Outra manhã fria no transporte superlotado de São Paulo. Mais uma manhã de aulas e mais aulas, mas o mais importante era aquela companhia pequena que, todos os dias, pegava o transporte lotado ao meu lado para irmos estudar; que falava sem parar até que se cansasse e encostava o rosto tão delicado na altura do meu peitoral, pouco acima de meus seios pequenos. E eu podia sentir seu cheiro único misturado com a fragrância de laranja que seus fios castanhos, um pouco encaracolados, exalavam; eu podia sentir o meu coração acelerar, mas apenas envolvia-lhe os ombros com meus braços, para não permitir que caísse, aproveitando daquele aroma de laranja já tão pertencente á seu próprio cheiro, e a observava com as mãos quase encostadas a seu próprio corpo e seus olhos fechados, numa tranquilidade, numa paz, aproveitando ao máximo aquele contato.

Ela abria então os olhos falando algo rápido demais, que eu mal entendia por estar tão distraída com aproveitar aquela sensação de estar tão perto, aquele perfume hipnotizante, e tampouco questionava; mesmo que eu quisesse fazê-lo, mal havia tempo, ela logo voltava a encostar-se em mim e fechar os olhos, e eu só a acomodava ali.

Chegávamos ao nosso destino, ela se movia dali, e eu sentia frio. E falta de seu corpo encostado no meu de forma tão inocente. Pegava ambas as mochilas que estavam postas no chão atrás de nós e saia, com ela vindo logo atrás. Seria mais uma manhã com ela, e ela continuaria não imaginando. Para ela, uma amiga legal; talvez uma boa companhia durante o trajeto da escola. E ela jamais saberia o tamanho do amor que lhe tenho. Jamais saberia o quanto eu lutaria para vê-la - a garota com um doce odor misturado com laranjas - a sorrir de felicidade, mesmo que, saber que não seria comigo - não como eu desejava - doesse. Estaria tudo bem se eu pudesse vê-la sorrir, sempre doce, sempre serena. E aproveitar de sua companhia, encostada em mim, daquele jeito inocente e tranquilo como só ela fazia. Isso bastava.