O Diário de Uma Heroína escrita por Kagome_


Capítulo 6
Capítulo 6




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Parece que, se você pula em cima de um suposto assassino que não esperava essa reação, ele era o alvo. De modo que a bala que o sr. Esquisito pretendia enviar a toda velocidade na direção da cabeça do presidente atravessou a estratosfera toda sem machucar ninguém. Mas uma coisa também acontece quando você se joga em cima de um cara armado. A tendência dele é ficar surpreso, perder o equilíbrio e cair de costas em cima de você, de modo que você fica totalmente sem fôlego e a sua capa emborrachada sobe, a água entra pela parte de trás da sua calça e você fica toda molhada. Além disso, o cara aterrissa bem em cima do seu braço direito, e você ouve um barulho de coisas esmagadas e dói muito, muito mesmo, e você só consegue pensar em uma coisa: Será que aconteceu o que eu pensei que aconteceu?

Mas você nem tem tempo de ficar ruminando muito o assunto, porque está muito ocupada tentando impedir que o cara dê outro tiro, o que você faz berrando:

- Arma! Arma! O cara está armado.

E apesar de todo mundo já saber disso, que o cara está armado, isso parece funcionar, já que, de repente, uns vinte agentes se aglomeram em torno com as próprias pistolas, todas apontadas para a sua cara, e todos gritando:

- Não se movam!

Acredite, eu não movi nem uma palha.

A primeira coisa que eu vi foi o sr. Esquisito sendo tirado de cima de mim e o pessoal começou a me puxar também. Alguém puxou meu braço esmagado e eu gritei bem alto, mas pareceu que ninguém ouviu. Todos estavam muito preocupados em falar nos seus walkie-talkies, dizendo coisas do tipo:

- A Águia está a salvo. Repetindo: a Águia está a salvo.

De repente, apareceu um monte de carros de polícia e ambulâncias vindas de não sei lá onde. E daí, três agentes do serviço secreto começaram a remexer na minha mochila, enquanto um outro se abaixava para apalpar o meu tornozelo (como se tivesse uma faca ali) e mais um terceiro enfiava as mãos no bolso da minha capa. Ele também torceu meu braço direito um pouco mais. Eu gritei de novo. Então o agente revistou tudo e mandou:

- Está aqui parece estar desarmada.

- Claro que eu estou desarmada – berrei – Eu só estou no primeiro ano!

O que é uma coisa totalmente babaca de se dizer. Têm tantos adolescentes que tem armas. Só que eu não estava pensado direito. Na verdade, eu estava quase chorando. Você também estaria se:

a)      estivesse toda molhada,

b)      seu braço estivesse muito provavelmente quebrado e doesse um montão,

c)      as pessoas estivessem berrando mas você não conseguisse ouvir muito bem porque a arma do sr. Esquisito tinha atirado bem perto do seu ouvido, causando um dano auditivo,

d)      você viu uns 20 canos de armas apontados para a sua cara. Mesmo que tivesse sido só um. E

e)      estava começando a parecer muito provável que seus pais fossem descobrir que você cabulou a aula de desenho.

Daí um agente mais velho veio na minha direção. Ele parecia menos assustador do que os outros agentes. Ele começou a falar todo sério:

- Você vai vir com a gente, garota. Precisamos fazer algumas perguntas para você a respeito do seu amigo aí.

Foi aí que eu me toquei. Eles achavam que nós éramos amigos. Eles achavam que nós tínhamos tentado matar o presidente.

- Ele não é meu amigo – choraminguei. Eu já não estava quase chorando. Eu estava mais que quase chorando. Eu não estava nem aí. Estava chovendo, eu estava toda molhada, meu braço estava me matando de dor, meus ouvidos apitavam e o Serviço secreto achava que eu era parte de algum grupo de terroristas, ou qualquer coisa assim.

- Eu nunca tinha visto esse cara antes de hoje! – falei – Ele sacou aquela pistola, e ele ia atirar no presidente, então eu pulei em cima dele, e ele caiu em cima do meu braço, e agora está doendo de verdade, e eu só quero ir pra ca-a-as.

Foi mesmo uma vergonha. Eu estava chorando que nem um bebê. Pior do que um bebê. Eu estava chorando igual a Kikyo. E daí, uma coisa muito surpreendente aconteceu. O agente me abraçou. Disse alguma coisa para os outros agentes e me levou pra longe deles, em direção a ambulância. Abriram as portas e ele me levou pra dentro.

Era legal lá dentro. Todos estavam sendo muito legais comigo. Eles fizeram até uma piadinha e foram tão legais que eu parei de chorar. Fala sério. Tudo estava dando certo. A não ser a parte que os meus pais fossem descobrir que eu tivesse cabulado aula.

Enquanto os paramédicos examinavam meu braço, olhei para o agente que estava fazendo um relatório do que tinha ocorrido.Eu não queria incomodarm mas eu precisava mesmo saber se aquilo ia demorar muito:

- Hum, dá licença, moço?

O cara do serviço secreto levando os olhos.

- Pois não, querida?

A coisa da querida acabou comigo. Claro que ele não sabia que ninguém me chamava de querida, só a minha mãe. Então, poxa, eu não queria ser tão sem educação perguntando se aquilo iria demorar. Então, eu resolvi mudar de assunto:

- Hum, tudo bem com o presidente?

- O presidente está ótimo querida. Graças a você.

- Ah – respondi – que bom. Então, hum, você acha que eu posso ir embora agora?

Os paramédicos trocaram olhares. Pareciam surpresos.

- Não com esse braço aqui. Seu pulso está quebrado garota. Vamos precisar tirar um raio X, para ver a gravidade, mas aposto dez contra um que você vai ter que usar um gesso bem bacana aí, e seus novos admiradores vão poder assinar.

Admiradores? Do que ele estava falando?

E eu não podia colocar gesso. Se eu colocasse, meus pais iriam querer saber como eu quebrei o braço, e daí eu teria que contar que matei aula. A não ser...a não ser que eu dissesse a eles que eu tinha tropeçado na escada do ateliê. É, mas, e se fossem perguntar pra ela?

Ah, caramba. Eu estava tão ferrada.

- Será que não dá pra eu...- eu estava completamente desesperada – Será que não dá pra eu tipo, ir ao médico amanhã, ou algo assim? Tipo assim, meu braço está bem melhor.

Os paramédicos e o agente olharam pra mim como se eu fosse doida.. Tudo bem, fala sério. Meu braço tinha inchado tanto, que estava do tamanho da minha coxa e estava pulsando igual a um coração.

-É que a minha empregada está vindo me buscar. E se vocês me levarem para o hospital, e se eu não estiver onde eu iria estar, ela vai ter um treco.

- Por que você não me dá o telefone dos seus pais? Vamos precisar entrar em contato com eles para            que você receba os cuidados que precisa.

Ah, meu Deus! Eles com certeza vão saber que eu cabulei aula.

- Olha aqui – pedi – Você não precisa contar para os meus pais que isso aconteceu. Tipo assim, claro que você precisa contar isso a eles, mas não que eu cabulei a aula de desenho e fiquei na Four Seasons. Tipo, você não precisa contar essa parte, né?

O cara ficou olhando pra mim com os olhos arregalados, como se não fizesse a mínima idéia do que eu estava falando. E claro que ele não sabia.

Mas parece que ele achou que era melhor entrar na minha (como se eu também tivesse batido a cabeça), já que disse:

- Então, por que não esperamos pra ver?

Bom, acho que é melhor do que nada. Dei pra ele os telefones, e fechei os olhos e encostei a cabeça na parede da ambulância.

Ah, tudo bem, pensei. As coisas poderiam ter sido bem piores.

Por exemplo, eu poderia ter um osso de galinha no lugar do nariz.


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