A Deusa Perdida escrita por mari mara


Capítulo 23
Escolhas, bengalas e lenhadores lenhando


Notas iniciais do capítulo

Primeiro: Me desculpem pelo título sem graça laç~kajsgjhajbhvdg e pela demora também D:
MAS o lado bom, acho que esse é um dos maiores capítulos kkkkkkkk
Agradeçam à minha beta Letícia, porque todas as ideias realmente boas desse capítulo são dela *u* LETS, WE LUV YAH ~le serpentina
E muito obrigada a todas as minhas leitoras lindas que não desistem de mim, e hoje em especial à giustiisa *-* suas abençoadas de Afrodite aksjfhaskjhas
Tá, vou parar com meu blá blá blá antes que alguém ai taque um tijolo na minha cabeça. Boa leitura!



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23. Escolhas, bengalas e lenhadores lenhando

Parte I: Point of View — Percy Jackson

A partir de agora, eu juro que sempre irei escutar o que a Rachel diz. Sempre. Não me importa: se ela me mandar pular num buraco, eu pularei. O Oráculo que manda. A não ser que esse buraco seja o Tártaro, porque né, coisas assim estão abertas a negociações.

Mas depois daquela de Crockett, a Rachel virou minha conselheira oficial.

— Não falei? — disse Annie, quando abrimos a porta — Esse é o lugar certo. Só devemos procurar, fácil!

Ah, claro. O recinto era enorme, do tamanho de uma quadra de futsal. E havia trocentas coisas espalhadas. Facílimo!

— Continuo com um mau pressentimento — disse a ruiva — Então, vamos logo achar a Clave da Felicidade antes que um monstro coma minha cabeça.

— Deixe de drama, Dare — revirei os olhos, enquanto destampava Contracorrente.

O brilho dela iluminou o recinto, bem mais que a lâmpada furreca (algo me dizia que alguém não visitava as 'Carquinez Middle School, Crockett, CA — Recordações de 1980 a 1997' a muito tempo). Havia caixas amontoadas, com papéis e medalhas amontoados. Parecia que o Katrina tinha passado por ali. Por isso resolvemos nos separar para olhar, e depois de trinta faixas, setenta caixas e cerca de milhares de medalhas, eu não tinha achado nem o rastro.

— FUCK YES, TEAM ORÁCULO VENCE OUTRA VEZ! — gritou Rachel, com uma dancinha da felicidade, já que ela foi a primeira a ver a prateleira dos troféus. Deuses, depois a Annie fala que eu sou o dramático.

— Menos Dare, menos — suspirou minha namorada, com a mão na testa.

— Ah, Sabidinha, não reclame. Pelo menos eu não falei 'team ginger power vence outra vez'.

— Ei — fiquei indignado — Sabidinha é o apelido que eu dei pra ela!

Rachel revirou os olhos.

— Desde quando sua namorada é marca registrada, querido?

Desde quando a Rachel fala que nem a Denise, da Turma da Mônica? Perguntas sem resposta.

— Já chega! Rachel, deixe o Percy em paz. Percy, ignore a Rachel.

— Você quem manda, Annie — ri, e iluminei o canto dos troféus com Contracorrente.

Troféu de jogo de feira de ciências, troféu de xadrez, troféu de judô, troféu de balé, jazz, capoeira, natação, basquete, futebol, vôlei, futebol americano, tênis, arremesso de dicionário, escrita, cuspe a distância e até contorcionismo.

MENOS A PORCARIA DO NEGÓCIO.

— Achei!!

Eu e Annie olhamos esperançosos pra Rachel, que levantava um dos troféus.

— Achou a Clave? — os olhinhos da filha de Atena brilhavam — Ah, graças aos deuses Dare...

Rach franziu a testa.

— A Clave? O quê? Claro que não, eu achei foi um de concurso de desenho! — ela levantou um negócio como se fosse um milhão de dólares — Olha que lindo!

Dei um tapa nele e joguei o troço longe.

— Percy!

— Poderia por favor procurar o que realmente estamos procurando? — ignorei o olhar indignado dela.

— Mas eu já procurei! — gritou a ruiva, apontando raivosamente para a pilha — Não é minha culpa se não está ali!

— Então procure direito! — gritei, impaciente.

Annie se colocou no meio de nós dois.

— Woopa, acalmem seus corações ai. Só temos que procurar melhor.

— Mas eu já olhei! — gritou Rachel, enquanto gesticulava feito uma doida — O Percy já olhou. Você já olhou. Eu disse, aqui não--

Ela parou de repente, olhou para algo atrás de mim e gritou, horrorizada. Não havia cheiro de monstros, mas eu e Sabidinha nos viramos instintivamente, como numa batalha.

Atrás de nós havia um homem alto, que sei lá como Hades aparecera lá. Era magro, tinha os olhos escuros e fundos e usava um sobretudo preto. Pareceria um cara normal se não fossem pelos dois rostos. Me lembrei dele instintivamente: Jano, o deus das escolhas e das portas, aquele que nós encontramos no Labirinto. Não era meu ser divino preferido.

— Sim, sou eu mesmo, semideus — disse o rosto da esquerda. Era como se ele (eles?) tivesse lido minha mente. Já falei que é muito irritante quando os deuses fazem isso?

— Parece que nós nos encontramos de novo — completou o da direita.

Annie empunhou a faca, com um olhar mortal.

— O que faz aqui, Jano? — perguntou, num tom ameaçador. Um rosto pareceu surpreso, o outro irritado.

— Mas que pergunta, filha de Atena! Achei que-- — o da direita foi interrompido pelo outro. Eu já estava ficando confuso com isso.

— O porquê de eu estar aqui é óbvio — disse o da esquerda, com um tom de 'dãh' — Eu só apareço quando há uma importante escolha a ser feita.

Fiz uma careta. Essas escolhas divinas nunca dão certo. Você termina ou morto, ou com as calças em chamas (não pergunte).

— Deuses não podem interferir em missões — rosnou Annabeth — Então leve sua maldita escolha e sua cabeça enorme pra bem longe daqui.

— Primeiro — disse o rosto da direita — Não vou interferir. Só aconselhar.

— Segundo — disse o da esquerda — Isso não é uma missão, é? Vocês tiveram a permissão que Quíron para sair do Acampamento, por acaso?

Rachel deu um pulo lá atrás.

— Ô, moço. Com licença, mas você pode deixar sua escolha importante pra mais tarde? Porque nós estamos tentando achar um negócio que tenho certeza ser muito mais urgente, sabe como é.

Os dois rostos riram, de modo escárnio, e disseram juntos.

— Seria isso, o que procuravam? — uma das mãos levantou um troféu. Era possível ler 1st place: Billie Joe Armstrong and Michael Ryan Pritchard.

Annabeth e Rachel entoaram um 'oh', perplexas. Fiz um movimento rápido para pegá-lo, mas pelo visto ter quatro olhos fez o deus ser mais atento a ataques surpresa. Ele pulou como um gato, aterrissando em cima de uma caixa a quatro metros de distância de nós.

— Nos dê isso, agora! — Rachel esbravejou, mas eu e Annie a seguramos pelo fato dela não ter uma arma. Além disso, acho que Jano ficaria muitíssimo bravo se, não sei, alguém jogasse uma escova de cabelo azul na(s) cara(s) dele.

— Nada acordos até escutarem minha escolha — disse o rosto direito.

— Sua escolha? — perguntei, confuso — Achei que era nossa.

Ao mesmo tempo que Annabeth me dava um tapa, o rosto esquerdo bufou.

— Meus deuses! Como pode ser tão lerdo, filho de Poseidon? É a escolha que eu darei a vocês.

Ah. Eu sabia.

— Vocês têm a chance de renunciar a essa busca — disseram juntas as duas faces — Se assim fizerem, serão poupados. Se não, serão punidos.

Franzi a testa, processando as informações.

— Como assim?

— Ora, você achou que aquela garota estava sumida por acaso? Lógico que não. E assim deveria ter ficado. Entregue-a a mim, e não serão punidos.

Ah, claro. Só se eu quiser que o Nico chute minha bunda direto pro Mundo Inferior (não diga a ele que eu disse isso, mas é verdade).

Avancei no deus, e dessa vez ele estava muito mergulhado no seu mar de felicidade de cara do mal para perceber. Jano foi derrubado da caixa, ficando imobilizado no chão. Me ajoelhei em cima de seu peito e coloquei Contracorrente contra seu pescoço.

— Então, foi você que deu um sumiço nela? — apertei um pouco mais Anaklusmos. As duas faces engoliram em seco.

— Não direi nada, rapaz — disse o rosto da esquerda, fingindo estar confiante (devo dizer que ele fingia muito mal. Mas acho que é meio difícil atuar quando seu pescoço está quase sendo arrancado do corpo).

Annabeth apareceu atrás de mim, lançando um olhar felino e feroz contra o deus. Trabalhávamos como uma equipe da polícia: enquanto eu chantageava, ela fazia as perguntas.

— A não ser que queira ser decepado, querido Jano, responda a pergunta dele! Agora!

— Não direi nada! — exasperou o lado esquerdo. Já o direito...

— Não fui eu! — disse, arquejando — Só sigo regras!

— Seu burro — ele gritou com ele mesmo — Não abra o bucho!

Eu e Annabeth nos entreolhamos. Pelo visto, o rosto direito seria mais contribuinte. Ela tampou a boca do rosto esquerdo com a mão.

— Diga quem foi, direito. Agora.

— Mmmf! Mmf!

— Cale a boca, esquerdo! Responda, direito.

Se não fosse um momento tenso, eu teria rido.

— Não fui eu! Só sigo as ordens do meu senhor.

Ia perguntar quem era esse tal do benedito, mas Annie gritou. Olhei pra ela, preocupado, achando que ela havia sido atacada.

— Esse porco lambeu minha mão! Que nojo! — ela pulou longe, balançando a mão que nem uma batata quente.

Poker face.

Me distraí por um segundo, e foi quando Jano me jogou longe. Bati as costas na parede, e senti minha cabeça tontear. Enquanto isso, Annabeth estava jogando uma caixa do tamanho do mundo na cabeça de Jano.

Essa é a minha garota.

— Percy! — gritou Rachel, correndo até mim. Ela estava imóvel, até agora — Você está bem?

— Estou — tossi — Não se preocupe comigo, só pegue o troféu!

Ela olhou em sua volta, até ver o negócio brilhante do outro lado do recinto. Foi correndo até ele, mas no meio do caminho Jano a segurou pela blusa. Rachel foi jogada em cima de Annabeth, fazendo as duas caíram fracas e desprotegidas. A tontura de repente passou. A raiva daquele ser que machucou duas das mulheres mais importantes em minha vida foi mais forte. Corri até elas, e quando Jano se levantou as mãos para pegá-las, bati com o punho da espada em seu peito, fazendo-o cambalear para trás.

— Nem mais um passo — falei, com a voz firme. Os dois rostos do deus se contorceram, bravos.

— Não vão nos entregar a deusa?

— Não! — proferi, com raiva — Aceite isso.

Ele nos encurralou no canto. Desferi um golpe com a espada, mas somente consegui arranhá-lo, pois ele tremeluziu e apareceu a cinco centímetros do arco do ataque.

Poderes divinos dos infernos.

— Então, acho que eu deveria levar vocês ao meu lorde — ele começou a brilhar, dando início à sua forma divina.

Respirei fundo, minha mente défict trabalhando loucamente por um plano. Tudo que eu tinha que fazer era dar uma rasteira, e quando ele caísse, desferir um golpe de tal modo que ele diria quem era o tal chefe.

Cinco segundos antes de eu executar meu plano bem bolado e genial, Jano deu um grito e caiu de joelhos no chão.

?

— Deuses! Pare!!

— MORRE, HÔMI BRIÂNTE! MOOOOOOORRE DIACHO!!

Nosso coleguinha caipira havia aparecido magicamente, e estava batendo um troféu repetitivamente na cabeça do deus.

— Pare com isso, moleque irritante!

Assim como fez comigo, Jano bateu a mão em Orchard, que por ser mais leve voou até o outro lado, dando um grito agudo que certamente foi escutado até na rua. Jano passou a mão pela cabeça, e viu que seus dedos ficaram sujos com icor, o sangue dos deuses. Ele então levitou, como quem vai dar o pé de um lugar.

— Desprezível! — disse a cabeça esquerda.

— Ser machucado por um mero meio-sangue, que vergonha! — falou a direita.

— Pois é, parece que alguém foi derrotado por um filho de Deméter de nove anos — ri, deixando-o ainda mais irritado.

— Isso não vai ficar assim — disse um rosto, e o outro complementou — Vocês serão punidos por isso. Logo, logo, nós sumiremos outra vez com aquela garota irritante.

— Tente pegá-la — falei, de modo ameaçador — E eu cortarei um 'P' em cada um dos seus rostos.

É, eu tive um momento Zorro. Vai reclamar?

Jano praguejou, enquanto começava a brilhar.

— Se não fosse pelo caipira intrometido... — ele se virou para o Orchard, que estava despejado em um dos cantos. O deus esbravejou, com as duas vozes — Orchard o' Apple, filho da Abundância, eu o amaldiçôo pelos seus atos. E essa maldição será seu destino, para sempre.

Todos desviamos o olhar. Ele ficou em sua forma divina, e com essa alegre afirmação, sumiu.

~~

Parte II: Point of View — Hannah

— Deus, eu desisto — falei, quando passamos no mesmo lugar pela terceira vez.

Procuramos o Orchard por tudo quanto é canto. Quando nos certificamos que ele não estava no shopping, procuramos nas ruas lá perto. Crockett era uma cidade tranquila, mas fiquei com medo de... Sei lá. Algo ruim ter acontecido. Já vi coisas que acontecem nas ruas de Los Angeles, e acredite em mim, elas foram ruins o bastante para me deixar assustada.

Chutei algumas folhas no meio da rua, e me larguei num banco. Mais um motivo pra eu odiar a Califórnia.

— Isso não é possível! Onde ele foi parar?

— Não sei — Nico correu os olhos pela rua — Mas não deve estar longe. Pelo grito, parecia estar perto da gente.

— Isso que não entendo — balancei a cabeça, inconformada — É culpa minha, por ter deixado ele sozinho — cobri o rosto com as mãos. A porcaria do sentimento maternal (que surgiu contra minha vontade, claro) fez meus olhos umedecerem.

Maldição.

Penadinho suspirou, e se ajoelhou na minha frente.

— Ei. Han. Chorar não vai ajudar a achar o Orchard.

— Não estou chorando — respondi, com a voz abafada.

— Então, tire a mão da frente da cara.

Como eu não fiz nada, ele pegou meus pulsos com cuidado e os puxou para baixo. Depois, apoiou os cotovelos em meus joelhos e olhou pra mim.

— Se você estiver preocupada com o fato de o Orchard ter sido esfaqueado, destroçado, decapitado, desmembrado, fuzilado, ou até mesmo atropelado — eu arregalava ainda mais os olhos a cada palavra que ele, com toda a calma do mundo, dizia —, saiba que não aconteceu. Ele não está morto.

— Você escutou o grito que ele deu? — perguntei, um pouco ríspida demais.

— Sim, Hannah, eu escutei — Nico suspirou, cansado — Mas eu te juro pelo Rio Estige que ele não morreu.

— Como pode ter certeza? — perguntei, mais uma vez, estreitando os olhos.

— Eu tenho uma, hm... capacidade especial pra isso. Se alguém que eu conheça morre, consigo sentir.

Senti meu corpo se relaxar.

— Oh, certo... Quase tinha me esquecido que você é filho do deus dos Penadinhos.

— Já chamaram meu pai de muita coisa, mas deus dos Penadinhos é nova — ele se colocou de pé — Mas é sério, aposto que o Ochard está bem. É capaz que ele já até voltou pro Trem da Alegria.

É assim que nós dois apelidamos o trailer Restart agora. Mas também, multi colorido daquele jeito. Só Apolo mesmo.

— Você acha? — perguntei, enquanto me levantava e batia a poeira da roupa.

— Claro — ele deu de ombros, e apontou pro meu rosto — Agora, seque essas lágrimas, porque a maquiagem em volta dos seus olhos está começando a borrar seu rosto.

Praguejei. Maldita sensibilidade que surge dos cafundó.

— Eu não estava chorando — reclamei, mas mesmo assim esfreguei as mãos no rosto molhado. Maldito dia pra passar lápis. Além de inchada e horrenda, minha cara certamente vai ficar toda borrocada de preto.

Nico me encarou por alguns segundos.

— Posso te falar uma coisa, Hannah?

— Diga.

— Você não precisa ser forte o tempo todo.

Olhei para ele, curiosa.

— O que isso quer dizer?

— Não precisa fingir que não estava chorando. Eu vi, e não te condeno por isso. Acho... Sei lá, demonstrar seus sentimentos não te faz uma deusa, ou garota, fraca. Sei que isso soa meio boiolado, mas é verdade — ele falou rindo, então comecei a sorrir também.

— Obrigada pelo conselho — agradeci, passando os braços pelo seu pescoço. Nico pareceu meio relutante, como se não estivesse muito acostumado com esse tipo de contato físico, mas logo retribuiu o abraço.

Era engraçado, encostando em sua pele fria, minha temperatura parecia febril. Mas era uma sensação boa. Eu me sentia quase... Protegida, em seus braços. Todos aqueles anos convivendo com o bulustruco do Muke e eu nunca havia me sentido daquele jeito.

Meu queixo se encaixava perfeitamente entre seu pescoço e sua clavícula, e eu fiquei alguns minutos só assim, sentindo seu cheiro. Que eu não conseguia distinguir, mas podia crer que era de morte. Só que isso não tinha importância pra mim. De morte ou não, eu achava bom do mesmo jeito.

— Me desculpe por estar fungando no seu cangote, Penadinho — falei, contra sua pele pálida. Levantei a cabeça e vi que o Nico estava sorrindo.

— Não se preocupe — ele passou os dedos pelo meu cabelo — Não é tão desagradável quanto parece.

— Tem certeza?

— Absoluta.

Ficamos assim, abraçados no meio da rua, até algo bater com força em minha cabeça.

— Ai!

Um senhor meio caduco, de uns oitenta anos, brandia a bengala.

— Esses jovens de hoje! Não têm mais respeito por si mesmos!

Poker face.

— Meu senhor, mas o que foi isso? — perguntou Penadinho, perplexo — Você, você não pode sair batendo na cabeça de--

O velhote brandiu a bengala entre nos dois, com uma careta.

— Mas que absurdo! No meio da rua! — o senhor apoiou o instrumento de tortura no chão —Tem crianças passando por aqui! — ele nos fuzilou com o olhar, e saiu andando pela calçada, resmungando — A geração de hoje. Nunca entenderei! Tão novos e tão pervertidos!

Meu Deus, acho que a batida do velho fez mal aos meus neurônios.

— Hannah — Penadinho me perguntou, enquanto nós dois ainda encarávamos o velho, que estava a uns bons metros de distância — O que foi isso?

— Não faço a mínima idéia — balancei a cabeça — Só sei que nós deveríamos voltar pro Trem da Alegria.

— Ah — Nico desviou o olhar até mim — Ah, certo. Era pra lá que a gente ia antes de... — ele ficou vermelho antes de terminar a frase, me fazendo enrubescer também.

Meu Deus. Bem que dizem que a adolescência é complicada.



Não foi difícil achar o Trem da Alegria. Pra falar a verdade, nunca é (sim, precisamos pintá-lo de preto urgentemente). E também, não foi uma caminhada com muitos diálogos. Mas a bizarrice voltou para nossas vidas assim que subimos.

— Olás, gente bonita — falei, quando vi Annabeth e Percy ajoelhados do lado do sofá — Quais são as novas?

— Nada boas, devo dizer — Annie se virou, mas parecia apreensiva. Cheguei mais perto e vi que Orchard estava deitado no sofá, desacordado. Ele parecia péssimo, sua pele estava pálida como a de um doente e o cabelo ruivo empapado de suor.

— Deuses — Nico se aproximou —, o que houve com ele?

Percy e Annie se entreolharam, receosos. Por fim, Cabeça de Alga se pronunciou.

— Jano apareceu. Uma longa história, mas ele amaldiçoou o Orchard, no fim. Temos medo do que isso pode significar.

Esse nome me era familiar.... Jano. Fucei os confins de minha memória, mas não me lembrei quem era ele.

— É o deus das portas e das escolhas — explicou Annabeth, depois ela pareceu um pouco distraída — Eu estive pensando sobre essa maldição. Tenho várias hipóteses em mente, mas não conseguirei saber qual é a certa até ele acordar.

Coloquei a mão na testa dele e mordi o lábio. Sua temperatura parecia perigosamente febril. Rachel chegou com um termômetro (sabe-se onde diabo ela achou, parece que nesse lugar tem tudo quanto é buginganga que você procurar) e confirmou minhas suspeitas: 41,7.

— Bem, isso é mais que quente — ela disse, observando o termômetro — Mas daqui a pouco está acordando... não está?

Ela se virou para Nico, esperando uma confirmação.

— Ah, não se preocupe, ele não está morrendo — ele nos tranquilizou — Mas tipo, se Jano é o deus das escolhas, ele só aparece quando há escolhas. Certo? Ao menos, foi o que Quíron falou.

— É... Mais ou menos. Mas isso não importa — disse Percy, com uma careta — Vamos deixar ele no quarto. Acho que daqui uns dias acorda, que nem o Nico quando.... bem, quando ficou bêbado — Percy olhou com um sorriso divertido pro Penadinho — Você dormiu tanto que eu achei que tinha morrido, é.

— Não me lembre disso, Cabeça de Alga — o dito cujo grunhiu, com os braços cruzados sobre o peito — Ainda quero quebrar a cara do Solzinho.

Mordi a língua para segurar o riso. Esses dois são uma piada, aiai.

— Nem pense nisso, Nico. Lembre-se da convivência — Annabeth também se colocou de pé, e levantou o ruivo semi-morto do sofá azul marinho.

Ela fez um aceno com a cabeça para mim, e logo fui a ajudá-la a carregá-lo pelo corredor, claro que com todo o cuidado do mundo.

— Hannah! — ela chamou minha atenção quando eu sem querer bati a cabeça dele num quadro da parede — Cuidado!

Fitei a pintura. Havia um adolescente fazendo pose de superioridade. Ele usava uma túnica meio apertada demais e estava em pé num pedestal, com várias garotas em baixo tentando o alcançar.

Aiai, Apolo.

Mas vale dizer que ele estava muito gato no quadro u_u não são todos os garotos que ficam bem de toga, e sinceramente o deus Sol com ela não deixava nada pra imag..

— Muke!

Pisquei, desviando os olhos do quadro. Annabeth havia soltado o Orchard, de forma que ele estava 'em pé' e apenas eu estava o segurando pelos braços. A filha de Atena estava na porta do quarto, olhando abismada para algo lá dentro. Deixei o garoto sentado no corredor (deixar alguém que está desmaiado sentado é muito difícil, diga-se de passagem), respirei fundo e contei até três, indo para descobrir o que diabo acontecera agora.

Arregalei os olhos.

— Mas... Mas... Como assim!?

Eu já vi o Muke fazer muita coisa bizarra. Juro. Eu vi quando ele bateu uma panela na cara da professora de geometria. Vi quando ele quase fez strip no meio da avenida mais movimentada de Los Angeles. Também vi quando ele explodiu as máquinas de pipoca de uma estréia hollywoodana, fazendo o cinema cheio de celebridades ser evacuado. E não vamos nos esquecer de quando ele deixou o Nico, de todas as pessoas desse mundo, bêbado. Mas dessa vez o infeliz se superou.

Ele conseguiu serrar uma cama ao meio.

???¿/¿¿??/?¿¿

Isso mesmo que você acabou de ler ai em cima, mas não quer acreditar. No meio, certinho.

— Por quê?! — Annie berrou, sacudindo o Muke pelos ombros.

— Uau! — Rachel surgiu atrás de mim, certamente porque farejou o barraco — Fez tudo sozinho? Você é forte, hein?

Bati a mão na testa. Só a ruiva mesmo.

Andei até os pés da cama, me ajoelhando para observar a linda obra de arte que ele fez. E eu conhecia aquelas marcas.

— Posso saber onde diabos o senhor achou um serrote, Muke? — perguntei, acusatoriamente.

— É que... anh... você sabe... — ele coçou a cabeça, e olhou pela janela — TINHA UM LENHADOR, SABE? Aí ele tava lenhando...

Escutei o Nico bater as típicas palmas irônicas, lá da sala.

— LENHANDO?? ISSÂE!! — Ô garoto do ouvido bom.

— CALA A BOCA PLAYBOY! — Muke se virou para nós três — Ou vocês não querem que eu explique?

Eu e Annabeth reviramos os olhos, enquanto Rachel ficava alheia ao mundo, como sempre acontece quando ela baba no Muke.

— Aff, diz logo Solzinho — Annie falou.

Ele levantou o queixo, dramaticamente.

— O cara estava lenhando e sendo um lenhador feliz, na dele, e então eu fui falar com ele, e como um bom vizinho pedi uma xícara de açúcar. Mas acho que ele se sentiu humilhado pela minha extraordinária beleza e disse que ia ali buscar. E eu fiquei perto das árvores esperando...

Franzi a testa.

— Mas o que o açúcar tem a ver com--

— E EU FIQUEI PERTO DAS ÁRVORES ESPERANDO. Aí eu vi um belo pássaro e comecei a ir atrás dele, porque queria ver se o lindíssimo animal tinha um canto bonito também... Mas ele sumiu. Ai eu me lembrei do açúcar e voltei correndo. Aí encontrei o lenhador saindo do trailer e falei 'você deixou o açúcar lá dentro?', e ele disse que tinha deixado, e então eu entrei e encontrei a cama assim e logo depois vocês chegaram. E por isso que eu estou cansado.

Pisquei, tentando entender o que diabo açúcar e pássaro e lenhador estava fazendo na desculpa esfarrapada do Muke.

— Não posso com isso — Annabeth saiu, balançando a cabeça. Acho que o discurso do lindíssimo animal foi um tipo de ofensa à inteligência dela. OLHA, ATÉ EU QUE NÃO SOU LÁ MUITO ABENÇOADA DE ATENA FIQUEI OFENDIDA, ENTÃO SIM.

Coloquei o indicador e o polegar naquele ossinho entre os olhos que eu não sei o nome mas tenho certeza que você entendeu.

— Por correr atrás do pássaro. Você estava cansado por correr atrás da PORCARIA DO PÁSSARO.

Muke sorriu maliciosamente.

— Desculpa, mas posso correr atrás de outra coisa sem ser você, não fica com inveja não — falou, dando uma piscada.

Deuses, óh deuses, digam-me o que fiz para merecer esse panguá.

— Cai fora, quadrúpede — lancei o meu melhor olhar de caia-fora-antes-que-eu-arranque-seu-dente-fora, enquanto Rachel me fuzilava internamente.

Vi um vulto ruivo na porta, então deixei os dois amantes desafortunados e fui conferir se o Orchard já tinha acordado. E realmente, ele estava sentado em baixo do quadro hot de Apolo, parecendo deslocado e observando as paredes.

— Olá, Chico Bento. Foi mal por ter batido sua cabeça na parede — falei com um aceno. Ele continuava alheio ao mundo, e quando escutou minha voz, me encarou assustado.

Ei, sou feia mas nem tanto, tá?

— Que foi? O gato comeu sua língua, Caubói?

Agora ele arfou, me fitando com os olhos verdes confusos.

— Orchard, pelo amor de Deus, você pode parar de me encarar com essa cara que o boi lambeu?

— ¡No compreendo! ¿Qué ha pasado? ¿Dónde estoy? No recuerdo nada, y ¡no tengo idea de cómo llegué aquí!

Pisquei de novo.

E pisquei só mais uma vez pra garantir.

— Orchard? Você.... — balancei a cabeça — Pera aí, que diabo de língua você está falando? É espanhol?

Eu escutava um bocado de latinos conversando nas ruas de Los Angeles, e eles soavam exatamente como ele agora.

— Yo no soy Orchard. Mi nombre es Orchito Juanez Dolortito de la Rosa Ramirez — ele se levantou apressado, e foi correndo em direção à cozinha, gritando — ¡Tengo que encontrar mi camino de regreso al México! ¡México!, ¿donde está usted?

Santo Poseidon, quem bateu a cabeça desse garoto na parede? Ah, fui eu mesma. Opa (insira sorriso amarelo aqui).

— Ai meu Deus — murmurei — A maldição.

Tudo fez sentido. Jano é o deus das escolhas.... Mas ele também é o deus duas caras, pelo que eu me lembrava. Ele tinha duas personalidades. O que queria dizer, que ao amaldiçoar o Chico Bento.... Não. Não era possível.

Mas era a verdade. Agora, Orchard tinha duas personalidades. O caipira e o mexicano. Porque Jano é um filho de uma pura deusa passadora de rodo da night.

Dios mío, dame paciencia.


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Notas finais do capítulo

TAN TAN TAN TAAAAAAAAAN ~tentativa fail de musiquinha de suspense
Ah, e o próximo será um capítulo especial de Natal porque eu acordei super natalina esses dias u_u
Ou seja, vou escrever que nem uma condenada pra acabar ele até segunda feira omg desejem-me sorte porque eu vou precisar G-G
E não se esqueçam dos reviews :3 que eles realmente me fazem feliz askjfaksjgkj
E ESSE NYAH QUE COME MINHAS RECOMENDAÇÕES. A MARI NO LE GUSTA.