POV Taylor

 Acordei bem disposta. Hoje minha querida Jess irá voltar da sua missão secreta. Hoje também é dia dos namorados, é meu primeiro dia dos namorados... Estou super ansiosa. O único problema é que as filhas de Afrodite querem aprontar com todo mundo, e eu não quero cair nessa palhaçada!

 Levantei, tomei banho e vesti um vestido simples. Fui até o refeitório, que estava decorado de rosa, tudo era rosa, e eu não gosto de rosa. Peguei umas panquecas e comi, depois de oferecer metade a Héstia e metade a Nyx.

 Ao sair do refeitório senti alguém me abraçar por trás. Olhei para trás e vi meu lindo namorado.

-Oi – eu disse.

-Oi – ele disse e me deu um selinho – Quer treinar?

-Agora eu preciso fazer uma coisa, depois eu te encontro na arena para treinarmos, ok?

-Aonde você vai?

-Falar com uma pessoa.

-Posso te acompanhar? – Que cavalheiro!

-Se não ficar reclamando...

-Não vou.

-Então pode.

Fomos de mãos dadas até o chalé que eu queria ir, eu estava guiando ele, já que ele não sabia para onde estávamos indo. Paramos na frente do chalé de Hécate.

-O que estamos fazendo no chalé que tem pessoas que ajudaram a separar você de mim? – Nico disse.

-Nem todo mundo...

Bati na porta. Um menino alto, que eu nunca vi antes, abriu a porta.

-Oi – eu disse.

-Oi – o garoto disse.

-Sou Taylor, posso falar com a Sam?

Nico fez um “Aaah”.

-Claro! – o garoto disse.

Esperamos um pouco até que Sam apareceu na porta.

-Oi Sam! – eu disse – Sou Taylor!

-Oi! Eu sem quem você é! – ela disse.

Nós descemos as escadinhas do chalé, já que eu não estava muito a fim de entrar naquele chalé. Quando descemos eu a abracei. Ela estranhou, mas me abraçou de volta.

-Obrigada! – eu disse ainda a abraçando – Por tudo, mesmo. Não sei o que seria de mim se eu tivesse com o Pedro, e não com quem eu realmente amo.

-Magina! – ela disse e se separou – Eu fiz a coisa certa.

-Mas, você tinha que ter um motivo. – eu disse.

-Na verdade eu sempre vejo vocês dois juntos e sinto... Inveja. Não de vocês. Eu sinto inveja do modo como vocês se amam, eu acho que ninguém nunca vai me amar desse jeito, eu nunca vou viver um romance tão lindo como vocês vivem. Não podia deixar isso acontecer com vocês.

-Obrigada. Claro que vai! – eu disse – Cada um tem o seu tempo. Você vai achar quem ama.

-Eu já achei. – ela disse – Mas ele nunca vai sentir o mesmo.

Olhei para ela com dó.

-Às vezes – eu disse – ele não é a pessoa certa, você pensa que é, mas não é. Eu mesma já senti isso. E além do mais, você não pode ter tanta certeza dos sentimentos dele.

-Ele ama outra garota, já disse isso.

-Você deve odiar essa garota – eu disse rindo.

-Não. Eu até ajudei ela com seu namorado.

Parei de rir. O que? Só que ela me ajudou com o meu namorado! Ela... Ela...

-Você gosta do Pedro? – eu disse.

Ela sorriu tímida.

-Sim, ele foi meu melhor amigo quando cheguei ao acampamento. Sempre gostei dele, daí ele parou de falar comigo e começou a gostar de você.

-Você não pode! Você viu o que ele é! Eu também já gostei dele, eu pensava que gostava, eu amo o Nico, não ele. Ele tentou me tirar a força, me deu uma poção!

-Eu sei! – ela disse – Mas eu não agüento! Eu o amo!

-Eu entendo! Sei o que é amor... – eu disse – Vou tentar te ajudar! Mesmo assim, obrigada por tudo.

-Estamos devendo essa para você! – Nico disse.

-Já sabem o que fazer... – ela disse.

Eu entendi aquilo como um: vocês me devem uma coisa, me ajudem a ter Pedro para mim.

Assenti com a cabeça e me despedi.

Depois disso fomos treinar na arena. Nico não pronunciou as palavras “Dia” “dos” “namorados”. Achei isso estranho, não que eu quisesse passar esse dia com ele, mas ele nem um “Feliz Dia dos Namorados” disse para mim.

 Um tempo depois de começarmos a treinar Connor veio até nós.

-Taylor – ele disse – Quiron está te chamando na Casa Grande.

Olhei para Nico com medo, ele estava igual. Não queria ir para outra missão, já estava cheia disso.

-Só eu? – eu perguntei.

-Ele mandou chamar você, eu e mais duas meninas, uma filha de Afrodite e outra filha de Apolo.

-Ai não! – eu disse.

-Eu sei – Connor disse preocupado – Alguma coisa aconteceu com as meninas na missão delas.

Depois de chamar essas duas meninas, fomos para a Casa Grande. Quiron esperava por nós. Ele estava sentado em sua cadeira de rodas jogando baralho com o Sr.D.

-Olá Campistas! – ele disse.

Sr.D não disse nada, nem nos chamou pelo nome errado.

-Tenho uma noticia não muito agradável para vocês – ele continuou. Fiquei um pouco tensa.

Todos estavam em silencio, esperando ele continuar a falar.

-Creio que as campistas que foram há duas semanas para a missão não voltaram hoje. – ele disse.

-Por quê? – Connor estava quase morrendo.

-O verdadeiro motivo os deuses não me contara, não deram permissão para que vocês saibam. A única coisa que sei é que muitos monstros estão atacando elas. Elas estão se virando bem, mas irão demorar a chegar.

-Quanto tempo? – a filha de Apolo perguntou.

-Mais uns dias, talvez três.

-Temos que ajuda-las – Connor disse.

-Não podem. – Quiron disse – Irão ficar aqui. Não se preocupem com elas. Aproveitem o dia dos namorados.

Depois de dizer isso Quiron se arrependeu, já que Connor ficou bravo e foi embora batendo os pés, ele estava preparando uma surpresa para a Jess, alguma coisa parecida com flores e jóias. Eu fiquei triste, mas Jess é forte, ela vai conseguir sobreviver, voltará viva, eu sei disso.

 O resto do dia foi simples. Fiquei treinando com o Nico, que não disse nadinha de nada sobre o dia de hoje, não dava para ir para outro lugar já que em todos os lugares existiam casais em seus momentos melosos. Almocei e voltei a treinar. Depois Nico foi para seu chalé e eu tentei fazer o mesmo. Exato: eu TENTEI.

 No caminho para meu chalé vi duas filhas de Afrodite cochichando uma com a outra e dando aqueles risinhos que só uma filha de Afrodite consegue fazer.

 Tentei ignorar e passar reto, mas não deu certo. Quando passei por elas, as duas me bloquearam, impedindo a minha passagem. Uma do lado da outra, as duas na minha frente.

-O que vocês querem? – eu disse.

-Apenas que venha conosco. – uma delas disse.

-Desculpa, mas eu preciso ir para meu chalé.

-Qual é Taylor! – a outra disse.

Como ela sabia meu nome?

Olhei para elas esperando que uma delas chegasse à questão.

-Hoje é dia dos namorados – uma delas começou.

Ai não!

-E você tem um namorado! – a outra disse. – Muito lindo na verdade.

-Não diga isso na minha frente! – eu disse.

-Calma! – a garota disse – Eu tenho namorado! O Nico é todo seu!

-O que vocês querem? – eu perguntei de novo.

-Queremos te ajudar. – ela disse.

-Com?

-Queremos que você tenha uma noite bonita com seu namorado.

-Não obrigada! – eu disse.

-Vocês são um dos casais preferidos de minha mãe – ela disse – Um dos casais que mais deu trabalho. Se nós conseguirmos fazer uma bela noite no dia dos namorados com vocês, nossa mãe vai ficar muito orgulhosa!

-Por favor! – a outra disse.

Eu bufei.

-O que vocês pretendem fazer? – eu disse.

-Isso é segredo, mas não é nada exagerado, uma coisa que é a cara de vocês. – uma disse.

-E para a idade de vocês – a outra disse e elas riram.

Elas seguraram meu braço e me levaram, arrastaram, para o chalé de Afrodite.

 Eu não consegui falar, prestar atenção no que estavam fazendo comigo, ou até respirar direito. Naquele chalé havia varias filhas de Afrodite, cada uma arrumando uma garota do acampamento. Eu não gostei disso, não mesmo. Fiquei triste por Jess não estar aqui, ela iria se divertir bastante, iria zoar as filhas de Afrodite e passaria uma bela noite com seu namorado. Tentei tirar aquele pensamento da minha cabeça a prestar atenção no que estava acontecendo.

 A menina que estava fazendo, de acordo com ela, a “transformação” em mim chamava Elisa e eu tirei serias conclusões que eu tenho medo dela.

 Quando ela acabou ela me mostrou um espelho e UAU! Aquela não era eu! Eu estava... Bonita? Sim, eu estava bonita! Isso era estranho! Minha boca estava bem aberta com o resultado.

 Eu usava um vestido de renda branco que ia até meus joelhos. Ele valorizava bastante meu corpo, mas nem tanto. Meus cabelos estavam presos com uma trança bagunçada que caia do lado. Eu usava uma maquiagem bem leve, que nem aparecia, mas que realçava bastante meu rosto. Era uma roupa tão simples, mas tão bonita.

-Eu achei que ia ficar a sua cara! – Elisa disse – Não é a melhor roupa, mas combina bastante com você.

-Eu... Eu... Eu amei! – eu disse rindo – Como você fez isso?

Ela sorriu.

-Agora – ela disse – Você precisa se encontrar com uma pessoa.

Eu sorri boba.

-Aonde? – eu perguntei.

-As meninas te levam – ela disse e duas meninas, as que me arrastaram para o chalé, vieram até mim.

-Você só precisa por os sapatos – Elisa disse mostrando um par de sapatos de salto branco.

-Eu não uso salto!

-Pois agora vai usar.

Ela me fez botar aqueles sapatos e as meninas me levaram até o lugar.

 Eu estava nervosa. Não sabia para onde estavam me levando, o que teria lá, como seria... Isso era estranho.

 Percebi que as meninas me levavam em direção a praia. Que fofo! Ia ser mais fofo ainda se fosse à nossa clareira, mas ninguém conhece lá então ia ficar estranho.

 Quando nós chegamos mais perto elas pararam.

-É aqui. – uma delas disse – Divirtam-se. Ele já está te esperando.

Elas fingiram ir embora, mas na verdade se esconderam atrás de um arbusto. Fingi que não vi e comecei a andar.

 A areia estava bem macia, o que dificultava eu andar com aquele salto. Quase levei um tombo. Xinguei em grego e tirei os sapatos, ninguém pode me obrigar a andar com isso.

Enquanto andava descalça sentia a areia em meus pés, era uma sensação muito boa, mesmo para quem não seja filho de Poseidon. Eu segurava os sapatos em minha mão, mas não iria ficar segurando a noite toda. Joguei os sapatos, que acabaram caindo acidentalmente (sarcasmos nessa fala) no arbusto que as filhas de Afrodite estavam espionando. Ouvi os gritos delas e uma risada.

Olhei para trás, era Nico que estava rindo. Ele vestia uma calça jeans, estava descalça. Uma camisa preta e um terno preto por cima. Estava lindo.

-Desistiu dos sapatos? – ele disse.

-Digo o mesmo para você.

-Elas queriam que eu usasse chinelos. Quem usa chinelos?

-Quase todo mundo. – eu disse.

-Eu não sou todo mundo.

Sorri. Ele ficou me olhando. Só me observando e me fez corar.

-Você está linda. – ele disse e eu senti minhas bochechas arderem.

-Você também. – eu disse

 Ele sorriu.

-Eu pedi ajuda para as filhas de Afrodite – ele disse – Mas não precisava de tudo isso.

-Você pediu ajuda para elas?

-Sim, eu pedi uma semana atrás.

-Quer dizer que você não esqueceu que hoje é dia dos namorados?

-Não.

-Eu tinha achado estranho, já que o acampamento inteiro esta rosa.

Ele riu.

-Tentei fazer uma surpresa – ele disse.

-Conseguiu. Mas, o que é tudo isso?

Atrás dele tinha uma toalha na areia, em volta dela tinham varias, quando eu digo varias eu digo varias mesmo, velas. E na toalha tinha varias comidas.

-Eu queria um piquenique noturno – ele disse.

Eu sorri.

-Eu nunca fiz um piquenique noturno.

-Pois agora vai fazer.

Ele me levou para a toalha, nós tivemos que pular algumas velas para podermos passar.

Sentamos e ficamos bem pertinho, colados para ser verdadeira. Ele acariciava meu rosto toda hora. E me beijava também.

-Eu não comprei nenhum presente – ele disse.

-Só de estar aqui com você já é o melhor presente do mundo.

-No dia dos namorados, eles se presenteiam.

-Eu também não trouxe presente, estamos quites.

-Esta com fome? – ele perguntou.

-Não muita...

-Tem morango com chocolate – ele disse sorrindo, ele sabe que eu tenho paixão por morango com chocolate.

-Ta bom! Convenceu-me! – eu disse e ele riu.

Ele pegou uma tigela cheia de morango com chocolate, eu peguei um e ele outro.

-O que está achando? – ele perguntou.

-Está tudo perfeito!

-Precisa de mais alguma coisa?

-Preciso. – eu disse e ele me olhou estranho.

-O que? – ele perguntou.

-Me beija! – eu disse sorrindo.

Ele chegou bem perto de mim e me beijou. Foi um beijo calmo, e muito bom. Um tempo depois o beijo ficou mais violento, as mãos dele foram para minha cintura me trazendo para mais perto dele ainda. No começo foi só diversão, como sempre. Mais depois a coisa começou a ficar seria e eu logo me separei dele.

-Nico... Não...

-Tudo bem – ele disse – Eu entendo.

Eu o abracei e nós deitamos na toalha comendo mais morango com chocolate.

Comecei a olhar as estrelas, uma coisa que eu gostou muito.

-É legal te ver olhando para as estrelas. – ele disse.

-Por quê? – eu perguntei sem tirar meus olhos do céu.

-Porque é uma coisa que você gosta de fazer, gosto de te ver feliz.

Eu sorri.

-Eu gosto mesmo, acho que é porque minha mãe é Nyx.

-Você acha? – ele disse com sarcasmo.

Eu ri.

-Olha aquelas estrelas. – eu disse apontando para uma constelação. – É a constelação de uma Hidra. Dá até para ver as cinco cabeças, que são cinco estrelas. E a do meio e a estrela maior.

Ele olhou confuso.

-Verdade – ele disse. – Isso é interessante.

-Eu passaria horas explicando para você, só que é melhor não.

-Concordo – ele disse e eu ri.

Nós nos beijamos.

-Essa é a segunda melhor noite de todas. – ele disse.

-Qual é a primeira?

-À noite em que demos o primeiro beijo.

-E a terceira?

-Eu não sei, vou ter uma lista legal um dia.

Eu ri.

-Isso é estranho – eu disse – ter uma lista.

-Concordo, mas eu quero ter uma.

-Faça o que quiser.

Ficamos um tempo em silencio e eu comecei a pensar o quanto eu e Nico somos diferentes um do outro. Geralmente as pessoas ficam com as pessoas que se identificam, para que possam fazer juntos, as coisas que os dois gostam. Isso não acontece entre mim e Nico, a única coisa que fazemos juntos é treinar, o resto fazemos sozinhos ou só acompanhamos o outro.

-Somos tão diferentes. – eu disse – Tanto que eu fico me perguntando se vai dar certo, no futuro, o que há entre nós.

-Claro que vai! – ele disse preocupado.

-Por quê?

-Por que não se completa um quebra-cabeça com peças iguais.

Eu sorri.

-Você tem razão – eu disse – Que horas são?

-Dez horas.

-Já? – eu disse me levantando – As harpias vão tentar matar a gente.

-Você já quer ir?

-Não é isso. Eu quero ficar, ficaria assim para sempre, só que já é tarde.

-Tudo bem – ele disse. – Vamos.

Entendi aquilo como uma viagem nas sombras. Subi nas costas dele e entramos em uma sombra. Aquela sensação é horrível, mas dura pouco.

Assim que percebi estar em terra firme, desci das costas dele e subi as escadas do me chalé.

-Eu adorei essa noite – eu disse.

-Eu também – ele disse e pegou minha mão. – Foi o melhor dia dos namorados que eu já passei.

-Quantos você já passou? – eu disse brava.

-Com alguém, só um.

-Contando com o de hoje?

-Eu sempre conto o de hoje. – ele disse e sorriu.

-Esse também foi meu primeiro e melhor dia dos namorados – eu disse.

-Fico feliz por isso. Estamos fazendo a coisa certa, ao contrario de um monte de idiotas que estão em seus chalés fazendo coisas para menores de 18 anos.

-Concordo. – eu disse e o beijei. – Boa noite, sonha com os anjos e comigo.

-Sonhar com os anjos e com você é impossível.

-Por quê?

-Se eu sonhar com você, já vou estar sonhando com anjo.

Eu sorri, que nem uma boba.

-Tudo bem – eu disse – Chega dessas coisas fofas.

-Boa noite – ele disse e me beijou de novo.

Eu entrei no meu chalé e pela janela eu vi meu namorado sumir nas sombras.

Tomei um banho e coloquei meu pijama. Deitei na minha cama só imaginando a noite maravilhosa que eu tive, depois eu cai em um sono profundo, sem sonhos, apenas eu pensando no Nico.