Além de Tudo escrita por Smother


Capítulo 5
Contradição: Amor


Notas iniciais do capítulo

Achei legal, mas muitas coisas ainda estão por vir.



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Ela saiu do quarto, provavelmente foi para a sala de jogos. Desde quando chegara, Mischa adorava jogar sinuca – preferivelmente sozinha – nas noites de insônia. Sim, eu era uma observadora um pouco obsessiva... Só um pouco. Mas nessa noite eu não fui observá-la, apenas me agarrei desesperadamente ao travesseiro que ela se recostava todas as noites. Senti a fragrância do perfume dela causar-me um insuportável vazio. Lágrimas persistentes começaram a correr pelo meu rosto até eu me entregar aos acolhedores braços do sono.

Acordei restaurada, mas o perfume de Mischa causou-me um pouco de incômodo. Eu ainda estava deitada, a diferença entre eu dormindo e desperta foi que eu olhava para o abajur enquanto me afogava nos pensamentos de tentar controlar minhas fúteis emoções. Pensei alto novamente.

− Que saco, esse perfume está me deprimindo.− permaneci inerte, olhando o abajur.

− Por fim acordou, sabia que já são 11 horas? E o que está reclamando do meu perfume, ele não te agrada? − era a voz de Mischa, só que estava diferente. Animada. Obviamente eu me assustei e congelei, engolindo um inconveniente grito.

− ...

− Desculpe te assustar assim, mas não achou que seria previsível o fato de eu estar no "meu" quarto? − o som da sua voz vinha do outro lado da cama, me inclinei um pouco e pude vê-la. Ela estava deitada, com tênis e tudo.

− Você poderia ter dormido no meu quarto. Julgando que já está arrumada... você dormiu onde?

− Infelizmente, eu não dormi. Eu tinha passado a noite jogando sinuca e pensando sobre tudo... Voltei para o quarto e vi você abraçada ao travesseiro que eu usava. Eu não consegui fazer nada e fiquei olhando para você dormindo... Quando estou com você as coisas não fazem muito sentido. − ela disse num tom pesaroso. − Parece que não dá para fugir, você me pegou. − e sorriu enquanto me encarava com o seu lindo par de olhos azul-celeste. Mas não me era convincente.

− Não entendo, você disse tão decidida que não iria dar certo e seria melhor para nós duas!− A sensação de frustração me enraiveceu, levantei metade do corpo e fiquei sentada na cama com as pernas esticadas olhando-a.

− Eu também erro... e também sinto.− ela fechou os olhos como sempre fez antes de explicar alguma coisa e também se sentou.− A diferença é que você não tem medo de se expressar. É sempre sincera com os próprios sentimentos e não consegue olhar o futuro... as possibilidades de se machucar. Mas isso tudo é exasperante! Por mais que eu tenha controle sobre mim, quando estou com você não sou apenas eu, somos nós. E não estar de acordo com você é, para mim, perder a coisa mais preciosa que tenho. − Ela não conseguiu me olhar nos olhos depois da última frase. O silêncio falava por nós.

− E o que é mais precioso para você? O que espera que eu faça? Quando você falava, eu acreditava, mas é diferente agora. Eu estou com medo de acreditar em algo impreciso, não quero que pense que é fácil lidar com alguém tão inconstante.

− Você tem razão. Mas será que importa? A coisa mais preciosa para mim é, agora, poder ter te conhecido. Não quero nada de você além do que já é e... Eu te amo. É inexplicável, você me faz feliz só por estar ao seu lado. − Nesse momento ela estava a poucos centímetros de mim, sua respiração ofegante provava que estava nervosa. − Por favor, acredite no meu eu agora! − Seu olhar suplicava por mim, ele me comoveu. Não entendi no momento o porquê dela ter dito isso, mas tive a sensação que não havia nada mais a dizer ou pensar, apenas aproveitar o momento. Não disse nada, não pensei nada, segui apenas os meus desejos, que misturavam-se tristemente aos meus dolorosos sentimentos, e a prendi na cama, segurando os seus braços.

− Dessa vez, sou eu que mando. Afinal, eu "te peguei" não foi? − Disse eu, dando uma de macho alfa. Mischa estava perplexa, com a cara assustada, como uma presa esperando pelo pior – ou o melhor, no caso –. Senti escorrer uma cálida gota pelo meu rosto; estava eu triste? Ignorei a lágrima e beijei Mischa como se o mundo estivesse acabando, de tão desesperada consegui fazer um pequeno corte em meu lábio inferior, o que quase estragou tudo porque eu parei um momento por causa do incômodo. Felizmente Mischa percebeu que eu era muito idiota para isso e delicadamente beijou-me, levantando um pouco o pescoço para alcançar o pequeno distanciamento que fiz ao reagir à dor.

− Me deixa provar seu sangue? − seu olhar malicioso apenas me aterrorizou mais.

− Deixar o qu... − tentei dizer, mas ela acabou por me tombar pela lateral direita e trocar de posição. − Ah, não, mais uma vez? Você podia ser mais paciente comigo, eu ainda estou aprendendo...− Fiz uma cara de inconformada.

− Você demora demais e não tenho paciência, vamos acelerar um pouquinho mais. − Não entendi no momento até verificar que minha camisa estava sendo rapidamente desabotoada. Ela começou a a me beijar da virilha até o pescoço, tocando levemente a minha pele. Alguma reação química estava ocorrendo em mim para eu sentir um certo "formigamento" na região abdominal e ter que fazer muito esforço para continuar parada.

Uma mistura de vergonha e medo no começo, porque eu nunca fizera aquilo antes. Mas foi tão natural, um desejo mútuo. Eu me entreguei aos seus beijos e carícias irresistíveis, o corpo perfeito e os fios dourados de seu cabelo, o seu perfume, a sua pele aveludada. Foi como andar nas nuvens, entretanto, arrisco-me em dizer, que foi trilhões de vezes melhor que isso. Eu era apenas um potinho vazio, e naquele momento eu estava completamente cheia de felicidade e amor, o amor mais puro que já havia sentido. Foi desde esse dia que eu obtive a certeza que meu sentimento por ela nunca iria acabar.

Bem, voltando à realidade, era pleno horário de almoço e nós estávamos agarradas e nuas sob o cobertor. Primeiramente, devo falar a vocês, não foi fácil passar por isso, e tive que fazer muito esforço para não dizer a verdade e ter que mentir. Ela estava muito cansada(lembre-se, ela não dormiu a noite passada e de fato não foi por causa daquilo que vocês estão pensando), seus olhos estavam fechados apesar de ela segurar minha mão e murmurar lindas palavras de amor.

Antes que pudesse dormir a gente ouviu o barulho de alguém batendo na porta. Desespero total.

− Mischa? Aqui é sua tia avó Catarina. Você viu a Andressa por aí? − disse a voz detrás da porta.

− Ah, tia.. eu estou ocupada, estou indo tomar banho e a senhora poderia, por favor, não abrir a porta?− ela falou de um modo muito natural que me assustou. Mischa começou a gesticular, apontando para mim e para a porta do banheiro. Não sabia o que fazer e acabei indo.− Acho que Andressa saiu ou está na sala de jogos. Se eu encontrá-la por aí eu te aviso, certo?

− Tudo bem, só vim aqui por que ela sumiu desde a manhã e queria avisar que o almoço está pronto.

− Obrigada, quando eu acabar de tomar banho eu vou descendo aí para almoçar. − Mamma mia! Ela sabia fingir tão bem que eu comecei a refletir se tudo que passou não foi mais que um teatrinho. Mas o desespero do momento me impediu de ir tão fundo e comecei a tomar banho antes dela.

− De nada e até mais, querida! − ouvi os passos de minha avó de afastarem. Mischa abriu a porta do banheiro.

− Você já está tomando banho? Por que não me esperou? − ela me olhou chateada através do vidro do boxe.

− Comecei agora, você tem dezenove minutos para compartilhar esse banho comigo − eu deslizei a porta do boxe e estendi a mão para ela −. Espero que não se incomode com a água fria.− Eu sorri.

− Eu sou russa, amo o frio.

Ela se aproximou de mim, segurou minha mão e começou a beijá-la, subindo por todo meu braço até a nuca. A sutileza das suas ações eram de um modo que eu não saberia explicar. A cada segundo eu a estava amando mais, eu sabia que isso só pioraria as coisas para mim depois. Mas não importava, o meu mundo começou a girar em torno dela.

Talvez nós não demoramos tanto no banho. Talvez uns quarenta minutos, ou uma hora, ou apenas vinte minutos. Perdemos a noção de tempo. Não queria parar, queria ficar com ela, abraçar, beijar e tocá-la. No entanto ela se afastou de mim, fechou o registro e se envolveu em uma toalha. Isso me deixou um pouco triste, apesar de que ela estaria cronometrando o tempo para ninguém desconfiar e não nos dar problemas.

Levantei do chão, peguei uma toalha extra no armário do banheiro, sequei o meu corpo e vesti as mesmas roupas. Quando abri a porta do banheiro ela já havia descido para a copa. Desci até lá e me deparei com o pai da Mischa, Max Spyer, se acomodando em uma das cadeiras da grande mesa. Ele estava falando algo com meu pai, peguei apenas uma parte da conversa.

− Tenho negócios a resolver por lá, infelizmente a Mischa não poderá ficar por aqui até o fim do mês.− ele estava arrastando o português como sempre. Eu olhei para a Mischa, ela não estava demonstrando nenhuma emoção. Ela até sorriu e disse que que sentia saudades de Curitiba, onde ela tem sua mansão cheia de slaves para agradá-la. Porém eu os olhava escondida, engolindo meu choro e meu ódio pelo pai dela de tirá-la de mim.


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