Dead Memories escrita por DuoGee


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Minha primeira one-shot, espero que gostem. Boa leitura.



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Uma silhueta cabisbaixa vagava lenta e desmotivada por entre os corredores labirintíticos da casa. Puxava um corpo desfalecido, morto, pelo punho, deixando um rastro viscoso e escarlate por onde passava. O calor que ainda emanava-se pelo cadáver denotava o pouco tempo que o espirito desencarnou-se. O ambiente encontrava-se em total e profundo silencio, os ares tempestuosos de outrora eram trocados pela corrente lugubremente sepulcral. Nada poderia ser feito para reverter aquele estado não menos decadente.

Os negros fios de cabelo do mais velho decaiam-se sobre sua face empalidecidamente mórbida, contrastada com a coloração intensa dos recentes ferimentos. Em sua mente um turbilhão de pensamentos desconexos predominavam incessantes. Em meio ao ceticismo, intimamente, sentia-se contentado pelo ato animalesco de momentos atrás. Trazia-lhe certa aliviação. Oh, sempre tão doentio!

Inconscientemente, foi levado por seus pés até um espaçoso recinto, onde o chão era coberto de água. A banheira - que fora esquecida antes da chegada do mais novo - transbordava interruptamente. Manchas de sangue misturavam-se com o tapete liquido e incolor  na medida em que Gerard arrastava-se pelo banheiro. Perdia as forças, todo seu corpo era tomado por uma grande dormência, e todos os seus membros já não correspondiam mais aos seus movimentos. Soltou o punho e, não mais relutante, deixou-se cair. O baque ecoou pelas paredes, sua cabeça havia colidido contra o inóspito chão.

Flash Back


- Como pôde, Gerard?! - Frank bradara, entre soluços. - ELE ERA O SEU PAI! - seus olhos perplexos e carregados de lagrimas fitavam um homem coberto de sangue sobre o sofá. A fenda na garganta denunciava como o velho havia perdido a vida. - Por mais que ele fosse um bêbado desgraçado, você não tinha o direito de matá-lo! Não tinha!

O autor daquele crime - e de outros - não abalava-se com as palavras repreendedoras do namorado. Apenas encarava-o. Apreciava o pavor estampado na face de Frank, ele de certo temia quaisquer reações precipitadas, ou até mesmo hostis, de Gerard. Era fato que o mais novo nunca presenciara o outro lado de Gerard, o lado que por muito tempo permanecera oculto, expondo-se somente para aqueles que seriam os alvos - (curiosamente, nenhum premeditado, todos vitimas de um duradouro acesso de fúria.). Oh, o tempo! É uma escala assustadora. Em proporções diárias, nos parece tão mundana e pouco significativa, mas, com o bater das intrínsecas badaladas se aproximando com intenso furor, a sua verdadeira face se desenrola, cruel e vilanesca.

- Eu não me importo. - a profusão debochada nas palavras e seu sorriso nos lábios chocaram ainda mais o outro rapaz - Realmente, não me importo... - murmurou, dando as costas. Fitava um objeto em especial.

- Você é um monstro, Gerard! Eu vou embora! - disposto a abandonar aquele lugar, recolheu a mochila e encaminhou-se, aflito, até a porta.

- Não, não vai. - já antecipando a reação de Frank, atacou-lhe por trás com um taco de baseball. O golpe nas costas fora suficiente para fazê-lo cair de joelhos. O pequeno debulhava-se em lagrimas e gemidos inarticulados. "Tão indefeso..." Gerard maneava impacientemente o taco em uma das mãos. Algo crescia dentro de si, abatendo-lhe física e psicologicamente. Não enxergava Frank como antes, aliás, todo o seu amor parecera ausentar-se por completo, dando lugar à sede de sangue.

Quando fez a menção de atacá-lo novamente, o rapaz levantou-se, cambaleante. Girou os calcanhares e desferiu um soco no rosto de Gerard, ainda restava-lhe um pouco de força. Aquele simples golpe parecia ter doido mais em si, e ao invés de fugir, aproximou-se, arrependido, do mais velho, envolvendo-o ternamente com os braços.

Um erro fatal.

Precisos, assim denominados os golpes que derrubaram Frank. Estava impossibilitado de locomover-se, a dor circulava-se impiedosamente pelo seu corpo. Em Gerard exalava-se apenas a brutalidade inumana. Os movimentos com o taco eram tão bem manuseados, executados com tamanha maestria! Orgulhava-se, de fato. O brilho escarlate refletia-se em seus olhos, possuidores de uma imensurável grandiosidade funesta. De súbito cessou-se, contemplando aquela belíssima cena. Oh, como era linda! Tão digna que, se fosse possível, contrataria Da Vinci para pintá-la. Lastimável não poder eternizar aquela magnificência nas mãos de um artista...

Soltou o taco, fitando a poça que multiplicava-se em torno do corpo. Deu as costas, acompanhando majestosamente o sangue que corria pelos rejuntes, manchava os tapetes e encontrava-se com o do cadáver que jazia sobre o sofá. Em meio ao forte odor de sangue, era possível sentir o cheiro de álcool que aquela asquerosa matéria morta emanava. Não era bela. Nunca fora.

Com uma expressão de profunda represália, retirou a lamina do pescoço do velho e regressou ao corpo de Frank. Limpava a lamina na própria camisa, era de prata, merecia cuidados estritos! Ajoelhou-se, tendo uma ampla e privilegiada visão. Havia um resquício de vida no rapaz, parecia relutante em querer abandoná-lo, mas Gerard não deixaria isso perdurar. Já devidamente limpa, levou a lamina ao encontro do rapaz, enquanto examinava os ferimentos expostos. Cravou-a sobre o lado esquerdo do peito, podia sentir a ponta perfurar a pele, os músculos e finalmente o fraco coração, que cessava sua marcha, lenta e dolorosamente. O sangue vazava em abundancia pelas laterais do corte, e pela boca do rapaz desfalecido. Morto.

Fim do Flash Back

Gritou. A onda de flashbacks abatera-lhe de súbito, mais dolorosa que um forte raio vindo dos céus nublados daquele inicio de noite angustiada. As paredes pareciam comprimi-lo, não havia escape, não havia nada, apenas a perdição do seu próprio ser. As mãos tateavam o chão, desesperadas, aflitas, esparramando respingos de água pelos ares. Seu o uniforme escolar encontrava-se encharcado, assim como seus olhos, avelãs intensas e lacrimejantes.

O corpo arrastava-se com dificuldade pelo chão, frio e interminável. Entre prantos, resgatou a estaca e o corpo de Frank. '"Oh doce Frank... Como eu fui capaz de lhe matar?... Frank, meu amor. Suplico que me responda, onde há paz para me acalmar?" murmurava, lôbrego. Seus braços acolheram os ombros do rapaz afetuosamente, pondo-o sobre seu colo. A dor era tanta!

Remorso.

O peito incinerava-se por completo. Sentia-se aturdido, mais uma vez confuso. Seus lábios modelaram-se aos de Frank, frios, mas não menos convidativos. Afastou-se, pelo queixo escorria sangue, o sangue que havia provado da boca do amante. Os olhos decaíram-se sobre um objeto, a estaca. Molhada de sangue, a lamina reluzia em sua mão. Movido pelo impulso, recolheu a mão de Frank, fazendo-a segurar o objeto, juntamente com a sua. Já podia ouvir o timbre de Frank percorrer seus ouvidos, emanar seu coração doentio com uma felicidade sombria.

- Dormiremos eternamente, Frankie... Juntos. Até mais, sem boa noite. - melancólico, deixou que uma lagrima escorresse antes do ato final: penetrou a estaca em seu peito. O sangue escorria incessante, indo ao encontro do desconhecido. Inclinou-se para frente, deitando-se ao lado do amante, seu eterno amante. Com tanto afinco, o negror aproximava-se, frio, assim como os lábios de Frank. Sentia-o tocar-lhe intimamente, roubando-lhe a vida. Um ultimo suspiro, e tudo não passaria de lembranças. Lembranças mortas.


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Notas finais do capítulo

Reviews? (:



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