We could have had it all

                                                    Rolling in the deep

                                       You had my heart inside of your hand

                                            And you played it to the beat

                                                       (Rolling in the deep, Adele)

- Você sabe que é a única...- ele me olhava nos olhos, enquanto depositava um beijo carinhoso na pontinha do meu nariz – e que sempre vai ser assim.
 Ele era tão amável, e ficarmos ali, debaixo daquela casa da árvore não terminada, com o sol brilhando sobre nós... era tudo tão perfeito! Por vezes minha visão quis embaçar, e as lágrimas querendo escorrer, mas não era o momento. Parecia que nada poderia descrever o que ele estava sentindo por mim naquele momento... eu era tão grata por isso! Escostei minha cabeça no peito dele, escutando seu coração bater, os batimentos eram lentos, mas fortes. Senti as mãos dele deslizarem pelos meus cabelos e seus lábios beijarem o topo da minha cabeça.
- Eu te amo tanto... - Passei meus braços à volta dele, sem me mover um milímetro que fosse.
- Sabe... eu estou aqui imaginando – ele suspirou – como você vai ficar linda no vestido de noiva...

- Angelia, anda... - as mãos frias dela me tocaram – anda, vamos perder a hora!
 Reconheci a voz dela, ah droga. Tudo não passou de um sonho, mais uma vez... até nos sonhos ele gostava de me aterrorizar. Puxei o edredon pra cima da cabeça, torcendo para que ela fosse sozinha hoje... eu não estava afim de sair do quarto, na verdade, queria voltar ao sonho... mais uma vez, provando para eu mesma o quão masoquista era. Senti alguém levantar o edredon, me fazendo tremer de frio, ainda mais quando ela começou a me fazer cócegas, com aquelas mãos que pareciam mais duas pedras de gelo.
- Ah... me diz por favor que temos mais uma semana de férias... - disse, com a voz manhosa – ou um mês.
  Ashlee abriu as cortinas, fazendo assim com que o sol batesse na minha cara. Como eu odiava isso! Sem a mínima vontade, me levantei da cama, ainda morta de sono, mal conseguindo ficar em pé. Olhei para ela, vendo que ainda estava de pijamas, mas o sorriso ainda estava ali, ela realmente parecia feliz. Pára, feliz por voltar às aulas?
- Anda, último ano! - Ashlee pulou por cima da cama, parando de frente ao guarda-roupa, logo abrindo-o, pensativa.
- Ah, qual é, Ash. Vai você sozinha, me deixa dormir... estava num sonho tão bom! - Fuçei embaixo dos travesseiros, procurando o celular, logo encontrando-o.
 Três chamadas perdidas... caramba, há tempos não recebia nenhuma ligação. Sorri, involuntáriamente, ao pensar que alguém poderia estar ansioso pela minha volta à escola. O sorriso se foi ao ficar sabendo de quem eram as chamadas... Georg Listing. Na boa, pra esse garoto já não bastava acabar com meu ano e férias, meu coração, ainda tinha que estragar o primeiro dia de aula? Fechei o flip do celular, olhando direto para o relógio. 6:20. Ah droga, estava atrasada, como de costume. Fiz o mesmo caminho que Ash, pulando sobre a cama, e empurrando-a com certa força, o que a fez rir. Eu pensei em fazer uma "super produção" pra esse dia, mas optei pelo que já costumava usar. Jeans, camiseta neutra, uma camisa xadrez e tênis. O cabelo... bom, milagrosamente, eu gostava do meu cabelo. Um castanho claro liso e com leves cachos nas pontas...  a maquiagem também foi como de costume, os olhos castanho-esverdeados bem delineados sob uma camada de sombra preta e um delineador, preto também. Literalmente joguei o celular dentro da bolsa, esperando Ashlee na porta de casa.
- Anda, Ash. Vai ficar quanto tempo se embonecando ainda?
 Ela riu, como sempre. Eu costumava usar o termo embonecar porque ela parecia uma boneca. Seus cabelos lisos e loiros, o rosto angelical, e o corpo de modelo... por vezes eu a chamava de Barbie. Olhei para trás, percebendo que hoje, realmente, Ashlee estava parecendo uma barbie. Sua calça jeans justa com uma camiseta pink e batom de mesma cor... os olhos verdes sob uma camada fina de delineador preto. Ri da situação.
- Tá vendo? -Girei a chave na fechadura, logo em seguida abrindo a porta. - Depois você acha ruim quando te chamo de Barbie.
Senti um soco em minhas costas, como ela podia se irritar tão fácilmente? Caimos na risada. Ashlee é minha melhor amiga desde que me entendo por gente. Ela ciudou (literalmente) de mim, e ainda cuida. Tínhamos uma boa vida em Berlim, morávamos em um bom lugar e esudávamos em uma das escolas mais conceituadas da Alemanha. Apertei o botão do elevador, que, milagrosamente, não demorou a chegar. Entrei no elevador, mas Ashlee permaneceu parada, parecendo estar em um mundo alheio... percebi que ela estava com os fones de ouvido. Segurei a porta do elevador com o pé, e me estiquei, cutucando-a.
- Ash, anda! - Segurei sua mão, puxando-a para dentro do elevador.
 Ashlee parecia realmente viver em um mundo alheio, há uns dois anos. O motivo? Gustav Schäfer . Gustav era o namorado mais perfeito que alguém poderia ter. Bom, na minha concepção, o segundo melhor, porque, pra mim, ninguém se comparava ao Georg. Gustav a tratava como rainha, e era possível ver como os dois se completavam em tudo. O olhar apaixonado dos dois é a coisa mais perfeita que existe, causava inveja a algumas pessoas. Assim que o elevador se abriu, saímos, e logo passando pela porta do prédio. A escola não ficava muito longe dali, apenas uns 10 minutos de caminhada. Mas eram os piores 10 minutos do dia, significava que eu iria ter mais umas cinco ou seis horas de tortura. As aulas em si nem eram torturantes, o que realmente me torturava era ver Georg com Hanna, fazendo questão de ficar aos beijos com ela, na minha frente.
- Aconteceu alguma coisa? - Ashlee me olhava preocupada, caminhando ao meu lado
- Georg me ligou... -suspirei profundamente- eu realmente preferia ter ficado em casa.
  Ash balançou a cabeça negativamente, tirando o fone dos ouvidos e guardando na bolsa ao ver que estávamos perto da escola. Eu parei em frente ao portão, com aquele costumeiro gelo na barriga me atormentando. Ash segurou meu braço, puxando-me para dentro junto com ela, enquanto sussurrava "Vai ficar tudo bem, estou aqui com você."
 Bom, suspirei, mais uma vez você vai provar para si mesma o quanto é forte, Angelia.