A guarda real inteira sabia que o príncipe e a princesa haviam fugido ao anoitecer. Mas ninguém tinha coragem de ir até o rei para informá-lo. Howard estava muito furioso naquela noite, então seus servos resolveram esperar ele acordar na manhã seguinte, para contar-lhe o que havia acontecido.

- O QUÊ FOI QUE VOCÊ DISSE?! - o rei gritou, exaltado.
- O príncipe e a princesa fugiram do castelo, majestade... - o informante amedrontado murmurou.
- CHAME A GUARDA REAL! QUERO TODOS OS CAVALEIROS AQUI! AGORA!

O rei estava impaciente, caminhando de um lado a outro. Sua esposa, a rainha, tentou acalmá-lo, mas ele a ofendeu e pediu para que não se intrometesse. Ela assentiu e foi para seu quarto. Instantes depois, todos os cavaleiros do reino estavam enfileirados na horizontal, cinco fileiras exatamente, em frente ao rei.

- NÃO SEI COMO VOCÊS CONSEGUIRAM DEIXAR DOIS JOVENS ESCAPAREM TÃO FACILMENTE, MAS EU QUERO QUE OS ENCONTREM! - ele gritou, enquanto andava ao redor deles - VASCULHEM TODO O VILAREJO, A FLORESTA, O QUE FOR PRECISO! MAS TRAGAM-OS DE VOLTA!
- SIM MAJESTADE. - eles gritaram em resposta.
- AGORA VÃO! RÁPIDO! - Howard gritou e eles se retiraram rapidamente - Cof, cof...

O rei começou a tossir e a sentir uma forte tontura. Ele ajoelhou-se no chão em busca de ar. As tosses intensificaram-se, e junto com elas vinha sangue. Seu irmão, Leonard, estava passando em direção à biblioteca e o viu. Assustado, correu até ele.

- Howard! Meu irmão, você está bem?
- Não... Minha saúde está muito vulnerável ultimamente... Cof, cof...
- Venha, vá para o seu quarto e descanse.
- Mas James e Angellina...
- Eu cuidarei disso e lhe manterei informado. Agora descanse e não se esforce. - disse Leonard, o ajudando a subir as escadarias.

O rei entrou no quarto e a rainha o olhou assustada.

- O que houve com ele?
- Eu estou bem mulher, não faça escândalo...
- Ele sentiu um pouco de tontura e está com uma tosse muito forte, está perdendo um pouco de sangue. - Leonard explicou.
- Vou chamar o curandeiro, ele vai saber o que fazer. - disse ela, saindo do quarto.
- Tente descansar um pouco, e não se preocupe, James e Angie são fortes. Puxaram ao pai. Vão sobreviver. - disse Leonard.
- Eu sei disso. Leonard, eu não vou viver por muito tempo...
- Não diga isso, você vai melhorar logo e...
- Leonard. - ele o interrompeu, fazendo-o prestar atenção - Eu estou sentindo isso. Não tenho mais aquela saúde e aquele corpo jovem de antes. Então eu preciso que você me faça um favor.
- Claro, o que quiser.
- Eu preciso vê-los uma última vez. Espalhe a notícia da minha doença e diga que se alguém no vilarejo tiver algum contato com eles, que os faça voltar pra casa. Não posso partir sem falar com eles uma última vez.
- Tudo bem. Eu farei isso meu irmão. - disse Leonard, decidido.

Ele saiu do quarto e deixou o rei descansando. Assim que encontrou um dos servos no castelo, já pediu para que espalhasse a notícia. Antes que o dia anoitecesse, todos em Lutari já sabiam da doença do rei e de seu último desejo, rever seus filhos.

(...)

POV Kendall

- Vamos até lá e depois que todos forem embora, nós libertamos elas. Provavelmente irão queimá-las amanhã de manhã. - expliquei.
- Mas e se eles resolverem queimá-las agora?
- Eles não farão isso. E se fizerem, vamos salvá-las antes disso.

Fomos caminhando cautelosamente, mas James parou em frente a uma cabana e ficou parado, como se tivesse visto algo.

- O que foi? - perguntei, aproximando-me dele.
- Escuta isso. - ele apontou para duas senhoras que conversavam a poucos metros de nós. Parei por instante e me concentrei no que elas falavam.

- Você ficou sabendo?
- O quê?
- O rei está muito doente. Parece que vai morrer logo.
- Verdade?
- É o que todos estão comentando. Um servo do castelo mandou que espalhassem a notícia.
- Com licença. - James foi até elas, mas sem mostrar seu rosto - Eu ouvi o que você disse agora pouco e... O rei está mesmo doente?
- Sim. Ele pediu que espalhassem a notícia porque o príncipe e a princesa estão desaparecidos, e ele quer muito vê-los uma última vez. Por isso se alguém do vilarejo tiver contato com eles, deve informá-los disso.
- Nossa... Que triste. Espero que eles voltem pra casa. - James comentou.
- Nós também. - ela sorriu gentilmente e voltou a conversar com a outra mulher.

James veio até mim, sem saber o que fazer.

- Será que é mesmo verdade? - perguntei.
- Meu pai nunca inventaria uma mentira assim. E ele não estava muito bem de saúde ultimamente.
- O que você vai fazer?
- Eu ainda não sei. Mas decido isso depois. Precisamos salvar logo a Marine e a Valerie.
- Tudo bem. Vamos.
- KENDALL! JAMES! - uma voz familiar gritou de longe.
- CARLOS?!

- Surpresa! - ele gritou, ao se aproximar de nós.
- O que você tá fazendo aqui? Era pra ir com o Logan e as garotas pra passagem! - falei.
- O Logan consegue se virar sozinho. Vim ajudar vocês. - ele deu um sorriso perverso. Detesto admitir, mas se quisermos criar alguma distração ou confusão para poder salvá-las, Carlos é o único que conseguiria fazer isso com perfeição.
- Tudo bem. Então vamos logo. Precisamos descobrir o que farão com elas.

Caminhamos devagar e nos misturamos em meio a multidão que observava o padre gritar algumas coisas, enquanto Marine e Valerie estavam amarradas em um tronco no meio do vilarejo.

- VOCÊS ESTÃO VENDO ISSO? ESSA GAROTA É UMA BRUXA! NOSSO REI ADOECEU E ESTÁ MORRENDO POR CULPA DELA! - o padre gritava para o povo, que acreditava e concordava com aquela história.
- Queimem-a na fogueira! Matem essa bruxa! - algumas pessoas se manifestavam.
- POR CAUSA DISSO, IREMOS QUEIMÁ-LA AGORA MESMO NA FOGUEIRA, E JUNTO COM ELA, ESSA OUTRA GAROTA QUE ESTAVA AJUDANDO ELA A SE ESCONDER! - gritou o padre, fazendo sinal para que trouxessem lenha para colocar ao redor delas e acendessem o fogo.

Carlos havia deixado três cavalos estrategicamente localizados para a nossa fuga. Fiz um sinal para eles e logo entramos em ação. Carlos começou a gritar e a pedir por socorro. Disse que havia alguém sendo possuído pelo demônio em uma casa há poucos metros dali. Todos o olharam assustados, e em seguida para o padre, que estava um pouco confuso. Ele concordou em ir até lá e pediu que dois homens vigiassem as garotas. Algumas pessoas o seguiram e murmuravam que devia ser obra da garota com cabelo vermelho. Como poderiam achar aquela garota tão doce e frágil, uma bruxa?

Assim que a multidão se afastou, nós nos aproximamos e batemos nos homens que estavam vigiando-as. Em seguida, cortamos as cordas e libertamos as duas. Valerie me abraçou com força e depois me olhou com lágrimas nos olhos e sorriu.

- Obrigada por me salvar. De novo.
- Vou salvar quantas vezes forem necessárias. Agora vamos embora antes que todos voltem!

Eu segurei em sua mão e a levei até meu cavalo, James levou Marine e nós saímos apressadamente dali.

- A BRUXA ESTÁ FUGINDO! PEGUEM-A! - alguém gritou do meio da multidão.

Olhei para trás e Carlos vinha com seu cavalo apressadamente, e atrás dele a multidão corria. Alguns pegaram seus cavalos e nos perseguiram também. Entramos na floresta e logo não ouvimos mais o barulho e os gritos das pessoas. Ninguém no vilarejo entrava lá, tinham medo por causa das lendas ou porque o Clero dizia que era um lugar perigoso, cheio de demônios ou criaturas monstruosas. Paramos em frente ao local da passagem, e Logan nos aguardava com as garotas. Kiara e Angie correram e nos abraçaram.

- Graças a Deus estão salvas! - disse Kiara, abraçando Marine e Valerie ao mesmo tempo.
- Acho melhor entrarmos logo. Não podemos nos arriscar ficando aqui fora. - disse James, olhando para os lados e verificando se não fomos seguidos.
- Tem razão. Vamos logo. - falei.
- Pra onde? - as garotas perguntaram em coro, olhando ao redor e procurando uma entrada ou algo assim.
- Para o nosso lugar secreto... Vocês vão adorar! - Carlos comentou, empolgado.
- Que medo... - Kiara comentou.
- Venham. - disse Logan, revelando a entrada na grande rocha.
- Wow... Então era pra cá que vocês vinham é? - Marine perguntou, enquanto entrava na gruta.
- Você ainda não viu nada, maninha... - brinquei.

Nós atravessamos a gruta e elas ficaram boquiabertas ao ver a cachoeira e todo o lugar ao redor dela. Descemos pela trilha ao lado da gruta, depois nos sentamos na beira da lagoa e descansamos.

- James... Tá tudo bem? - Marine perguntou, observando seu olhar distante.
- Mais ou menos... - ele murmurou.
- O que você vai fazer? - perguntei.
- Acho que vou voltar para o castelo.
- Ficou louco? Como assim? Por quê? - Angellina perguntou, confusa.
- Angie... - James respirou fundo - Papai está muito doente, não sei se irá sobreviver por muito tempo.
- C-como você sabe?
- Todo o vilarejo está comentando. Ele pediu que espalhassem a notícia, para que assim chegasse até nós. Ele quer nos ver uma última vez.
- M-mas... E se for mentira? E se tivermos que voltar e ficarmos presos?
- Angie, nosso pai nunca inventaria uma mentira assim. Você o conhece.
- Tem razão. Então nós vamos voltar?
- Sim. Amanhã de manhã.
- Tudo bem. - Angie baixou a cabeça e colocou entre as pernas. Ela estava triste por ter que voltar. E James também.

(...)

- Mestre...
- O que é agora?
- A garota. Ela retornou à floresta. Mas está acompanhada com mais algumas pessoas.
- Sabe se ela contou alguma coisa?
- Parece que não. Pelo que podemos observar ela não sabe muito bem quem é. Deve ter perdido a memória desde aquele dia.
- Ótimo. Vamos observá-la por um tempo então. Quero que vigiem ela e essas pessoas que estão com elas.
- Ahn... Tem mais um detalhe...
- O quê?
- Dois garotos que estão com ela, os mesmos que nos atacaram... Eles possuem as espadas dos cavaleiros.
- Verdade? Muito interessante. Pensei que não existisse mais nenhuma... Vigie-os e me mantenha informado.
- Sim senhor. - o servo se retirou.
- A era dos cavaleiros voltará... E serei eu, quem irá dominá-los.