James

- Você pode nos ajudar? - Angie perguntou a ele, um pouco receosa.
- Claro que sim, alteza. - ele se curvou diante dela com respeito, mas eu achei um tanto quanto sarcástica a maneira que ele o fez.
- Então diga logo, para onde eles foram? - perguntei, impaciente.
- Oeste. Adentraram na floresta e foram em direção ao rio. - ele apontou na direção.
- Ótimo. Isso já é o suficiente. - falei, já me dirigindo par aonde ele havia dito.
- Se a Vossa Majestade me permite dizer, acho que seria imprudente ir atrás deles agora. - ouvi a voz dele soar alguns metros atrás de mim.
- O que você disse? - minha pergunta saiu em tom de irritação. Eu não queria discutir com aquele velho. Já tinha problemas demais para lidar agora e não iria perder a cabeça por causa daquele comentário.
- Perdoe-me. Não quis ofendê-lo, alteza. Apenas acredito que vocês não estejam preparados para enfrentá-los agora. - ele fez uma pausa - Eles não são lobos comuns jovem príncipe. Arrisco dizer que eram lobisomens, mas com um poder muito maior que costumam ter.
- E o que você sugere que façamos? - Angellina perguntou, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.
- Deveriam procurar um bom ferreiro para que forje armas para cada um de vocês. E deveriam treinar por alguns dias para se fortalecerem.
- Treinar por alguns dias?! Você está louco velho? Não temos tempo para perder com isso. Enquanto treinamos aquelas criaturas podem retornar e destruir o vilarejo completamente! - gritei, enfurecido.
- Acalme-se James. - Kendall segurou-me pelo ombro.
- Eles não irão retornar. Ainda. - o velho olhou para o céu - Ontem foi noite de lua cheia.

- Lobisomens só podem se transformar em noite de lua cheia... - Angellina concluiu ao mesmo tempo que eu.
- Como você...?
- Eu não tinha nada pra fazer o dia todo. Então quando você fugia para a vila, eu ficava lendo aquele seu livro sobre seres mágicos. Era muito melhor do que ficar tendo aulas de costura. - ela explicou resumidamente.
- Quanto tempo nós temos até a lua cheia? - Kiara perguntou.
- 30 dias. - Kendall respondeu.
- Isso é tempo suficiente para conseguirmos as armas e ainda treinarmos. - disse Logan, pensativo.
- Todos concordam com isso? - perguntei, e todos assentiram - Excelente. Então o que precisamos fazer agora é encontrar o ferreiro.
- Majestade... - chamou o velho. Eu até havia me esquecido da presença dele - Se aceitar a minha sugestão, os melhores ferreiros deste país encontram-se no reino de Ferrier, como o próprio nome já diz.
- Então é para lá que nós vamos. - falei, decidido - Obrigado pelas preciosas informações senhor. - agradeci ao velho e chamei os outros para que me seguissem.

Fomos até a entrada do vilarejo onde havíamos deixado nossos cavalos. Montamos neles e logo começamos nossa cavalgada em direção a estrada que nos levaria até Ferrier. Olhei rapidamente para todos e notei que Angellina não estava muito bem. Discretamente, aproximei-me dela.

- Angie...? - chamei - Você está bem?
- Não muito. - ela respirou fundo - É difícil acreditar que isso tudo esteja acontecendo de verdade e... - ela fez uma pausa - Agora nós teremos que ir para Ferrier, o reino cujo o príncipe seria meu noivo.
- Não se preocupe. - eu afaguei seu cabelos de leve - Você não precisa se casar com ele se não quiser. Mesmo que comecem uma guerra por isso, eu não irei forçá-la a se casar. Eu prometo.
- Obrigada Jay. - ela sorriu, mas manteve a expressão de preocupação.

Após cavalgarmos o dia todo, resolvemos parar em um bosque para descansar e passar a noite. Estava ficando escuro e precisávamos encontrar logo um lugar que servisse de abrigo.

- Achei algo aqui! - Valerie gritou.

Fomos até ela, onde havia uma pequena caverna rochosa. Entrei e verifiquei se não havia nenhum urso ou outro animal selvagem morando ali, por sorte, estava vazia. Era provável que se tivesse algum animal vivendo ali, este certamente saiu em busca de um abrigo diferente para não se tornar um alvo fácil.

Enquanto as garotas amarravam os cavalos nos troncos das árvores ali perto, nós fomos buscar pedras e lenha, para fazer uma fogueira. Kendall saiu pelo lugar, procurando alguma coisa para comermos. Depois de um tempo, conseguimos acender a fogueira, e em seguida, Kendall voltou carregando um javali enorme nas costas.

- Acho que isso aqui serve pro nosso jantar... - comentou ele, ironicamente, enquanto largava o animal morto no chão.

- Você resolveu conseguir comida pra viagem inteira? - Logan brincou.

- Achei algumas frutas também. - ele abriu sua sacola de pano e mostrou algumas maçãs, laranjas e amoras, que havia encontrado.

- Amoras! - Valerie correu na direção dele - Adoro amoras! - disse, pegando uma e comendo.

- Eu também. - Kendall sorriu e pegou uma igualmente - Vamos preparar logo o jantar.

Angellina

Os garotos terminaram de assar o javali e todos nós comemos. Conseguimos encontrar um riacho em um lado afastado dali, pegamos um pouco de água para bebermos e para levarmos durante a viagem. Eu ainda estava preocupada com tudo o que estava acontecendo, na verdade, todos nós estávamos. Mas James era o que mais parecia estar angustiado e sem saber o que fazer, ele caminhava de um lado a outro, como se estivesse pensando em alguma maneira de reverter toda aquela situação e deixar todos a salvo. Isso seria impossível se não seguíssemos o conselho daquele velho. Ele tinha razão, nós éramos fracos. Precisávamos de armamentos e de treinamento para conseguirmos nos defender. Mas meu irmão não conseguia aceitar isso, ele era ansioso demais, e isso era o seu pior defeito.

- James, você já está fazendo um buraco no chão! Deite-se e descanse, amanhã será um longo dia. - Kendall sugeriu, vendo o estado do amigo.

- Eu não quero. - ele recusou - Pode deixar que eu fico de guarda agora. Mais tarde eu chamo um de vocês para ficar no meu lugar.

- Tem certeza?

- Tenho.

- Tudo bem, se precisar de qualquer coisa, grite. - Kendall riu - Boa noite.

- Boa noite James. - Todos disseram em coro, enquanto se reuniam para entrar na estreita caverna.

- Boa noite. - ele respondeu, sem ânimo.

Eu estava indo dormir também, mas algo me fez querer conversar com James.

- Aonde você vai? - Logan perguntou, vendo que eu me afastava.

- Falar com meu irmão. - dei um sorriso fraco - Ele precisa entender que não precisa carregar toda essa responsabilidade sozinho.

- Tudo bem. Boa noite, Angie. - Logan sorriu e me deu um beijo na bochecha.

- Boa noite. - respondi, tímida. Podia sentir minhas bochechas corando.

Caminhei até James, que agora, estava em pé próximo à alguns pinheiros. Ele olhava fixamente para o céu. Podia parecer besteira, mas eu sabia exatamente o que ele estava fazendo.

- Acho que papai não irá lhe dizer o que deve fazer. - falei, parando ao seu lado. Ele me encarou, surpreso.

- Às vezes eu acho que, onde quer que ele esteja agora, ele está nos olhando. - ele olhou para o chão, um pouco envergonhado - Papai saberia como agir.

- Nós também sabemos. - eu pus minha mão em seu ombro, fazendo-o me encarar - Vai dar tudo certo James. Acredite.

- Não basta apenas acreditar Angellina... - ele se afastou um pouco - Todos na vila perderam pessoas importantes... Bebês, crianças, famílias destruídas... - uma lágrima escorreu de seu rosto e ele rapidamente a limpou - E tudo por minha culpa. Se eu não tivesse sido tão irresponsável... Se eu tivesse dado mais atenção ao que estava acontecendo no vilarejo e ao redor dele... Eu poderia...

- JAMES! - gritei, fazendo-o se calar - Pare de se culpar. Você não tem culpa nenhuma! Ainda não sabemos quem é o culpado, mas vamos encontrá-lo e iremos nos vingar pelo que ele fez.

- Ah, é mesmo? E quando iremos fazer isso? Depois que ele terminar de destruir todo o reino Lutari? - havia ironia em sua voz - Você não percebe? Estamos perdendo tempo aqui. Devíamos ter ido logo atrás do rastro daqueles lobisomens e encontrar quem causou tudo isso!

- E de que iria adiantar? Acabaríamos todos mortos por não termos nenhuma preparação! - gritei - Você precisa pensar um pouco antes de agir! Precisa pensar em seus amigos! Todos nós estamos correndo risco de vida James.

- Eu não pedi para que viessem comigo. - ele virou-se de costas.

- Talvez todos tenham vindo porque se importam com você e com o vilarejo, caso não tenha percebido. - falei, irritada - Pare de tentar ser igual ao nosso pai. Você nunca será ele.

Virei-me e saí. Não queria continuar aquela discussão. James teria que amadurecer logo, ou então acabaríamos tendo muitos problemas. Como estava sem sono, resolvi dar uma volta até o riacho ali perto. Caminhei até lá e me sentei na beirada, molhando apenas meus pés. Olhei para o céu e fiquei encantada com a beleza das estrelas naquela escuridão. Por um instante, pareceu que meu colar de diamante havia brilhado. Eu o segurei e olhei para o céu.

- Talvez fosse mesmo melhor se o senhor estivesse aqui, papai... - falei, olhando para o céu.

De repente, ouvi um barulho vindo do outro lado do riacho. Algo se aproximava lentamente. Eu podia escutar cada passo tocando no chão.

- Quem está aí? - perguntei, mas não houve resposta.

Os passos continuaram a se aproximar. Senti meu coração pulsar mais forte por conta do medo que aumentava. Não conseguia ver quem ou o que era, pois estava muito escuro e haviam muitas plantas e folhagens bloqueando minha visão. Me levantei apressada e peguei um pequeno tronco de árvore jogado no chão.

- Responda logo! Eu não tenho medo e vou atacar! - gritei para a sombra atrás das árvores.

De repente, a criatura saiu de trás das árvores e veio até mim. Fiquei perplexa ao ver o que era sob a luz do luar.

- Aff, que susto. Pensei que fosse algum lobo ou urso... - murmurei pra mim mesma, enquanto soltava o tronco da árvore.

"Para uma princesa que se diz corajosa, você parecia estar bem amedrontada" - uma voz ecoou em minha cabeça.

Olhei rapidamente para o ser a minha frente, ele me encarava fixamente.

- Eu preciso ir dormir. Já estou ouvindo vozes em minha cabeça... - falei, fechando e abrindo os olhos com força.

"Você é tão burra assim ou só está fingindo?"

Novamente aquela voz em minha mente. Não poderia ser ele, ou será que...? Olhei novamente para a bela criatura parada em minha frente.

- Ai meu Deus! A voz de um cavalo está ecoando na minha cabeça! - eu falei, incrédula.

"Só pra constar, sou um unicórnio, não um cavalo"

- Então é verdade. M-M-Mas como? - falei, confusa.

Aquele ser belo e divino aproximou-se de mim e se curvou. A pedra em meu colar começou a brilhar ainda mais forte do que antes.

"Sou Dolphan. Seu animal guardião."

- A-animal guardião?

"Você vai ficar quieta e me deixar explicar?"

- P-Perdoe-me. - Eu estava mesmo pedindo desculpas para um cavalo?

"Unicórnio. Já disse que sou um unicórnio. Não me compare com aquelas criaturas selvagens e sem inteligência".

"Você também consegue ler a minha mente?" - pensei, testando.

"Sim. Você é uma escolhida Angellina. É uma cavaleira."

"Cavaleira? Mas eu nem sei lutar direito, como...?"

"Isso está no seu sangue. Seu pai foi um cavaleiro também." - ele aproximou-se e tocou na pedra em meu colar com seu chifre - "Isso é o que nos mantém unidos Angellina. Você é a única que consegue me ouvir, além dos outros animais guardiões."

"Outros? Existem mais de você?"

"Não iguais a mim. Seres mágicos de outras espécies, todos juntos por uma única razão. Destruir junto com nossos cavaleiros, as trevas que tentam dominar o mundo e espalhar o caos. Mantendo assim a paz em todos os reinos."

"Isso é muita informação. E eu nem sei se posso dar conta disso!"

"Eu estarei junto com você, sempre poderá contar comigo Angellina. E em breve, você e os outros cavaleiros lutarão juntos nessa batalha"

"Meu irmão também é um cavaleiro?"

"Porque não vem dar uma olhada você mesma?"

Ele se abaixou para que eu subisse em suas costas.

"Eu posso?"

"Claro" - eu subi - "Se segura firme."

Em segundos ele percorreu por quase toda a floresta. Dolphan era MUITO rápido. Eu nunca tinha visto nada assim. Mas aquela sensação era incrível.

James

Depois da discussão com Angie, eu fiquei realmente confuso. Por que ela não entendia que eu só estava querendo o melhor para todos? Eu me sentei na beirada de um pequeno precipício que havia mais afastado do bosque. Fiquei pensando no que deveria fazer. Eu precisava de ajuda. Se ao menos papai estivesse aqui...

"Você não precisa da ajuda de seu pai, James" - uma voz ecoou em minha mente.

- Quem está aí? - falei, estranhando.

De repente, uma gigantesca criatura surgiu a minha frente. Ela surgiu simplesmente do nada. Acredito que veio do fundo daquele precipício. Minhas pernas ficaram bambas e eu acabei caindo para trás apavorado pelo tamanho daquele ser. A pedra em meu colar começou a brilhar muito forte, quase me cegando.

"Não tenha medo, James. Não irei machucá-lo." - novamente a voz em minha mente. Só então percebi que quem falava era o dragão - "Sou Eeve, sua guardiã. Seu pai deve ter falado sobre mim."

- Eeve? E-Ele mencionou esse nome sim, antes de morrer.

"Sinto muito pela morte dele. Foi um grande homem e um grande cavaleiro. Assim como você será."

- O quê? Cavaleiro?

- Outros cavaleiros? Eu não estou entendendo.

"Existem outros cavaleiros, James. E assim como você, cada um possui um animal guardião para lutar ao seu lado contra as trevas".

- E como vou fazer para encontrar esses cavaleiros?

"Eles virão até você. Assim como agora".

A gigantesca criatura que flutuava no ar, apontou para dentro do bosque. Eu virei para olhar e lá estava Angellina montada em um unicórnio branco.

- Angie?

- James! - ela sorriu, desceu de cima do animal e caminhou até mim - Você também é um cavaleiro!

- Você é uma cavaleira? Isso é... Surpreendente.

- Wow! - ela exclamou ao ver Eeve - Esse é seu guardião?

- Guardiã. O nome dela é Eeve. - encarei o unicórnio à minha frente - E quem é esse cavalo aqui?

Antes que eu percebesse, aquela criatura me deu uma chifrada de surpresa.

- Aiiii! Qual o problema dele? - gritei.

- Unicórnio, James. - Angie riu - Dolphan é um unicórnio. E ele detesta ser comparado a um cavalo.

- Você é muito sentimental pra um unicórnio... - reclamei.

Ele veio para me dar mais uma chifrada, mas eu corri e fiquei na beira do precipício. Sem querer, acabei me desequilibrando e caí.

- JAMES! - Angie gritou, preocupada.

Mas por sorte, Eeve havia me segurado.

- Seu idiota! Quase me mata de susto!

- Desculpa... - eu ri - Angie, é melhor voltar. Os outros devem estar preocupados.

- Tudo bem. Mas e você?

- Eu já vou. Só vou voar um pouco com Eeve para nos conhecermos melhor.

"Eu não disse que deixava você voar comigo" - ela comentou mentalmente.

"Eu posso?"

"Tudo bem..."

- Vê se não demora.

- Pode deixar. Contaremos isso tudo aos outros amanhã de manhã, ok?

- OK.

Angie montou em Dolphan e adentrou no bosque tão rápido que nem consegui ver direito eles se afastando.

"Está pronto?" - Eeve perguntou, começando a bater suas asas mais forte.

"Com certeza".

(...)

DOLPHAN

EEVE