O Diário de Uma Heroína escrita por Kagome_


Capítulo 14
Capítulo 14




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Capítulo 14

 

Só demorou umas duas horas para a escola inteira saber que eu ia levar o filho do presidente na festa da Kagura na sábado á noite, como se ele fosse meu namorado ou algo assim.

 

Por alguma razão, as pessoas pareciam achar isso mais interessante do que o fato de que eu tinha impedido que uma bala penetrasse na cabeça do líder de nossa nação, ou que eu era a nova embaixadora teen na ONU do país. Por um lado, eu fiquei feliz por não receber parabéns toda hora por cauda da minha coragem. Mas, por outro, era irritante ver todo mundo fazer piada a respeito do que pode ou não ter acontecido entre o filho do presidente e eu naquela escapada no meio do jantar.

 

- Olha, você está entendendo tudo errado – começou Kikyo quando eu comentei o assunto na mesa da cozinha, depois da escola. – O fato de você e esse tal de Inuyasha estarem andando juntos... VÊ SE PÁRA DE ME BELISCAR... só vai ajudar a aumentar sua fama, que agora já está bem grande. Você, Kagome, é a nova estrela daquela escola. Se você pudesse pelo menos largar essa mania de combinar preto com preto, você poderia virar a rainha do baile de fim de ano assim – a Kikyo estalou os dedos no ar, e o Buyo veio correndo, achando que talvez ela tivesse derrubado no chão um pedaço de biscoito com gotinhas de chocolate que a Kaede tinha feito e nós estávamos mastigando.

 

- Bom, só que eu não quero ser a rainha do baile – respondi. – Só quero que as coisas voltem ao normal.

- Vou dar um chute: isso não vai acontecer tão cedo – declarou Kouga. Ele apontou para os repórteres que dava para ver, segurando câmeras, atrás da cerca do quintal dos fundos, tentando tirar uma foto.

 

- Ai meu Deus!! – exclamou Kaede e foi até o telefone para ligar para a policia de novo.

 

Afundei o queixo nas mãos e mandei:

 

- Só não entendo por que é que você tinha que falar isso pra todo mundo. Olha, não tem nada a ver com a realidade.

 

Falei tudo isso da maneira bem clara, para que o Kouga ouvisse. Tipo, eu queria ter certeza de que ele sabia disso: se algum dia ele mudasse de idéia a respeito da Kikyo, eu ainda estava disponível.

 

- E como é que eu ia saber qual é a verdade? – perguntou Kikyo toda pedante. – Você não quer falar onde vocês dois se esconderam na noite passada...

 

Não dava para acreditar que ela tinha coragem de tocar nesse assunto na frente do Kouga. Mas devo admitir que, levando em conta que Kikyo não sabia da posição do Kouga como minha alma gêmea, dessa vez não dava para culpá-la.

 

- Porque não é da sua conta! – gritei. – Olha, você não fica me contando cada coisinha que faz com o Kouga.

 

- A-há! – Kikyo me apunhalou com uma daquelas unhas pontudas dela, um sorriso triunfante no rosto. – Eu sabia! Vocês dois estão ficando!

 

- Não, não estamos – retruquei. – Eu não disse nada disso.

 

- Disse sim. Você acabou de confessar. Você disse: “Você não fica me contando cada coisinha que faz com o Kouga”, o que com certeza significa que você e o Inuyasha estão juntos, igualzinho ao Kouga e eu.

 

- Não, não significa – insisti. – Não quer dizer nada disso...

 

Mas o meu argumento extremamente lúcido foi interrompido pela Kaede que, depois de terminar de falar com a polícia no telefone, foi receber um pacote que tinha chegado por entrega especial.

 

- É para você – informou, colocando o pacote na minha gente. – O moço disse que veio da Casa Presidencial.

 

Todo mundo olhou para o pacote.

 

- Está vendo – confirmou Kikyo. – É do Inuyasha. Eu falei que vocês dois estão ficando.

 

- Não é do Inuyasha – respondi ao abrir a embalagem – E a gente não está ficando.

O pacote revelou-se um kit de informações sobre minha nova função de embaixadora teen.

 

Ao ver aquilo, Kikyo voltou para a revista dela, totalmente decepcionada. Mas o Kouga ficou todo animado e começou a ler cada folhetinho e tudo o mais.

 

- Olha só isso aqui. Vai ter uma exposição de arte internacional. Da Minha Janela. Vai ter artistas adolescentes do mundo inteiro, retratando, com materiais diversos, o que vêem todos os dias através da janela.

 

Do outro da mesa, a Rin, que estava revisando suas planilhas, fuzilou:

 

- E os adolescentes que não têm janela? Tipo os alienígenas adolescentes que estão presos contra vontade? Acho que eles não vão estar lá representados, não é mesmo? Você acha isso justo?

 

      Como sempre, todo mundo a ignorou.

 

- Ei! – exclamou Kouga, cada vez mais animado. Tudo que envolvia arte deixava o Kouga animado. – Ei, eu vou me inscrever nisso aqui. Você também deveria, Kagome. O vencedor de cada país exposto na sede da ONU durante todo o mês. Isso daria uma visibilidade. E é em Nova York. Olha, quando você tem um trabalho exposto em Nova York, não precisa de mais nada!

 

Eu estava lendo a carta que tinha vindo junto com o panfleto do concurso Da Minha Janela.

 

- Eu não posso me inscrever – informei, um pouco surpresa. – Faço parte do júri.

 

- Você está no júri? – Kouga ficou muito feliz ao saber disso. – Que maravilha! Então eu me inscrevo, você escolhe o meu quadro e logo logo eu vou estar fazendo a minha estréia no circuito das artes de Nova York.

 

Rin ergueu os olhos das planilhas e olhou para o Kouga, incrédula:

 

- A Kagome não pode fazer uma coisa dessas – sentenciou. – Seria trapaça!

 

- Não é trapaça nenhuma se o quadro for mesmo o melhor – respondeu Kouga.

 

- É, mas e se não for? – Kikyo quis saber. Ela é a pior namorada do mundo. Nunca conheci ninguém que dá tão pouco apoio ao homem que supostamente ama!

 

- Vai ser – Kouga deu de ombros, com aqueles ombros enormes dele, como se aquele gesto pudesse resolver a questão.

 

Mas é claro que o Kouga estava certo: o quadro dele ia ser o melhor de todos. Os quadros do Kouga eram sempre os melhores. Sempre foram, tanto que foram escolhidos para todas as exposições em que se inscreveu.

 

 E na minha opinião não tinha nada a ver com o fato de que, por acaso, eu era totalmente apaixonada por ele.

 

Eu meio que consegui tirar toda aquela história de Inuyasha da cabeça até a hora que a Sango ligou, à noite, enquanto eu tentava fazer a lição de casa de inglês.

 

- Então. Você vai à festa da Kagura?

 

- De jeito nenhum.

 

- Por que não?

 

- Hum, porque a Kagura é cria do Satã – respondi, um pouco surpresa. – E você sabe disso melhor do que ninguém.

 

Rolou um silêncio. Daí a Sango disse, pausadamente:

 

- É. Eu sei. Mas eu sempre quis ir a uma das festas dela.

 

Não dava pra acreditar. Eu afastei o fone do rosto, literalmente, e fiquei olhando para ele durante alguns segundos antes de colocá-lo de novo na orelha e mandei:

 

- Sango, do que é que você está falando? Olha o jeito como ela trata você!

 

- Eu sei – confessou Sango, parecendo arrasada. – Mas todo mundo que vai a uma festa da Kagura fica falando sobre o que aconteceu lá, como foi divertido. Não sei. Ela também me deu um convite. E eu estava meio que pensando em ir. Mas só se você fosse também.

 

- Bom, eu não vou – respondi. – Nem o Sr. Esquisito poderia me forçar a ir lá, nem se ameaçasse me fazer ouvir aquelas músicas irritantes dele cinqüenta mil vezes e quebrasse os meus DOIS braços.

 

Mais um silêncio. E foi aí que a Sango falou a coisa mais surpreendente de todas. Mandou:

 

- Bom, mas eu continuo com vontade de ir.

 

Fiquei sem palavras. Se a Sango tivesse dito que estava pensando em raspar a cabeça e se juntar aos Hare Krishina, eu não teria ficado mais surpresa.

 

- Você quer ir à festa da Kagura? – exclamei, tão alto que o Buyo, que estava dormindo na minha cama, com a cabeça no meu colo, acordou e começou a olhar em volta, sobressaltado. – Sango, você está usando aqueles marca-textos com cheirinho de novo? Porque eu falei que eles deixam a gente bem...

 

- Kagome, estou falando sério – confirmou Sango. A voz dela parecia bem pequenininha. – A gente nunca faz as coisas que o pessoal normal faz.

 

- Isso é totalmente mentira – argumentei. – No mês passado a gente foi assistir à peça do clube de teatro, não foi?

 

- Kagome, nós duas éramos as únicas pessoas na platéia que não eram parente de ninguém que estava no palco. Eu só quero, de verdade, uma vez na vida, ver como é. Ser, sabe, parte da panelinha. Você nunca ficou imaginando como é?

 

- Sango, eu já sei como é. Eu moro com alguém assim, está lembrada? E não é legal. Precisa passar muito gel no cabelo.

 

A voz da Sango estava mesmo muito pequenininha.

 

- Mas é que talvez essa seja a minha única chance, sabe como é.

 

- Sango – prossegui. – A Kagura só foi má com você desde que vocês se conheceram, e agora você quer ir à casa dela? Desculpa, mas isso é mesmo...  

 

- Kagome? – começou Sango, ainda com aquela vozinha. – Eu conheci um garoto.

 

Eu quase deixei o telefone cair.

 

- O quê? Como assim?

 

- Um garoto. – Sango falou bem rápido, como se com medo de que, se não falasse tudo de uma vez, não falaria nunca. – Você não conhece. Ele não está na nossa escola. O nome dele é Miroku. Meus pais conhecem os pais dele da empresa. Ele sempre está no fliperama quando meus irmãos e eu estamos lá. Ele é superlegal. E tem uma das pontuações mais altas em Death Storm.

 

Acho que fiquei em estado de choque ou qualquer coisa assim, porque a única coisa que eu consegui pronunciar foi:

 

- Mas... e o John Deep?

 

- Kagome, eu preciso cair na real em relação ao John – respondeu Sango, com uma voz tão corajosa como eu nunca vi. – Mesmo se algum dia a gente se conhecesse, ele nunca ia sair com uma garota que ainda está na escola. Além disso, ele passa a maior parte do tempo nos EUA. Quando é que eu iria para os EUA? Minha mãe e meu pai mal me deixam ir ao shopping center sozinha...

 

Eu continuava em estado de choque.

 

- Mas você acha que eles vão deixar você sair com esse tal de Miroku?

 

- Bom... – respondeu Sango. – O Miroku ainda não me convidou para sair, exatamente. Acho que ele é tímido. É por isso que eu estava pensando em convidá-lo para sair. Sabe. Para ir à festa da Kagura.

 

Eu realmente não conseguia enxergar a lógica por trás daquilo tudo.

 

- Sango, por que é que você não convida o Miroku para ir ver um filme ou qualquer coisa assim? Por que é que você precisa levá-lo à festa da Kagura?

 

- Porque o Miroku só me conhece no fliperama. – explicou ela. – Ele não sabe que eu não sou da panelinha. Ele acha que eu sou descolada.

 

Eu não sabia bem como expressar o que eu precisava dizer a seguir, mas achei que tinha que falar. Afinal, é para isso que servem as melhores amigas.

 

- Mas, Sango – comecei. – Olha, ele vai saber na hora que você não faz paret da panelinha no segundo que a gente pisar na casa da Kagura e ela falar uma daquelas coisas horrorosas que ela sempre fala de você na frente dele.

 

- Ela não vai fazer nada disso – ela parecia mais confiante do que nunca.

 

- Não vai? – fiquei muito surpresa ao ouvir isso. – Você está sabendo alguma coisa da Kagura que eu não sei? Ela passou por alguma conversão religiosa ou qualquer coisa assim?

 

- Ela não vai falar nada desagradável para mim se você estiver lá – concluiu Sango. – E se você levar o Inuyasha.

 

Comecei a ter um ataque de riso. Não deu para segurar.

 

- O Inuyasha? – gritei. – Sango, eu não vou à festa da Kagura e, mesmo que fosse, nunca ia levar o Inuyasha. Olha, eu nem gosto dele. Você sabe de quem eu gosto.

 

Mas eu não podia falar o nome alto, para o caso de a Kikyo pegar a extensão do telefone, o que ela fazia sempre, para reclamar que eu estava falando havia muito tempo e que ela precisava fazer uma ligação.

 

Mas eu também não precisei falar o nome dele. Porque a Sango sabia muito bem de quem eu estava falando.

 

- Eu sei, Kagome – Sango respondeu. A voz dela ficou pequenininha de novo. – É só que... bom, eu achei que... tipo, se você pensar bem sobre o assunto, ele é tipo o John para você, sabe. O Kouga. Olha, ele não mora nos EUA, mas...

 

... minhas chances de ficar algum dia com ele eram, tipo, zero. Ela não precisava nem falar. Eu sabia o que ela estava pensando.

 

Só que a Sango estava errada. Porque um dia eu ia conquistar o Kouga. Ia mesmo. Se tivesse paciência, simplesmente, e fizesse o jogo certo, ele iria olhar em volta algum dia e perceber que eu era (que eu sempre fui) a garota perfeita para ele.

 

Era só uma questão de tempo.


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