Eu senti a língua de Draco cumprimentar toda a minha boca, convidando-a para um beijo apaixonado. Por mais que quisesse solta-lo e ir embora correndo, não conseguia... Eu estava feliz ali, naquele momento. Malfoy, mesmo com a personalidade difícil, mexe comigo. Sim, não posso esconder, acho que gosto dele. Já estou com essa dúvida há um tempo, mas nunca consegui admitir que pudesse haver alguma coisa entre mim e Draco.

Ouvi passos apressados, risos e vozes conhecidas.

-... conta a piada do bruxo numa ilha Jorge, por favor, amor...

-... sério, conta Jorge...

-... minhas piadas são melhores...

Reconheci de longe as vozes de Summer, Jorge, Fred e Lizz. Pensar tanto atrapalhou meu beijo com Malfoy e pelo nervosismo que senti ao ouvir aquelas vozes, tendo de solta-lo agora, mordi seu lábio inferior.

- Ouch!

Draco apertava o beiço pela qual saia sangue. Eu o olhava assustada e então o quarteto apareceu.

- Porque você fez isso? – ele me perguntava, apertando mais o beiço.

Os quatro me olhavam confusos e eu não conseguia tirar a cara de chocada. Fred fazia a careta de quem estava com várias perguntas na ponta da língua. Jorge e Summer nos fitavam desconfiados, e Lizz dava um sorriso malicioso para mim, ao ver o machucado na boca de Draco.

- O que está acontecendo? – perguntou Jorge, o braço envolto da cintura de Summer.

- Por que a boca do Draco está machucada? Uh, o que você fez Emma? – perguntou Lizz, engraçadinha, levantando uma sobrancelha. Fred viu o sorriso nos lábios de Lizz e nos mirou incrédulo.

- Vocês se beijaram? – ele perguntou e eu congelei. Olhei para Draco que estava sem fala, fazendo um barulho estranho. Eu encarava Fred e ele me encarava.

- Eu... bem... estávamos aqui, brigando e, ér, Draco me roubou um beijo. – no momento em que eu disse me arrependi. Os olhos verdes de Fred ficaram pretos, e seu rosto vermelho de raiva. Fred é uma pessoa muito calma e paciente, mas quando a paciência esgota ninguém merece estar presente.

- Porque você fez isso seu loiro aguado? – perguntou ele, se aproximando de Malfoy enquanto o mesmo ia andando pra trás, o medo estampado em seu rosto como quando Bicuço lhe atacou.

Malfoy não conseguia dizer uma só palavra. Ele tremia e estava pálido, indo cada vez mais e mais pra trás, até que Fred o puxou pelo colarinho da blusa e então o medo de Draco agravou.

- DIGA SEU LOIRO DE FARMÁCIA!

- Fred, se acalma... – eu disse me aproximando quando Malfoy me interrompe.

- PORQUE EU QUIS, PORQUE ELA É LINDA E MERECE UM BEIJO COMO O MEU E NÃO É UM SIMPLES WEASLEY QUE É APAIXONADO POR UMA SANGUE-RUIN QUE VAI MUDAR ISSO!

Fechei os olhos, temendo o pior e me afastei. Ouvi um barulho alto e forte e um grito de Summer.

- FRED, NÃO FAZ ISSO! – gritou Jorge e eu abri o olho.

Malfoy estava jogado no chão e tinha, além da boca mordida, o nariz quebrado. A mão direita de Fred cheia de sangue e Lizz com as mãos na boca sem tirar os olhos dele.

- F-Fr-Fred... – ela dizia boquiaberta.

- O que você fez Fred? Foi só um beijo. – eu disse mirando-o com raiva.

- Só um beijo? Como só um beijo? Eu não acredito que...

- Você não precisa me proteger... é por isso que tem a Angelina. – eu disse e fui por trás de Draco, ajudando-o a levantar e Jorge me ajudou também.

Fred ficou parado, me olhando, sem dizer uma palavra.

- Fred, vem cá, vem se acalmar... – Lizz disse e quando ia puxá-lo pelo ombro, ele virou e tascou-lhe um beijo.

Summer deu um grito e caiu no chão. Jorge soltou Draco boquiaberto e o peso de seu corpo todinho veio contra meus braços que seguravam suas axilas. Por mais que eu estivesse esperando por isso um bom tempo, fiquei olhando sem emoção o beijo de Lizz e Fred, enquanto Summer e Jorge olhavam-nos incrédulos, como se não acreditassem no que vissem. Pensei que este beijo que esperei tanto seria algo tão feliz e não foi.

- F-fred, eu... – Lizz disse quando se soltaram, respirando fundo. Mas antes dela dizer alguma coisa, Fred novamente a beijou e Summer quase desmaia.

Percebi que era a hora de Draco e eu sairmos de fininhos já que não iríamos ser notados. O puxei pelo braço e ele veio me acompanhando.

- Vou levar você pra enfermaria. – disse olhando para baixo, tentando o máximo não olhar para ele.

- OK.

Fomos pelo caminho em um silêncio mortal e agonizante. Ouviam-se só os nossos próprios passos e quando íamos chegar a ala hospitalar, resolvi dizer algo.

- Desculpe o Fred, ele não fez por mal. Foi na hora, foi na raiva, sem intenção, sem pensar... Ele é assim, estava tentando me proteger.

- Tudo bem, eu mereci isso. – ele me disse e pensei comigo mesma, “é, mereceu”.

Chegando a ala hospitalar, expliquei o caso à madame Pomfrey e quando ela limpava o sangue, me afastei e sai dali.

Tudo se passava como um vídeo de um minuto para mim. O beijo de Lizz e Fred, e o meu beijo com Draco. O soco, os gritos de Summer e Jorge sendo interrompido no momento que ia contar uma piada. Passava voando por meu cérebro até que me lembrei do jeito carinhoso com que Draco me agarrou. Como alguém tão maléfico podia fazer algo tão romântico como aquilo? Resolvi esquecer e corri para o meu dormitório, trocando minha roupa e me jogando na cama. Cinco minutos pensando em cada mínimo detalhe do beijo palpável de Draco, adormeci.

Abri os olhos lentamente na escuridão. Olhei para a janela e ainda era noite, a lua brilhando intensamente ao lado das estrelas. Levantei-me e vi que não era a única dormindo. Lizz estava tão acordada quanto. Percebi que em suas mãos havia um pergaminho e uma pena.

- Lizz? Por que está acordada? – perguntei coçando meu olho esquerdo.

- Eu? Ah, nada. – ela disse. Um sorriso maravilhoso se abriu em seus lábios e a luz do luar o iluminou.

- E o que está escrevendo? – inspirei fundo aliviada enquanto olhava meu relógio. 4 horas da manhã.

- Uma música. – seu sorriso alargou e eu retribui um sorriso malicioso.

- Para o Fred? – eu disse e ela corou. – Fico feliz pelo primeiro beijo de vocês, mesmo ele estando tão... nervoso.

- Ér, bem, é que... Não foi nosso primeiro beijo. – ela disse e eu arregalei os olhos.

- Vocês o que? – disse em voz alta e ela fez “shhhhh” desesperada. Eu estava paralisada e ela tentando rir da minha cara, mas não conseguia. Apenas dava um sorriso envergonhado e apaixonado.

- Eu e Fred, ano passado, estávamos na Casa dos Gritos conversando – eu dei uma risada pensando besteira e ela me ignorou -, então começou a rolar um clima, ele me empurrou na parede e me beijou. Ficamos juntos duas semanas e depois ele começou a namorar Angelina. – ela fez uma cara de desprezo.

- Porque você nunca me contou isso? – perguntei inexpressiva.

- Fred e eu guardamos isso em segredo. Ninguém sabia. Eu estou contando pra você porque é você, entende? Provavelmente eu só contaria pra você e Summer, mas Summer iria contar a Jorge, e Jorge contaria a Fred e Fred saberia que eu contei, então, não. – ela respondeu triste e depois deu de ombros.

Sorri timidamente.

- Já terminou? – eu disse percebendo que ela me encarava e o pergaminho estava ao seu lado, imóvel há uns 3 minutos.

- Já. – ela disse sem emoção.

- Posso ver? – eu perguntei já estendo a mão para ela, e com a mesma expressão, me entregou o pergaminho.

Abri-o e comecei a ler sua música.

(...)

Faça uma promessa, por favor
Que você sempre estará ao alcance
Apenas case eu precise
você estará lá quando eu chamo (aqui quando eu chamar)
Isso tudo é tão novo
Parece bom demais para ser verdade
Isso poderia ser realmente
um lugar seguro para cair

Luz em meu coração
Luz sobre os meus pés
Luz em seus olhos
Eu não posso nem falar
Você sabe ao menos
O quanto você me deixa fraca?

(...)

- Lizz... – eu disse, soltando uma risada presa e com o coração na mão. – Está perfeita. – eu disse encarando-a e pensei que iria ver um sorriso, quando vi uma Lizz chorosa em minha frente. As mãos escondendo o rosto. – Lizz?

- Hoje, Fred simplesmente não só me beijou. Ele se declarou. – ela disse, enxugando as lágrimas. Lizz sempre tentava ser forte.

- Ele fez isso mesmo? Sempre soube que esse veado ia tomar atitude... – eu disse um palavrão e comecei a rir. Lizz me olhou com censura. Fiquei me perguntando se era pelo palavrão ou por ter chamado Fred de veado.

- Ele disse “Não se vá, eu preciso de você. Você é a única que me deixa calma, que cuida de mim, porque quando eu mais preciso da Angelina ela não está lá, você por outro lado, está sempre comigo. E tudo que eu fiz pra você, eu sinto muito. Eu te amo, eu te amo muito, você é o amor da minha vida. Eu quero me casar, ter filhos e neto com você. Eu vou terminar com a Angelina, e não vai demorar. Se tudo der certo, amanhã eu já sou seu.” E sabe o que eu respondi? Não.

- O que? Por quê? – disse, gritando mais uma vez. Ela não brigou comigo, pior ainda, chorou mais.

- Porque eu devo acreditar nele de novo? Ele me fez sofrer uma vez, não vai ser diferente agora. Olha só o que eu sofri na mão do Frederico Weasley... Não consigo deixar ele fazer o mesmo com Angelina, mesmo ela merecendo. Eu o amo, mas o amor precisa de sacrifícios as vezes. Bom, esse é o meu. – ela disse, deitando a cabeça no travesseiro. Peguei sua música e deixei em cima de sua cabeceira.

- Boa noite, Lizz. – disse, imitando-a.

- Boa noite. – ela fechou os olhos e não fez mais nada.

Fiquei pensando em tudo que aconteceu mais uma vez. Imaginei o que iria acontecer amanhã ou depois de amanhã, ou até mesmo depois de depois de amanhã... Logo mais já estava olhando o sol, pois estava acordando.