Wonderwall escrita por Carol


Capítulo 2
Um presente indecente.


Notas iniciais do capítulo

depois de um milhão de anos, aqui está o primeiro capítulo. espero que gostem.



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Um presente indecente.

-São U$256,00 dólares - informei monotonamente - Cheque ou cartão?

A garota - que era assustadoramente parecida com uma daquelas atrizes/cantoras/faz-tudo da Disney - me olhou de olhos arregalados.

-Cartão - entregou-me seu cartão rosa e roxo rapidamente.

Aparentemente, ela estava com pressa para sair de perto de mim. Deve ter percebido a louca vontade de socar a cara de alguém que se apossava do meu corpo naquele momento, e me transformava em um terrível demônio exterminador de menininhas sem cérebro. Lol.

Tudo bem, eu não fico assim do lado negro da força o tempo inteiro, não se preocupe. Na verdade eu só tenho estado assim ultimamente, porque a ideia de voltar às aulas na próxima semana não me é nada agradável.

Voltar para aquele inferno, que a maioria das pessoas chamava de escola, era a última coisa que eu queria. Porque ser forçada a conviver com aquele bando de adolescentes riquinhos e mimados já poderia ser considerada a PIOR das torturas psicológicas a qual uma pessoa pode ser submetida, mas é claro que, com toda a minha sorte, aquela nem era a parte ruim. Acredite.

A parte realmente ruim é que eu não me encaixava em NENHUM grupo: nerds, atletas, populares, ensandecidos defensores da natureza, vândalos, retardados - e olha que esse último se dividia em dois subníveis: as líderes de torcida e o pessoal do clube da castidade. A verdade é que eu era considerada meio punk por alguns, mas naquela instituição de MERDA não existia uma turma que pudesse ser chamada de “galera do Rock’n Roll” - então eu não me identificava com ninguém. A maioria do corpo estudantil era formada por veneradores de pop - eu não aguentava mais ouvir falar em Lady Gaga e Katy Perry, e a minoria era constituída por uns babacas que se achavam gente por terem crescido ouvindo “Debussy”. Fala sério, que lixo. Kurt Cobain certamente se revirara no túmulo quando uma TAL de Miley Cyrus teve a coragem de cantar - ou relinchar - “Smells Like Teen Spirit”.

Agora me diga se eu não tenho motivos para viver puta revolts! Pois é, eu tenho. E muitos.

À essa altura, a garota-Hannah-Montana já havia digitado sua senha na maquininha e esperava pacientemente enquanto eu realizava aquelas operações muito chatas. Imprimi sua nota fiscal e coloquei suas compras dentro de uma sacola vermelha com o escrito “Enchanté”. É, eu trabalhava em uma loja cujo nome mais parecia nome de bordel. Mas isso dá para explicar fácil, fácil: era uma loja de lingeries, baby dolls e essa porra toda.

Verdade seja dita, a Enchanté era uma das lojas de artigos femininos mais frequentadas pelo povo de classe alta de toda a Manhattan, e eu só tinha um emprego aqui graças à minha tia Julie - que trabalhava que nem cavalo em uma agência de empregos e contratações.

O meu trabalho aqui não era, de todo, ruim: eu era a garota-do-caixa, e ficava a tarde inteira sentada em uma cadeira alta muito irada, só perguntando “cheque ou cartão?”. Vez ou outra eu até trocava uma ideia com as clientes, mas só se elas não fossem muito otárias.

Entreguei a sacola para a Hannah-Babaca, e voltei a me dedicar ao caça-palavras superfoda que estava fazendo antes de ela chegar. Pela visão periférica, vi a garota sair da loja a passos largos, e juro que ela olhou por cima do ombro umas duas vezes.

Peguei O Livro, que estava guardado na minha mochila, e abri na página de “Preciso Ser...”.

“Preciso ser mais simpática com as clientes” - anotei em vermelho. Vermelho era apenas para as metas mais urgentes.

Fechei O Livro, guardei-o de volta e me escorei no balcão, apenas esperando o tempo passar.

Então aquela era só mais uma sexta-feira cheia de TÉDIO, de garotinhas irritantes, e de vozes mais irritantes ainda. Eu não pensei que poderia ficar pior até que...

Visualizei duas silhuetas grandes caminharem tranquilamente pelo shopping, do lado de fora da loja, e o sangue fugiu um pouco de meu rosto. Será que ele ainda lembrava que eu trabalhava aqui? Torci para que não, enquanto mordia o lábio nervosamente.

Vi o maior dos dois se virar para o outro e dizer-lhe alguma coisa. Em resposta, ganhou um sorriso de encorajamento - um tanto malicioso, eu diria.

E então Jacob se virou e começou a caminhar em direção à loja.

Fodeu! - foi o que eu pensei.

Ele entrou na Enchanté e...

Aliás, o que é que ele estava fazendo em uma loja de lingeries? Será que tinha virado...? Não, não. Seu jeito de caminhar - aquele gingado de macho alfa que eu já conhecia bem - ainda era exatamente o mesmo, e as reações femininas aos seus movimentos também: as exclamações “oooh!” ou “huuum!”, e as expressões de “molhei a calcinha” ainda o acompanhavam onde quer que ele fosse. Ok, ele ainda era BEM másculo. Então, volto a perguntar, o que ele fazia em um lugar como aqui?

Tive apenas dois segundos para pensar quando ele virou cabeça de um lado ao outro, procurando algo. Abaixei-me rapidamente, escondendo-me embaixo do balcão. Já tinha sido bastante constrangedor quando, no ano passado, por um acaso do destino ele descobriu que eu trabalhava aqui. Jacob passou uns bons meses me chamando de “garota das calcinhas” depois disso, e quem via de fora achava aquilo bastante engraçado. Eu apenas rosnava para ele.

Ainda escondida embaixo do balcão, abri a minha mochila e peguei O Livro pela segunda vez em poucos minutos, mas dessa vez na página azul, denominada “Preciso Admitir...”. E lá estava a prova de que, de alguma forma, aquele babaca mexia comigo: “Preciso admitir que Jacob Black é realmente um pedaço de mal caminho - ou o caminho inteiro (acompanhado de mapa).”. Sim, eu tinha escrito aquilo. E, sim, era a mais PURA VERDADE. O que eu podia fazer, afinal? Não significava que eu estivesse caindo de amores por ele, ou... hm.

-Renesmei? - a vadi... a adorável gerente daquele adorável estabelecimento me chamou. Um ano trabalhando aqui, e ela ainda não sabia pronunciar o meu nome. - Mas onde é que ela se meteu? RENESMEI!

Bufei, hoje não era o meu dia de sorte. Ela era bem capaz de me demitir se eu não aparecesse logo.

-Te achei! - olhei para cima, dando de cara com quem? Com quem? Sim, ela havia descoberto o meu esconderijo! - O que é que você está fazendo aí? - espichou ainda mais o pescoço, na tentativa de entender o que eu fazia. Guardei O Livro rapidamente.

-Eu estava me escondendo de um ogro. - murmurei.

Ela apenas franziu ainda mais a testa. Eu suspirei, vencida, e me levantei para ver o que aquele PORRE de mulher queria.

-O que foi, Kayley? - perguntei sem paciência.

Ela lançou um olhar sugestivo a Jacob, que me olhava divertido, e depois fez sinal com o dedo para que eu a seguisse.

-Escuta... - falou baixo em meu ouvido, quando já estávamos a uma distância segura e ele não podia mais nos ouvir - Eu não sei que diabo de macumba você fez, garota, mas está vendo aquele deus grego ali? - acenou “discretamente” com a cabeça em direção a ele.

Eu assenti, revirando os olhos.

-Então, ele me disse que quer comprar um presente para uma garota. Quando eu me prontifiquei a ajudá-lo na escolha, ele falou que faz questão de ser atendido por você.

-O QUÊ?! Eu sou a caixa, não uma vendedora! Peça para uma das loiras atendê-lo, eu é que não...

-Você é que SIM! - ela me interrompeu - Olha aqui, Renata...

-Re-nes-me-e!

-Renesmei, você está por um fio comigo. Preciso lembrá-la de que você chegou atrasada todos os dias dessa semana, e que eu perdoei os seus atrasos? Perdoei mas não esqueci, querida. Aquele ali é Jacob Black, filho do dono da Black Motor’s, e se ele pedir para ser atendido pelo Papa, nós traremos o Papa aqui, entendeu? Então vai lá, garota do caixa, e é bom que faça uma boa venda. Quem avisa, amigo é.

Senti as lágrimas de raiva queimando no canto dos meus olhos. Ah, mas aquele babaca me pagaria por aquilo! Ôooh, se pagaria!

Empinei o nariz, e andei pisando duro até ele. Eu sentia os olhos de Kayley quase abrindo buracos nas minhas costas, mas não me importei. Se fosse para ser demitida, eu faria por merecer.

-O que é que você está fazendo aqui? - perguntei entredentes.

Ele revirou os olhos para o meu tom de voz - usado quase que exclusivamente para falar com ele -, mas não se abalou: ainda tinha aquele sorriso estampado no rosto.

-Oi pra você também, Ness. - apertou minha bochecha, eu tirei sua mão do meu rosto com um tapa - Eu e Quil viemos na loja de artigos esportivos, e como estava aqui perto, eu resolvi dar uma passadinha para...

-Estragar o meu dia? Me encher o saco? - interrompi-o.

Jacob riu.

-Eu iria dizer “matar a saudade da minha parceira de Física estressadinha”, mas “estragar o seu dia” também serve.

Não pude evitar rir junto com ele. Outra coisa que eu já havia escrito na página “Preciso Admitir...”, era que Jacob era uma pessoa incrivelmente doce, do tipo que espalha felicidade pelo mundo. O extremo contrário de mim.

-Ok, agora só me diz uma coisa... - puxei o ar com força - Você é burro ou o quê? Não sabe ler, não? Está aqui no meu crachá: eu trabalho no CAI-XA, se você quer ajuda para comprar algo, peça a uma vendedora.

-Eu confio mais no seu gosto. - lançou-me uma piscadela.

Minha vez de revirar os olhos.

-Ah, é? Então eu vou te dizer qual é o meu gosto. - apontei o dedo na cara dele - É bom que você compre algo bem caro... a peça mais cara daqui, de preferência. Porque se eu perder o meu emprego por sua causa, você vai passar de ativo a passivo. Se é que me entende.

Ele ergueu as mãos em sinal de rendição, quase tendo uma síncope de tanto que ria.

-Relaxa, gatinha, eu pretendo mesmo comprar a lingerie mais linda que tiver aqui. - seus olhos brilharam de excitação.

Senti uma pontada de... Sei lá, eu não sabia o que estava sentindo. Só sei que era uma sensação bem ruim. Eu só sentia isso quando via ele e a namorada, agarrados pelos cantos lá na escola.

Mas mesmo assim eu não podia perder a oportunidade de trollar um pouquinho, não é mesmo? Afinal, eu era a Troll mór quando se tratava de debochar da cara de Jacob.

-Tudo bem, eu não sei se vai ter o seu tamanho, mas podemos dar um jeito... - tentei parecer séria - Qual é a cor preferida do seu parceiro?

Jacob engasgou, tossiu, teve um ataque epilético, se dividiu em dois, foi abduzido... Tá, ele só engasgou e tossiu.

-Você é hilária! - falou sarcasticamente, mas depois sua expressão mudou. Ele foi de zangado à sacana em dois segundos, o bipolar - Mas eu realmente não me importo, porque uma garota muito linda vai vestir isso... - indicou uma lingerie preta com detalhes em cor-de-rosa que estava no mostruário - Só para mim, então... - deu de ombros.

Minha visão se tingiu de vermelho.

-Quer dizer que já se decidiu? - rosnei.

Ele assentiu, o divertimento estampado em seu rosto.

-Ótimo. - marchei até a vitrine e tirei a peça de lá - É realmente muito bonita, mas eu não sei se vai caber na baleia da sua namorada. - murmurei essa última parte.

Tudo bem, baleia porra nenhuma. Bree era do tipo sarada, ou, como os garotos costumavam dizer, “gostosa”. Era a atleta da escola: já tinha sei lá quantos prêmios de natação, e ainda era animadora de torcida na temporada de futebol. Acontece que ela tinha peito e bunda de sobra, e aquele sutiã não fecharia nem com macumba.

Jacob deu uma risadinha.

-Perdão? Você disse alguma coisa?

Bufei alto.

-Eu disse que talvez tenhamos que procurar um número maior. - tentei me recompor, não era hora para showzinhos.

Ele negou com a cabeça.

-Não, não. Esse tamanho é perfeito.

Estreitei os olhos.

-A Bree não vai entrar nisso aqui. - estendi a peça minúscula a ele, tentando fazê-lo entender que aquele tecido delicado se rasgaria se fosse posto a prova com uma prótese enoooorme de silicone.

Jacob assentiu.

-Eu sei, mas esse presente não é para a Bree. - falou na maior cara de pau.

Minhas narinas se inflaram. Então quer dizer que tinha mais uma, além da vadia master, na parada? Estranhei aquilo, eu nunca imaginei que Jacob fosse do tipo que curtia umas escapadas.

Virei-me para o caixa e caminhei retesada até lá. Ele me seguiu.

-A sua namorada sabe que você anda pulando a cerca? - perguntei rispidamente, enquanto colocava o código de barras em frente àquele sensor idiota.

-Hein?

Dei um tapa em minha própria testa.

-Dãh! Eu perguntei se a Bree sabe...

-Eu entendi a pergunta. - ele me interrompeu - Mas a Bree não é mais minha namorada... Faz um tempinho, já.

Estranhei aquilo. E estranhei ainda mais o fato de que aquelas palavras tornaram o meu dia um pouquinho mais agradável.

-Ah, é? - falei como quem não quer nada.

-É. - não sei por que, mas a ideia de sair dando piruetas de felicidade me pareceu totalmente aceitável quando ele confirmou o fato de que terminou com a p... com a preciosa Bree.

Mas também, o que mudava? Agora tinha a vadiazinha para quem ele estava comprando o presente indecente. Argh, meu humor foi de “saltitante pelo campo, caçando borboletas” a “ceifando almas e levando-as direto para o inferno” em tempo recorde.

-Deu U$190,00 dólares. Cheque ou cartão? - perguntei sem muita gentileza.

Ele ergueu as sobrancelhas para a minha repentina mudança de comportamento, mas não comentou nada. Umpf! Bom mesmo!

-Cheque. - e ofereceu-me seu talão.

Olhei para sua cara, depois para o bloco em suas mãos, e novamente para ele.

-Preencha você mesmo. - falei com naturalidade, jogando a cabeça para trás e prendendo meus cabelos em um rabo-de-cavalo.

-Mas essa é a sua função. - rebateu, incrédulo.

Dei de ombros.

-E daí? Eu já tive que te atender, agora você vai preencher o cheque.

Jacob balançou a cabeça, contrariado. Pegou a carteira do bolso, guardou o talão de cheques e retirou duas notas de cem dólares lá de dentro.

-Ok, tudo do seu jeito. - entregou-me o dinheiro.

Peguei o troco no caixa e lhe entreguei.

-Isso mesmo, cara. - pisquei para ele.

Ele riu, se inclinando sobre o balcão.

-E aí? Ansiosa para a volta às aulas? - perguntou-me - Pode confessar, você estava morrendo de saudades de mim.

Eu rolei os olhos.

-Só de pensar nas aulas de Física e História Americana a minha cabeça já dói. - respondi malvadinha.

Ele pôs as mãos sobre o peito e se encolheu teatralmente.

-Só por que nós fazemos essas aulas juntos? Nossa! Magoei, velho.

Eu ri alto.

-Ótimo.

Ele deu sua risada rouca que me tirava um pouco do ar e se virou, caminhando calmamente para a saída da loja.

-HEI! - gritei - Você esqueceu suas compras, cabeção!

Jacob apenas me olhou sobre o ombro, com um sorriso torto incrível.

-Não, eu não esqueci. - falou, sorrindo maliciosamente - Isso aí é para você.

Meu queixo caiu. As vendedoras pararam tudo o que faziam para prestar atenção a nós.

-Você, você...

-Até segunda-feira, Ness. - piscou para mim e saiu da loja.


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Notas finais do capítulo

ok, eu tinha esse capítulo pronto há um tempinho, já.. só não estava muito animada pra postar. eu espero sinceramente que vocês me deixem muitos reviews, sabem como é, pra me animar. de boa, gente, quem gosta da fic, me dá uma ajuda pra divulgar aí. porque se eu não tiver incentivo, não vou continuar escrevendo.
aah, e 'o cometa' mandou dizer que está empacado, e que nunca mais recebeu um mísero review ou uma recomendação, por tanto, não pretende "desempacar" tão cedo.