O fato é que o tempo passou. Eu estou terminando o meu ensino médio e cinco fatos foram marcantes:

Fui na mansão de Mischa antes dela visitar minha casa. Acabei sabendo "sem querer" que Alice morava com Mischa. Uma menina linda, cerca de três anos mais velha e era filha da governanta da casa. Sinceramente, rolou uma treta enorme e desnecessária em torno disso. Não, talvez eu esteja exagerando... Não foi desnecessária. Mischa tinha algum tipo de relacionamento esquisito entre amizade e sexo com a tal garota, eu queria vomitar quando soube.

Soube sobre Alice pelas cartas. Depois descobri detalhes mais bizarros, como se não bastasse um pai abandonar a filha em uma mansão e deixar aos cuidados de terceiros, visitando-a uma vez por ano. Não duvido que Mischa tenha sofrido abusos, mesmo que da parte de Alice; ela era mais velha e tinha mais contato com o mundo e provavelmente Mischa não aprendeu tantas coisas sexuais do nada. A minha visita durou dois dias. No primeiro nós saímos para o Shopping e cinema, à noite seria nossa segunda vez juntas se não aparecesse a empata-foda Alice no quarto dizendo que queria se juntar às "primas", caso o contrário ela contaria para Max Spyer nosso segredo. Após muitas discussões, fui embora no dia seguinte.

Quando voltei da visita de sua mansão em Curitiba, minha existência "desintegrou". Entrei em crise, meu pai ficou preocupado e agendou um terapeuta. Fiquei em depressão por um longo tempo, tudo por causa de uma crise de ciúmes e de insegurança. Era incrível o fato de eu depender tanto de uma pessoa e permitir que isso me tornasse doente, foi a limerência. Claro, não se pode simplificar tanto os problemas que passei. Há muitas coisas que mesmo passando por um grande processo terapêutico foram deixadas para trás na análise.

Não importava se Mischa me ligava ou me mandava cartas, na segunda série do ensino médio, com cerca de 16 anos, nós já estávamos o suficiente afastadas. Ela se sentia culpada por causa de Alice, mas não renunciava de nada, seguia a vida e foda-se a Andressa aqui. Me sentia péssima e injustiçada, além do mais nosso relacionamento não havia nenhuma sincronia ou reciprocidade. Tudo que eu queria era virar a página e enterrar nosso relacionamento com carinho, para não doer mais do que deveria. Para tanto me envolvi com um cara qualquer para esquecê-la e, óbvio, foi má ideia.

Kevin era muito lindo, cara daqueles em capa de revista da Capricho e estilo vocalista Boy Band. Sim, como fui me meter nisso? Que burrice que eu fiz? No começo era perfeito. Ele me respeitava, me mimava, fazíamos um teatro para o mundo de que éramos aquele casal heterossexual perfeito e que em algum momento nos casaríamos até que morte nos separasse. Queria esquecer Mischa, mas nunca consegui e por isso tentava ao menos fazer ciúmes nela. Nas redes sociais eu tirava trocentas fotos românticas com Kevin, babaquice mesmo. Tudo ótimo até que ele resolveu exigir e forçar sexo – estupro –. Sim, um relacionamento abusivo iniciou-se. Eu não podia sair com amigos, ele brigava comigo com qualquer coisa incluindo vestimentas e conversas com Mischa – eu tinha contado sobre essa história homo – e queria sexo em momentos que eu estava muito desanimada. Não sei como aguentei essa existência do meu lado. A esse ponto pensar em Mischa era sonhar com alguém muito superior a mim.

Por algum inferno, mesmo tomando anticoncepcional regularmente eu engravidei. Sim eu fiquei desesperada. E o que eu fiz? Busquei abortar, Kevin concordou. Comprei remédios abortivos e imaginem: fui parar no hospital, tive que ficar internada. Tive hemorragia interna devido a um tipo de gravidez fora do útero, que rompeu a minha trompa de Falópio. É meu último ano no Ensino Médio, meus últimos dias de namoro com o idiota do Kevin e sim... O meu mais inevitável encontro com Mischa.