A Deusa Perdida escrita por mari mara


Capítulo 26
Que isso Rach, que isso


Notas iniciais do capítulo

Hoje chegou HoH para nós... E junto com ele, a Deusa Perdida o/ ......ok, isso não é bom. Demorei de novo *chora*
Mas uma coisa é certa, eu juro que não é falta de consideração. Teve problemas com escola, família, esses etc etc da vida. Mas está tudo se resolvendo *u*
Mas me desculpem mesmo assim D:



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26. Que isso Rach, que isso

Point of View – Percy Jackson

Se você andou reclamando da sua vida recentemente, saiba que eu e o Nico passamos um domingo inteiro sendo perseguidos por uma celebridade defunta meio demoníaca. Mas não acho que isso deva ser comentado agora.

Depois de uns dias de folga com joguinhos superficiais e conversa jogada fora, era dia de nos dedicarmos novamente ao que realmente deveríamos estar fazendo o tempo todo – a Clave mágica. Como já sabido, cada minúsculo pedacinho do objeto divino está escondido por aí, perdido no tempo e no espaço, e alguém deve ter a triste missão de achá-la. Na teoria, a pessoa com essa missão deveria ser a própria Hannah, mas não. A cidade da vez era Seattle, também conhecida nos EUA como Cidade Esmeralda. Eu nunca tinha ido lá até meu primo dark e eu (sim, somente nós) sermos jogados nela com a missão ‘achar a bentida da clave da guria louca’,com a única ajuda sendo uma profecia da Rachel num momento Delfos, que não fazíamos ideia de como decifrar:

"Filho da Poesia, vítima da taça envenenada
Não sabemos o assassino de tua dura morte antecipada
Enquanto o temível Hades o chama, és tu,
Homem de coragem, que Londres inteira em luto aclama"

No momento em que ouvi essa profecia, cheguei à brilhante conclusão de que estávamos completamente ferrados. Porque se tem alguém que paga o pato, seremos sempre nós, os machos imprestáveis.

— Olha, eu não sei você, mas eu não estou com paciência o bastante pra ver pseudo-pessoas o dia inteiro.

A frase dita acima por Nico pode parecer meio bizarra pra você, mas pra mim não. Já faziam algumas horas que nós estávamos rodando um bendito dum museu de Seattle, dedicado apenas a música. Eram tantas estátuas de cera de artistas famosos no meio do caminho que eu cheguei a pedir licença para Elvis.

— Acho que a gente devia parar de rodar por aí esperando a sorte ir com a nossa cara, e começar a prestar atenção na biografia do povo. Um desses infelizes é a tal da Clave — falei, lendo numa plaquinha aos pés da pseudo-Madonna que ela segue uma filosofia de vida chamada Kaballah. Vivendo e aprendendo.

— Ah, lógico. Nós vamos simplesmente topar com a plaquinha certa — Nico revirou os olhos daquele jeito irritante — É um museu do tamanho do Hades, com trocentos pseudo-artistas. Até a gente descobrir o benedito, levaria o dia inteiro. E como já comentado, não tenho paciência o bastante para isso — eu não admiti, mas sabia que ele estava certo (meio pessimista, mas certo). Nem mesmo eu, que costumo ser uma pessoa lerda (digamos, paciente), seria capaz de ler as centenas de plaquinhas e bancar a Mãe Diná pra adivinhar qual era a da profecia.

Pode dizer, você agora está pensando e porque não desvendaram a profecia antes? Dãh.Bem, foi o que eu pensei na hora também, mas

a) A Annie me disse ‘Percy, me pergunte o nome de todos os imperadores romanos, mas pelo amor dos deuses não pergunte nada de música, porque eu não faço ideia’;

b) A Hannah ainda estava irritada comigo por ter descoberto o que era leggiadrae não ter contado a ela o que significa, de forma que por mais que eu insistisse e chantageasse e reclamasse ela apenas disse ‘se virem, muchachos’ e começou a tocar uma música qualquer no violão; e finalmente

c) A Rachel estava desmaiada por causa da invasão de Delfos.

E foi assim que ficamos perdidos na Cidade Esmeralda sem ajuda nenhuma. Divertido, não?

— Então, vamos listar as características do sujeito que nós sabemos — sugeri, enquanto desviávamos de um grupo de asiáticos que se acotovelavam para ver Beethoven.

— É, pode ajudar. Melhor que nada — Nico deu de ombros, enquanto nós dois ignorávamos os suspiros e cochichos indecifráveis de duas japonesas. Abri o papel com a profecia escrita e comecei a lê-la.

— Filho da.. da.. — apertei os olhos para tentar entender os rabiscos. Dislexia é triste, irmãos. — Cortesia? Que isso?

— Poesia — Nico corrigiu, com uma calma inesperada — É poesia, Percy.

— Ah, sim. Filho da poesia, certo — pigareei — Vítima da.. hm... Caramba quem foi o analfabeto que escreveu isso? A letra é pior que a minha, credo. Tipo, isso é um tê ou um érre?

— Tê — a paciência rara de Nico começou a se esvasiar, fazendo ele respirar fundo antes de me responder — De taça, sabe.

— Hum. Vítima da taça.. bulinada?

Envenenada!É envenenada, caramba! Como alguém bulinaria uma taça?!

— Ué.. Sei lá... Filhos de Eros podem ser aventureiros.

— Ok, eu não quero saber — ele me interrompeu, estendendo a mão — Só me passa o papel.

— Ingrato — reclamei, mas passei a profecia a ele mesmo assim. Paramos no meio do caminho por alguns minutos, enquanto Nico relia as informações.

— Não tem nada muito específico.. — ele murmurou concentrado — ‘’Filho da poesia’’ deixa óbvio de quem é a cria, mas esse troço de taça envenenada e morte antecipada... Coma alcoólico?

— Provável — dei de ombros.

— Ok. Então, filho de Apolo, encheu a cara em Londres e bateu as botas por lá mesmo — finalizou Nico com a maior simplicidade possível — Vai ser fácil, fácil de achar, com certeza.

— Não se esqueça da parte que diz que é um cara de coragem que morreu em Londres — lembrei, lendo as duas últimas linhas da profecia (com muito esforço): ‘’Enquanto o temível Hades o chama, és tu, homem de coragem, que Londres inteira em luto aclama’’

— Sobre Londres, sim. Mas o resto não é importante. Viadagem do Oráculo.

Ri um pouco com o ‘viadagem’. Realmente, é uma palavra que descreve bem certos filhos do deus dos Oráculos.

— Se você diz..

Continuamos andando, correndo os olhos por todos os lados. Até que brotamos numa seção intutulada Rock n’ Roll Hall of Fame. Havia mais chances da Clave da Han estar com um desses caras estilo AC/DC, Nirvana, Green Day (maldito Green Day. Nunca me esquecerei do dia que quase morri por causa da Clave que estava ‘com eles’) do que, sei lá, com Mozart ou com o povo dos tempos da brilhantina.

Momento confissão: até mesmo eu que sou meio indiferente com essa coisa de bandas e etc etc, fiquei admirado com o lugar. Ao fundo, ouvia-se uma música do Rollin Stones que eu tinha certeza ser a preferida do meu padrasto, Paul Blofis. O teto era alto, muito alto, com imagens de diversos nomes do rock, desde Elvis até Paramore. Realmente, é uma pena eu estar vendo isso e a Hannah não (risada maléfica).

— Deuses — resmunguei — Estamos na estaca zero com relação à profecia.

Nico encolheu os ombros, como se dissesse ‘ao menos não é culpa minha’. Apoiei-me na parede mais próxima, refletindo sobre as informações que já sabíamos. Será que existem tantas pessoas que morreram em Londres, assim? É só olharmos todas as biografias e anotarmos as mortes, e por meio de eliminação..

— Acho que devemos perguntar logo essa joça pra quem realmente vai saber responder — comecei a andar, desviando dos (outros) turistas.

Meu primo me alcançou correndo, meio confuso com minha decisão repentina.

— Quem? A Han?

— É, ela mesma — respondi enquanto empurrava uma porta com um homem-palito azul — Agora, espere um pouco antes de fazer mais perguntas.

Para nossa sorte, estávamos completamente sozinhos. Peguei a placa de interditadousada pelos faxineiros, que estava encostada no canto, e coloquei-a discretamente do lado de fora de porta, trancando-a por dentro depois.

— Sacou o que vou fazer agora, Michelangelo? — abri uma das torneiras e olhei para Nico pelo reflexo do espelho. Algo me dizia que ele não gostou do apelido — A propósito, a não ser que você queira tomar um banho de água fria, eu recomendaria ficar um pouco mais longe dessas pias.

Nico resmungou algo sobre ‘esses filhos de Poseidon’, mas deu uns bons passos pra trás. Ri um pouco, e logo fechei os olhos para concentrar-me na água que corria. Doía um pouco, mas continuei até que ela ‘se rendesse’ e se deixasse ser controlada. Com isso, finalizei com perfeição (modéstia) minha fonte improvisada, que saía de uma das torneiras e acertava o espelho, deixando-o com uma camada de água, e escoando nas pias a seguir. Minha cabeça doía um pouco depois desse processo, mas ignorei. Abri uma pequena janela no alto devagar, até achar um ângulo que fizesse os raios de sol baterem no espelho e criarem um mini arco-íris, que dava pro gasto.

— Você tem dracmas? Parece que Annabeth confiscou os meus — virei-me para trás, vendo que Nico ainda estava se escondendo da água. Assim que ele me jogou um eu o atirei no espelho encharcado. Falei ‘’Annabeth Chase, filha de Atena, em Seattle’’, e a imagem tremeluziu até que Sabidinha aparecesse nela. Só que não muito do jeito que eu esperava.

Era um estacionamento ao ar livre, que coincidentemente (ou por conta de muita névoa) encontrava-se vazio. O traile Restart estava como sempre bastante visível, só que apenas metade dele estava colorido. Rachel passou correndo por nossa visão periférica, com Annie perseguindo-a com um balde gigante na mãos. Fiquei perplexo demais para falar algo quando Annie derrubou o troço na cabeça da ruiva, deixando-a toda manchada de preto.

Tinta. O negócio era tinta. Eu achava que todos já tinham se esquecido de pintar o trailer.

— Eeei! Garotas, aqui! — balancei os braços no estilo SOS até elas pararem de rir e nos notarem. Elas se entreolharam confusas, mas se aproximaram da M.I.

Hey! O que os dois estão fazendo aqui? Mesmo que teoricamente, claro— perguntou Sabidinha, se ajoelhando.

— Desistimos de tentar achar a clave sozinhos. Precisamos de ajuda profissional pra isso — explicou Nico, que pelo visto perdeu o medo da água — Mas parece que as coisas estão bem interessantes por aí.

Pequeno detalhe que esqueci de comentar: Annie estava num modo bem ~divertindo na praia~, de short e biquíni. Ó O PERIGO, SABIDINHA DE BIQUÍNI COM MUKE POR PERTO PODE ISSO NÃO OXENTE.

— É — fitei Annabeth intensamente — Bem interessantes. Sem mim.

Ela sorriu inocentemente, jogando o cabelo para trás.

Não precisa ter ciúmes, Percy. Você sabe que eu te amo.

E além do mais —disse Rachel, limpando a tinta preta da cara com as mãos— Eu estou de olho no Muke. Ele nem ousaria chegar perto da Annie.

— Ótimo. Continue assim, ruiva, e eu te dou três caixas de tinta profissional quando nós terminarmos a missão.

É uma honra fazer negócios com você, Jackson.

Annabeth fez uma careta pra Rach, que respondeu mostrando a língua.

— Ok, o assunto de vocês está muitíssimo interessante, afinal ninguém quer o Percy chifrado — semicerrei os olhos pro filho de Hades —, mas será que nós poderíamos ter a ideia da pista primeiro? Quanto mais rápido acharmos, mais rápido voltamos.

— Nós sabemos porque você quer voltar, Nico. Não se preocupe — Annie se levantou — Vou chamar a Han e já volto. Ela e Orchard estavam pintando o outro lado do trailer.

Ela correu, deixando-nos em silêncio por alguns instantes.

— Então, Rachel.. Por que exatamente a Annabeth jogou tinta preta na sua cara?

O Oráculo piscou os olhos verdes, pensando. Parecia uma morena de mechas vermelhas daquele jeito.

— É uma ótima pergunta. Acho que sua namorada é louca.

— Me parece uma resposta válida.

— Muito válida.

— E a sua perseguição ao Muke? Tem dado certo? — perguntou Nico. Rachel suspirou, como se fosse começar a desabafar sobre seus sentimentos.

— Nem um pouco, dá pra acreditar nisso! Eu achei que a forma mais fácil de conquistar um garoto que não parece tão interessado assim fosse estar linda na frente dele, mas nãaaao. Fala sério, vocês têm a mínima ideia do que eu fiz?

— Hm.. Não..?

— Eu chamei ele pro trailer enquanto todo mundo estava aqui fora pra ele me ajudar a amarrar o biquíni. Ajudar a amarrar a porcaria do biquíni! E sabem o que ele fez? Nada!

— Nada? Tipo.. Nada? — perguntei — Ele te ignorou e te deixou com cara de tacho?

Ai meus deuses, Percy. Lógico que não! — ela revirou os olhos — Que pessoa lerda. Ele ajudou, claro. Mas nãoexatamente do jeito que eu queria, entende.

O__________________O gente essa Rachel.

— Acho que nós não precisávamos saber desse detalhe — falou Nico, meio ressabiado.

— Verdade, não precisavam. Mas de boa, vocês são homens. Admitam que é uma atitude estranha da parte dele.

— Talvez ele seja gay. É o que eu sempre disse — respondeu o filho de Hades novamente, dando de ombros.

— Isso me lembra o dia que a Hannah quase fez vocês dois se beijarem. Foi um dos momentos mais gays que já vi, atrás do Zac Efron cantando Bet on Me — comentei, pensativo. Era dia de Natal quando isso rolou. Oh, deuses, foi um dos dias mais engraçados da minha vida. Mas pelo visto pro Nico não, porque ele me fuzilou com os olhos.

— Não me lembre disso!

Coincidentemente, ou não, nesse momento a tão esperada Hannah apareceu no nosso campo de visão de M.I..

É impressão minha ou algum dos debilóides está solicitando minha presença? — ela disse, se sentando na grama ao lado da Rachel. Reparei que Nico sorriu discretamente quando ela acenou pra ele.

He. Hehe. He.

— É sobre a pista. Nós desistimos de tentar descobrir quem é a pessoa sozinhos — falei, por fim. Ela suspirou, fazendo cara de entediada. Acho que ainda não tinha me perdoado por descobrir o que é leggiadra, gritar pra todo mundo que o Nico estava apaixonado mas não ter dito a ela o que significava.

Você sabe que eu tenho uma condição. Se não me disserem, sem pista.

Eu olhei pra Rachel, e nós dois juntos olhamos para o filho de Hades. Nós o encaramos até ele ceder. Ah, mas eu não ficaria o dia inteiro preso num museu porque ele não quis contar que chama a guria de graciosa nem que Hera tussa.

— Tá, chega! — disse ele, irritado — Eu falo o que quer dizer. Mas só quando a gente voltar pro trailer. Fala a pista da Clave é primeiro.

É um preço justo— Hannah sorriu, satisfeita — Bom, alguém ai sabe a profecia? Rachel?

— Não sei. Quando apago, não me lembro de nada — a ruiva balançou a cabeça — Mas se não me engano, a Annie disse que o Nico anotou.

— Pera, aquele garrancho de letra era sua? — cutuquei meu primo, rindo. Ele fez uma careta pra mim.

— Ela não é tão feia assim, tá? Você que tá cismado — disse, desdobrando a folha e pigarreando — Começa com ’filho da Poesia, vítima da taça envenenada’.

Eu já tinha visto as habilidades musicais da Han em ação, mas elas continuavam a me surpreender. Ela colocou a mão no queixo, pensativa.

Hum. Interessante. Amy Winehouse, mas como ela é mulher acho que não conta. Pode ser o Bonzo do Led Zeppelin, embora alguns digam que foi não foi álcool. Mas, bem, continue.

— ‘Não sabemos o assassino de tua dura morte antecipada’.

— É, Bonzo continua na lista. Mas Morrison também pode ser.

Fui anotando os nomes mentalmente. Só o que faltava era ela descobrir a pessoa e depois de acabarmos com a M.I, esquecermos o nome do benedito.

— ‘Enquanto o temível Hades o chama, és tu que Londres inteira em luto aclama’.

— Hmm estranho. Nenhum desses morreu em Londres.

— Bom, a Amy morreu.. — disse Rachel, ponderando a informação — Mas disse filho da Poesia, e ela era filha de Dioniso. Droga.

— Ah, o Bon do AC/DC morreu em Londres! Deve ser ele, então. Ótimo, procurem por Bon Scott. Aquele de Highway to Hell, sabem.

Lembrei-me de um documentário que Thalia me obrigara a assistir uma vez, sobre várias bandas que ela gosta. Metade das coisas que vi nele se perderam, mas a morte do vocalista do AC/DC foi uma das únicas que eu recordava, porque era provavelmente a pior forma de bater as botas.

— Ele não morreu engasgado com..? — perguntei. Meio punk contestar a deusa da Música mas tudo bem.

— Vômito. É. Tadinho, deve ter engasgado e morrido de desgosto— Han secou uma lágrima imaginária no canto do olho. Pela cara que a Rachel fez, imaginei que elaia vomitar — Mas estava completamente chapado quando isso aconteceu, então é válido.

Ok, não contestarei argumentos de autoridade.

— Espere — lembrei-me — E o troço de homem de coragem?

— Eu disse, é viadagem — Nico fez cara de bunda — E por ser viadagem eu não citei, ora. Quanto menos saliva gasta, melhor.

— Viadagem?! Que viadagem?— indagou Rachel ofendida —Como ousam dizer que eu falo viadagens? E é preconceito isso, seu homofóbico!

— Eu usei viadagem no sentido de frescura, não de gay, ô anta.

Que viadagem?— perguntou Hannah curiosa.

— Podemos parar de usar a palavra viadagem, por favor?— Rachel estava com o rosto vermelho, irritada.

— Querer que a gente pare de falar viadagem é viadagem.

— Senhor di Angelo, você não quer me ver pregando os direitos humanos aqui. Pare de dizer viadagem.

Acho que nunca escutei a palavra viadagem tantas vezes em tão poucos segundos.

— Tá, parei. Mas a.. Bagatela, diremos assim, é que o verso real era ‘enquanto o temível Hades o chama, és tu, homem de coragem, que Londres inteira em luto aclama’.

A expressão facial da Han foi de ‘haha unicórnios pôneis’ pra ‘............loading’.

— Homem de coragem? Falou isso?

— Sim. Exatamente com essas palavras — Nico levantou o papel e o estendeu na frente da M.I.

— Caramba tua letra é um garrancho mesmo filho — disse Rachel, apertando os olhos pra conseguir ler.

— Parem com isso! É bullying, escrever não é uma coisa tão útil no Mundo Inf..

Jimi Hendrix — disse Hannah, apenas.

— Oi? — perguntamos os três, juntos.

— Esquece o Bon. Procure o Jimi Hen—

‘’Por favor, insira um dracma para mais cinco minutos. Íris agradece!’’. Lá se vai nossa conexão. Tudo que restou foi nossos próprios reflexos deformados pela camada de água no espelho, dois garotos atônitos

— Droga. Péssima hora pra sermos pobres murmurou Nico, guardando a profecia novamente.

Foi difícil descobrir que quem precisávamos era Jimi Hendrix, um fato. Precisamos rodar por horas e horas até tomarmos a decisão sensata da M.I. Mas achar o Sr. Jimi no museu foi fácil pra caramba.

— Com licença. Será que você poderia nos informar de algo? — cutuquei uma funcionária do museu.

A moça se virou, mostrando não ter mais que vinte anos de idade. Tinha a pele morena e os cabelos castanhos muito compridos. O que me chamou a atenção eram os olhos, de uma cor meio mel, tipo amarelada.

— Com prazer! Algum ídolo em especial procuram ver?

— É.. Mais ou menos. Jimi Hendrix, conhece? — a mulher sorriu ao escutar o nome.

— Oh, Hendrix! Adoro esse homem! Levo vocês lá, não é problema. Ajudar os visitantes é meu lema.

Nico me lançou um olhar meio desconfiado, mas dei de ombros. Se é pra vivermos a vida desconfiando de todos, melhor ficamos no Acampamento. As vezes a pobre coitada da moça quer dar um ar poético à exposição, oras.

— São apreciam o trabalho dele? — perguntou ela enquanto nos guiava num longo corredor com algumas estátuas. Reconheci Paul McCartney e o cantor do Aerosmith pelo caminho.

— Não exatamente — respondi — Conhecemos de nome, só.

— Ah, sim. Gosto muito das canções dele. Minha preferida é Bold as Love.

Espere. Bold as Love... Valente como o amor. Ah, tá. No fim, o homem de coragem não era bobagem. Desculpe, Oráculo. Nunca mais duvidarei das suas palavras.

— Ele parece ter músicas muito boas. Mas nunca chegamos a escutar. Na verdade, quem mandou nós virmos vê-lo foi a namorada desse aqui — passei o braço pelo ombro de Nico, que estreitou os olhos pra mim. A mulher riu um pouco.

— Namorada? Interessante.

Esperei que ela dissesse algo mais, ou rimasse uma palavra com ‘interessante’, mas a moça ficou calada todo o resto do percurso. Subimos uma longa escada até o segundo andar e uns bons passos depois, estávamos em frente a uma alta estátua de cera. Era um homem com quase o dobro da minha altura, negro, cujo cabelo estava entre black power e capacete. Tinha um cigarro na boca, e estava posicionado de forma que parecia tocar guitarra. Observei o Sr. Jimi, tentando achar algum pedaço da Clave. Nada.

— Percy. O braço — sussurrou Nico.

Observei o braço do Sr. Jimi. Meio magrelo, mas nada demais.

— Da guitarra, Cabeça de Alga. O braço da guitarra!

Olhei para o braço da guitarra do Sr. Jimi. Opa. Era completamente dourado e brilhava, refletindo a luz. Realmente, senão é a Clave, só pode ser pirlimpimpagem de Apolo.

— Era ele mesmo? — dei um pulo ao escutar a voz da mulher. Ela ainda estava ali?

— Hum, sim. Ele mesmo, Hendrix. Bem conservado — disse Nico — Er, obrigado.

— De nada, foi um prazer — ela sorriu — Mas sinto lhes informar que venho a malfazer. Os dois semideuses em missão da deusa asnada, que pena!, caíram numa cilada — oi? Sério mesmo que é complicado entender essa guria com ela falando em rimas. E, aliás, tenho a leve impressão que asnada vem de asno. Algo me diz que alguém vai chutar o traseiro dessa mulher logo, logo.

Seu cabelo castanho foi mudando gradativamente de cor, até estar completamente lilás (lilás! Por acaso colocaram dorgas no meu café da manhã?). O jeans e a camiseta de funcionária se transformaram num vestido branco. Em suas mãos havia uma flauta prateada, e na cabeça surgiram flores numa coroa.

— Espere. Flores? Você é uma ninfa...? — por exceção do cabelo, ela estava igualzinha à Juníper. A moça/ninfa do mal bateu o pé no chão, com o rosto vermelho de raiva.

— Por que todo mundo me chama de ninfa? Caramba, mas que cafifa! Sou Euterpe, seus ignorantes, a Musa da Música e da Poesia. Não uma árvore mágica de fantasia — nota mental: perguntar Annabeth o que é cafifa.

Havia alguns poucos turistas de camisa havaiana por perto rodeando outras estátuas, mas pelas caras felizes a névoa estava fazendo um bom trabalho. Tirei Contracorrente do bolso, segurando-a com força, temendo um conflito. Nunca é bom brigar com seres mitológicos em locais públicos, meu passado meio que condena isso.

— Como toda boa vilã, meus motivos devo revelar. Aquela loira maldita deixou-me com as mãos abanando, sem uma função para qual cuidar. Agora, séculos mais tarde, minha vin--

— Com licença dona — disse Nico com cara de entediado — Nós estamos com um pouco de pressa, pode pular esse pedacinho de vilão de Scooby Doo? E essa coisa de ficar rimando é meio irritante também. — Euterpe revirou os olhos, feito uma adolescente mimada.

— Ninguém aprecia uma boa poesia ultimamente. Humanos incultos.

— Semideuses. Semideuses incultos, não humanos — corrigi.

— É, tá. Tanto faz — ela fez um gesto de desprezo com as mãos — O fato é que aquela loira azeda da filha de Zeus teve a coragem de roubar minhas funções de guardiã da Música. Depois dela subir no pódio de deusa, a Musa aqui não era chamada pra nadano Olimpo. Nenhuma festa, comemoração, movi, nada! Ofuscou totalmente meu brilho — suspirou — Mas enquanto ela esteve fora, euentrei pra cena outra vez. E vocês não vão me impedir de continuar assim!

— Sinto avisar — bocejei — Mas vamos sim.

Euterpe grunhiu e soprou a flauta, emitindo um som que ultrapassava o agudo (sem exageros, quase senti meus tímpanos estourando). Imaginei que ela fizesse isso para nos distrair, mas pelo visto tinha uma função a mais.

— Ai, meu Hades — Nico deu um passo atrás, com os olhos arregalados. A estátua do Sr. Jimi se endireitou, ficando reta como uma vara. A expressão antes de tô-curtindo-um-som-mano se tornou mortífera, e suas íris de cera antes castanhas tornaram-se vermelhas. Ele se virou para a Musa.

— Pegue eles — ela ordenou, com um sorriso escárnio no rosto. Nico desmanipulou a névoa, fazendo sua espada Estígia visível. Fiz o mesmo, destampando Contracorrente até ver o reflexo do Sr. Jimi correndo atrás de nós.

— Manda esse troço pro Mundo Inferior! — gritei para meu primo, embora ele estivesse do meu lado.

— Quê?! Não tem como mandar uma estátua de cera pro Mundo Inferior!

— Ao menos tenta, cahai!

Quando Sr. Jimi se aproximou Nico acertou um golpe em seu peito, onde num humano ficaria o coração. Mr J ficou paralisado. De raiva. Porque bufou, arrancou a espada e a atirou alguns metros longe.

— Opa. — Sr. Jimi me encarou com os olhos vermelhos e rosnou.

— Valeu hein, Percy! — gritou Nico enquanto ia em direção ao vaso de planta onde sua espada caíra. Em minha defesa, sempre achei que os poderes de Hades iam além dos seres humanos vivos.

Euterpe,sentada em cima do piano branco da estátua de Lennon como uma espectadora, tocou a flauta novamente. Desta vez alguns turistas tamparam os ouvidos, incomodados. Os que estavam próximos de minha luta com Sr. Jimi gritaram. Não sei o que viam com o efeito da Névoa, mas não devia ser bom. Era um pandemônio de gente desesperada, um corre corre de seguranças gritando para manterem a calma, o Nico de um lado pro outro tentando mandar o povo pras saídas. E eu acertava o Sr. Jimi, pois é.

Ele levava golpes e não sofria dano nenhum, ao contrário de mim que queria dar logo o pé na bunda dele pra acabar de vez com isso. Anaklusmos apenas abria talhos na cera, mas ele continuava de pé tentando me acertar com a guitarra dourada que era na verdade parte da Clave. Determinado momento um turista asiático tropeçou em mim e acabou me desnorteando por alguns segundos. Nesse tempo, Sr. Jimi acertou o instrumento na minha cabeça, o que digo ter doído pra caralho.Dei uns xingos e o chutei na barriga, fazendo-o cair escada abaixo até o primeiro andar. Ele ficou caído, não se levantando depois.

Passei a mão na testa. Aquilo deixaria um galo. Maldito.

Eu não via mais Nico ajudando-os a encontrar a saída, então presumi que ele havia descido. No primeiro andar as pessoas se acotovelavam para irem embora, ao contrário do segundo que já quase esvaziara. Suspirei. Vida de semideus é difícil, mas vale a pena. Desci a escada e andei até o Sr. Jimi caído, para pegar a Clave.

Assim que me aproximei, ele abriu os olhos vermelhos e deu um pulo no meu pescoço (ÊH, XÔ, CAPETA). Ele me estrangulou (para alguém (algo?) com braços tão magrelos, era bastante forte). Contracorrente caiu a medida que meus esforços para me desvincular foram em vão, e o ar em meus pulmões foi se esvaziando. Minha visão também ficou turva, de forma que Sr. Jimi parecia estar desconfigurado, derretendo. Quando senti o sangue escorrendo pela minha camisa e estava prestes a desmaiar, o enforcamento para. Tombo no chão, com a respiração descompassada.

— Você está bem? — Nico se ajoelha do meu lado, com a testa franzida. Tá vendo não filho, tô ótimo. Nos trinques. Pronto pra correr uma maratona.

— O quê...? — murmuro, sem entender.

— Não fale. Coma — o filho de Hades me entrega um pedaço ambrosia, e mastigo devagar com certa dificuldade. Tenho vontade de dizer 'estou bem', mas não estou em condições de falar. Ele corta uma parte da própria camisa e amarra em volta do meu pescoço. Ranjo os dentes com a dor, mas não reclamo. Sei que se deixar aberto, será pior.

— O que diabo você fez? — murmuro ao terminar a ambrosia, já sentindo-me (um pouco) melhor.

— Mexi no sistema de ar condicionado. O único jeito de parar aquela coisa era colocando na temperatura 'ante-sala do inferno'.

Olhei a minha volta. Todas as estátuas nos pedestais estavam pela metade, e Sr. Jimi era um amontoado de cera chutada e molenga no chão. Pelo visto não era alucinação, ele realmente estava derretendo enquanto me esgoelava.

— Vamos pegar a Clave e dar o fora daqui — me levantei, pegando Contracorrente do chão, e já me sentindo um pouco melhor. Só agora sem a adrenalina no sangue que eu sentia o calor que estava no ambiente. Passeia mão na testa, tirando o suor.

Ai, caramba, realmente tinha feito um galo.

— Vocês não acham que só porque acabaram com ele, vão conseguir passar por cima de mim, acham? — Euterpe surgiu a alguns metros de nós, segurando em uma das mãos a guitarra-Clave. Mas num é possível, depois de lidar com a celebridade defunta ainda tem que aguentar essa mulher com voz de taquara rachada?

— Ah, por favor. Já demos um jeito no Sr. Jimi. Nos dê a Clave, para que não tenhamos que dar um chute na sua bunda — levantei Anaklusmos. Ela riu.

— Coitadinhos, tão inocentes — ela levantou a guitarra — Isso foi apenas o começo. Não deixaremos a Clave estar completa de novo. Ao menos, não até que aquela vadia esteja morta!

Aconteceu rápido demais. Avancei pra frente e arranquei a guitarra de suas mãos, e Nico empurrou Euterpe contra a parede. Levantou-a pela gola do vestido e colocou a lâmina contra seu pescoço.

— Chame ela de vadia mais uma vez e eu corto sua cabeça fora.

Ela não fraquejou. Embora tivesse por um fio de perder a cabeça (literalmente), sorriu debochadamente.

— Vadia.

Ele não cortou a cabeça dela, é um fato, mas afundou a lâmina um pouco mais. Icor, o sangue dourado dos imortais, começou a pingar no vestido branco. Ela engasgou e começou a tossir.

— Foi você que raptou a Hannah do Olimpo? — perguntei, desconfiado. Só que ela não parava de tossir — Nico, calma ai cara. Daqui a pouco você desmembra a mulher.

Ele lançou um olhar raivoso a Euterpe. Continuou a segurando contra a parede, enquanto embainhava a espada.

— Não, seus semideuses inúteis. Não fui eu quem sequestrou a deusa perdida. Acham que eu era a única que odiava aquela garota? — ela riu, levando a uma nova crise de tosse — Claro que não. Apoiei a ideia, mas não fui eu que a tive.

— Quem foi o líder? — perguntou Nico.

— Não importa.

Quem? — repetiu, subindo o tom da voz.

Nico. Calma — repreendi — Se deixá-la desmaiada, vai acabar com nossa única chance de ter respostas.

— Obrigada diz a Musa com a voz entrecortada É muita gentileza sua.

— Isso não quer dizer que pegarei leve com você, Estepe. Quem tramou tudo isso? E quem mais está envolvido?

— Não sou uma delatora. Que cortem meu pescoço, mas não digo quem é — ela estava pálida, com os lábios brilhando de dourado — A única coisa que digo, é que para quebrar um símbolo divino como a Clave, é necessário muito poder. Uma simples Musa ou um deus menor não seria capaz de fazer isso.

— Muito poder... — murmurou Nico — Algum dos doze?

— Os deuses podem ser ingratos, di Angelo. Os mais próximos viram as costas pra você — ela começou a brilhar, e desta vez não era pelo icor. Nico a soltou antes que tomasse a forma divina, e quando abrimos os olhos novamente, estávamos sozinhos no museu vazio. Eu nem sabia que musas possuíam formas divinas.

— Que bosta, hein, cara — disse di Angelo, suspirando, e andamos até a saída. Sem mais turistas, o único vestígio do que ocorrera eram estátuas derretidas pela metade e uma coroa de flores caída no chão.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? *-* tentei colocar emoção nesse, não sei se consegui (ação não é muito meu forte ASFJHSAJHG)
Mereço reviews? :3
Ah, e um aviso: ~TEM SPOILERS DE CASA DE HADES




~Se você não pulou esse spoiler, certamente já sabe. Mas pularei mais linhas por precaução omg



É canon: Nico, para felicidade de uns e infelicidade de outros, é gay. Ou bi. Ou hétero curioso, sei lá ASJGASJFKFHJASHF é meio que óbvio, mas gostaria de avisar que isso não vai mudar (ao menos não muito) a DP. É, só isso. HUHEUEH
Gemt esse canon foi completamente inesperado pra mim, fui a única? Mas não necessariamente não gostei. Nem gostei. Estou, sei lá, ainda tipo 'gsuis inimaginável'.
Bom, é isso. Hasta la vista õ/



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