Primavera escrita por Jules


Capítulo 63
Desfecho




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Ao olhar para os Volturi, especialmente Aro, senti certa dó e tristeza. Em algum lugar dentro de mim – eu sempre tive esse tipo de problema, porque, óbvio, isso é um problema – eu gostava deles. Gostava mesmo, principalmente de Aro – aquela figura branca e assustadora, mas que, para mim, era acima de tudo, hilária.

Eu quase comecei a rir sozinha, porém meus devaneios foram interrompidos pela mão fria de Edward em meu braço.

– Alice precisa lhe mostrar algo – Ele disse preocupado. Aquilo me surpreendeu, a expressão de Alice era de partir o coração. Seus olhos estavam maiores e brilhavam mais que o normal, seus ombrinhos estavam curvados. Eu entrei na sua mente e...

Por Deus.

Nunca na minha vida tinha visto algo tão terrível quanto aquilo.

Meu coração se dividiu em bilhões de estilhaços, eles voavam por cada parte do meu cérebro que sempre temeu que algo como aquilo acontecesse. A neve tocava o chão, Renesmee era apenas um bebê. Os Volturi estavam tão decididos quanto agora.

Morte.

Era isso o que eles queriam e foi isso o que conseguiram.

Seth, Leah, Jasper, Carlisle, nossos amigos... Todos mortos.

– Não – eu disse entre dentes. – Só por cima do meu cadáver. Alice – sussurrei num volume tão baixo que só ela pode ouvir –, pergunte a Aro se ele trouxe testemunhas.

– O que você vai fazer? – Ela perguntou entre dentes.

– Apenas pergunte.

Ela respirou fundo e virou-se para Aro. Nós estávamos a uns dez metros de distância dos Volturi e de seus soldados. Era um dia realmente bonito. Na frente da casa de meus pais, no gramado, numa clareira envolta por árvores altas, por volta das cinco da tarde. Ali estávamos nós, o dia havia finalmente chegado. Não havia muito sol. Só havia silêncio. Um silêncio mortal.

– Trouxe testemunhas, Aro? – Alice perguntou com sua voz de sinos em um tom friamente cortês.

– Testemunhas? Para o quê, querida Alice? – Ele disse daquele seu jeito típico – Testemunhas de sua traição? – Ele gesticulou para todos nós e depois sorriu – Talvez... Seria inocência minha perguntar se ainda quer juntar-se a nós? Seus talentos são realmente valiosos. Ou vocês realmente acham que... Sobreviverão?

Silêncio. Ninguém sabia o que responder.

Até quando eu resolvi abrir a minha boca e tornar-me a pessoa mais debochada que já existiu.

– Então, já que vou morrer mesmo... – eu disse esfregando as mãos e andando em direção a Alec – Tenho certas pendências comigo mesma. – Senti uma movimentação ao lado de Aro e me adiantei, divertindo-me – ouvi até alguém rindo – Não me matem, juro que não vou atacar! O problema é... Eu já me relacionei com humanos e lobisomens, mas nunca com um vampiro. Não posso morrer sem saber como é.

Todos me olhavam confusos.

Olhei bem para Jane. Dentro de seus olhos. Alec encontrava-se imóvel a minha frente. Nossos cílios quase se encostavam quando segurei os dois lados de seu rosto e lhe dei um demorado selinho. Quando terminei, ele me encarava com olhos arregalados e eu sorri. Eu girei enquanto ia para o lado, tendo um rápido vislumbre de meus amigos que não estavam entendendo absolutamente nada do que eu estava fazendo. Eu corri para trás da armada Volturi, no meio das árvores, ninguém podia me ver ali.

“O que ela está fazendo?”

“Ela nos traiu?”

“O que houve aqui?”

“Sempre a achei meio louca.”

“Totalmente irracional.”

– Eu vou matar essa mulher – Taylor disse e eu me segurei para não rir.

Com o poder de Lizzy e Benjamin já fundido em mim, flutuei em minha prancha de terra e sobrevoei a armada Volturi. Meus aliados disfarçaram e continuaram em silêncio, os Volturi não perceberam nada.

O poder era alucinante, poucas vezes na vida vivi situações que me proporcionaram aquela sensação. Então, enquanto sobrevoava os Volturi e expelia a fumaça negra e mortal de Alec pelas mãos, me senti a coisa mais poderosa do universo.

– Vão logo! – Eu gritei quando toda a armada Volturi estava paralisada – Não dura mais de um minuto!

Foi como um formigueiro inteiro atacando um inseto morto. A vista de onde eu estava era magnífica. Era uma situação horrível, mas não deixava de ser bela. Muitos Volturi morreram ali, naquele instante. Meu coração pareceu voar naquele minuto, um alivio intenso me atingiu.

Minha prancha foi se desmanchando e eu saltei, flexionando os joelhos quando cheguei ao chão do mesmo lugar de onde tinha decolado.

– Seth! – Gritei – Seth! Venha aqui!

Seth, o lobo cor de mel, chegou até mim em poucos segundos. Seus olhos brilhavam de excitação.

– Tire os outros lobos daqui. Por favor. Taylor, Jacob, meu pai e Henrique não vão sair daqui de jeito nenhum, mas... Paul, Embry, Yan... Leve-os daqui Seth. Eu lhe suplico.

Seth fez aquela típica cara de “Por favor, mãe, só me deixe brincar por mais cinco minutos”

– Não se esqueça de que agora você é pai – aconselhei – Alice teve uma visão Seth. Por favor.

Ele gemeu, mas concordou. O vi sair correr e chamar os outros lobos que partiram com ele.

Mais uma missão cumprida.

Exatos 56 segundos se passaram até os Volturi recuperarem seus movimentos. Nem tive tempo de ver nada, apenas Bella e Edward voando para cima de Aro – assim como na visão de Alice. Ouvi gemidos, gritos, e senti um baque terrível em minhas costas.

– Covarde até o fim. – Cuspi as palavras na cara dela e afundei as minhas mãos em seu rosto – Não me importa o quanto você pedir, sua maldita, eu não vou parar.

Jane se contorcia no chão. Era difícil para mim fazer algo tão terrível, mas ela merecia.

– Essa luta não é minha – continuei – Alice! Preciso de você!

Quando Alice viu Jane no chão, entendeu rapidamente minhas intenções. Alice pegou Jane pelo pescoço e, naquele momento, um longo período de terror havia finalmente chegado ao fim.

Alívio.

Sensação de dever cumprido.

Glória.

Quantas vezes em minha vida eu havia falhado? Quantas vezes em minha vida eu não pude contar comigo mesma? Quantas vezes eu havia me feito chorar? A minha vida foi um teste, foi uma preparação. Uma preparação para a prova final...

A prova final.

Hoje.

Tinha Heidi em minhas mãos e a matei com um único golpe. Ela não teve uma única chance de se defender. Infelizmente, acabei com a vida de crianças, vampiros tão novos que serviam a guarda Volturi e que, com certeza, haviam sido enganados pela sutileza de Aro.

Quando vi, todos nós estávamos vivos. Edward procurava por seu dedo indicador que, sabe-se lá como, ele havia perdido. Ele e Bella tinham ataques de riso enquanto o procuravam entre as folhas. Hadwin e Megan se beijavam apaixonadamente – foi a primeira vez que vi aquilo –, não só eles como todos os casais: Henrique e Florence, meus pais, Allan e Carly, Renesmee e Jacob, Alice e Jasper, Carlisle e Esme, Rosalie e Emmett...

Abracei Taylor que tinha apenas ferimentos leves, assim como eu, e o beijei como se fosse a primeira vez.

– Eu te amo, Taylor. – Eu disse – Mais que a minha própria vida, mais que tudo no mundo.

– Eu também, minha boneca – ele encostou a testa na minha e olhou em meus olhos. – Mais que tudo no mundo.

Aaron saiu de casa com Carol Anne nos braços. Minha avó ajudava Billy a descer as escadas e Seth voltou junto dos outros lobos, todos em forma humana. Os vampiros – alguns ainda procuravam braços, dedos e orelhas que foram “perdidos” durante a luta – se sentaram no chão e foi isso o que eu fiz.

– Obrigada Aaron – Eu disse beijando sua bochecha – Obrigada.

Aaron corou.

– Não foi nada, Jules – ele disse indo para o lado de Jacob e Nessie.

Sentada no chão olhando a minha família, senti uma pontada de tristeza pois sabia que muitos deles não eram imortais. Senti uma pontada de tristeza por todos aqueles que tiveram de morrer hoje. Senti uma pontada de tristeza por, na maioria das vezes, as pessoas não deixarem seu orgulho de lado e ouvir – assim como os Volturi não nos ouviram. Senti uma pontada de tristeza, novamente, quando olhei para Billy, para minha avó e soube que eles não viveriam para sempre.

Talvez aqui, na terra, eles realmente não vivessem para sempre, porém eles sempre estariam vivos em nossos corações – não importando se esses corações eram quentes e moles ou duros e imóveis – para toda a eternidade.

– Juliet? – Ouvi uma linda voz, desconhecida, chamando por mim. Procurei ao meu redor pensando de que se tratava de algum de meus amigos, mas a única coisa que vi foram os olhos. Todos olhavam para mim.

Não exatamente para mim... Para ela.

– Mamãe? – Carol Anne disse e meus olhos se encheram de lágrimas no mesmo instante. – Ju... Ju... Jules?

Taylor nos abraçou com toda sua força e eu comecei a rir.

– Sim, meu amor – eu disse lutando com as lágrimas de alegria que faziam de tudo para transbordar – Sou sua mamãe.

Carol Anne sorriu e me abraçou batendo palminhas de alegria e depois rindo. O som invadiu o lugar e deu uma atmosfera muito mais leve a aquele crepúsculo.

E eu só tinha certeza de uma coisa:

Um dia eu irei olhar para trás.

Um dia irei me lembrar de hoje e me perguntar por que tive tanto medo de agir.

Irei me perguntar por que deixei tantos pequenos contratempos me atingirem.

Um dia irei olhar para trás e me perguntar por que não fui um pouco mais disciplinada e focada.

Uma vida de real valor e significado é algo que se constrói com o tempo, não um prêmio que se ganha por sorte ou habilidade.
O futuro é imprevisível, mas uma coisa é certa: eu jamais me arrependeria de dar o melhor de mim a cada momento.

Se pudesse olhar para trás daqui a dez anos, sabe o que eu mudaria hoje?

Nada.

Absolutamente nada.

Pois ali estava eu, diante da vida com a qual eu sempre sonhei, diante da vida pela qual eu sempre lutei.

Com meu marido, minha filha, meus amigos, família...

Comigo mesma.

Naquele pequeno pedaço de nossa vida eterna e perfeita.



Fim.



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