoso com minha dúvida que me corroia por dentro.

 -Alex, por que me trouxe para cá? – eu perguntei, aceitando a ajuda de sua mão estendida para me levantar.

 -Não gostou?

 Inconscientemente, segui-o.

 -Não é isso. Eu gostei sim, só que... Bem... – como explicar...? –Eu também gostaria que tivesse sido algo mais romântico, sabe... – tentei dizer sem decepcioná-lo, apenas não querendo deixá-lo perceber que sou Michel.

 -Posso providenciar isso.

 Percebi que eu já estava seguindo a Alexander por algum tempo, tanto que nós já tínhamos saído de perto da quadra. Estávamos adentrando pelas árvores, grama e terra. Meus sapatos houveram sido deixados para trás e eu sentia a terra seca embaixo de meus pés. O segui, até que chegamos em um pequeno lago bem clarinho e reluzente, sendo pego pelo sol, aquecendo a água.

 Era uma visão simplesmente linda.

 -Não entendo o porquê e eu ter que fazer algo romântico para minha prima – ele zombou, envergonhando-me. Eu falei... Sem perceber. Foi automático.

 Como eu sou distraído!

 -Mas, acho que você merece.

 Realmente o lugar era lindo! No lado oposto do lado o qual nos encontrávamos a grama era rasteira, cheia de flores de vários tipos. Era um lugar incrivelmente belo, tanto que eu... Nem sei dizer o quanto.

 -É melhor tomar seu sorvete antes que derreta – ele disse me guiando para perto da água. Sentou-se ali na beira e, dobrando sua calça ele mergulhou os pés. Ainda abobalhado, eu fiz o mesmo, mergulhando meus pés sujos naquela água tão cristalina. Quando eu já estava acomodado, Alexander me entregou um belo sorvete de vários sabores, dentre eles o predominante era o chocolate. Delirei só de vê-lo e lambi os lábios de gosto estranho.

 Comecei a comer, esquecendo completamente de minhas preocupações. Estava realmente delicioso! Geladinho em minha boca, enquanto meus pés desfrutavam daquela maravilhosa água geladinha.

 -Convidei-a para jogar futebol – meu primo começou a falar, surpreendendo-me, pois eu já havia até esquecido de minha pergunta e meu conflito interno –Porque meu pai contou-me sobre o desejo de meu tio em ter um filho, sendo assim logo deduzi, pelo seu jeito que meu tio a tratava como menino. Minha mãe aconselhou-me a fazer algo que a lembrasse de sua casa, pois já estaria mudando tão drasticamente se tornando mais feminina.

 Isso faz sentido? Eu... Acho que sim. Abaixei o rosto, mirando meu sorvete. Ele estava começando a derreter, mas eu amo derretidinho.

 -E eu já planejava lhe trazer aqui depois do jogo porque, minha intenção era fazer-lhe se sentir como em sua casa, mas ainda sim como a delicada moça que você é, sendo tratada como merecia.

 É incrível como Mel merece tanta coisa e eu... Nada. Como Michel, eu sou apenas um estorvo. Um erro.

 -Tudo bem? Eu disse algo errado?

 -Não, nada. Isso só é... Diferente. Nunca me trataram dessa maneira.

 -Deveriam.

 Senti sua mão em meu queixo, puxando levemente meu rosto. Em seguida, um leve toque de lábios em minha bochecha, e eu nem me atrevi a olhar. Onde seus lábios me tocaram, minha bochecha queimou.

 Antes que pudéssemos dizer qualquer coisa ou que o clima tomasse um rumo diferente, o celular de Alexander tocou. Ele bufou e pegou-o do bolso, atendendo-o.

 -Você não pode esperar mais um pouco? – ouvi ele perguntar, então provavelmente era Richard do outro lado da linha. –Como não tem o que fazer? Passeie um pouco pelo shopping, tem lojas de todos os tipos aí.

 Alexander fazia caretas enquanto falava no telefone, o que me rendeu boas risadas. Continuei comendo meu sorvete, enquanto eles discutiam em mais uma de suas inúmeras brigas.

 Serei sincero, eu não gostaria de voltar agora.

 -Ele quer falar com você – Alexander me disse fechando a cara e estendendo o celular. Peguei-o e primeiramente olhei para aquele celular sem nenhum botão. Logo, encostei-o na orelha.

 -Alô?

-‘Falaê Michel! Já deu pro meu irmão?

 -Richard! – o repreendi, sentindo meu rosto corar por completo. Por que ele tem de ser tão... Tão... Ai, nem sei dizer! Tão descarado, sem vergonha, tarado e boca suja?

 -Calma. Brincadeira. Mas pelo menos rolou um beijo, ‘né? Ou um clima.

 Olhei de esgueira para Alexander, mas assim como eu não escutei nada ele também não escutava.

 -Não sei – respondi testando sua paciência, fazendo-me de bobo apenas para não despertar a curiosidade de meu primo mais velho.

 -Como não sabe? É claro que você sabe! Vamos Michel, diga para o Alexander vir me buscar que tenho excelentes idéias!

 Tenho medo dos planos de meu primo...

 -Ok – concordei, decepcionado. –Até daqui a pouco então – respondi, lembrando-me de que faltava algo –Beijinhos.

 Do outro lado da linha, meu primo riu, na verdade quase gargalhou.

 -‘Tá bom fofinha, beijinhos para você também – ele debochou rindo mais ainda. –‘Eras para você Michel! Até!

 E o sinal de mudo predominou, indicando que Richard houvera desligado. Olhei para o celular mais uma vez e entreguei-o para Alexander.

 -Vamos? – eu perguntei, recebendo uma careta como resposta.

 -Vamos.


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