Capítulo 1 – Acontecimentos

HINATA'S POV.

Eu devo realmente ser masoquista, como diz minha irmã. O que uma garota de 16 anos iria fazer, saindo de casa, às duas horas da madrugada, numa chuva tremenda apenas de regata?

A resposta é só uma: sei lá.

Talvez seja porque a dor física que o frio me causa dói menos que um coração partido ou devo ser louca mesmo. Louca por causa do meu pai, louca por causa da minha irmã, louca por causa do meu clã, louca por ele.

Eu não me entendo, ontem eu estava super feliz e hoje... estou aqui, sentada no chão, encostada num poste perto da praça principal da cidade, chorando descontroladamente, sem motivo aparente.

Alguns perguntariam o que aconteceu, mas acho que soaria melhor perguntarem o que não aconteceu.

Simples. Não nasci forte, habilidosa, extrovertida e corajosa. Acho que é isso.

Minha família carrega um sobrenome muito respeitado na cidade. Meus ancestrais inventaram o Taijutsu. Um estilo de luta que foi baseado em um livro chamado "As lendas de Gai e Lee". Por causa disso, os Hyuugas têm obrigação de serem os melhores nessa modalidade. Temos todos os troféus de ouro no Taijutsu. Todos, sem exceção.

E eu, que nasci na família principal do meu clã, virarei líder algum dia e, para isso, eu preciso ser habilidosa, casar com alguém do clã (não é obrigação, mas é uma tradição que meu pai segue na risca), gostar de lutar (não que isso seja importante para alguém além de mim) e saber se impor. Porém, parece que tudo conspira para isso não acontecer.

Primeiro: eu não sou forte nem habilidosa.

Segundo: até minha irmã, que tem apenas doze anos, é melhor que eu.

Terceiro: meu pai, que deveria me ajudar só me despreza.

Quarto: eu odeio lutar, na minha opinião, tudo tem que se resolver no diálogo e na paz.

Quinto: eu sou apaixonada por um garoto que, além de não ser Hyuuga, é rival da minha família. Sim, rival, pois foi o único que conseguiu vencer meu pai e meu primo no Taijutsu.

Acho que o pior nem é tanto o meu clã. O pior é ele. Uzumaki Naruto. Um dos garotos mais desejados de toda a escola.

Saco! Bem que eu poderia saber lutar, né? Ok, brincadeiras a parte, mesmo porque ninguém ousaria a mexer comigo. Não com o sobrenome que eu carrego.

O ruim mesmo é o amor platônico dele por aquela menina. Eu, pessoalmente, não gosto dela, não porque Naruto a ama, mas sim pelo fato dela sempre humilhar e bater nele na frente de todos. Dói em mim, só quem já se apaixonou pode entender.

Como já contei, ontem eu estava super feliz. Meu melhor amigo, Inuzuka Kiba, me levou para passear no parque. O Kiba é um garoto legal, me lembra um pouco do loiro que tanto amo. Ele é barulhento, atrapalhado e muito gentil. No passado, gostava de mim, ainda bem que "no passado", porque não gosto de ver ninguém sofrendo igual a mim. Hoje, ele namora uma menina chamada Natsumo Alika. Ela é legal.

Mas, continuando...

Estava tudo indo ótimo até meus olhos verem aquela cena. A cena que simplesmente me despedaçou.

Eu cheguei à escola com um sorriso enorme, tudo estava tão ótimo, até meu pai tinha me tratado bem. Logo na entrada encontrei o Kiba e o Shino, depois, encontramos minha melhor amiga Tenten e fomos para a sala de aula.

Eu estava tão contente que acabei me distraindo e nem percebi que o sinal nem tinha tocado.

Tagarelava e tagarelava com meus amigos que, aliás, eram os únicos que conheciam essa Hinata. Até que todos ficaram estáticos ao abrirem a porta. Olhei para onde estavam fitando.

Naruto e aquela rosada estavam se beijando. Agora sim eu a odiava! COMO ELA SE ATREVE BEIJAR O MEU NARUTO-KUN? DEPOIS DE TANTO HUMILHÁ-LO? E O PIOR, NA FRENTE DO SASUKE QUE ELA ESTAVA AMANDO ATÉ ONTEM!

Me descontrolei. Não sou disso. Apesar de ser sempre tão delicada, calma e doce, nunca chorei na frente de ninguém. Mas aquilo... Realmente aquilo me matou, simplesmente desabei e logo em seguida corri para o banheiro. Meus amigos foram atrás. Fiquei lá aproximadamente uma hora e meia. Até a diretora Tsunade foi ver o que tinha acontecido!

Só sai quando estavam apenas a Tenten, a reitora e meus dois amigos do lado de fora.

Tsunade nos liberou mais cedo. Acho que ela me entendeu.

Tenten e o Kiba passaram o dia me consolando. Shino apenas tentava ser racional. Coisa que eu não estava e ainda não estou.

FLASHBACK ON

– Calma Hina. Você pode não ter percebido, mas parecia que o Naruto também foi pego de surpresa pelo beijo – dizia Shino.

– Dane-se Shino. Dane-se! Ele sempre a amou, SEMPRE!

– Hina, por favor, tenta se acalmar – suplicava Tenten.

– Não consigo Tenten, não consigo!

– Hyuuga Hinata! Você não é assim. Vou chamar o Akamaru pra te morder se você não parar! Poxa! – o Kiba só conseguia consolar alguém, fazendo-a rir. Adoro esse jeito dele, mas não estava com cabeça.

– Chama Kiba, chama! Assim ele me mata de vez e deixa todos felizes!

– Hinata, chega. O Naruto provavelmente foi pego de surpresa, assim como você! – Shino ainda tentava me fazer raciocinar.

– E daí Shino? E daí? Agora que ele descobriu que ela o ama, aí que vão aproveitar!

– Ai ai, não dá pra conversar com você assim Hina. Por favor, né, você nem tentou saber o que aconteceu. Pensa... – dessa vez era a Tenten que usava a lógica.

– E nem quero saber Tenten! Não quero pensar, só quero morrer!

– Hinata, ela o beijou na frente do Sasuke. Na frente do Uchiha Sasuke! O garoto que ela mais ama nesse mundo...

– Amava – corrigi.

– Continuando, o garoto que ela mais AMA nesse mundo, não acha que é estranho?

– NÃO TENTEN, NÃO ACHO! ELA É UMA PUTA MESMO, VADIAZINHA DE QUINTA! – realmente eu estava descontrolada.

– Hinata! – exclamaram todos, afinal, eu não era e nunca fui menina de falar esse tipo de coisa. Nunca tinha falado um palavrão na minha vida.

FLASHBACK OFF

Bom, posso dizer que me arrependi. Me arrependi de não ter contado pro Naruto que eu o amava. Me arrependi de não ter feito aquele beijo ser comigo. Me arrependi de não ter sido forte o suficiente para segurar as lágrimas e não fazer papel de patética na frente dos outros. Me arrependi de não ter feito acontecer algo entre nós dois.

A única coisa que me resta agora é chorar...

Senti uma mão no meu ombro. Fiquei estática. Meu coração disparou e uma pontada de medo surgiu pela minha mente, mas logo foi embora. Eu queria morrer, não é? Então. Qualquer pessoa que fosse não afetaria em nada.

NARUTO'S POV.

Eu estava voltando de uma "reunião" que tive com o meu treinador de futebol, morrendo de frio, já que tinha apenas ido com uma camiseta, quando a vi. Meu coração parou de bater por um segundo e tudo que eu queria fazer era abraçá-la. Até o frio passou.

Ela estava ali, chorando, sentada no chão, tremendo, provavelmente por causa do vento e da água gelada. Eu não sabia o porquê dela estar assim, só queria envolvê-la em meus braços e tirar toda aquela dor que a estava sufocando.

Sentia saudades, já que ela me fizera uma tremenda falta hoje. Hinata não era uma garota que não ia à escola, na verdade, eu e ela não tínhamos nenhuma falta desde do começo do ano.

Tinha acabado de recomeçar as aulas, odeio férias de julho! Podem até me chamar de louco, mas um mês sem ver minha amada é muito tempo, e isso é um dos motivos que eu não falto.

Como eu a amo, nem Kami-sama pode medir esse amor! Dês daquele dia, aquele maravilhoso dia que a vi sentada na sala de aula, lendo um livro e ouvindo música.

FLASHBACK ON

Há três anos, na sétima série, eu entrei em uma escola nova. Onde minha amada estudava. Sakura Haruno. Porém, ela amava o Sasuke e o mesmo correspondia, em segredo, mas correspondia. Então resolvi que iria esquecê-la. Nunca pensei que fosse tão fácil!

Cheguei à escola, cumprimentei meus amigos, já que a maioria deles estudavam juntos, e fui para a sala. Ainda não havia batido o sinal, mas eu precisava terminar meu livro que tinha começado há uma semana, e também queria escolher o melhor lugar, lá no fundo.

Foi quando a vi. Ela estava sentada na primeira carteira do lado do vitral, lendo um livro e escutando música. Isso me fascinou. Como ela conseguia ler e ouvir música ao mesmo tempo? Aquela garota, de olhos perolados e cabelos azulados, deveria ser muito inteligente, delicada e doce.

A única certeza que tinha é que ela era linda. Muito linda.

Dei um oi, meio enrolado e recebi apenas um olhar e um sorriso meio corado. Um sorriso lindo, que corado ficava ainda melhor.

Foi quando decidi sentar na frente, mais precisamente atrás dela, pois sabia que os amigos que sentariam ao seu lado. Peguei meu livro e comecei a ler, olhando-a as vezes.

FLASHBACK OFF

Desde então, amo-a incondicionalmente. Mas, apesar disso, eu preferi manter a imagem de “garoto apaixonado pela Haruno Sakura, a rosada da escola”.

Eu morreria pela Hinata, mesmo sem nunca ter passado de um “Oi, tudo bem?”. Vê-la chorar doía muito, ela me fez feliz por muito tempo, pelo simples fato de existir.

Eu queria matar o desgraçado que fez isso com ela! Como ele ousa fazê-la chorar daquele jeito? Como?!

Foi quando decidi falar com ela, pela primeira vez, fora da escola.

Coloquei a mão em seu ombro.

No começo, ela ficou congelada, parecia com medo, mas depois relaxou, porém ainda não olhava pra mim. Como ela poderia ter relaxado sem nem ter visto quem era? E se fosse um... Não, não quero pensar nisso! Sou eu, Uzumaki Naruto! E nunca faria mal a ela.

– Ér... Oi?

HINATA'S POV.

*Kami-sama! Não pode ser ele... O causador de toda a minha tristeza está aqui? Vendo-me rendida desse jeito? O que ele faz a essa hora, na rua?

Parei de chorar imediatamente e me virei, tudo que eu podia fazer era falar com ele.

– Oi – sorri docemente com um jeito triste.

– O que a senhorita faz nessa chuva, sozinha e há essa hora, na rua? – ele parecia estar preocupado, sorri mais uma vez.

– Nada demais, Naruto-kun. Não precisa se preocupar, já estava indo embora – menti.

– Não precisa se preocupar? Claro que precisa Hinata! – «Ai meu Deus, ele sabe meu nome!»

Sorri novamente.

– Posso saber quem foi o idiota, retardado, besta, inútil e filho da... – ele parou de falar por um segundo, acho que não queria dizer palavrão na minha frente, que bobagem! Pelo que eu falei hoje da namoradinha dele, podia até me bater! – Que te fez chorar? – ele parecia um pouco descontrolado.

– Vo-você... – «BAKA! POR QUE VOCÊ FALOU ISSO HINATA? PERDEU O SEU JUIZO GAROTA?!»

– E-eu? – ele parecia bem confuso.

Dei um sorriso amarelo.

– Desculpa, não deveria ter falado.

– Deveria sim! Porque está chorando por um *baka como eu? Você é tão linda para perder tempo comigo!

– Linda, sei – dei outro sorriso amarelo – Não foi nada Naruto-kun. Acredite, é bobeira.

Ele parou para pensar um pouco. De repente nasceu um sorriso de canto, mas desapareceu logo.

– Foi por causa do beijo que a Sakura me deu? – falou, dando ênfase no nome dela.

Corei.

– Hina, posso te chamar assim, né? – apenas fiz que sim com a cabeça. – Hina! Por Kami-sama! Não acredito que você está assim por causa disso! Baka! Eu sou um baka mesmo, né? – sorriu. Agora era eu que não estava entendendo nada. – Não deveria ter deixado a Sakura ter feito isso! Não acredito que fiz a garota que eu mais amo no mundo sofrer!

– Co-como assim? – é, eu realmente estava confusa.

– Primeiramente, como sabe do beijo?

– E-eu vi – corei ainda mais.

– Não me lembro de você ter ido à escola hoje.

– Eu saí correndo pro banheiro – sorri forçadamente, me lembrando da dor que eu senti naquela hora.

– Ah. Bobinha! Você não viu nada depois, não é? – confirmei. – Pela primeira vez eu briguei com a Sakura.

FLASHBACK ON / NARUTO'S POV.

– Sa-Sakura-chan? – disse, sem entender nada.

– Ah, qual é Naruto! Você sempre quis esse beijo, eu sei que você ME AMA!

Me descontrolei, não sei se foi porque ela falou isso alto, porque ela foi grossa ou porque eu lembrei do quanto eu amava Hinata.

– SAKURA, ESCUTA AQUI! EU NÃO TE AMO! EU TE AMEI E NÃO AMO MAIS E MESMO SE AMASSE VOCÊ NÃO TINHA O DIREITO DE SAIR ME BEIJANDO ASSIM, ENTENDEU? NUNCA MAIS REPITA ISSO! VOCÊ PODE ME BATER, PODE ME HUMILHAR, PODE FAZER O QUE QUISER! MAS NÃO ME BEIJA, TÁ ENTENDENDO? E NUNCA MAIS DIGA QUE EU TE AMO!

– Na-naruto? – ela pareceu bem assustada com a minha atitude. Até eu me assustei.

– Dá licença que eu preciso pensar.

Sai da classe e o Sasuke veio correndo falar comigo. Me desculpei e falei que a Sakura deveria saber que ele a ama. Esconder só ia trazer mais sofrimento pra ambos.

Fui até a sala da Tsunade e ela não estava. Pedi pra secretaria, Shizune, me deixar passar o resto da tarde com o treinador, precisava desabafar, não sei o quê, mas precisava.

Ela me respondeu que o Jiraya não tinha as primeiras aulas, só as últimas, e que eu deveria voltar para classe que depois ela pediria para ele vir falar comigo.

FLASHBACK OFF / HINATA'S POV.

– Aconteceu isso. Depois o encontrei e ficamos conversando até agora.

– Ah... Naruto-kun, me desculpa – falei entre soluços, pois tinha voltado a chorar.

Ele me abraçou.

– Desculpa pelo quê, minha flor?

– Por não ter falado que eu te amava há muito tempo. Desde aquele dia em que você sentou atrás de mim, na sétima série.

– Você também me ama? Desde aquele dia? – deu um sorriso de lado.

– Também? – Depois que me lembrei que ele dissera "A garota que eu mais amo no mundo".

– Sua boba, eu te amo! Desde o primeiro dia em que eu te vi. Te amei do jeito mais profundo.

Sorri e ele me beijou.

Esqueci de todos os problemas que eu tinha. Fiquei focada só naquele beijo. Já tinha beijado antes, mas não fora igual a esse, cheio de amor, paixão, carinho...

Ele interrompeu o beijo. Lancei uma cara de “Poxa Naru...”

– Minha linda, aceita a namorar comigo?

– Claro! – sorri novamente e dei um selinho nele.

– Agora eu vou te levar pra casa para não ficar doente. Não quero ver ninguém com pneumonia, principalmente você - me abraçou.

– Verdade! Meu pai vai me matar!

– Hina, desculpa por falar assim, mas vou te levar pra minha casa, tá? Minha mãe é médica e vai cuidar de você, depois ela resolve isso com o seu pai.

– Não quero atrapalhar, Naruto-kun.

– Temos um quarto de hóspede sobrando, não vai atrapalhar minha princesa.

– Tudo bem, se você... - fui interrompida por outro beijo.

Quer saber? Dane-se, dane-se tudo! TUDO! Eu o amo e vou ficar com ele independente de qualquer coisa! Se precisar, até fujo! Afinal, uma líder precisa saber se impor, certo?

Agora sei que há um motivo para lutar.

Amor!