O Diário de Uma Heroína escrita por Kagome_


Capítulo 12
Capítulo 12




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Não dava pra acreditar. Fui pega no pulo! Tinha me ferrado!

Senti meu rosto ficar vermelho até as raízes com condicionador de cavalo dos meus             cabelos.

Mesmo assim, tentei. Tentei fingir que não sabia do que ele estava falando.

- Guardanapo? – perguntei pensando que, com meu rosto escarlate, eu provavelmente parecia uma tigelona de sorvete de morango. – Que guardanapo?

- Aquele que você usou para esconder o jantar inteiro – disse Inuyasha, com cara de quem estava se divertindo. Os olhos deles pareciam mais dourados do que nunca. – Espero que você não tenha tentado jogar na privada e dar descarga. Os canos dessa casa são bem velhos. Você poderia causar o maior alagamento, sabe como é.

Seria mesmo muito azar causar um alagamento na Casa Presidencial.

- Não joguei o guardanapo na privada – disse rapidamente, olhando de canto de olho, nervosa, para a agente do Serviço Secreto que não estava muito longe dali. – Coloquei na cesta com as toalhinhas de mãos sujas. Só joguei a comida na privada – e foi aí que tive um pensamento aterrador. – Mas tinha bastante coisa. Você acha mesmo que pode entupir o encanamento?

     

 - Sei lá – fez ele, com cara de sério – Era um pedação de linguado.

Tinha alguma coisa na expressão dele (talvez o jeito de uma das sobrancelhas, que estava levantada enquanto a outra ficava abaixada, tipo as orelhas do Buyo ficam quando ele está pronto pra brincar) que me fez perceber que o Inuyasha só estava tirando um sarro.

Mas eu não achei aquilo muito engraçado. Tinha mesmo ficado com medo de ter quebrado a Casa Presidencial.

Então, falei em um sussurro, para a agente do Serviço Secreto no fundo do corredor na ouvir:

- Isso não foi muito legal da sua parte.

Eu nem pensei no fato de que ele era, sabe como é, o primeiro filho nem nada disso. Tipo, eu estava simplesmente louca da vida. Mas é claro que eu tinha mesmo jogado na privada a maior parte do jantar que a mão do Inuyasha tinha me servido. Para falar a verdade, talvez fosse por isso que eu estava tão louca da vida... porque o Inuyasha tinha me pegado fazendo um desperdício daqueles. É, eu estava louca da vida, mas também estava bem envergonhada.

Mas estava mais louca da vida. Então dei meia-volta e comecei a caminhar de volta para a sala de jantar.

- Ah, que é isso – disse Inuyasha, rindo, dando meia-volta ele também e me alcançando – Você precisa reconhecer que foi meio engarçado. Tipo assim, eu peguei você direitinho. Você achou mesmo que os canos iam explodir.

- Achei nada – respondi, apesar de ser exatamente aquilo que eu tinha pensado. E também, já tinha visualizado as manchetes do dia seguinte: GAROTA QUE SALVOU A VIDA DO PRESIDENTE FAZ TODO O ENCANAMENTO DA CASA PRESIDENCIAL EXPLODIR POR TER ENFIADO O JANTAR INTEIRO NA PRIVADA.

- Achou sim, total – insistiu Inuyasha. Ele era tão mais alto do que eu que só precisava dar um passo a cada dois meus. – Mas eu já devia saber que você não agüentava uma piada.

Parei de repente no meu trajeto e virei o corpo para trás para olhar para ele. Ele era bem alto (até mais alto do que o Kouga), de modo que eu tive que levantar muito o queixo para olhar dentro daqueles olhos dourados que a Kikyo tanto admirava. Eu nem queria olhar para a outra parte do corpo dele que ela havia mencionado.

- Como assim, eu não agüento uma piada? – perguntei brava. – Como é que você sabe se eu agüento uma piada ou não? Você mal me conhece!

- Eu sei que você é do tipinho artista sensível – desafiou Inuyasha, com aquele sorrisinho sabe-tudo que havia lançado para a mãe (“Eu me troquei para o jantar sim”).

- Não sou nada – exclamei, furiosa, apesar de sim, totalmente. Na verdade, nem sei por que me dei ao trabalho de negar. Mas era que, do jeito que ele falou, parecia uma coisa muito ruim.

Mas é claro que não tinha nada de errado em ser uma artista sensível. O Kouga é a prova viva disso.

- Ah é? – continuou Inuyasha. – Então por que é que você não voltou ao ateliê depois do Negócio do Abacaxi?

Foi exatamente assim que ele falou, com letras maiúsculas. O Negócio do Abacaxi.

Senti que estava ficando toda vermelha de novo. Não dava pra acreditar que ele estava lembrando o que tinha acontecido na minha primeira aula com a Ayame Boone. Tipo assim, que cara mais insensível!

- Não estou dizendo que você não seja uma artista boa de verdade – contemporizou Inuyasha. – Mas só que você, sabe como é, você é meio esquentadinha – fez um gesto com a cabeça na direção da sala de jantar. – E também meio fresca para comer. Está com fome?

Olhei para cara dele como se fosse louco. Na verdade, eu tinha toda certeza de que ele era louco. Tipo, apesar do gosto de música e de sapato, para mim parecia que o primeiro filho tinha uns parafusos soltos.

Mas, afinal de contas, ele reconheceu que eu era mesmo uma boa artista, então talvez ele não fosse tão louco assim.

Antes de eu ter a oportunidade de negar que estava com fome, meu estômago falou por mim, soltando, bem naquela hora, o ronco mais vergonhoso de todos, indicando que só tinha dentro de si um pouco de alface e uma guarnição de tomate,e que isso era inaceitável.

O Inuyasha nem fingiu, como uma pessoa normal faria, que não tinha ouvido. Em vez disso, mandou:

- Achei que estava mesmo. Olha só, eu estava indo ver se consigo arrumar comida de verdade. Quer vir junto?

Então eu tive certeza de que ele era louco. Não só porque ele tinha se levantado da mesa no meio do jantar para procurar comida alternativa, mas também porque ele estava falando para eu procurar comida alternativa com ele. Eu. A garota que ele tinha acabado de pegar jogando fora um guardanapo cheio de comida perfeitamente boa.

- Eu... – respondi, totalmente confusa. – Tipo assim, nós... a gente não pode simplesmente sair. No meio do jantar. Na Casa Presidencial.

- Por que não? – perguntou ele, dando de ombros.

Pensei sobre o assunto. Havia um monte de razões por que não. Para começar, porque era a maior falta de educação. Tipo, pense bem no que ia aparecer. E porque... porque a gente simplesmente não deve fazer coisas assim.

Comentei tudo isso, mas o Inuyasha pareceu não se abalar.

- Mas você está com fome, não está? – perguntou. E então, afastando-se pelo longo corredor coberto de tapetes persas, ele prosseguiu: - Vamos lá. Você sabe que quer.

Eu não sabia o que fazer. Por um lado, aquele jantar lá era pra mim e, como convidada de honra, eu sabia que não podia simplesmente jantar e sair fora. Além disso, o primeiro filho era claramente louco. Será que eu tinha vontade de sair andando por uma casa desconhecida ao lado de um louco?

Por outro lado, eu estava morrendo de fome. E ele tinha dito que eu era uma boa artista...

Olhei para a agente do Serviço Secreto para ver o que ela achava. Ela sorriu pra mim e fez um sinal, como se tivesse lacrando o canto da boca com fecho. Bom, resolvi que se ela achava que não era uma coisa tão errada assim para se fazer, e ela era adulta e tudo o mais, talvez não tivesse problema....

Dei meia-volta me apressei para alcançar o Inuyasha, que já estava na metade do corredor àquela altura.

Ele não pareceu muito surpreso ao me ver ao seu lado. Em vez disso, falou, como se estivesse simplesmente continuando alguma conversa que estávamos tento em algum universo paralelo:

- E aí, cadê a sua bota?

- Bota? – repeti. – Que bota?

- Aquela que você estava usando na primeira vez que eu vi você. Com as margaridas de corretivo desenhadas.

A bota que ele tinha dito que era legal. Dãh.

- Minha mãe não deixou eu pôr aquela bota – respondi. – Ela achou que não era adequada para um jantar na Casa Presidencial. – Olhei para ele de canto de olho. – Nenhuma das roupas que tenho é adequada para jantar na Casa Presidencial. Precisei comprar um monte de roupa nova. – Dei alguns puxões para arrumar meu tailleur azul marinho, que era mesmo desconfortável. – Tipo esse troço aqui.

- E como é que você acha que eu me sinto? – perguntou Inuyasha – Preciso jantar nessa Casa todo dia.

Olhei com desgosto para a camiseta dele.

- É, mas é obvio que ninguém manda você se arrumar.

- Só nos jantares oficiais, não nos particulares. Mas preciso ficar bem vestido todo o resto do tempo.

Mas eu sabia que isso não era verdade.

- De vez em quando me dão uma trégua – comentou, com mais um daqueles sorrisinhos. Tinha algo de misterioso naqueles sorrisinhos do Inuyasha. Na maioria das vezes, parecia que ele estava rindo de alguma piadinha particular que ele fazia pra si mesmo. E me deixavam com vontade de participar. Sempre que o Kouga pensava em alguma coisa engraçada, ele falava na hora. Às vezes, repetia umas três ou quatro vezes, só pra se assegurar de que todo mundo tinha ouvido.

O Inuyasha parecia bem contente de guardar todas as suas tiradas geniais para si mesmo.

O que era meio irritante. Afinal, como é que eu ia saber se ele estava rindo de mim?

E daí o Inuyasha apertou um botão em uma porta, que abriu e mostrou um elevador. Eu não deveria ter ficado surpresa pelo fato de a Casa Presidencial ter elevador, mas fiquei. Entramos no elevador, e o Inuyasha apertou o botão para descer. A porta fechou, e nós descemos.

- Então – começou ele, enquanto o elevador se movia. – Por que você faltou?

Eu não fazia a mínima idéia do que ele estava falando. Mas eu deveria saber.

- Faltei o quê?

- Você sabe. À aula de desenho, depois do Negócio do Abacaxi.

Engoli em seco.

- Achei que você já tinha entendido o que aconteceu – respondi. – Você disse que era por eu ser uma artista sensível e tudo mais.

A porta do elevador abriu, e o Inuyasha fez um sinal para eu sair antes dele.

- Sei, mas eu queria ouvir a sua versão.

Ah é, aposto que sim.

Mas eu não ia dar esse prazer a ele. De jeito nenhum. Ele só ia, eu sei, tirar sarro da minha cara. O que seria, na essência, a mesma coisa que tirar sarro da cara do Kouga. E isso eu não ia agüentar.

Em vez disso, eu só disse, com leveza:

- Acho que a Ayame Boone e eu não temos a mesma opinião a respeito da licença criativa.

Inuyasha olhou pra mim, com uma sobrancelha levantada e a outra abaixada, de novo. Só que, dessa vez, eu estava totalmente certa de que ele não estava brincando.

- É mesmo? – quis saber. – Tem certeza? Porque eu acho que a Ayame é bem legal com esse tipo de coisa.

Só. Superlegal. Tão legal que fez uma chantagem comigo para me obrigar a voltar à aula.

Mas não falei isso em voz alta. Parecia que não seria muito educado discutir isso com alguém que parecia prestes a me dar o que comer.

Percorremos mais um corredor que não era coberto de tapetes nem todo decorado. Daí o Inuyasha abriu outra porta e nós entramos em uma cozinha enorme.

- Ei, Cho – Inuyasha chamou um cara vestido de chef que estava ocupado colocando chantili em um monte de potinhos de musse de chocolate. – Tem alguma coisa boa pra comer aqui?

Cho levantou o olhar de suas criações, deu uma olhada para mim e quase gritou:

- Kagome Higurashi! A garota que salvou o mundo! Como vai?

Tinha mais um monte de gente na cozinha, e todo mundo estava ocupado, limpando e guardando coisas. Percebi que a Kaede estava errada a respeito dos pratos com borda dourada. Dava super para colocar no lava-louças e, para falar a verdade, era isso que os empregados estavam fazendo. Mas todo mundo parou quando me viu, e os empregados se juntaram à minha volta para me agradecer por ter impedido que o chef deles levasse um tiro na cabeça.

- Qual era o problema do linguado? – Cho quis saber, depois de toda a sua equipe me parabenizar. – Você sabe que o recheio era de caranguejo mesmo, né? Comprei fresquinho hoje de manhã.

Inuyasha foi até a geladeira de proporções industriais e abriu.

- Achei que era meio, assim, sabe como é – para um cara que estuda na Shikon, o Inuyasha com certeza não falava igual a alguém que tem diploma de gênio. – Sobrou algum daqueles hambúrgueres que a gente comeu no almoço?

Eu me iluminei com a palavra hambúrguer. Cho percebeu e disparou:

- Você quer hambúrguer? A moça quer hambúrguer. Kagome Higurashi, vou preparar um hambúrguer como você nunca viu na vida. Sente-se aí. Não se mexa. Esse hambúrguer vai deixar você sem fôlego.

Eu já estava sem fôlego, mas achei que não valia a pena mencionar o fato. Sentei no banco que o Cho indicou. Inuyasha sentou no banco ao lado, e ficamos observando enquanto Cho, movendo-se tão rapidamente que parecia quase um borrão, jogou dois hambúrgueres em cima de uma chapa sobre o fogão e começou a prepará-los para nós.

Era esquisito estar na cozinha da Casa Presidencial. Era esquisito estar na cozinha da Casa Presidencial com o filho do presidente. Para mim, seria esquisito estar com um garoto em qualquer lugar, já que eu não faço muito sucesso entre os garotos. Tipo, eu não sou a Kikyo. Nenhum cara fica me ligando a cada cinco minutos... nem nunca, para falar a verdade.

Mas o fato de ser este garoto, e neste lugar, deixava as coisas particularmente esquisitas. Não dava para entender por que o Inuyasha estava sendo tão... bom, acho que legal é a única palavra que serve para descrever a situação. Tipo, brincar com a idéia de que eu tivesse potencialmente entupido uma privada da Casa Presidencial não foi muito legal. Mas me oferecer um hambúrguer em uma hora que eu estava praticamente morrendo de fome foi uma atitude bem decente.

Tinha que ser só porque eu tinha salvado o pai dele. Tipo, por que outra razão seria? Ele se sentia agradecido pelo que eu tinha feito. O que era totalmente compreensível.

O que não era muito compreensível para mim era por que ele estava se dando tanto trabalho.

Fiquei ainda mais confusa quando o Cho colocou dois pratos enormes na nossa frente (cada um deles continha um hambúrguer enorme e uma pilha gigante de batatas fritas douradas) e mandou:

- Bom appétit, gente.

Daí o Inuyasha pegou o prato dele e o meu e pediu:

- Vem comigo.

Pequei duas latas de refrigerante que o Cho tirou da enorme geladeira industrial e segui o Inuyasha pelo corredor, até o elevador.

- Onde é que agente está indo?

- Você vai ver – respondeu Inuyasha.

Normalmente, essa resposta não teria sido satisfatória para mim. Mas eu não falei mais nada sobre o assunto, porque estava chocada demais com o fato de um garoto ser legal comigo. O único garoto que já tinha sido remotamente legal comigo antes disso tinha sido o Kouga.

Mas o Kouga é obrigado a ser legal comigo, pelo fato de eu ser irmã da namorada dele. Além disso, é calro que o Kouga tem um desejo secreto por mim. É até possível que a única razão por que ele fica com a Kikyo seja por ele não saber que eu correspondo a seu sentimento ardoroso. Se algum dia eu tivesse coragem de dizer para ele o que sinto, as coisas podiam ser totalmente diferentes...

Mas o Inuyasha. O Inuyasha não tinha que ser legal comigo. Então, por que estava sendo? Não podia ser porque gostava de mim, sabe como é, como garota. Porque, hum, se liga, a Kikyo estava logo ali em cima, no fim do corredor. Que cara com a cabeça no lugar ia preferir a mim e não à Kikyo? Tipo, era a mesma coisa que escolher a Skipper em vez da Barbie.

Quando saímos do elevador, em vez de voltarmos para a sala se jantar, onde todo mundo estava, o Inuyasha virou na outra direção, para uma porta na outra ponta do corredor.

- O que você acha disso? – Inuyasha perguntou, colocando os hambúrgueres em uma mesinha de frente das janelas. Daí ele pegou duas poltronas e colocou perto da mesa.

- Hum – foi tudo o que eu disse, por ainda estar em estado de choque (e cheia de suspeita) pelo fato de esse garoto fofo (mas meio esquisito) querer comer comigo. Eu. Kagome Higurashi. – Acho ótimo.

Nós dois sentamos, iluminados pela luz da lua. Teria sido quase romântico, se não tivesse um agente do Serviço Secreto parado do outro lado da porta. E, ah, se o Inuyasha estivesse remotamente interessado em mim daquele jeito, que com certeza ele não estava, devido ao fato de para ele eu ser apenas a garota esquisita, tipo gótica, que tinha salvado o pai dele e que também gosta de desenhar abacaxis quando não existe nenhum para ser desenhado.

E mesmo que ele gostasse de mim, sabe como é, de um jeito romântico, ainda há o fato inegável de que eu estou apaixonada pelo namorado da minha irmã.

Tanto faz. Eu estava com tanta fome àquela altura que nem ligava se o Inuyasha só estivesse sendo legal comigo por ter pena de mim, ou qualquer coisa assim.

Desde a primeira mordida eu já sabia: Cho estava certo. Ele tinha mesmo feito um dos melhores hambúrgueres que eu já tinha comido. Antes de parar para respirar, comi metade do prato.

Inuyasha, que tinha ficado me observando enquanto eu comia com uma cara perplexa (nas raras ocasiões em que eu acho alguma coisa que eu gosto de comer, mergulho de cabeça) mandou:

- Está melhor?

Não consegui responder por que estava muito ocupada mastigando. Mas fiz um sinal de positivo para ele com a mão do braço engessado.

- E aí, está doendo? – quis saber, apontando para o meu pulso quebrado.

Engoli um bocado de carne que estava dentro da minha boca.

- Agora não está mais doendo muito – respondi.

- Como é que ninguém ainda assinou?

- Estou guardando para a aula de inglês – respondi, olhando para a grande porção de gesso branco em volta do meu pulso.

Ele entendeu o que eu quis dizer. Ninguém mais tinha entendido, a não ser, obviamente, o Kouga. Só os verdadeiros artistas compreendem o fascínio exercido por uma tela em branco.

- Ah claro – concordou ele, compreensivo – Vai ser legal. Então, o que você vai fazer? Alguma estampa havaiana? Acho que vai fazer um monte de abacaxis, né?

Dei um olhar torto pra ele.

- Acho que vou escolher algum tema patriótico – disse.

- Ah – respondeu – Claro. O que poderia combinar melhor? Afinal, você é uma Higurashi e tal.

- O que é que isso tem a ver? – eu quis saber.

-Hiang Higurashi – Inuyasha disse, com as sobrancelhas erguidas de novo. – O quarto presidente. Ele era seu parente, né?

- Ah – exclamei – Ele. Não, acho que não.

- É mesmo? – Inuyasha parecia surpreso. – Tem certeza? Porque você e a mulher dele, Kanna, têm muita coisa em comum.

- Eu e a Kanna Higurashi – ri. – Tipo o quê?

- Bom, ela também salvou um presidente.

- Ah, é? – perguntei, ainda rindo. – Ela deu uns tapinhas nas costas do velho Hiang para ele não engasgar ou algo assim?

- Não – respondeu Inuyasha. – Ela salvou um retrato de um antigo presidente, não me recordo o nome agora, de um incêndio na Casa Presidencial, quando ocorreu ujm guerra.

- Uau. Que legal. – exclamei, do fundo do coração. Na aula de história, ninguém nunca ensina nada legal, tipo alguma primeira dama correndo de um lado para o outro para salvar alguma pintura.

- Tem certeza de que vocês não são parentes?

- Tenho – respondi, chateada. Imagine que legal se eu fosse mesmo parente de alguém que fez algo tão corajoso quanto salvar uma peça de um incêndio. Será que nós éramos parentes? Tipo, minha mãe vivia dizendo que eu devia ter herdado meu temperamento artístico do lado da família do meu pai, já que não tinha nenhum artista do lado dela. Era óbvio que os Higurashi tinham sido amantes de arte através dos tempos.

Só deve ter pulado algumas gerações, já que eu era a única representante da família que sabia desenhar.

De repente, o Inuyasha se levantou e foi até a janela.

- Vem aqui olhar isso – chamou, puxando a cortina para o lado.

 Levantei para segui-lo com curiosidade, aí vi que ele apontava para o parapeito da janela. Era pintado do branco, igual ao resto do friso da sala.

Mas, gravado bem fundo na tinta, algumas palavras tinham sido escritas no parapeito. Olhando mais de perto, deu para identificá-las: Houjo... Tomoyo... Inuyasha...

- O que é isso? – eu quis saber. – O parapeito da janela em memória aos primeiros filhos?

- Algo assim – respondeu Inuyasha.

E daí tirou alguma coisa do bolso da calça. Era um daqueles canivetinhos suíços. Aí ele começou a gravar alguma coisa na madeira. Eu provavelmente não teria dito nada se não tivesse visto que a primeira letra que ele escreveu foi K.

- Ei! O que é que você está fazendo? – indaguei, um pouco apreensiva. Tipo, sou uma rebelde urbana e tudo, mas vandalismo que não seja em nome de nenhuma causa por que valha a pena lutar não passa disso. De vandalismo.

- Ah, peraí – exclamou Inuyasha, sorrindo pra mim - Quem merece mais isso do que você? Não só é possível que você seja parente de um presidente como também salvou a vida de outro.

Olhei para trás, por cima do ombro, toda nervosa, para a porta, sabendo que do outro lado estava um agente do Serviço Secreto. Tipo assim, fala sério. Filho do presidente ou não, isso aí era destruição do patrimônio público. E não um patrimônio púbico qualquer, a Casa Presidencial. Tenho certeza de que alguém poderia ser condenado a vários anos de prisão por profanar a Casa Presidencial.

- Inuyasha – pedi, abaixando o tom de voz para que ninguém pudesse escutar. – Não precisa fazer isso.

De tão concentrado no trabalho (ele estava agora na letra O), o Inuyasha nem respondeu.

- Estou falando sério – continuei. – Tipo, se você quiser me agradecer por ter salvado seu pai, o hambúrguer já está bom, pode acreditar.

Mas já era tarde demais, porque ele já tinha começado o E.

- Acho que você está pensando que, só porque o seu pai é presidente, você não vai se ferrar por isso – prossegui.

- Não vou me ferrar muito – Inuyasha disse enquanto gravava meu nome. – Tipo, apesar de tudo, eu ainda sou menor – e deu um passo atrás para admirar sua obra de arte. – Pronto. O que você acha Kagome?

Olhei para meu nome, Kagome, bem ali ao lado do nome do Houjo e do da Tomoyo, sem falar no do Inuyasha. Fiquei torcendo para que a próxima família a se mudar para a Casa Presidencial não fosse muito grande, porque não tinha mais lugar no parapeito para os filhos escreverem o nome.

- Acho que você é louco – respondi, e não foi de brincadeira. O que também era uma pena, porque ele era meio fofo.

- Ah – fez Inuyasha, fechando o canivete suíço e guardando de volta no bolso. – Isso é muito ofensivo, principalmente vindo de uma garota que desenha abacaxis onde não existe nenhum, joga linguado recheado de caranguejo na privada e gosta de se atirar em cima de estranhos armados.

Fiquei olhando para ele durante um minuto, completamente estupefata.

Daí comecei a rir. Não dava para segurar. Afinal, tudo aquilo era mesmo engraçado.

O Inuyasha também começou a rir. Nós dois estávamos parados ali, rindo, quando o agente do Serviço Secreto que estava no corredor entrou e mandou:

- Inuyasha? Seu pai está procurando você.

Parei de rir. Pega no pulo de novo! Cheia de culpa, abaixei os olhos e olhei para o parapeito (isso sem falar nos pratos vazios).

Mas não havia tempo para ficar pensando nas minhas malvadezas, porque precisamos voltar correndo para a sala de jantar. Tipo, não dá para deixar o presidente esperando.

Mas, quando entramos lá, descobrimos que não era só o presidente que estava esperando. Todos os rostos estavam voltados para a porta, cheios de expectativa. Quando Inuyasha e eu a atravessamos, para minha enorme surpresa, todo mundo da sala começou a aplaudir.

No começo, não consegui entender por quê. Tipo, não deviam estar aplaudindo porque afinal Inuyasha e eu tínhamos encontrado o caminho de volta do banheiro (não era possível que eles soubessem dos hambúrgueres, a não ser que a pessoa que serviu o musse tivesse contado. Será?).

Mas depois eu vi que a razão para todos aqueles aplausos não tinha nada a ver com isso. Descobri quando estava voltando para o meu lugar: a minha mãe deu um salto da cadeira e me parou no meio do caminho para me abraçar bem forte.

- Ah, querida, não é uma maravilha? – perguntou. – O presidente acabou de nomeá-la como embaixadora teen na Organização das Nações Unidas!

E, de repente, pareceu que todo aquele hambúrguer delicioso estava prestes a voltar.


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