A Caçada Começa escrita por Simone Hoffmann


Capítulo 4
A psicopata Janne


Notas iniciais do capítulo

Em minha opinião este capítulo ficou bem interessante. Morram de curiosidade no final -1bj

Sugestões são bem vindas, leitores também ;P



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Acordei gemendo e deitada em uma extensa grama. Meu corpo estava dolorido e eu estava confusa. Levantei a cabeça para tentar olhar ao redor e ao menos ter uma noção de onde eu estava. A grama estava praticamente morta. Lentamente tentei levantar do chão. Fraquejei e caí. Obriguei meu corpo a pelo menos ficar de joelhos. Eu definitivamente não estava na minha biblioteca, a menos que ela fosse um gramado com uma floresta à minha esquerda e uma mansão antiga de madeira atrás de mim. Arregalei os olhos diante da visão da floresta. Gelei até os ossos. Como eu havia chego até ali? A última coisa de que me lembrava era de estar sentada em meu pufe e lendo um livro de terror...

Fiquei sentada processando informações e recuperando forças. Quando me senti um pouco mais aliviada, levantei do chão e caminhei, procurando por sinais de vida. Ninguém. Dei meia volta e observei a casa que estava atrás de mim. Devia ter sido uma casa de luxo há alguns séculos, mas agora estava caindo aos pedaços e sua tinta branca havia descascado e desbotado com o tempo. Era muito improvável, mas talvez alguém ainda vivesse ali. Seria difícil a casa ainda estar de pé sem qualquer pessoa para fazer manutenção. Caminhei até a varanda. Enquanto subia os degraus para chegar até a porta ouvi-os rangerem tanto que pensei que iriam ceder. Observei se não havia alguém me observando e encostei a mão na porta. Ela estava aberta. Pois bem, eu poderia ter sentenciado minha morte ao entrar em uma casa que parecia mais uma pilha de madeira velha, a qual poderia me esmagar em questão de segundos. Mas não foi bem assim que aconteceu.

O cômodo da casa que avistei era amplo e tinha muitos móveis e uma lareira. Supus ser a sala. Todos os móveis estavam cobertos por um tecido branco que continha uma fina camada de poeira. Não fazia muito tempo que alguém havia estado ali, comparando com a possível idade da casa. Devia fazer no máximo quatro anos. Mas, se ninguém vivia ali, porque deixariam os móveis? Suspeito.

No canto da sala algo me chamou a atenção. Era comprido e estava pouco afastado da parede. Tinha uma pequena parte descoberta pelo tecido no topo e eu podia ver que tinha acabamento em puro ouro. Ao me aproximar do objeto percebi ser um espelho. Toquei levemente no tecido e ele logo caiu, revelando a beleza escondida talvez há anos. Um espelho intacto e brilhante, como se alguém houvesse acabado de limpar os mínimos grãos de poeira. Suas bordas feitas de ouro eram cheias de detalhes e textura. O espelho era tranquilamente meio metro mais alto do que eu. Aproximei minha mão com a intenção de tocar no espelho. Estava quase a fazê-lo quando tive uma súbita sensação de ter visto o reflexo de algo passar rapidamente atrás de mim. Ao virar-me bruscamente, procurando qualquer sinal de movimento, percebi que até as cortinas feitas de seda estavam imóveis. Ninguém conseguiria passar tão rápido por um aposento sem fazê-las se mover. Voltei a virar-me para observar o espelho e desta vez não hesitei em colocar a mão nele. No exato momento escutei um grito agudo tão forte que tropecei nos próprios pés quando tentava recuar do espelho. Ele quebrou-se em várias partes bem na minha frente. Por pouco não me feri. Fiquei com a expressão apavorada enquanto ainda estava caída no chão. Tentei me recuperar do choque, porém não consegui. Enquanto minha respiração continuava pesada e rápida, tive a sensação de que algo líquido e quente escorria pelo chão. Procurei o que poderia ser, mas eu não via nada. Ao voltar a olhar para a minha expressão de horror refletida no espelho quebrado, logo na minha frente, ele me revelou algo que eu não conseguia ver. Sangue.

Levantei-me desesperada do chão e ao olhar para baixo, percebi que nada havia ali.

 - Como pode... – Sussurrei.

Olhei novamente pelo espelho. Através de seu reflexo eu podia ver que uma cachoeira de sangue escorria pela lareira. Arregalei os olhos diante daquela visão. Ao me virar e olhar para a lareira eu nada via. Repeti isto várias vezes, e eu só conseguia ver o sangue através do reflexo do espelho. Talvez ele estivesse me pregando alguma peça, pensei. Ao tentar me locomover pela sala, eu já sentia minhas pernas pesadas devido ao nível do líquido que subia rapidamente. Não conseguia acreditar, o sangue era sim real, mesmo eu não conseguindo vê-lo. Avançava com dificuldade quando ouvi uma risada cínica ao longe. Pela minha distração de apenas alguns milésimos de segundos, tropecei na madeira do chão e caí. Senti o sangue forçando entrada por qualquer lugar e me obriguei a ficar de pé. Desesperada, sem saber o que fazer, acabei olhando para o espelho mais uma vez. Ele indicava que o sangue já estava quase no meu queixo. Fiquei enjoada. De onde viria tanto sangue? E agora eu já estava começando a sentir o odor dele. Olhei em volta e avistei uma escada para o segundo andar. O mais rápido que podia, fui a até ela.

Os degraus rangiam e podiam ceder, adivinhei. Eu teria de subir muito devagar e com muita cautela. Dei um passo, mais um e outro. Logo estaria longe do alcance daquele rio de sangue. Estava quase chegando ao segundo andar quando um degrau rangeu alto, deu um estalo e antes que eu tivesse oportunidade de me apoiar no degrau seguinte, ele cedeu. Caí na escada e bati a testa. Sangue escorreu na lateral do meu rosto, um pouco acima de meu olho esquerdo. Tremendo me levantei, torcendo para que os outros degraus pudessem suportar meu peso. Felizmente nenhum outro resolveu me dar o prazer de ceder.

Eu estava de frente para um corredor. Ao final dele, uma janela aberta tinha suas cortinas levemente balançadas pela brisa. Duas portas à minha esquerda e uma à direita. Uma aberta de cada lado e a mais distante do lado esquerdo estava trancada. A primeira porta à minha esquerda era um banheiro, e um banheiro muito grande. Ao entrar apenas para dar uma olhada, percebi água pingando na torneira.

 - Alguém esteve por aqui recentemente – Pensei – Como a água de uma torneira permaneceria tanto tempo pingando sem...

Fui interrompida por um estalo muito alto. Corri de volta para o corredor procurando a origem do som. Olhei para a escada e depois para a janela. A última porta, antes fechada, havia sido arrombada. Meu coração martelava, suor escorreu pela lateral do meu rosto, respirei fundo e arrumei coragem para caminhar até a porta. Amaldiçoei-me em pensamento por não conseguir caminhar sem fazer ruído. Se continuasse daquela forma, quem estivesse a quarenta metros de distância de onde eu estava saberia que eu estava caminhando ali.

Cheguei até na porta. O quarto estava escuro e eu não ouvia qualquer barulho. Aguardei alguns instantes até minha visão se adaptar à pouca iluminação. Parecia-me um quarto, talvez de hóspedes. Neste quarto os móveis não estavam cobertos por um pano. Observava tranquilamente o aposento quando...

 - Não dê mais um passo sequer.

Virei abruptamente, tentando localizar de onde estava vindo o som. Havia uma garota aproximadamente de minha altura atrás de mim, com cabelos loiros curtos repicados e olhos verdes. Ela estava me observando com uma expressão de raiva e ódio e tinha um canivete encharcado de sangue em uma das mãos. Eu poderia dizer que pela sua expressão, ela parecia querer comer meu fígado, e em um pequeno cantinho de meus pensamentos, eu tive a suposição de que ela era a mesma responsável por todo aquele sangue do andar inferior. Senti calafrios.

 - Não se mecha, ou será pior para você.

Quando ela se aproximou de mim, instintivamente recuei, até estar encostada em uma janela aberta. Ela se aproximava cada vez mais e eu não tinha para onde ir. Ou era a janela, ou a morte. Então sem pensar em nada mais, eu pulei. Rolei pelo “toldo” do lado de fora e caí no chão. Pude ouvir o grito de frustração da garota. Ela estava vindo correndo atrás de mim.

 - Onde me esconder, onde me esconder...  – Pensei aflita – Minha única alternativa era a floresta. Então, sem pensar em nada mais, corri como nunca até as altas árvores que se aglomeravam ali perto. Corri cegamente até acreditar estar totalmente perdida e não mais ouvir os gritos atordoantes da loira assassina. Eu realmente havia conseguido me perder. Todos os lados da floresta me pareciam exatamente iguais. Escolhi uma direção aleatória e continuei caminhando.

Perdi a noção do tempo. A única coisa que sei é que depois de caminhar durante muito tempo eu encontrei uma clareira. Havia uma pequena, simples e arrumada casinha. Como eu podia avistar fumaça saindo da chaminé, provavelmente haveria alguém ali. Enquanto me aproximava, pude perceber um leve movimento na cortina. Uma garota de olhos castanhos, cabelo cor de chocolates pouco mais compridos do que a altura do ombro, aproximadamente mesma altura e idade do que eu abriu a porta da casinha. Ela me observou por alguns instantes e deu um leve sorriso. Parecia-me ser amigável.

 - Nunca havia lhe visto por aqui antes, é bom ter companhia de vez em quando – Disse-me ela – Meu nome é Rosely, por favor, entre – Sorriu ela.

Eu não tinha outra escolha e estava com muita fome e cansada. A casa era feita de madeira e era maior do que aparentava ser. Pediu-me que sentasse no sofá e me ofereceu muffins. Eles estavam realmente deliciosos.

 - Me desculpe por aparecer desta forma – Suspirei – Me chamo Monique, Monique Jast Lienn – Estiquei minha mão e ela a apertou. Seu toque era leve e delicado.

Rosely gostava muito de conversar, parecia não falar com ninguém há séculos. Informou-me que estávamos em um lugar chamado Jelkers City. Eu jamais havia ouvido falar neste lugar, não fazia mínima idéia de onde ficava e muito menos como eu havia chegado até ali.

Rosely pediu que eu tomasse um banho e me ofereceu lugar para dormir. Pelo menos eu não teria de dormir naquela casa de madeira mal assombrada com uma assassina louca. Conversei com ela, comi mais alguns muffins e sem perceber acabei adormecendo.

Uma forte luz bateu em meu rosto, obriguei-me a virar para o lado a fim de evitar tanta claridade.

 - Acorde Monique – Sussurrou Rosely em meu ouvido – Já amanheceu.

Praguejei baixinho e me levantei. Me sentia muito melhor do que no dia anterior, minhas energias estavam renovadas. Rosely havia colocado curativos em meu machucado enquanto eu dormia. Pela cortina aberta eu só conseguia avistar árvores. Respirei fundo e senti o cheio de bolo feito há pouco.

Estávamos comendo tranquilamente o delicioso bolo que ela havia preparado. Subitamente Rosely parou o que estava fazendo. Percebi que sua expressão era de surpresa e horror. Delicadamente levantou-se da cadeira e observou pela janela.

 - Rápido, temos de sair daqui – Sussurrou ela, desesperada – Se não nos apressarmos Janne irá nos matar!

Eu não fazia idéia de quem ela falava enquanto me puxava pelo braço. Fiquei muito confusa com as palavras dela até alguém arrombar a porta. Era a loira assassina com o canivete, e ela estava me procurando.

 - Então eu finalmente te encontrei – Sorriu ela maliciosamente – Agora chega de brincar de esconde-esconde.

Sem pensar em qualquer coisa, empurrei a tal Janne para o lado com todas as minhas forças e voltei a correr cegamente pela floresta. Tropecei várias vezes enquanto pude ouvir Janne me perseguindo ao longe. Não demoraria muito até eu me cansar, e então ela chegaria até mim.

Eu não tinha em mente qualquer lugar para ir. Acabei, mesmo sem tal intenção, voltando para a mansão. Não seria boa idéia voltar para a floresta, talvez eu acabasse indo direto na direção da loira maldita. Minha única opção era voltar até a casa e tentar me esconder.

A porta da frente estava fechada. Ao abrir muito sangue escorreu para fora.

 - Droga – Murmurei.

Entrei e tranquei a porta pelo lado de dentro com a chave que jazia na parede. Sangue sem fim ainda escorria pela lareira. Eu não conseguiria permanecer ali por muito tempo, o sangue agora estava com força total e em poucos segundos haveria o suficiente para me afogar. Subi os degraus e fui até o quarto à minha direita. Sorte que tudo estava descoberto, assim pude abrir o guardarroupa e me esconder nele. O cheio dentro dele era de cachorro molhado de séculos. Eu teria de suportar aquilo. Enquanto reclamava mentalmente ouvi algo semelhante a um pulo pela janela e passos escada acima.

 - Eu sei que você está em algum lugar da casa, e eu vou te encontrar! – Vociferou ela. Engoli em seco.

Quando eu menos esperava a porta do guarda roupa foi escancarada.

 - Chega dessa brincadeira de gato e rato – Disse ela entre dentes. Agarrou minha blusa e me jogou em cima da cama. Com a força que ela utilizou, acabei rolando para fora da cama até na parede. Ao levantar-me para procurar Janne e ver se teria tempo para fugir, ela estava a caminhar em minha direção com seu sorriso zombeteiro. Levantei o mais depressa que podia.

Desespero, medo, vontade de fugir. Eu não estava mais conseguindo controlar-me. Uma garota provavelmente mais nova do que eu estava se aproximando com um canivete mirado no meu pescoço. Não consegui controlar-me, quando ela se aproximou demasiado, acabei recuando um passo. A madeira que estava sob meus pés rangeu e estalou duas vezes, então cedeu. Janne, tomada de um ódio que parecia sem fim, jogou o canivete em minha direção como um dardo, como se sua vida dependesse de minha morte. Com sua mira incrível, ela acertou em cheio em meu peito. Gritei como nunca pensei ser possível de tanta dor que eu sentia naquele momento. Minha alma parecia que estava acorrentada em mim durante anos e agora estava prestes a soltar-se, enquanto meu corpo caía quase sem vida no lago vermelho logo abaixo. Quando meu corpo já estava flutuando no líquido repugnante, não conseguia manter minha cabeça para fora da superfície, pois me custava muito e eu sentia muita dor ao fazer tal ato. Comecei a afundar enquanto gemia, e então não vi mais nada.


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Notas finais do capítulo

Ps: A loira maluca recebeu o nome de Janne justamente porque me inspirei na personagem da Saga Crepúsculo, Janne, dos Volturi.



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