Os Peixes não São Todos Iguais escrita por Eica


Capítulo 4
Capítulo 4




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Seu quarto ainda estava um pouco escurinho, por isso Danny teve preguiça de levantar. Ao sair debaixo dos cobertores, viu Algodão deitado ao pé da sua cama. Vestiu uma blusa de frio e foi até a sala. Maurice não estava no sofá.

De repente, o sumido saiu pela porta do banheiro. Ao ver Danny, sorriu:

- Tive que usar seu banheiro.

- Tudo bem.

            Danny viu-o recolher sua bolsa de cima do sofá.

- Pensei que tivesse ido embora.

- Acordei agora, na verdade. Bem, vou indo. Ainda tenho que me arrumar para ir ao serviço.

- Quer que eu te acompanhe? Caso você durma de novo. – disse Danny, se aproximando.

Maurice sorriu.

- Não é preciso. Nos vemos no seu horário de almoço?

O outro consentiu.

Depois que Maurice saiu de seu apartamento, alguma coisa dentro do coração de Danny balançou fortemente. O rapaz jamais admitiria, mas sentiu saudade quando Maurice se foi e, por uma razão que Danny não queria admitir a si mesmo, sentiu ansiedade a manhã inteira. Quando já estava no pet shop, não via a hora de ir à cafeteria.

- Nos vemos depois! – disse a Jayne, quando deu seu horário de almoço.

            Danny apressou-se em chegar à cafeteria e quando entrou lá, encontrou Maurice em sua mesa. Hoje ele vestia um longo casaco branco e um cachecol preto. Danny juntou-se a ele na mesa.

- Já pedi seu cappuccino.

- Obrigado.

            Quando Maurice fechou o livro que lia, Danny apressou-se a dizer:

- Pode continuar lendo.

- Posso lê-lo depois. – sorriu.

            Maurice observou Danny pendurar sua bolsa no encosto da cadeira.

- Muito serviço no pet shop?

- Não. E você?

            Danny tomou um pouco do seu cappuccino.

- Estou lendo um original. A história parece promissora.

- Fala sobre o que?

- É um romance cheio de sentimento. Difícil encontrar uma história com tantos personagens carismáticos. Fala sobre uma pessoa que encontra seu verdadeiro amor. No começo, achei que a história era meio clichê, mas quando me aprofundei mais na narrativa, percebi que ela difere de muitas que encontramos por aí.

- Ler originais parece diverti-lo.

- Bastante. – disse o rapaz, dando um largo sorriso. - Adoro ler. Acho que já lhe falei isto, não é? Desculpe se estou sendo repetitivo.

- Tudo bem.

            Uma pausa.

- Tem irmãos? – perguntou Maurice.

- Um, mas mora longe.

- Vocês se vêem pouco?

- Quase nunca.

            Maurice comeu um croissant e Danny terminou de tomar seu cappuccino.

- Bem... – começou Maurice. – Queria lhe perguntar uma coisa e espero que não me interprete mal. Não se importará de dar seu número de celular?

            Danny olhou-o bem, sem responder de imediato. Maurice explicou:

- Para nos comunicarmos com mais freqüência.

- Tudo bem.

            Maurice tirou seu celular de dentro do bolso do casaco e colocou o número de Danny em sua lista de contatos.

- Quando precisar de algo pode me ligar. – disse Maurice, sorridente.

- Não tenho o seu número.

- Estava no cartão que eu lhe dei.

- Acontece... Que eu perdi o seu cartão. – mentiu o rapaz, sem jeito.

- Oh. Então quer anotar meu número? – sorriu ele.

            Danny colocou o número de Maurice em sua lista. Um tempo depois, Danny pediu outro cappuccino e um bolinho. Maurice terminou de comer seus croissants e tomou mais uma xícara de café.

- Sua amiga Jayne trabalha com você, não?

- Trabalha.

- Vocês não almoçam juntos?

- O horário de almoço dela é diferente do meu.

- Oh.

            Danny e Maurice almoçaram a semana toda juntos. Na sexta-feira, Danny recebeu uma mensagem de texto de Maurice que dizia: “Vamos passear amanhã?”. Os rapazes se encontraram no sábado. Para uma caminhada matinal. Com surpresa, Maurice percebeu que Danny não estava sozinho: estava com Algodão.

            No momento em que Maurice se encontrou com ele numa praça, manteve certa distancia do cachorrinho, que estava com coleira.

- Ele não vai te morder. – sorriu Danny. – Na verdade, acho que Algodão gostou de você.

            Maurice olhou desconfiado para o cãozinho que tinha vinte e nove centímetros de altura, rostinho dócil, olhos redondos, negros e pelagem branca, longa e cacheada.

- Pode passar a mão nele. – disse Danny, levantando Algodão do chão.

            Maurice deu passos para trás.

- Melhor não, obrigado.

            Danny balançou a cabeça, colocou Algodão no chão e começou a andar. Maurice andou atrás dele, a doze passos de distância.

- Quando foi que você começou a ter medo de cachorros? – perguntou Danny, virando levemente a cabeça para o lado.

- Na infância. Uma vizinha nossa tinha um cachorro enorme. Ele correu atrás de mim uma vez. Não me pegou, mas isso me traumatizou muito.

- Acredito em você.

- Sei que acredita. E sei que acha muito engraçado. Pode rir de mim.

Danny riu.

- Desculpe, mas mesmo que tenha passado por um trauma, ainda acho que não devia ter medo do meu cão. Ele é um Bichon Frisé! Não é um Dinamarquês.

            Maurice não tirou os olhos de Algodão, que estava super feliz pela atividade.

- Não tem algum medo? Medo de trovões? Ou de aranhas? Ou medo do escuro?

- Não tenho medo de nada. – respondeu Danny.

- Não acredito. Todo mundo tem medo de alguma coisa.

- Eu não tenho.

            Durante o passeio, Maurice permaneceu afastado de Danny e principalmente de Algodão. Quando o cãozinho dava passos para trás, Maurice se escondia atrás de alguma coisa. Seu medo fez Danny dar grandes risadas e não adiantou dizer a Maurice o quanto Algodão era dócil. Ele não quis saber.

- Pode acreditar: as probabilidades de Algodão saltar sobre você são de 0,0000%.

            Continuaram andando por mais um tempo. Contornaram alguns quarteirões e por fim voltaram à praça. Lá, Danny sentou-se num banco com Algodão em seu colo. Maurice sentou-se num outro banco, que ficava a dois metros de distancia do de Danny.

- Nunca teve animal de estimação então. – disse Danny, olhando para Maurice.

- Já tive. Um papagaio-cinzento.

            Danny sorriu e virou o rosto. Depois disse:

- Qual era o nome dele?

            Quando este olhou para Maurice, o rapaz estava caído no banco. Danny suspirou. Foi até ele e sentou-se ao seu lado. Endireitou-o e colocou a cabeça de Maurice sobre seu ombro.

- Espero que não demore muito pra acordar.

            Algodão quis sair do colo de Danny. E conseguiu. No entanto, o rapaz segurou firme a coleira.

- Desculpe, Algodão, mas teremos que esperar Maurice acordar.

            Conforme o tempo foi passando, Danny sentiu o calor vindo do corpo de Maurice. Também sentiu seu perfume. Atreveu-se a cheirar seus cabelos. Eram muito cheirosos. Para falar a verdade, tudo em Maurice cheirava bem. Danny irritou-se consigo mesmo por estar se aprazendo com a aproximação de Maurice. Ele não quis admitir para si que aquele momento estava causando-lhe grandes sensações no peito. Sensações maravilhosas.

            Demorou-se cerca de duas horas para Maurice acordar e, quando este se viu ao lado de Danny, recuou, porque Algodão estava muito próximo.

- Vamos indo? – disse Danny, levantando-se do banco.

            Despediram-se na esquina.

            Na semana posterior, Danny encontrou-se com Maurice na cafeteria.

- Não se importará se eu continuar lendo meu livro?

- Não.

            Juntos na mesa, Maurice tomou seu café e abriu seu livro e Danny pegou seu livretinho de palavras cruzadas. Houve um momento em que Maurice riu baixinho, chamando a atenção de Danny. Maurice permaneceu com a cabeça apoiada à mão. A outra mão ele segurava as páginas do livro. Por uns segundos, Danny fitou o sorriso do rapaz a sua frente. Observou-o virar a página do livro e rir mais uma vez. Para confusão de Danny, cada vez mais as risadas de Maurice se tornavam mais agradáveis do que já eram.

            Tentou concentrar-se em suas palavras cruzadas. Quando o horário de almoço dos rapazes acabou, ambos pagaram a conta e saíram da cafeteria lado a lado.

- Bem, nos vemos depois. – disse Maurice, acenando e virando a rua.

            Danny viu o rapaz caminhar pela calçada e, de súbito, sentiu grande desejo em correr atrás dele para dizer o quanto o achava maravilhoso. No entanto, Danny balançou a cabeça, como a afastar este desejo. “Ele é homem, não se esqueça disso”, disse a si mesmo.

            Houve uma noite em que Maurice foi jantar com Danny. Sentaram-se na mesa da cozinha para comer.

- Fiz uma gororoba de frango. Acho que está bom. – disse Danny, servindo Maurice.

            Este sorriu, rindo brevemente:

- Parece bom.

- O que os alemães gostam de comer?

- Bem, a maioria dos alemães gosta de pão. Adoramos pães. Se você for à Alemanha, encontrará uma variedade enorme de pães. Também gostamos de comer salsichas, salada de batata, couve e tortas.

            Danny sentou-se numa cadeira depois de se servir.

- Está bom. – disse Maurice, depois de provar um pouco da comida.

- Eu não sabia o que fazer então misturei um monte de coisas junto ao frango.

            Uma pausa para comer.

- Como é a Alemanha? Muito diferente daqui?

- Oh, sim. É difícil países serem iguais em tudo. E quando você sai de um país para ir a outro, o começo da adaptação é bastante complicado. Ou você se adapta completamente ou terá grandes dificuldades. Decerto, todos os países têm seus atrativos, mas há pessoas que não conseguem se acostumar a eles.

            Conversaram um pouco mais. Depois de comerem, foram para a sala onde assistiram televisão.

- O que assiste quando está em casa? – perguntou Danny.

- Documentários... Seriados...

- Assiste The Big Bang Theory?

            Maurice sorriu e confirmou. Conversaram um pouco mais até o momento em que Maurice levantou-se do sofá.

- Desculpe, já vou. Eu me demorei aqui e você precisa descansar.

            Pegou sua bolsa, colocou-a nas costas e despediu-se de Danny na porta.

- Até.

- Até.

            Danny observou-o andar pelo corredor e sumir quando desceu a escada. Sentiu tremendo desânimo quando ficou sozinho.

            Assim que Danny foi ao pet shop no dia seguinte, Jayne quis saber como estavam as coisas com Maurice.

- Ele é legal. – admitiu Danny, sem jeito.

- Sabia que ia gostar dele. Acho que vocês formam um casal muito...

- Casal? Ora, não diga isso! Pra falar a verdade Maurice tem sorte de eu deixá-lo começar uma amizade comigo.

            Jayne olhou-o feio.

- Não seja teimoso e burro. Maurice é lindo e, pelo pouco que pude conhecer dele, é um cavalheiro.

- Não achei.

            Jayne olhou-o com desconfiança.

- Não acredito. Pra mim você gosta dele, mas por teimosia não quer admitir.

- Não, não gosto dele. – protestou o rapaz.

- Deixando este assunto de lado, será que podemos sair nós três juntos? Gostaria de conversar um pouco com ele.

            No final de semana, os três saíram para o centro da cidade para um passeio mesmo com o dia muito frio. Jayne fez muitas perguntas a Maurice e gostou muito da companhia dele. Terminaram o passeio na casa de Jayne, onde eles pediram comida chinesa por telefone.


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