Perfection escrita por Misu Inuki


Capítulo 3
Malas, "pajamas" e creme anti-rugas?!




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Não sei quanto tempo eu fiquei “hipopotizada”, com aquele email.
Parecia um cachorro faminto, olhando para um forno aceso, com um frangão de 5 quilos.
Eu nem piscava.

Eu li umas 30 vezes, passei para o Google Tradutor umas cinco, e peguei meu dicionário inglês e procurei cada palavra. Tudo confirmava que eu havia sido escolhida.
Mas eu continuava com o pressentimento de que tinha alguma coisa errada.
Não era pessimista, nem nada. Só como diz velho ditado ” Quando a esmola é grande, santo desconfia”.

Eu  era garota o mais longe possível de sortuda.
Sempre que havia a menor chance de algo dar errado, acontecia, e da pior maneira possível. Todo azar num raio de 500 quilômetros era atraído para mim, e eu não estou exagerando.

As coisas mais absurdas e improváveis cientificamente aconteciam comigo todos os dias:
Sempre faltava luz na noite anterior a uma prova importante, ou eu estudava a matéria errada.
Eu nunca conseguia assistir um filme no cinema, pois ou a fila era tão grande que quando eu ia comprar o meu ingresso já havia sido esgotado, ou algum poste ambulante sentava bem na minha frente.
Meu time de educação física sempre, eu disse SEMPRE perdia.
Independente se tivesse o próprio Pelé jogando com a gente.

Era bem capaz de um raio cair duas vezes na minha cabeça, se eu saísse de casa quando estivesse chovendo.
Acho que posso me considerar pós-graduada na Lei de Murph.
Então, conseguir algo assim, entre milhares de pessoas, era completamente impossível.
Comecei a acreditar no que a Ana vivia dizendo, pois euzinha ser chamada, entre milhares de fãs para a segunda temporada de Full House, era um sinal claro de que estava chegando o “Fim dos Tempos”

Apocalipse e profecias á parte; o email explicava tudo que deveriamos fazer.
Primeiro: Uma autorização legalmente reconhecida pelos responsáveis.

Ser menor de idade é uma droga, em todos os sentidos. Parece que somos grudados com superbond nos pais e que não podemos dar um passo sozinhos sem causar problemas.
Meus pais sabiam que eu havia concorrido para ir para Coréia do Sul, mas tenho certeza que a novela era mais importante do que eu falava pra eles.
Eles com certeza não lembrariam disso, ou seja, isso aumentava consideravelmente as chances de ganhar um ‘não’.

Desliguei o computador, me preparando psicologicamente para o que teria que fazer.
Me sentia uma amazona, a própria Joana D’Arc antes da guerra.
Apesar que até ela teria medo dos meus pais.

Caminhei pelo corredor, respirando fundo.
Minha casa tinha um tamanho relativamente comum.
Meu quarto ficava no fim do corredor. E do meu irmão e o dos meus pais ficam de frente um para o outro.
 
Como eu imaginava, minha mãe estava assistindo a novela.
Mesmo com a porta fechada, eu conseguia ouvir o barulho do vídeo game do meu irmão.
Quando cheguei na sala, encontrei meu pai vendo o jornal.
Essa era a pior hora do dia para convocar uma reunião de família, mas eu tinha que fazer isso.

-Pai..

-O que é, filha?-ele respondeu sem tirar os olhos da Tv, um péssimo sinal.

-Preciso conversar com o senhor... Aliás com todo mundo.

-Depois que o jornal acabar.

Suspirei desanimada, e fui ver se tinha algum resultado melhor com a minha mãe.
Sentei do lado dela na cama, e por sorte, eu tinha lido o resumo da novela na Web.

-E agora que ele se declara pra ela?-chutei

-Não, e pelo jeito vai demorar.

-Por que? Se ambos gostam um do outro, não é mais fácil falar de uma vez?

-As coisas não funcionam bem assim... Os homens lidam com os sentimentos de forma diferente da gente. Eles tentam racionalizar tudo, entender tudo de forma lógica. E como não conseguem, ficam perdidos, e com medo.

-Medo?-perguntei sem entender

-Medo daquilo que não conhecem.

Balancei a cabeça concordando, mas sem entender nada do que ela estava falando.
Estar apaixonado é tão lindo, é algo maravilhoso e tão simples.
Porém em todo o filme, ou livro que eu leio, os protagonistas dificultam tanto as coisas.

-O que você queria falar comigo de verdade?-minha mãe falou tirando-me dos meus pensamentos.

Ela tinha desligado a Tv, e me olhava como se soubesse de tudo.

“Mães e seus poderes mágicos de ler a nossa mente”- pensei suspirando

Me esforçando, para falar tudo de forma calma, comecei a contar para ela desde o começo.
Desde a inscrição, até o e-mail-resposta daquele dia.
Ela ouviu tudo sem comentar nada, até eu falar do prémio.
Eu sabia que ela não me autorizaria ir para o outro do mundo, se fosse só para conhecer a banda. Ainda mais porque eu ia perder mais de um mês de aula.
Mas ter a chance de estudar, com todas as despesas pagas, numa das melhores escolas de música do mundo, valeria muito a pena.
Quem vencesse teria uma bolsa completa de estudos, com direito a moradia, alimentação e despesas pessoais arcadas pela empresa.

Minha mãe refletiu muito, e eu ia ficando cada vez mais tensa conforme o tempo passava.
Fizemos uma típica reunião de família, e para minha sorte, minha mãe me apoiou.
Passamos  o resto da noite discutindo pós e contras.
Mas no final eles me autorizaram.

Quando me joguei na cama, já eram 2 da manhã, e eu não estava com nem um pingo de sono.
Pensa em tudo: Nos passaportes, malas, e milhares de outras coisinhas que eu teria que fazer antes de viajar.

De acordo com o e-mail, eles da SM arcariam com todas as despesas, o que era uma preocupação a menos, já que desde a crise econômica que eu não sei mais o que é receber mesada.
Um dos motivos de eu odiar os EUA... A bolsa deles quebra, e o nosso bolso  é que fica vazio.

Depois de muito tempo rolando de um lado pro outro, acabei cochilando...

“Estava encolhida no chão tentando manter o calor do meu corpo.
Estava muito mais frio que antes, e a cada segundo esfriava mais.
Pode sentir meu corpo enrijecendo, mas eu não podia ficar ali.
Eu não queria morrer ali.

Me levantei, escorando na superfície atrás de mim.
Fazer um menor movimento era doloroso, mas eu precisava arranjar um jeito de sair dali, rápido. Apoiando no que me pareceu ser uma parede, fui caminhando devagar e reto, com medo de fazer algum barulho. 

Ninguém podia saber que eu estava ali....viva.”

O som estridente e extremamente irritante do meu despertador me acordou, mas eu apenas abri os olhos. Forcei meu corpo para frente, para tentar levantar, mas eu estava completamente rígida, e quando finalmente consegui me colocar sentada na cama, senti uma dor horrível passando por todo o meu corpo. Meu olhos chegaram a lacrimejar.

“Que diabos está acontecendo comigo?”-pensei enquanto tentava sair da cama.

Tão rápido quando surgiu, a dor e a rigidez desaparecerem, e eu finamente pude jogar o meu despertador no chão.

Eu SEMPRE acordo igual ao Mike Taisson de TPM. E como o meu despertador é a primeira coisa que eu fecho pela manhã, é ele que sofre as consequências.
De tanto eu socar a parte de cima, para travar o barulhinho irritante, o botão simplesmente parou de funcionar.
Então, minha alegria matinal, era joga-lo no chão até ele parar de tocar, na esperança que ele quebrasse de uma vez.
Mas como eu provavelmente colei chiclete nas barbas de Moiséis, o despertador era feito de Kriptonita e titânio, confeccionado pelo Mestre Ioda e aprovado pelo Chuck Norris.

Ou seja, ele não quebrava NUNCA.

Quando o aparelho resolveu parar de testar a minha paciência, eu arrumei a cama .
Peguei o primeiro conjunto de roupa que vi no armário, e fui pra tomar o meu bainho.

Abri o chuveiro, e peguei o vidro de xampu.
Meu show estava começando.
Primeiro eu comecei com um Mr. Simple., com direito a coreografia improvisada. Depois dei uma palhinha de Sorry, Sorry e terminei romântica com Marry You.
Apesar dos meus fãs imaginários implorarem por mais músicas, eu finalizei a apresentação, e coloquei minha roupa.

Naquele dia, iriamos resolver tudo para a viagem.
Minha mãe me contou, super empolgada que, tinham ligado para aqui.
Para felicidade geral, SM usou tradutores para fazer as ligações para as selecionadas.
Minha mãe riu muito do sotaque forte do carinha que tinha ligado, mas ela consegui entender tudo e me disse para enviar os dados que faltavam.

Liguei para as meninas, e marcamos de ir compra tudo que faltava, ou seja literalmente tudo, naquela tarde mesmo.
Não foi bem uma conversa inteligível pois a cada palavra dávamos um gritinho digno de patricinha americana.

Mandei minha ficha completa para a SM em inglês e em português para ter certeza que não teriam erros.

Depois, passei umas duas longas horas subornando meu pai para conseguir um empréstimo.
A essa altura do campeonato eu já devia ele o dinheiro do meu futuro salário até os trinta anos, então ficar mais uns 50  não varia muita diferença.
Depois de muito esforço, e lágrimas dignas de um Oscar, consegui a senha do cartão de credito dele, e antes que ele mudasse de ideia, saí de casa.

Alguns minutos depois, encontrei as meninas no shopping.
Elas me contaram da odisseia que foi convencer os pais de ambas, mas, assim como aconteceu comigo, tudo deu certo.
Eu nem senti o tempo passar, e quando percebi estávamos abarrotadas de sacolas de compras.

-O que mais falta?-perguntei sentindo meus pés começarem a reclamar da nossa pequena maratona.

Ana tirou da bolsa o bloco de folhas e verificou a lista.
Antes de sair torando o dinheiro dos nossos velhos, achei melhor fazer uma lista de tudo que iriamos precisar. Só que por um deslize meu, acabei deixando que a Ana a escrevesse, ou seja, ela escreveu tudo que existe no mundo. Parecia que íamos ficar presas em uma ilha inóspita pelos próximos sessenta anos, sem o menor contato com a sociedade.
A lista tinha desde uma caixa de fósforo a creme anti-rugas.
 
-Nunca se sabe quando os primeiros pés de galinha vão aparecer, então é melhor estarmos prontas.- ela se defendeu com a cara mais lavada do mundo.

O pior é que ela conseguia achar justificativas para todas as coisas bizarras que ela queria comprar, tipo um bote inflável, chave de fenda, um pote de tachinhas , escova para pentear crina de cavalo puro sangue...

Por fim acabou se tornando uma lista de coisas para NÃO se levar para a Coréia.
Jack resolveu fazer a lista dela, que se resumia a uma escova e pasta de dentes, sabonete,  2 casacos , uma calça jeans... e só.

Coimo vi que não iriamos chegar a lugar nenhum, eu mesma escrevi as coisas que eram importantes, e liguei para minha mãe para ver se tinha me esquecido de alguma coisa.
As meninas acabaram concordando, e assim, podemos começar, finalmente as nossas compras.

-Só falta nossos “pajamas”.-Ana respondeu sorrindo e eu até esqueci das bolhas nos meus pés.

Jack riu, mas perguntou:

-Mas porque a gente precisa comprar “pajamas”?

-Para dormir, ué!- Ana botou as mãos na cintura- Só falta você dizer que também não é necessário.

A ruiva cruzou os braços atrás da cabeça e falou tranquilamente:

-Eu tenho uma idéia que é muito mais confortável, ecologicamente correta, econômica
 e bem mais interessante.

-Qual?-perguntei

-Todo mundo dormindo junto e peladão.

Eu praticamente caí no chão de tanto rir, e a Jack continuou dando suas explicações.

-Pensem comigo: Não gasta ar condicionado, ou aquecedor. E ainda por cima encontrar Shisus do jeito que veio ao mundo, como primeira imagem do dia. Tem coisa melhor?

Ana nem conseguiu brigar com a Jack por falar do Siwon, de tanto que ela ria.
Jackeline sempre falava alguma coisa ultra sem-noção quando a gente mesmo esperava.
Depois que passou o nosso ataque de risos, fomos comprar o ultimo item da lista.
Mas não foi tão simples porque praticamente tivemos que arrastar a ruiva, para fora da loja de sex shop.

-Meninas, você não queriam comprar um roupa de dormir? Por que então, vocês estão implicando?

-Precisa mesmo dizer?- Ana comentou apontando para a camisola vermelha quase completamente transparente, que estava no manequim.

-É uma camisola, não é? E muito linda por sinal.

Realmente ela era linda mesmo. Mas eu não iria admitir nem sob tortura, pois sabia que ia incentivar ainda mais as ideias mirabolantes da minha amiga.

Cheguei à casa cansada, com os pés doloridos e bem mais trade do que pensei que chegaria.
Mas estava ansiosa para começar a arrumar as malas.
Peguei a maior, em vários tons de azul, minha cor favorita e coloquei em cima da cama.
Mal abri o zíper, meu coração apertou no peito.
E eu simplesmente não consegui me mexer, não consegui colocar nada ali.
Não podia arrumar as malas.

Depois que meus músculos destravaram, coloquei as coisas num canto do quarto, e deixei para arrumar com calma do dia seguinte.
Me joguei na cama, tentado ignorar o arrepio que tive.
Fechei os olhos, e comecei a pensar em algo que me aclamasse.
Não precisei fazer o menor esforço, para pensar Kyuhyun, e automaticamente me sentir mais leve e feliz.
Em muito em breve, o encontraria de verdade. Saberia como é seu sorriso de perto, o brilho de seus olhos...  Saberia finalmente, quem é de fato, o dono do meu coração.


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