Jesse permanecia com a expressão tensa e os músculos rígidos enquanto preenchia o buraco em minha mente. Ele sim conseguia me convencer de que tudo era real. Os Candor eram seres ruins.

– Os Candor já suspeitavam de nossa existência próxima. Quando lhes foi acidentalmente confirmado pelo Traidor onde estávamos, eles prometeram deixar-lhe viver em troca de ajuda na batalha que se seguiria. Poucos de nós sobreviveram.

Jesse parou abruptamente. Olhei fundo em seus olhos. Eu ainda tinha muitas perguntas sem respostas. Faria apenas a que mais me perturbava.

– Mas e você, Jesse? – Perguntei, olhando em seus olhos – Quem exatamente é você?

– Eu fui o líder dos Nocturno... Minha família fazia parte da geração de líderes. Assumi a liderança pouco tempo antes da guerra. Eu tinha 20 anos.

– Como assim, Jesse? – Perguntei, alarmada – Você tem 20 anos atualmente, não tem?

– O líder nunca envelhece – Murmurou ele – E como o clã ainda existe, estou congelado no tempo aos meus vinte anos.

– Então... Quando aconteceu esse massacre?

Jesse respirou fundo, olhou em meus olhos e respondeu o mais calmamente possível.

– Há cento e cinqüenta anos.

O impacto foi tamanho que fiquei boquiaberta, sem reação. Levantei e caminhei de um lado para o outro, gesticulando e gaguejando perguntas que eu não conseguia terminar. Como podia ter acontecido há tanto tempo? Então quer dizer que Jesse era realmente como eu, um monstro? Como ele podia viver tanto tempo? Seria ele imortal?

– Monique – Disse num tom de preocupação. Caminhou até mim e me segurou firmemente pelos pulsos. Uma lágrima – Eu sou como você, vivemos durante muito mais tempo do que qualquer humano comum – Disse ofegante – Victor tem no mínimo o dobro de minha idade. Todos descendemos de um único clã, o Lasombra, mas Victor não aceita isso.

Eu ainda estava atordoada, mas tentava prestar atenção nas palavras de Jesse. Todos eram unidos, até uma discussão por poder. O clã foi dividido em dois, destinados a nunca mais verem uns aos outros. Continuava apenas olhando em seus olhos escuros. Era informação demais de uma só vez.

– Ele é muito poderoso e... – Pousou a mão sobre sua boca, como se fosse arrepender-se do que quase pronunciou.

– E o quê? Continue.

– Nada – Mentiu ele, olhando para os lados.

– Por favor – Supliquei – Não esconda nada de mim.

Jesse olhava distraidamente para o ferimento do seu braço, e começou a falar.

– Ele está nos procurando... – Terminando de pronunciar tais palavras, caminhou até o tronco de uma árvore próxima e sentou-se no chão, escorado nela. Me aproximei lentamente e sentei ao seu lado. Eu queria ficar perto de Jesse, só assim eu me sentia segura.

– Monique – Murmurou Jesse – Acredito que Victor queira nos matar. Precisamos encontrar uma maneira de voltar para Yellowstone o mais rápido possível.

– Yellowstone? Mas porque lá? O que tem de tão importante naquele lugar?

– Quando chegarmos, você entenderá – Sorriu ele.

Estava levemente nublado e tinha uma brisa fresca que me deixava arrepiada de vez em quando. Eu fiquei sentada um bom tempo ao lado de Jesse, até chegar cada vez mais perto dele, mais perto, mais perto...

– Shhh – Pousei o dedo sob seus lábios no exato momento em que Jesse diria algo. Me recostei em seu corpo quente. Jesse acabou aceitando a situação e envolveu-me em seus braços, tomando cuidado para não machucar ainda mais seu braço direito. Eu finalmente me sentia segura.