Minha última lembrança era de ver a
porta do chalé de Deméter sendo destruída aos pouco, uma falação do lado de fora.
                       E de repente eu estava nos braços de alguém, que me pressionavam com força contra seu peito, e eu estava em movimento. Era muito quente, sabia que estava do lado de fora, mas era ainda mais quente do que dentro. Vozes ao meu lado diziam:

            _Agüente firme.

            _Não dorma.

            _Fique com a gente, Alice!_ A palavra “Alice” me foi estranha como uma banana gigante fantasiada de gente comendo um hambúrguer.

            Então meu corpo não me obedecia, queria poder me mexer, mas ao invés disso, tudo ficou escuro.

***

           _ Acorde! Por favor! Vamos, acorde!
Se você não acordar eu é que vou dormir para sempre._ A voz era quase chorosa.

            Abri um olho para mostrar que estava
acordada. Encontrei os olhos de Art. Então, fechei o olho novamente, mostrando que era esforço demais mantê-lo aberto.

            _ Você… Você…?

            “Eu também te amo.”, pensei sem raciocinar direito.          

            _Você não consegue ficar longe de problemas por um segundo?

            Ri daquilo, eu estava deitada sei lá
onde, com os olhos fechados conversando com o Art, isso era, no mínino,
engraçado.

            Estava tão fraca que não conseguia
nem falar, então pensei:

            Não sou eu quem vai atrás dos
problemas. A culpa não é minha se eu sou um ima de desastres!

            Ei, eu não sou um desastre!, pude ouvir a voz mental de Art na minha cabeça.

            Você não…? Como você…? Nós…?

            Era difícil demais terminar qualquer frase.

            Você não mexeu os lábios para
falar isso! Sei disso porque vi.

            Bobão! Estamos nos comunicando por
pensamento, queria saber como é que fazemos isso.

            Ah! Algumas pessoas nascem ligadas e
quando tem destino que se cruzam, então, bom, talvez aconteça isso.

            Talvez… pensei de volta para
ele. Ok, isso era completamente estranho.

          Observei que estava sem o casaco da
Yasmin.

           Espiei com um dos olhos e o vi me
olhando, sorri divertida.

            _ O que você está fazendo?_Perguntei
para ele.

            _ O mesmo que você, eu acho.

            _ E o que eu estou
fazendo?_Perguntei abrindo os dois olhos.

            _Achando graça da minha cara de palhaço…
OK, não estamos fazendo a mesma coisa.

           Dei uma risadinha e me sentei na
cama de lençóis brancos. Estava no mesmo quarto que da primeira vez, Art estava
sentado como da primeira vez, a me observar.

            _Como estou?_perguntei me referindo
a antes estar no chalé pegando fogo de Deméter.

            _Linda…_ disse ele encantado.

            Ri.

            _ Estou perguntando como estou de
saúde, se estou bem e vou sobreviver ou se tenho só mais alguns minutos de
vida.

            _ Eu não sei._ Ele enfatizou cada
palavra. _ Algum chame o médico, ela vai morrer agora!_ Ele brincou.

            Depois saiu correndo pela sala, como
se realmente fosse chamar o médico, então parou a minha frente e disse em uma
voz estranha de médico:

            _ Você é a senhorita que vai morrer?
Deixe-me examiná-la.

            Então ri feito louca e disse em uma
voz mais estranha ainda:

            _Mas é claro, doutor.

            Ele pegou meu pulso e fez caretas
estranhas. Depois tentou sentir os reflexos do meu joelho, eu acabei chutando o
queixo dele, que “vôo” pelo quarto de brincadeira.

            _ Você tem um chute forte, em,
mocinha?

            Ria ainda e ele se aproximou de
novo.

            _ Sinto muito lhe informar, mas você
vai morrer se eu não te der um remédio que eu indicaria para pouco.

            Em um gesto de donzela indefesa,
disse:

            _ Ah, por favor, doutor, me salve._
Depois cai na gargalhada, eu era uma péssima atriz.

            _ Eu não faço isso normalmente, mas
como a senhorita me implorou tanto, então eu lhe darei, mas você terá que
fechar os olhos.

            _ Tudo bem._Fechei os olhos.

            _Não vale espiar.

            _Não estou espiando.

            E de repente senti os lábios
carnudos e macios tocando minha boca, permiti que o beijo acontecesse.             Mas algo aconteceu e senti a língua dele tentar entrar em minha boca, a abri só um pouquinho, o bastante para sua língua entrar. E então rolou. A língua dele explorou toda minha boca, tocando lugares jamais explorados antes, isso tinha
um gosto ótimo. Aos poucos, seus braços seguraram minha cintura e eu comecei a
participar mais ativamente do beijo.

            Enrosquei minhas pernas na cintura
dele, e ele tirou as mãos da minha cintura e me segurou minhas pernas. Depois,
com ainda as línguas entrelaçadas, ele me levantou, ficou de pé e depois me
atirou na cama.

            _Você vai viver, Alice.

            Então fiquei chocada, não por ele
ter parado, mas por o que ele falou. Então percebi, ele nunca me chamara de
Alice (chamara sim, quando ele me salvou do incêndio, agora eu reconhecia o
peitoral e a última voz), mas tiram isso, nunca. Procurei por qualquer outro
momento em que ele podia ter me chamado de Alice, mas nunca, nunca ele me
chamou pelo nome, era sempre “ela”, “você”, “a prima do Percy”, “a filha de
Atena”. Mas nunca, nunca Alice!

            _Você me chamou de Alice!_ gritei
para ele.          

            _Chamei? Chamei… É eu chamei.

            Ele pareceu surpreso.

            E a sala foi invadida, eram Yasmin,
Cristal, Percy, Peter e Sunny.

            _ Ai, meus deuses, que bom que você
estava bem, estava tão preocupada!_ Era Sunny.

            _ Nunca mais nos assuste desse
jeito!_ Yasmin estava brava. _ Da próxima vez que você quase morrer eu te mato!

            _ Isso faz “todo” o sentido._ Eu
disse.

            _ Alice, por favor, nunca mais me
apronte uma dessas._ Percy.

            _AHHHH._ era Cristal bocejando.

            _ Irmã!

            Peter correu me abraçar.

            _Obrigado por cuidar dela, Apolo.
Pode ir para o seu chalé, agora nos assumimos.

            _ Tá bom._ Art olhou para mim e
depois se virou, indo embora.

            _ Ele passou a noite inteira, deve
estar muito cansado._ disse Yasmin.

            _ Achei que ele fosse morrer, nunca
vi meu irmão tão abalado.

            _Pois é._ Era Percy._ Não gostei
nada dele ter ficado a noite inteira.

            _ Como se você pudesse impedi-lo,
ninguém podia, estava tão transtornado, que achei que fosse arrancar a cabeça
do primeiro que passe pelo caminho dele._ Disse Yasmin.

            O Art passara a noite inteira
comigo? Quer dizer que eu ficara uma tarde e uma noite inteira dormindo? Oww!

           _ Mas vamos ao ponto, o que
aconteceu? Katie estava chocada de mais para falar qualquer coisa, só disse
algo só outra Katie e citou uma vez Leila, eu acho._ Disse Percy.

            _Keila._ Corri-o.

            _Isso aí! Keila.

            Contei-lhe a história inteira sobre
a Katie falsa e sobre o incêndio no chalé.

           Peter ficou tristonho, era óbvio que
meu irmãozinho não gostou nada de ter ficado sem chalé e de saber que a irmã
mais velha dele quase morreu por causa disso.

            _Vem cá, Peter. Não fique assim…_ E
o abracei.

            Ele se soltou logo em seguida.

            _Ai, me solta Alice. Que coisa, não
sou um bebê.

            E ele se soltou do meu abraço.

            Todos riram.

            _Alice, amiguinha,_ Yasmin se sentou
ao meu lado._ Você tem que tratar seu irmão como um amigo da sua idade, ele não
é seu bebê.

           Emburrei como uma criancinha que
sabe que não vai ganhar o que quer do Papai Noel; cruzei os braços e fiz bico.
Todos riram.

            _ Ei, eu estava pensando e tem tanta
gente que eu não vi desde que cheguei… Onde está Rick, Peter? E cadê a Diana,
Sunny? Sabe? Estou com vontade de abraçar todos você…

            E Yasmin ao meu lado me abraçou de
lado, eu coloquei as mãos em cima das mãos dela.

            _ Te adoro, Yasmin.

            _Eu também.

            Levantei-me e Percy veio me dar um
abraço. O abracei com força.

            _Ah, Sunny Smith, vem cá, das
pessoas do acampamento que mais senti falta, você foi a segunda.

            Abracei com força e ela perguntou:

           _Quem foi a primeira?

            _Meu irmão, ué!

            E Sunny riu.

            Então foi a vez de Cristal, dei um
longo e apertado abraço na minha melhor amiga, Cristal esfregou os olhos
enquanto isso.

            _ E você, Peter? Meu fofo, deixa eu
te abraçar, vai.

            _ Ah… Tá bom._ cedeu ele.

            E nós nos abraçamos, o Peter era meu
irmãozinho fofo e frágil, o tempo não iria mudar isso para mim.

            _Sabe, eu quero tomar um banho,
colocar uma roupa limpa e fazer minha vida voltar ao normal, a medida do
possível, é claro, já que sou uma semideusa no meio de um bando de semideuses.

            _ Acho que você pode tomar um banho
aqui na Casa Grande, e depois vai ter que me ajudar a organizar as músicas para
a Festa dos Deuses, quero que cante uma música, isso é, se você cantar bem, é
claro._ disse Yasmin

           _Quer ver, Feiticeirinha?

           E ela
balançou a cabeça positivamente e eu cantei E.T. da Katy
Perry

            No final todos aplaudiram, e Sunny
assoviou de um jeito que eu jamais vou conseguir imitar.

            Agradeci. Havia escolhido E.T. porque
era a única música que eu sabia inteira e décor.

            _Você foi ótima!_ disse Yasmin._
Ficaria muito bom, sabe, preciso de alguém para abrir a festa com D.I.N.O.$.A.U.R da Ke$ha, será que
você podia…?

            _Pode contar comigo!

            _ Ótimo, os ensaios começam na
sexta, o que quer dizer amanhã, esteja pronta, às 17h00min.

            _ Estarei lá.

            _ E você também, ouvi Sunny Smith?

            Como se fosse um soldado, Sunny
colocou a mão na testa, em um gesto de sentido, e disse:

            _ Sim, senhora.

            _Ótimo._ Disse Yasmin.

            _Você também vai cantar?_Perguntei
empolgadas para Sunny.

            _ Vou, não é de mais? Sétima música,
Naturally,
Selena Gomez.

           _ Que demais!

            _ Eu sei, estou tãão feliz.

           _ Espero as duas nos ensaios então,
um dia sim e um não, não se esqueçam, sempre as 17h00min até acabar.

            _ E quando acaba?_perguntei.

            _ Quando acabar!

***

            Yasmin era realmente exigente, me
atrasei cinco minuto nos ensaios e ela gritou comigo, tivemos uma briga feia,
mas quando o ensaio acabou, ela me pediu desculpa e eu pedi para ela. E ficou
tudo bem.

            Os ensaios eram muito puxados, não
tinha hora para acabar, o primeiro durou até quase nove da noite. Lembro-me que
em um dos ensaios, ficamos até meia-noite. A pior parte era que eu não iria só
cantar, eu iria dançar também com mais quatro meninas que entravam depois de
que cantava a primeira estrofe.

            Teve uma vez em que a coitada da
Sunny quase desmaiou de cansaço. Apesar de tudo, os ensaios foram ótimos para
eu conhecer mais gente. Acabei virando grande amiga Cecília Garcia e Christofer
da Luz, filhos de Apolo; e também conheci Sue Carter (a garota que antes Connor havia colado em uma
cadeira), Amanda Jonas e Makena
Bush, filha de Afrodite; Clara Lopez, filha de Apolo; Rose Jones; filha de
Perséfone; Frank Martins, filho de Ares; e os primos Jéssica Summer e Heleno
Summer, sendo ela filha de Afrodite e ele filho de Apolo.

            E eu podia passar mais tempo com o
Art, já que ele iria cantar com a Yasmin. Mas mesmo assim, não conversei com
ele desde o dia em que acordei na Casa Grande.

            Tinha outros meio-sangues, dos quais
não sei o nome, mas que também cantavam maravilhosamente.

            E as semanas se passaram, a noite da
festa chegou e eu estava no chalé reconstruído de Circe, junto com Yasmin e
Cristal, vendo as duas discutirem e quase tendo um chilique porque as duas não
paravam de gritar e não me ajudavam a resolver meu problema.