The Reckoning escrita por MayonakaTV


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

O começo ficou uma bosta, mas tá valendo. ;;



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O par de plataformas corria pela rua escura, tinha pressa de chegar a sua casa. Perdera a hora de novo. Levou o pulso aos lábios, aspirando o perfume amadeirado que havia ficado impregnado na manga da blusa fina. Não conseguiu deixar de sorrir, seu atraso era muito bem justificado... Ainda bem que morava sozinho e não tinha ninguém para ralhar consigo por ter ficado fora até tão tarde.

Girou a chave na fechadura, admirando-se com o jogo de luzes, ou melhor, a falta delas, quando adentrou o hall... Não que a escuridão da casa fosse incomum, mas, pela primeira vez em anos, parecera-lhe terrivelmente sinistra.

─ Argh, Hizaki, pare com isso!

Balançou a cabeça em negativa frenética, tentando afastar os pensamentos ruins que lhe invadiram a mente. Estava tão frio dentro da casa... Abraçando os próprios ombros, atravessou o salão com certa pressa e pôs-se a subir os degraus.

Havia acabado de chegar ao fim da escada quando uma voz o assustou.

─ Está atrasado, Hime ─ disse o mais novo, categórico.

Voltou-se na direção do fim do corredor. De um ponto onde, até então, apenas a escuridão era perceptível, duas esferas azuladas abriram-se lentamente. Aos poucos, com o movimento de aproximação dos mesmos, a figura de um jovem em trajes tão negros como o lugar onde estava ia delineando-se.

Hizaki encarou o intruso. À luz prateada vinda da janela, o rosto porcelanado tornava-se quase translúcido, enquanto as lentes da cor do oceano refletiam o brilho da arma apontada para si.

─ Mas o que...?

Um sorriso sádico adornou os lábios fartos do criminoso, que se aproximava friamente à medida que Hizaki tentava recuar.

─ Não se assuste, Hime... É só um acerto de contas.

Lua cheia, nenhuma estrela. O céu era nada mais que um tecido negro e vazio acima da imensa casa de pedras brancas.

No interior da residência, o típico silêncio próprio do horário e o constante vaivém do pêndulo do gigantesco relógio de ébano ali existente. O vento gélido da madrugada balançava as cortinas brancas de uma janela esquecida aberta, através da qual a luz da lua iluminava fracamente o interior do hall e o corpo abandonado nos degraus.

Sutil fluía o sangue pela escadaria. Os cachos longos e louros tingiram-se de vermelho. O lugar cheirava a uma estranha mistura de perfume francês e rosas mortas.

Hizaki não sentira a dor do tiro, o projétil pegou direto no coração. Privado de qualquer tempo para esboçar uma reação, tombou na escada com um baque surdo. Um filete de sangue escorrendo pelo canto da boca entreaberta, os olhos arregalados e a surpresa ainda estampada nos orbes castanhos, que só permaneciam abertos pela total falta de preocupação do assassino em fechá-los. Parecia gostar de estar vendo o reflexo de seu assustador sorriso de orelha a orelha sumir aos poucos daquele olhar cada vez mais opaco.

Firme na mão coberta pela luva de veludo negro, o revólver ainda era apontado para o cadáver do loiro, como se ele pudesse se levantar a qualquer segundo. Cutucou o corpo com a ponta da bota, certificando-se de que não havia mais nenhuma chance de que Hizaki se salvasse. Na falta de qualquer gemido de incômodo, um lampejo de malícia e satisfação se refletiu nos orbes azuis, sua missão estava cumprida. Havia finalmente matado aquele que roubara de si a coisa mais preciosa que tinha... Kamijo, o único homem que fora capaz de amar.

Desceu a escada devagar, contornando o corpo como se fosse um animal qualquer morto em uma estrada. Não havia mais nada a fazer ali. Parou diante da porta, pousando a mão sobre a rica maçaneta. A mente começou a divagar, trazendo-lhe à lembrança os vários momentos que compartilhara com aquele que, por tanto tempo, havia sido seu melhor amigo, até descobrirem a paixão pelo mesmo homem. Mesmo que Kamijo não o quisesse, Kaya era orgulhoso demais. Não permitiria que outra pessoa ficasse com o homem que ele desejava. O que Hizaki tinha que ele, Kaya, não teria em dobro? Suspirou. Por cima do ombro, lançou um último olhar ao corpo. Os lábios se repuxaram num sorriso de canto.

─ Eu te avisei.

Abriu a porta, deixando-a bater atrás de si quando a atravessou. Caminhou durante algum tempo pela rua deserta, brincando com o revólver que brilhava à luz prateada da lua. “Quem será o primeiro a encontrar o corpo?”, perguntava a si mesmo, abafando um risinho patético com o dorso da mão direita ao pensar nas possibilidades. Dobrou uma esquina qualquer, sumindo na escuridão de um beco.

Não sentia culpa alguma. Se não podia ter Kamijo, ninguém mais poderia.


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Notas finais do capítulo

E entããão...? ;;