“E é isso aí, galera. Com essa matéria terminamos a edição desta semana do “Por onde anda”. Aposto que vocês ficaram surpresos em ver como o ex-superstar de 6 anos atrás Justin Bieber está hoje em dia. Dava pra perder uns quilinhos, hein, Justin?”

“Bem, como vocês já sabem, vou sair da MTV pra buscar novos rumos na carreira. Agradeço de coração todo o apoio e carinho de vocês nestes últimos anos, pois, sem isso, eu não teria chegado aonde cheguei. Milhões de beijos para todos vocês.”

“Eu sou Carly Shay e vejo vocês por aí! Ah, e semana que vem tem mais “Por onde anda”, apresentado pela sensacional Deby Starr!”

“E corta! Valeu, Carly! Ficou ótimo!”, falou o diretor do programa.

O staff do programa, cantando “A Carly é uma boa companheira”, traz um bolo gigantesco, com uma foto da Carly e os dizeres “Boa Sorte!”. Ela abraça e beija carinhosamente cada integrante e faz um discurso emocionado de despedida. Vários integrantes, incluindo ela, choravam copiosamente. Carly é muito querida por todos, pois sempre foi uma pessoa humilde e muito agradável, ainda que fosse a maior estrela do canal musical.

Ela já tinha limpado seu camarim. Por uma última vez, olhou atentamente todos os cantos do cômodo, relembrando vários momentos de quando entrara para a MTV. Lembrou-se de quando foi convidada para um teste na emissora. Da primeira reportagem. Do primeiro programa “Top 10”. E finalmente, de quando apresentou pela primeira vez o “Por onde anda”, programa que passou de quase cancelado à maior audiência da emissora, graças ao seu carisma.

Apesar de sentir uma ponta de tristeza devido à nostalgia, era hora de dar um passo adiante. Despediu-se de tantos quanto pôde e tomou um táxi para casa, onde tomou um banho relaxante e rapidamente separou algumas peças de roupa e as acomodou em uma mala média. Esta primeira viagem duraria somente alguns dias, depois teria tempo para organizar a mudança definitiva.

Durante o voo, consultou em seu tablet virtual os compromissos do dia seguinte. Precisava acertar os últimos detalhes de seu contrato com a rede ABC, conhecer o estúdio, pessoal da equipe... era um grande passo na carreira da jovem de 28 anos. Comandar um programa de variedades numa das maiores emissoras do país é uma grande responsabilidade, mas Carly estava preparada. Após rever tudo o que deveria fazer, resolveu relaxar, colocando em vídeo o último epísódio do iCarly. Que saudades...

Chegou a Los Angeles às 10 da noite, fazendo check-in no hotel 40 minutos depois. Teve uma refeição leve e rápida e foi para a cama.

No dia seguinte, acertou os últimos detalhes do contrato (os valores eram bem maiores do que ela ganhava na MTV, o que já não era pouco), e o resto do dia resumidamente consistiu em sorrisos falsos e apertos de mão esquisitos em gente que você não conhece, tal qual fazemos quando acabamos de ser aprovados em um emprego novo.

Durante a viagem de volta para o hotel, notou uma grande loja de eletroeletrônicos, e, lembrando-se que o aniversário do noivo estava próximo, pediu para o taxista estacionar e aguardar seu retorno. Seu noivo, o supercampeão peso-médio do UFC Dominic “Crusher” Cortez, invicto desde o início da carreira e conhecido por massacrar e praticamente acabar com a carreira  de Anderson Silva, era um grande amante da tecnologia. Certamente acharia alguma novidade nessa loja.

“Boa noite, senhora. Posso ajudá-la?”
“Boa noite. Meu noivo é vidrado em novidades, em especial gadgets portáteis. O que vocês têm de novo?”
“Bem, senhora...?”
“Carly.”
“Bem, senhora Carly, acabamos de receber um lote do PeraPersonal, com maior capacidade de armazenagem, renderização de imagens, poder de processamento, entre diversas outras funcionalidades. Além de ser menor e mais fácil de carregar.” O vendedor mostrou à jovem o visor (parecido com um par de óculos) que havia substituído laptops, desktops e tablets.
“Vou levar. Embrulham pra presente?”
“Claro. Basta a senhora efetivar a transação no guichê e retirar o produto com o rapaz do estoque.”
“Obrigada.”

Carly efetuou o pagamento e se dirigiu ao guichê do estoque.

Havia um rapaz moreno de estatura média que estava de costas para ela. Ele disse, sem se virar:

“Boa noite, a senhora vai retirar o PeraPersonal, não é?” Aquela voz não era estranha...
“Hmm, sim...”
“Boa escolha, este aparelho é ótimo.” Ele se virou, após terminar o embrulho.
“Freddie?!?”
“Carly? Que surpresa, há quantos anos!”
“Meu Deus, como estou feliz em te rever!” - deu um beijo na bochecha e abraçou fortemente o rapaz. “Tentei entrar em contato por várias vezes quando entrei na faculdade, mas nunca conseguia te achar! O que tá fazendo aqui em LA?”
“Depois que terminei a faculdade de cinema, tentei descolar um trampo por aqui, e ainda estou na luta.” Freddie enrubesceu um pouco. “Você tá na MTV, né?”
“Saí, estou aqui para assinar com a ABC, eles me ofereceram um programa de variedades.”
“Nossa, que ótimo! Fico extremamente feliz por você!”
“Ahem. Acho que tem clientes na fila, Fredward.” Um homem gordo e carrancudo chamou a atenção de Freddie. Era seu supervisor.
“Certo... acho que você precisa voltar ao trabalho. Escuta, me passa seu telefone. Precisamos colocar a conversa em dia.”

Trocaram telefones, deram mais um abraço e Carly, com o presente, voltou para o táxi.

Durante a viagem, era inevitável Carly pensar no amigo. Ele sempre sonhara em ser um diretor de cinema, e ela sinceramente pensava que ele fosse prosperar nessa carreira, pois tivera dois sucessos na área musical com menos de 18 anos, isso com dois artistas medíocres. Agora estava trabalhando como estoquista? Nada contra os estoquistas, mas certamente não era o que Freddie queria fazer da vida.

Carly não estava com pena de Freddie. Estava sim era sensibilizada por ver um talento daquele quilate ser desperdiçado.

Ela lembrou que foi Freddie quem disponibilizou o equipamento para a gravação dos candidatos do show de talentos da escola, há mais de 15 anos. Foi ele também quem upou o vídeo de Carly e Sam no Splashface, assim como foi Freddie quem deu todo o suporte técnico para o programa. Resumindo: sem Freddie, não existitira iCarly e consequentemente (muito provavelmente) não existiria a VJ Carly Shay. Ela tinha obrigação moral de fazer algo.

Colocou o PeraNanoPhone no ouvido e chamou o amigo.

“Oi Freddie, é a Carly. Tá podendo falar?”
“Tô sim.”
“Vai fazer alguma coisa hoje à noite?”
“Não, por quê?”
“Então vamos sair pra jantar. Você escolhe o lugar. Que tal te encontrar às 20:30?”
“Por mim está bem.”
“OK, me passa seu endereço, então.”

Carly chegou no hotel, tomou um banho rápido e vestiu algo casual.

Os dois amigos foram a um restaurante bem popular de Los Angeles. Estavam conversando animadamente:

“Então, depois que me formei em Comunicação, fui chamada pra um teste na MTV. Parece que um dos diretores era fã do iCarly... passei e aqui estou.”
“E a Sam, Carly?”
“Falo com ela mais ou menos uma vez por mês. Ela está no Japão, é produtora executiva de um daqueles tv games malucos, onde o participante tem que passar por várias provas que mais parecem tortura. Ela elabora essas provas, se não me engano.”
“Coitados dos competidores, o que sai daquele mente perturbada não deve ser mole...” riu Freddie.
“Tenho de concordar. E você, Freddie, como acabou trabalhando naquela loja?”
“Bem, eu tentei de verdade entrar na área, mas, aparentemente, não é tão fácil assim... comecei a ficar sem dinheiro, e eu precisava de um emprego pra me sustentar aqui. Até que eu gosto do trabalho, mexo com produtos que eu tenho afinidade. Mas enfim, o que você queria me contar?”
“Vou direto ao ponto. Tenho uma proposta. Como você já sabe, vou apresentar um programa de variedades na ABC, e, sinceramente, não conheço ninguém daqui, à exceção de você. Por isso, gostaria de contratá-lo como assistente de produção do programa, para ser meu braço direito. O que acha?”
“Nossa... seria muito bom... mas, não tá fazendo isso por dó de mim, não é?”
“Não é dó, Freddie. Tenho certeza que você vai me ajudar muito, pois tem muito talento e merece uma chance. Lá você vai estar perto de gente dessa área, vai ser ótimo. Além do mais, eu tenho minhas dúvidas se conseguiria estar aqui se não fosse por você. Eu lhe devo isso.”
“Se você acha que vou ser útil... Eu aceito, Carly.”

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Meses se passaram após o lançamento do programa “Tarde com Carly”, cuja audiência crescia a cada semana. O programa era divertido e atraía a atenção de adolescentes, donas de casa e aposentados.

Como esperado por Carly, Freddie ajudava muito no desenvolvimento das atrações, com ideias e sugestões técnicas.

Freddie e Carly passavam muitas horas juntos por dia, e sua amizade estava tão forte quanto na época do webshow. O problema era o noivo da Carly, Dominic.

Ele detestava Freddie, e não fazia questão alguma de tratá-lo bem.

Em um domingo, dia de sua folga, Carly recebeu uma ligação de sua assessora de imprensa, pedindo para que entrasse no site TMZ.com.

Na capa do site, havia uma foto com seu noivo aos beijos com outra mulher!

Carly estava arrasada, estavam juntos há mais de 3 anos. Chorava desesperadamente, e decidiu buscar conforto no único ombro amigo que estava próximo.

“Carly?”
“Oh, Freddie... Dominic... ele...”
“Eu soube, Carly. Vem aqui...”

Os amigos se abraçaram.

Horas depois, Dominic toca a campainha da casa de Freddie.

“Cadê a Carly?”
“Ela não quer te ver, Dominic.”
“Sai da minha frente, filé de borboleta!”

O lutador empurra o rapaz, que cai de costas no chão.

“Dom! Sai daqui,não quero falar com você!”
“Você vai voltar pra casa comigo agora!” segurou os pulsos de Carly violentamente.
“Me solta! Você tá me machucando!”

Freddie se levanta e empurra Dominic, que larga Carly. O rapaz parte para cima do homem maior. Contudo, nesta briga, Freddie não tem chance. Com um chute frontal no queixo, ele cai inconsciente no chão. Dominic, sem conseguir raciocinar claramente, ajoelha-se em cima do peito de Freddie, esmurrando-o impiedosamente, numa fúria assassina. Sangue respinga na camisa do lutador.

Um forte barulho de batida é ouvido e o corpo inconsciente de Dominic “Crusher” Cortez cai ao chão.

Carly olha o agora ex-noivo com desprezo. Em sua mão direita, uma escultura do trio iCarly (agora quebrada) feita pelo seu irmão, dada de presente a Freddie.

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Carly, sentada na poltrona de acompanhante no quarto do hospital, verifica em seu tablet virtual as últimas notícias de esportes. Pipocam nos sites o escândalo envolvendo seu ex-noivo, que foi preso por agressão. A morena ostenta um sorriso sarcástico. Ela não está preocupada com a possibilidade que a repercussão do caso a atinja. Apenas vai falar francamente com seu público, sempre o fez e assim continuará fazendo.

Ela para de utilizar o aparelho quando percebe que Freddie começou a recuperar os sentidos. Aproxima-se e senta na cama.

“Bom dia, Bela Adormecida. Até que enfim você acordou!”
“... devo ter morrido, um anjo está falando comigo...”
“Nossa, Freddie, você costumava ter cantadas mais criativas!”, ela se inclina e beija o rapaz. “Mas desta vez tenho de admitir que funcionou.”
“Uau, momento deja vu total, hein...” ele diz, e logo após recebe outro beijo da morena.
“Pelo visto, não consigo resistir quando o vejo deitado em uma cama ferido.” disse Carly rindo.
“E o que aconteceu com a jamanta que me atropelou?”
“Enquanto ele estava por cima de você te socando dei uma bordoada na cabeça dele. Neste exato momento ele está preso por agressão. Vai sair logo, mas, pegou meio mal pra ele ser nocauteado por uma garota de 46 kg. Ao menos é o que os fãs estão tuitando.”

Ela abraça Freddie e o beija carinhosamente.

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Dois anos depois

Carly está na entrada da igreja. Ela está deslumbrante em seu vestido de noiva, feito sob encomenda por um renomado estilista. Vários amigos são reconhecidos entre os convidados, e seu pai está ao seu lado para entregar a mão dela a Freddie.

A vida estava muito boa. Há um ano, ela foi designada para apresentar um programa no horário nobre e já era considerada por muitos a sucessora da Oprah Winfrey. Por sua vez, Freddie já não mais trabalhava com ela, pois passara a dirigir videoclipes de grande sucesso entre o público e a crítica. Estava nas negociações finais para dirigir um filme.

Carly levantou a cabeça e prestou atenção no altar. Estavam lá seu irmão Spencer, sua ‘irmã’ Sam (que ainda não se conformara com o mau gosto dela), seu amado Freddie e sua mãe neurótica, Marissa Benson.

Largou a mão direita do buquê e gentilmente a direcionou à sua barriga, acariciando-a. Havia descoberto poucas horas atrás que um pequeno ser humano estava se desenvolvendo em seu ventre. Freddie ainda não sabia. Será que ele ficará feliz quando ela revelar a gravidez? Provavelmente sim, ele tem tudo para ser um pai espetacular.

Olhou em direção ao futuro marido e sorriu.

É, a vida estava boa. E tudo indicava que ficaria melhor ainda.