Eu olhava em seus olhos e só conseguia ver tristeza, magoa. Ela tentava disfarçar, é verdade. Mas eu a conhecia melhor do que isso. Eu queria a proteger do que planejavam para nós, mas eu não era forte o suficiente.

Eu olhava para a multidão procurando por socorro, eu suplicava para aqueles que conhecia com o olhar, mas eles nada faziam. A dor era muita, tudo que eu queria era não sentir mais nada. Perder todos os sentidos agora seria uma coisa muito boa. Eu não queria sentir dor, ver o fogo consumindo minha irmã aos poucos e ouvir os gritos de xingamentos vindos de pessoas que outrora amei. Mas principalmente, eu não queria que ela sofresse. Ela é a pessoa que mais amo e a pessoa que, se eu tivesse um futuro, seria sempre a que eu mais amaria. Ela e Leonora.

Eu não posso acreditar no que fiz. Eu havia prometido guardar nosso segredo, eu a obrigara a jurar quando ainda éramos crianças e agora eu o quebro. Eu nunca sonharia que Antonietta faria isso conosco, que nos trairia. No meio da multidão ela grita e chora, mas isso já não me comove mais como antes comovia. Com minhas ultimas reservas de forças vejo Leonora. Minha pequena irmã estava gritando desesperada, ora olhava para mim, ora para Jane. Lauro a segurava, não deixando que se aproximasse de nós. Como bem conheço meu irmão mais velho, ele deve estar dizendo que temos pacto com o demônio, que não prestamos. Talvez seja dela que, quer aonde eu vá depois da morte, eu sinta mais falta. Minha pequena e doce irmã.

 Através das chamas, eu a olho uma última vez antes de cair de permanentemente na inconsciência.