Eu estava sentindo náuseas. A cada momento, eu poderia vomitar qualquer coisa. Talvez, até o que tinha comida a três semanas atrás. Enquanto andava, ainda perdida, tropeçando nos próprios pés, um tanto chocada, me seguei no corrimão da escada. Ela se movimentou e eu segurei mais forte, botando uma das mãos em minha boca, como se isso me impedisse de vomitar ali mesmo. Se eu fechasse os olhos, iria ser pior a sensação, e se olhasse pra baixo, idem. Então manti meu olhar reto, parada, até a escada fazer o mesmo. Quando ela o fez, corri para sair dela e continuei meu caminho, praticamente desenhando o chão com passos atrapalhados. Ainda num transe qualquer, ainda absurdamente assustada. Não conseguia mudar minha expressão vazia, e fui com a mesma até achar a entrada para a Sala Comunal da Grifinória. Disse a senha para a Mulher Gorda, entrando quando a tal abriu a porta.
Lizz estava jogada no sofá, a cabeça recostada no colo de Fred, que lhe fazia carinho, brincando com seus cabelos loiros. Suas pernas estavam em cima das pernas de Summer, que estava sentada no colo de George. Ela só avistou os quatro.
- Emma, vem aqui. - Lizz gritou, enquanto ria de algo que o namorado havia dito.
Eu a olhei. Vi ele brincando com ela, rindo do riso dela. As marcas de pé de galinha evidente em seu rosto toda vez que ria, e as covinhas nas bochechas de Fred. Ele jogou a cabeça para trás e riu, me chamando também. Tudo parecia estar indo em camêra lenta, de um jeito que minha visão havia embaçado e a sensação de que iria vomitar voltara. Não deu tempo para desculpas, corri para o meu quarto e me joguei na cama, prometendo para mim mesma que não iria vomitar. E quando senti as lágrimas descendo por minhas bochechas, eu também briguei comigo mesma. "Engole isso, Emma. Engole", eu mandava a mim mesma. Enterrei o rosto na travesseiro e dei alguns gritos, até ouvir batidinhas na porta.
- Vai embora! - eu disse, me encolhendo em um cobertor.
- Seu pedido foi negado. - disse Fred, colocando apenas a cabeça para dentro. Quando notou que estavam sozinhos, colocou o resto do corpo para dentro.
- Eu não quero ver ninguém. - eu me escondi mais ainda nas cobertas.
- Emma, eu sou o Fred Weasley, e seu melhor amigo. É mais do que minha obrigação ser teimoso. Acredite, eu não vou embora até você me contar o que ta acontecendo. - ele cruzou os braços na minha frente e fez cara de sério, com um certo sorrisinho na ponta dos lábios.
Pulei da cama em um salto e o abracei. Ele me abraçou de volta. O cheiro de perfume amadeirado vindo de suas vestes e pescoço me acalmaram, ao mesmo tempo que provocavam mais náuseas. Senti as lágrimas voltando, descendo lentas por minhas bochechas e cair em Fred.
- Por que você está chorando, Ems? - ele perguntou, agora me soltando e me encarando.
Eu hesitei. Abaixei a cabeça, e chorei mais um pouco. Não queria admitir aquilo. Era um tanto constrangedor, humilhante. Tantas vezes me avisara, me dissera que Draco nunca iria mudar. Eu até pensei que poderia ser verdade. Mas nunca imaginei Draco como mulherengo também. Não estava pronta para Fred apontar na minha cara e dizer "eu te avisei". Mas ele não iria embora até eu dizer algo.
- Eu estava indo até Draco. Íamos almoçar, eu acho. Algo meio romântico de dia dos namorados. Eu estava tão animada. Finalmente alguém me dava bola, exatamente como eu dava bola à essa pessoa. Eu gostava dele como ele gostava de mim. - eu dizia, chutando algumas palavras e me perdendo, as lágrimas brincavam de vai-e-vem comigo. - Mas quando cheguei lá, vi que ele já estava se encontrando com outra pessoa. Pra ser mais breve, Pansy Parkinson.
- Encontrando tipo...?
- Tipo - respirei profundamente -, a boca dele estava tendo muita diversão com a boca dela.
Ele não falou nada. Ficou calado por um tempo, apenas me encarando. Pelo jeito que seus olhos e lábios tremiam, estava procurando algo pra dizer. Ele coçou a cabeça, como se pensasse, e agradeci por ele não estar com palavrões e gritarias na ponta da língua.
- Você já sabe o que vai fazer? - ele perguntou apenas. Que alívio!
- Não exatamente, né, mas...
- Quero dizer, você já sabe se vai terminar com ele, ou conversar, ou... - ele parou e segurou o olhar em mim, levantado as sobrancelhas. - sabe?
- Não, eu estou perdida. Eu não posso perdoar. Mas também... - olhei para baixo.
- Vai perder ele. - completou-me. Eu levantei o olhar pra ele e assenti, apoiando minha cabeça em meus dedos depois. Ele parou por um tempo. - Quer que eu chame a Lizz? - ele perguntou, fazendo menção de que iria chamá-la.
- Não, não. Lizz é muito drástica. Iria com certeza querer mata-lo e me mandaria terminar com ele no mesmo momento. - eu disse. Abri um sorriso pequeno, contraindo os lábios.
- Bom, não vou mentir dizendo que não acho que ela está certa. Mas sei que quem deve decidir algo é você. Só não se rebaixe, Emma. Você é melhor que isso.
As palavras de Fred batiam em mim como ping e pong. "Não se rebaixe", "Você é melhor que isso". Eu não era ninguém. Uma típica garota da california com mau humor de manhã e sono acumulado. Talvez uma idiota apaixonada que acredita em príncipe encantado e magias além do arco-íris. Eu sou uma ninguém com sonhos de alguém. Eu sou só eu. Até Draco era mais alguém do que eu. Até mesmo Pansy. De repente, todos estavam acima de mim. Eu era o pior dos piores. Eu não conseguia ver o que Fred tentava me dizer.
Ele me abraçou mais uma vez. O seu cheiro voltou a me invadir. Pelo menos eu sei que me sentia um tanto segura nos braços de Fred. Como se não importasse quantas vezes eu fosse cair, ele sempre estaria lá pra me reerguer.
- Bom, vamos indo. O tempo passou rápido e já está na hora do jantar. - ele disse me soltando aos poucos. Ele fez uma cara de "pois é" quando eu arregalei os olhos e cheguei o relógio. O pior é que era verdade.
Ele jogou o braço por cima de meu ombro e voltou comigo para a Sala Comunal. Lizz, Neville e George conversavam sentados no sofá. A loira se levantou quando nos viu.
- Emma! - ela veio até mim, sem nenhuma pressa, e me abraçou fraternalmente. Me recostei um pouco no ombro dela, me ninando ali, até ela me soltar. - Você tá melhor?
- Tô sim. Você sabe. Este ruivo e o jeito Weasley de ser. - sorri e baguncei o cabelo dele. Ambos rimos.
- Fred, ainda vamos sair? - ela perguntou para ele e o mesmo hesitou em responder. - Porque eu acho que devíamos ficar e jantar aqui mesmo, com a Emma. Passar o dia dos namorados com todos os namorados, se é que você me entende. - ela sorriu para mim e eu devolvi. Ela realmente tinha me animado. Senti uma leve bailarina dançar dentro de mim. Eu amo essa garota.
- Brilhante ideia. - ele sorriu e segurou a mão dela.
Lizz chamou o primo e George, e fomos todos para o Salão Principal. Luna e Summer estavam juntas, nos esperando. Sentamos na mesa da Grifinória e ficamos conversando.
Mal havia sentado, quando senti dois braços fortes me abraçar. Olhei para cima e era Bryan, que se sentou ao meu lado esquerdo, me beijando na bochecha. Marissa, que o acompanhava, se sentou no meu lado direito. Achei engraçado eles sentarem comigo no meio. No início, achei que eles haviam brigado também. Mas não, pois continuaram conversando do jeito extremamente fofo de sempre. Lindos.
Não sei se comentei isso, mas Marissa tem se tornado uma grande amiga minha e de Lizz. Estávamos virando um trio já. Marissa era muito divertido e escandalosa. Sabe, do jeito bom.
Estava tudo indo tão bem. Eu estava rindo. Até este momento, tinha esquecido quem era Draco Malfoy. Mas lembrei porque o mesmo entrou no local.
As portas se abriram. Tudo foi meio em camêra lenta. Eu olhei para ele, enquanto o mesmo andava divamente como sempre. Poderia até começar a tocar uma música, algo que dissesse como ele era bonito e sedutor, como Candyman, da Christina Aguilera, ou Sexy And I Know It, do LMFAO. Era o que eu esperava. E talvez não só eu, mas muitas meninas que o olhavam. Ele tinha uma expressão seria no rosto. Eu apenas o olhei. Meu coração tinha se apertado. Não sei se era a sensação de um infarto, mas era próximo disso. Eu segurei minha saia, apertando o tecido como se isso fosse aliviar a dor. Como se eu pudesse segura-la e destrui-la, mas eu sabia que não ia acontecer. Ele olhava para os lados, procurando por algo e sorriu para mim - o que eu mais temia - demostrando que havia achado.
Congelei ali mesmo. Apenas com medo do que Fred, ou Lizz, ou meu irmão, que já tava sabendo do acontecido.
Segurei a respiração quanto mais perto ele chegava. Olhei para Fred, que segurava o garfo com força, olhando para a própria comida. Lizz mantinha uma expressão de preocupação, olhando de Fred para mim. Bryan ainda não tinha notado Draco chegando.
- Boa noite. - ele manteve o sorriso mais bonito que eu já pudera desejar um dia. Evitei olhar para ele. - Como você tá, princesa? - ele disse, tocando em meu ombro.
Bryan se levantou.
- Não encosta na minha irmã, seu moleque. - ele disse, encarando Draco de perto. Alguns alunos que estavam por perto pararam para observar.
- Como é que é? - disse Draco, olhando para ele. Driblou Bryan, e voltou a chegar perto de mim. - Do que seu irmão tá falando?
- Sai de perto dela, Malfoy. - disse Fred, se levantando também. Me recolhi no banco, assustada. Marissa me abraçou.
- Parem, por favor. - eu falei mas não acho que tenha saído um som sequer. Nem Marissa deve ter me ouvido.
- Mas... do que vocês estão falando? - ele disse, olhando para os dois realmente confuso. - Eu não estou entendendo nada.
- Não se faça de cínico, Malfoy. - Lizz disse chegando perto do mesmo, agora mais uns alunos estavam prestando atenção. Segurou no braço de Fred. - Acabou o teatro.
- Mas...
- Se você chegar perto da minha irmã outra vez, eu vou te cegar. - Bryan disse, os punhos se fechando e eu me levantei.
- Bryan, calma! - eu disse. Hesitei em chegar perto deles.
- Emma, pode me dizer o que tá acontecendo? - ele disse, olhando para mim. Ai ai, ele realmente atuava muito bem.
- Posso sim. - eu disse sorrindo para ele.
Peguei meu suco na mesa e bebi um gole, chegando perto dele. Ele esperava por uma resposta. E eu a dei.
Joguei meu suco em sua cara. Agora todos olhavam. Alguns riam e outros observavam chocados.
- Mas que merda, Emma. - ele disse, limpando os olhos. Não conseguia fazer nenhuma expressão. Eu permaneci normal. - Vamos conversar lá fora.
Ele me puxou pelo braço, me levando para fora do Salão Principal. Lizz, Bryan, Marissa e Fred me seguiram.
- O que houve? - ele perguntou mais uma vez, apertando meu braço.
- Me larga! - gritei. - Não precisa mais fingir! Eu já sei! Eu vi tudo. - disse em um tom alto demais. Senti as lágrimas vindo e as segurei. Não chora Emma, não chora.
- Viu o que? Tá doida? - ele disse, me olhando assustado.
- Ela te viu com a Pansy, idiota. - disse Lizz, querendo bater em Draco e Fred a segurou.
- Não suje suas mãos com isso, Lizz. Vamos. - disse Fred, virando as costas e me puxando junto com a namorada. Eu ainda olhava para trás.
- Olha quem fala, traidor de sangue. - disse Malfoy, alto o suficiente para que entrasse em Fred.
- Pensando bem... - disse ele, já voltando com o punho fechado, mas não era preciso, já que Bryan já tinha feito o serviço.
Draco caíra no chão, o nariz sangrando e um tanto quanto inconsciente. Bryan o observava, ainda com a pose que o bateu, parado. A mão dele estava levemente roxa e com um pouco de sangue.
- Nunca mais se meta com um Underwood. Ou qualquer amigo meu. - disse, e se virou para mim, me levando para longe de Draco.
Quando vi que estávamos longe de Malfoy, corri para longe. Segurei meu rosto em minhas mãos, como se ele fosse cair. Eu sentia como se o meu corpo todo fosse cair.
Não ouvi passos me seguindo. Não pensei que fosse ouvir. Entenderiam que no momento, eu queria ficar sozinha. Sem me importar com o que houve ou o quão meu irmão vai se ferrar por isso, eu só queria ficar sozinha. Eu e eu, resolvendo essa dor que não passava.
Sabe quando você quer pegar o próprio coração e jogar fora? Eu me sentia assim e mais um pouco. Totalmente destruída.
Mas que sirva de exemplo: da próxima vez, não me apaixonar pelo inimigo.
Ainda sim, enganada por uma garota que acha que é melhor por ter mais dinheiro, ou por intimidar os outros. Eu subestimei com quem eu estava lidando. Ela realmente faria tudo para conquistar e ter Draco, não importasse quem ou o que estivesse em seu caminho. Mas agora, é algo pessoal. Ela mexeu no meu ego. Traída por Draco Malfoy? Ah, ela subestimou de quem ela estava roubando o homem. Eu posso ser na minha, fofa e com cara de bobona, mas ninguém mexe comigo. Muito menos uma menina que é conhecida pelas coisas que faz com os meninos.
Mas ela vai aprender. Ah, sim, vai. Logo ela vai descobrir que roubar os brinquedinhos das outras pessoas no parquinho não vai ajuda-la a fazer amigos. Ela devia saber e não esquecer, que não tem nada que eu faço melhor que vingança.