Além de Tudo escrita por Smother


Capítulo 13
Afogando-se: o que está fora da mente, está fora do coração


Notas iniciais do capítulo

Tá bem barbiezinha o capítulo.



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Olho perplexa para a tela do smartphone. Quanto tempo fazia que eu e Mischa não nos comunicávamos? Mais de dois anos, desde que me envolvi com Kevin. Pensar nisso me faz sentir mais lixo que antes. Tá, ela está sendo apenas uma parente distante que se preocupa no caso de alguém que está prestes a morrer, também faria o mesmo se alguém me ligasse pedindo para que visitasse a parente louca que quase morreu por causa de uma hemorragia provocada por remédios abortivos. Ai, vovó… Por que ligou para Mischa? Será que ligou para um milhão de parentes mundo afora também? Suspiro de cansaço, de preocupação e medo. Ver Mischa depois de tanto tempo, em um estado tão mórbido só me dá vontade de desaparecer do mundo.

— Muito bem, ficar pensando demais nisso vai piorar minha situação. Tenho que focar em parecer um pouco melhor quando ela chegar… Será que se eu chamar a vovó ela traz minha necessaire de maquiagens? Hmm… – Começo a falar sozinha, já que não tem ninguém por perto. – Preciso tomar um banho decente, sem sabonete neutro ou xampu sem cheiro bom, além de passar alguns cremes porque minha pele está ficando ressecada nesse frio de Junho… Affss, por que eu estou que nem uma adolescente? Já tenho quase dezoito e me comovo tão fácil com uma mensagem de Mischa. – Ponho meus dedos nas têmporas, massageando-as para conter minha ansiedade. Mentalizo o que fazer até quando ela chegar para me ver.

Certo, certo. Primeiramente, não estou nas melhores condições físicas para tanto esforço, posso no máximo me maquiar. Vou pedir meus acessórios para vovó e pedir para as enfermeiras me ajudarem e aplicar o creme. Se eu me esforçar demais posso ter hemorragia novamente e não seria nada legal isso acontecer, além disso faz poucos dias que passei por uma cirurgia e o pontos podem abrir… Maquiagem não será extravagante, vou passar um pouco de base, blush para afastar a cara de morta, um delineador e um gloss cor da minha boca, até porque ela acharia bizarro eu preparada para uma balada em pleno leito de hospitalar. – Começo a rir dessa situação hipotética – Melhor já avisar à vovó e às enfermeiras sobre meu plano, saber que horas Mischa chegará aproximadamente e tenho que pedir roupas bonitas também. Estou bastante fútil no momento e esqueço a situação de terror em que me meti, além do estado emocional em que papai está. Mas não demora que esses pensamentos voltem e uma onda de devaneios pesarosos me envolvam.

Preciso saber as horas que Mischa chega hoje, então pego o smartphone e mando uma mensagem para ela agradecendo sua futura visita e buscando saber as exatas horas.

— Mischa, agradeço pela preocupação. Temos muito o que conversar. Gostaria de saber que horas aproximadamente você chegaria essa noite. – Mandei o recado. Quase que instantaneamente ela me responde.

— 21h, 21h30 por aí, porque ainda terei que me hospedar em um hotel.

— Mas por que hospedar em um hotel se pode ficar na casa da minha vó?

— Algumas coisas realmente mudaram na minha vida, ainda terei que explicar detalhes quando nos vermos. Realmente gosto do português, porque o que mais sinto por você são saudades, rs. Nos falamos mais quando eu estiver aí em Florianópolis. Agora tenho um desfile para me preparar. Até mais Andy.

— Também sinto saudades! Até! – Ok, chocada. Desfile? O que acabei de ver?

Certo. Em dois anos e alguns meses Mischa venceu na vida, está super misteriosa e mais atraente impossível. Pelo menos é a ponta do iceberg que vem à minha mente nesse momento. Bom, agora é só pedir para minha avó trazer a necessaire, cremes, roupas e acessórios de banho, o quanto antes. Ainda com o celular na mão, faço uma ligação para fixo. Após três chamadas ela atende.

— Alô?

— Oi vovó! É a Andressa aqui.

— Oi meu amor! Como vai? Precisa de alguma coisa?

— Fiquei sabendo que um passarinho contou para Mischa Spyer que eu estava no leito de morte. Então como ela só chegará perto das nove e meia da noite, quero parecer com menos cara de doente… A senhora poderia me trazer alguns acessórios? – Sim, fiz um tipo de coerção com minha avó já que precisava dos itens de imediato.

— Querida, que drama é esse? – Ela ri. – Precisa se benzer de pensar coisas tão negativas! Graças a Deus você sobreviveu à hemorragia e está se recuperando bem da cirurgia. Você é linda de viver, não precisa de nenhuma maquiagem ou acessório, mas já que me pede com tanto afinco vou levá-los para você às 13h, certo?

— Amo você, vovó. Certíssimo! Anota aí que eu quero que traga minha necessaire, um vestido florido azul com renda, meus brincos de prata para escolher qual o melhor, meus cremes e meus acessórios de banho!

— A vaidade baixou como um espírito, hein. Tá bom, minha neta! Nos vemos daqui a uma hora.

Almoço a mesma comida de hospital de sempre. É até gostosa, dá para comer. Brincadeira, é só comestível mesmo, mas tem bastante saladas e frutas, os itens que salvam. Escovo os dentes com certo esforço, parece que minha pressão continua baixa e ainda sinto dores fortes no abdômen. No espelho do banheiro me encaro demoradamente. Bonita, mas maltratada. Desenvolvi olheiras em forma de dois risquinhos roxos, estou mais magra do que já estive em toda minha vida e muito pálida… Poderia fazer um filme de terror. Estou meio leãozinho com meu cabelo e ficar deitada o dia inteiro não me ajuda também. Pego um prendedor de cabelo para suavizar o estado.

Vovó chega um pouco antes das 13h. Linda e organizada como é, em sua mão direita trouxe o vestido que pedi e que está em um cabide e envolto numa capa protetora. Na esquerda ela trouxe uma malinha com todos acessórios que pedi. Coloca tudo perto de mim, o vestido pendurado em um gancho na parede e a mala do meu lado. Abre seu conteúdo e retira minha necessaire e caixinha de joias, colocando-as na cômoda, e os cremes e acessórios de banho ela coloca no banheiro para mim, substituindo os itens já existentes nele. Ela para do meu lado e sorri, vendo que eu já sorria para ela desde que chegou.

— Andressa, acho que é tudo que pediu. Qualquer coisa que precisar é só me chamar. – Ela se aproxima e me abraça leve e sutilmente, como se tivesse medo de me quebrar ou algo assim. Risos. Abraço de volta com força.

— Obrigada, oma (vovó em alemão). Por enquanto é só o que eu preciso por hoje… Fico feliz por fazer tantas coisas por mim. Papai depois do que aconteceu ficou muito distante de mim e você permaneceu do meu lado não importando o que fiz.

— Querida! Vou chorar se continuar falando assim. Eu só entendo você porque sou mulher e sei que para nós as complicações são sempre mais severas. Qualquer erro é cobrado em dobro pela sociedade… Mas quero que compreenda seu pai. Christopher está assim porque ama muito você e ainda não sabe lidar com o que ocorreu. Ele se sente desapontado, mas nunca deixará de amá-la. Lembre-se que por pouco você não morreu e até hoje ele não lida bem com a partida da Viviane de suas vidas, sem contar que você é quase a cópia dela.

— É… Tem razão. Eu estava com medo dele nunca mais me perdoar, mas agora me sinto mais segura.

— Ele já a perdoou, só precisa de tempo para superar os próprios traumas trazidos à tona. Vai dar tudo certo, querida.

— Assim espero! – suspiro – Quero que as coisas voltem a ser como antes, mas é inevitável.

— Avante, mein lieber. Busque resolver o que pode agora, é o único tempo que temos para mudar algo. – Ela sorri e me da um beijo na testa. – Tenho aula de yoga agora! Mas qualquer coisa mesmo que precisar pode me ligar no meu celular, que ganhei faz pouco tempo.

— O quê? Yoga, celular? Toda moderna. Por que não me avisou antes? Eu sempre liguei pro seu fixo!

— Desculpe, esqueci de avisar, quase não uso essas coisas. – ela gargalhou.

— Ai vovó… Está bem. – pego um papel e caneta para que ela anote seu número de celular. Vovó Catarina anota e eu passo para minha agenda de contatos. Nos despedimos e ela sai do quarto. Olho para minhas unhas e vejo que poderiam estar melhores, mas me recomendaram para não retirar cutículas com risco de contaminação hospitalar. Nada posso fazer a respeito.

Às 18h as enfermeiras vieram me levar para o banho. Conversei com elas sobre a troca dos produtos de banho e da ajuda que precisava delas para me passarem cremes e perfumes. Com grande simpatia, as enfermeiras não demonstraram nenhuma resistência aos meus pedidos. Uma apenas riu para mim e perguntou “Quem é o sortudo de hoje que vai te ver toda produzida?”. Apenas ri. Depois do banho também me ajudaram a secar e pentear meu cabelo, e também a colocar o vestido. Só não me ajudaram a maquiar porque eu disse que eu poderia cuidar disso muito bem. Realmente fiquei linda com o processo e com um rosto bem mais vívido. Olho para o maior espelho do quarto e a única falta que sinto são sandálias ou sapatilhas, mas como tenho que repousar na cama não faz sentido pensar nisso. Escolhi brincos pequenos de estrelas e nenhuma outra joia. Falta uma hora para as 21h30 e leio livros enquanto isso, mas minha mente está super agitada.

Aproximadamente às 21h10 alguém bate na porta do meu quarto. Eu digo que pode entrar e vejo uma mulher estonteantemente linda. Meus olhos estremecem de emoção. Mischa está vestindo um macacão feminino preto, sem mangas, com cinto dourado e um poncho vermelho. Estou quase dizendo que ela veste Prada, Dior, mas a questão é que sou um pouco desatualizada para identificar as marcas. Seus cabelos brilham e estão enormes até sua cintura, bem mais volumosos que da última vez que a vi. Seu rosto está bastante maquiado, usando um batom bordô e sombra marrom. Uma sandália de salto alto scarpin dourado envolve seus lindos pés. Nos entreolhamos e sorrimos simultaneamente.

 

 


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Notas finais do capítulo

Achei gostoso de escrever e voltar a descrever detalhes superficiais e menos psicológicos.



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