Digimon Beta - E o Hexágono do Mal escrita por Murilo Pitombo
Numa bela manhã de sábado, a cidade de Salvador, capital da Bahia, estava linda como de costume. Essa cidade é famosa mundialmente por conta do seu gigantesco carnaval, festa típica que leva milhões de pessoas às ruas da cidade; seus antigos fortes e mosteiros, entre eles seu principal cartão postal, o Farol da Barra, construção do século XVII responsável pela guarda da Baía de Todos os Santos; e o Pelourinho, com seus casarões, ladeiras e ruas de paralelepípedos.
Em uma casa de classe média, algumas quadras distantes do Farol da Barra, dormia um jovem de dezoito anos. Uma cueca boxe preta era a única coisa que vestia no momento. Um lençol branco pendia da cama ao chão. Muitas peças de roupas e tênis espalhados por todos os lados. Escrivania, computador, televisão presa à parede.
João está em uma praça, não muito distante da sua casa, repleta de árvores, aves e um enorme lago. Pessoas caminhavam pelo lugar, muitos acompanhados dos seus filhos, outras estavam deitadas no gramado que circunda o lago. As folhas se movimentavam de acordo com o vento que também lhe esbarrava na face. O céu continuava azul com nuvens brancas. João deita na grama com a cabeça apoiada sobre as mãos. Uma garota estava ao seu lado. Ele não consegue ver seu rosto. Sorri para ela e se aproxima lentamente dos seus lábios. Antes de tocá-los, ouve gritos vindos de todas as direções.
O céu repentinamente ficara escuro e a garota desaparecera. João se levanta para não ser pisoteado pela multidão ensandecida, e nota que as pessoas fugiam de um enorme tiranossauro de pele vermelha, com barbatanas verdes que desciam da sua nuca até a extremidade da calda. Tinha grandes olhos amarelos de raiva. O tiranossauro cuspia fogo e destruía tudo o que encontrava pela frente até ficar paralisado com a presença daquele garoto que o observava em meio o grande tumulto. João sente-se intimidado pelo olhar vidrado do dinossauro e corre. O tiranossauro acorda do seu transe e após um forte rugido avança atrás do garoto. Durante a fuga, João tropeça em uma raiz de árvore e passa a engatinhar, mas todo seu esforço era em vão. O monstro conseguia enormes passadas e estava disposto a atacá-lo.
Agora faltava pouco, conseguia ver nitidamente a enorme boca do dinossauro se abrir para abocanhá-lo.
Após um grito, João se põe sentado sobre a cama. Estava ofegante e assustado. Acabara de ter um estranho pesadelo. Sorri aliviado passando a mão pela sua barba por fazer, até o telefone ao seu lado tocar, assustando-lhe novamente.
Após três toques, o atende:
– Oi. Só podia ser você. Levei um susto quando o telefone tocou. Tive um pesadelo muito louco... Certo. É só o tempo de tomar banho e comer alguma coisa... Sei... Tudo bem... Tchau!
João põe-se de pé e se livra da cueca que vestia, indo em direção ao banheiro.
Sobre a escrivania onde estava seu computador, havia um celular. O aparelho possui formato retangular, superfície fosca e cor preta. Possui uma enorme tela, quatro botões cursores e um central logo abaixo. Na parte traseira havia uma presilha, um minúsculo orifício, e um passador de cordão.
João, antes de entrar no banheiro, toma o aparelho nas mãos e o observa.
– O coroa acertou em cheio no celular novo!
Após tomar café da manhã, o garoto de cabelo curto e castanho, e olhos de mesma cor, coloca o celular que acabara de ganhar e a carteira dentro da mochila, pega as chaves de casa e sai. Morava em uma rua tranquila, apesar da proximidade com um dos pontos turísticos da capital baiana. Três minutos de caminhada é o suficiente para chegar à casa do seu melhor amigo. Eles se conheciam há muito tempo, até havia perdido as contas. Os pais de ambos também eram grandes amigos.
O garoto saía de casa naquele exato momento.
– Hei! Carlos! - grita João, acenando ao ver que o rapaz de óculos o procurava.
– Fala moleque, beleza?
Carlos se aproxima de João e o cumprimenta. Ele é um pouco maior que João, que possui estatura e corpo mediano. Mesma idade, magro, cabelo preto, liso e bagunçado que descia pela testa. Seus olhos eram verdes e acabavam realçando ainda mais sua pele branca.
– Beleza. Diz aí o que você quer?
– Moleque, seu eu te contar você não vai acreditar.
– Diz logo. To curioso já – João sorri. Curiosidade era seu grande defeito.
– Você sabe que quando o computador de Verônica dá defeito ela me chama pra consertar, e ontem não foi diferente. Eu estava lá tentando consertar a máquina dela quando do nada, mandaram um arquivo.
– Que coisa feia, lendo o e-mail dos outros.
– Eu to falando sério João!
– Prossiga...
– O arquivo abriu sozinho e estava falando alguma coisa sobre algo que ela não podia contar pra ninguém envolvendo um mundo paralelo, forças desconhecidas pelos humanos e também vieram algumas imagens anexadas.
– Você não leu tudo?
– Não deu tempo, ela entrou no quarto bem na hora que eu iria ler. Mas que fique...
– Sim. – interrompe João com desdém - E o que tem de mais nisso?
– Eu vou te mostrar as imagens. Consegui copiá-las pro meu laptop.
– Agora sim... Deixa-me ver logo isso!
– Vamos para a praça, lá é melhor pra gente conversar.
Assim que chegou à praça, Carlos começou a mostrar as imagens que havia visto no computador da amiga. A primeira imagem mostra Verônica abraçada a um cachorrinho de pelúcia de pelagem clara com bochechas rosadas, olhos profundamente azuis e ao redor do pescoço, uma coleira grossa e dourada. Na legenda da foto estava escrito: “Verônica e seu digimon, Plotmon”. A segunda imagem mostra dois planetas bem semelhantes, parecidos com a terra, e a terceira imagem mostra um aparelho parecido com o que João achou em seu quarto, só que na cor amarela.
– Peraê, como é o nome desse celular? – pergunta João curioso.
– Aqui está escrito digivice.
– Digivice? E isso é um celular? Porque eu ganhei um aparelho igual, só que preto.
– Sério? Eu nunca vi um celular desse tipo, cadê?
João mostra o digivice para Carlos que logo o desliza para cima, revelando seu teclado e observando-o nos mínimos detalhes. Aparentemente o aparelho parecia estar descarregado.
– Será mesmo que isso é um celular?
– E você acha que é o que? – ironiza João.
– Acho que isso tem haver com o arquivo que Verônica recebeu. Ela deve saber do que se trata. Como você conseguiu esse aparelho?
– Ele estava no meu quarto.
– Vamos procurar Verônica – Carlos empurra seus óculos com o indicador - Ela deve saber explicar isso.
– Um celular? Vai dizer que você não sabe o que é um celular?
– Eu to dizendo do digivice, que apesar de parecer com um celular deve ser diferente. Com certeza o digivice tem alguma ligação com esse arquivo.
– Será mesmo Carlos? - João se levanta do banco onde estava sentado - Isso tudo é muito estranho. Esse aparelho apareceu no meu quarto. Quando o vi pensei que era o celular que meu pai tinha me prometido, até estranhei e pensei que fosse de uma marca nova. Caramba, quanto mais eu penso, mais eu fico confuso, até porque se isso fosse um celular, o coroa não compraria de uma marca desconhecida.
– Mais um motivo para perguntarmos a Verônica.
– Se isso realmente for algo secreto, ela não vai nos dizer nada.
– Se você tem um, é provável que também tenha acesso a esse arquivo.
– Mesmo assim... Ah! Por via das dúvidas, vamos ligar para ela e tirar essa história a limpo.
Nesse instante, uma forte luz brilha sobre o vasto gramado da praça. Essa luz, em principio em forma de feixe, segue ganhando largura como se formasse um portal e poucos segundos depois, um enorme ser surge por ele.
– João olha aquilo!
Tratava-se de um tiranossauro vermelho com barbatanas verdes, que seguiam da nuca até a ponta da calda.
O portal desaparece assim que o tiranossauro o cruza por completo.
– É esse mostro! – grita João.
– O que tem ele?
– Eu sonhei com ele essa manhã.
As pessoas correm desesperadas pelo local onde João e Carlos conversavam. Carlos se levanta e guarda seu computador às pressas. O tiranossauro segue destruindo as árvores e cuspindo fogo até notar o estranho aparelho negro na mão de João. Sem titubear, o mostro avança como no sonho.
– Ele esta vindo pra cá João, corre! - Carlos o puxa pelo braço e os dois amigos começam a correr - Será que esse monstro também tem alguma relação com o arquivo?
– E é a mim que você pergunta?
João tropeça na raiz de uma árvore e torce o tornozelo.
Carlos para um pouco à frente.
– JOÃO!
O monstro se aproxima de João. Encurralado e sem ter para onde fugir, o garoto se desespera e grita. O aparelho em sua mão emite um ofuscante brilho e dessa luz surge uma esfera de cor verde com uma poderosa lâmina na cor laranja. Essa esfera girava a uma velocidade incrível e atinge o tiranossauro no peito, que urra de dor e se afasta. A esfera, ainda girando, toca o chão à frente de João e gradativamente para de girar, revelando ser um animal de corpo redondo, dorso achatado, pele verde e escorregadia. Em suas costas havia uma barbatana laranja. Possuía uma aparência nada agradável e cascos no lugar de patas.
– Se afaste!
João ainda estava caído e de olhos fechados quando ouve uma voz masculina. O garoto abre os olhos aos poucos e se depara com o pequeno monstro o olhando de maneira feliz.
João se ergue com um salto, estava muito ofegante.
– Quem é você?
– Betamon, seu digimon. A partir de hoje vamos trabalhar juntos.
O aparelho que João tem nas mãos reage sonoramente e em sua tela surge a seguinte informação, ao lado de uma imagem do pequeno ser que acabara de surgir:
Betamon, um digimon no nível Novato. Esse anfíbio possui uma poderosa barbatana nas costas e locomove-se com dificuldade em ambientes terrestres. Sua técnica é o “Choque Elétrico”.
– Meu digimon?
– Sim, o seu!
O monstro vermelho ruge muito alto, assustando João e Carlos.
A praça está completamente deserta.
Betamon se vira em direção ao dinossauro. Seus olhos mostravam determinação.
– Eu tenho que destruir o Tyranomon!
– O nome dele é Tyranomon? – pergunta João.
– Isso!
Novamente o aparelho emite um sinal sonoro e exibe outra informação.
Tyranomon, um digimon no nível Adulto. Um enorme tiranossauro vermelho que ataca seus inimigos com o “Bafo de Fogo” e as “Unhas Cortantes”. Usa também sua calda para poder atacar.
– Eu vou te destruir Betamon – grita o enorme tiranossauro, para espanto dos garotos - Bafo de Fogo.
O digimon lança uma rajada de fogo pela boca e atinge Betamon. Carlos age rapidamente e afasta seu amigo da batalha. João estava confuso com tantas descobertas.
"Por que Betamon está atacando Tyranomon e arriscando sua vida? - pensa João - Ele não tem chance. Será que é para me proteger? Mas por que eu? Por que logo eu?"
Betamon não consegue se desviar das constantes investidas do Tyranomon com suas garras, é atingido e cai próximo a João.
– Betamon aguente firme!
– Betamon não vai consegui vencer – diz Carlos.
Em uma casa, mais precisamente dentro de um quarto, estava à amiga de Carlos, Verônica. Uma bela garota de dezessete anos com cabelos castanhos e volumosos que chegavam abaixo do ombro. Ela estava sentada com as pernas esticadas sobre a cama. Próximo a ela, também sobre a cama, estava o ser que João e Carlos viram na fotografia.
– Verônica... Verônica!
Verônica, que estava sentada em sua cama e olhava distraída para seu digivice, se assusta.
– Oi, oi!
– Você esta muito pensativa, o que houve?
O pequeno ser é semelhante a um cachorrinho de pelúcia com bochechas rosadas, coleira dourada e olhos profundamente azuis.
– Nada de mais... Só estou com uma dúvida.
– Em que?
– Nada não esquece.
– Tem certeza? Não quer dividir?
Verônica fica em silêncio por alguns segundos até voltar a falar.
– Eu acho que Carlos deve ter visto o arquivo sobre os digimons.
– O que você vai fazer?
– Tenho que descobrir se ele realmente sabe de algo. Esse arquivo não pode vazar para outras pessoas, só nós, os domadores, é que devemos ter acesso a ele.
O digivice de Verônica emite um sinal sonoro, tátil e visual.
As garras de Tyranomon brilham e ele faz um movimento de ataque, lançando três lâminas energizadas. Betamon consegue se esquivar com um salto, mas não contava com tamanha agilidade do oponente, que se aproxima e o atinge com um ataque de calda. O pequeno digimon se esbarra contra uma árvore.
– PARA COM ISSO! – grita João - Procure alguém do seu tamanho!
– Cala a boca humano. Você será o próximo que vou destruir.
– Fuja daqui João! – Betamon se esforçava ao máximo - É muito perigoso.
João tenta correr até Tyranomon, mas Carlos o segura.
– Você é louco? Vamos seguir o conselho dele, é o melhor a se fazer.
Tyranomon aproveita a pequena distração e avança na direção dos garotos a largos passos.
– JOÃO!
Betamon entra em desespero. Sentia uma forte necessidade em proteger aquele humano que acabara de conhecer.
O digivice brilha de maneira intensa. Betamon sente uma forte energia fluir pelo seu corpo e é envolto por um casulo de luz. O brilho atrai a atenção de João, Carlos e do tiranossauro vermelho. O casulo passa a levitar e cresce de maneira assustadora, se dissolvendo após alguns segundos. Uma enorme serpente azul de aproximadamente sete metros, com a extremidade da calda em forma de folha na cor laranja e a cabeça revestida por uma carapaça amarela surge no ar.
João e Carlos ficam impressionados com a instantânea metamorfose sofrida pelo pequeno digimon. A serpente pairava no ar sobre eles. O digivice novamente emite um sinal sonoro e uma nova informação surge na tela:
Seadramon, um digimon no nível Adulto. É a evolução de Betamon. Uma enorme serpente aquática com o dom de voar. Sua principal técnica é a “Flecha de Gelo”.
Seadramon rapidamente imobiliza Tyranomon enroscando seu corpo no inimigo. Tyranomon livra um de seus braços e usa suas poderosas garras, que agora brilhavam.
– Unhas Cortantes.
Seadramon se vê obrigado a largar o inimigo e alça voo.
– Flecha de Gelo.
Seadramon dispara pela boca uma poderosa rajada de gelo.
– Bafo de Fogo.
Uma grande nuvem de vapor d’água se desprende da colisão das técnicas e envolve toda a praça. Em meio à baixa visibilidade, Seadramon sutilmente enrosca a ponta da sua calda na perna de Tyranomon, pegando-o de surpresa e o leva até uma grande altura, soltando-o.
– Flecha de Gelo
Tyranomon recebe o ataque durante a queda e não resiste. Seu corpo começa a se dissolver em minúsculas partículas que se espalham pelo ar até desaparecem por completo. Seadramon volta ao solo e seu corpo brilha, reduzindo de tamanho. A enorme serpente volta a ser o que era antes.
– Incrível! – João estava bestificado - Como conseguiu fazer aquilo?
– Sempre que você quiser ou precisar, eu vou evoluir.
– E por que você me escolheu?
– Eu não te escolhi João. Eu tinha que te encontrar de alguma maneira.
– Obrigado pela ajuda. O que aconteceu com o tiranossauro?
– Eu o destruí. Um digimon quando é destruído se converte em dados.
Carlos interrompe a conversa.
– Sei que o papo ta bom, mas é melhor sairmos daqui o quanto antes.
João coloca Betamon dento da sua mochila, guarda o digivice no bolso e sai às pressas com Carlos.
Pelo lado oposto da praça, surge Verônica com Plotmon nos braços.
– Hum... Quer dizer que temos outro domador na cidade?
– Você sabe quem é?
– Não, mas eu vou descobrir Plotmon. Pode ter certeza!
Continua...
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