Agora é a Sua Vez escrita por Crica


Capítulo 1
Capítulo 1




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AGORA É A SUA VEZ

_Dean ?

_O que é ?

_Olha isso aqui. -Sam voltou a tela do computador para o irmão.

_Todos esses pontinhos são manifestações?

_É isso aí. Está vendo ? - O rapaz apontava as pequenas luzes vermelhas na tela. – Há uma série de acontecimentos aqui: morte de gado, tempestades elétricas, alterações climáticas... E, veja .

_As alterações estão se movendo ? -Dean franziu o cenho e levantou os olhos, encarando o irmão.

_É o que parece. Elas vêm se manifestando há algumas semanas, mas de cidade em cidade.

O irmão mais velho levantou-se de sua cama e foi sentar-se à mesa  com o outro.

_E tem mais. Andei cruzando informações com os registros policiais e adivinha só!

_Surpreenda-me.

_Há uma lista de desaparecidos. Dois em cada cidade.- Sam apertava o lábio inferior -  Mas isso não faz muito sentido...

_O que ?

_Idades diferentes, profissões, sexo, aparência, nada combina. Espere... - Samuel digitou algo no teclado e arqueou as sobrancelhas diante das informações que obteve _As duas pessoas de cada cidade trabalhavam no mesmo lugar: um abrigo para menores, um hospital pediátrico...Que estranho... uma academia de balé ? _ Sam parecia surpreso. – Crianças ?

_E isso aí, Sammy boy. Nosso trabalho tem isso de bom. Tem sempre um padrão._ Dean estava animado. Bateu as mãos nos joelhos e levantou apanhando tudo que encontrava. – Vai ficar sentado aí ?  Sabemos qual será próxima cidade.

_Não acho que devamos ir para Murray.., Dean.

_Por que não ? -Voltou-se para o caçula. – Posso saber ?

-Porque em Old Coast só foi registrado um desaparecimento, então...

_Então vamos até lá, salvamos o cara  e mandamos uns demônios de volta pro inferno só pra manter a forma, certo ? - Sorriu de lado, piscando para o irmão.

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             Old Coast era uma cidade pequena, mas agradável.Ruas limpas e arborizadas, uma praça bem cuidada cercada de casas antigas e pequenas lojas.

_Cara, essa cidade é tão arrumadinha que chega a dar medo. - Comentou o mais velho, guiando o Impala.

               Sam achou graça do comentário do irmão. Apontou uma hospedaria na saída da cidade. Uma casa em estilo vitoriano, mas como tudo por ali, muito bem conservada. Uma senhora baixinha, gorducha e com enormes bochechas vermelhas os recebeu. Quase não podiam vê-la por trás do balcão. Dean ergueu uma sobrancelha e correu o olhar da senhora para o irmão e de volta para ela. Por um segundo, Sam sentiu o sangue gelar, mas a máquina emitiu o recibo do cartão de crédito antes que Dean pudesse dizer qualquer insanidade.

                 O quarto era simpático e espaçoso. Bem diferente das espeluncas onde costumavam hospedar-se. Pelo menos não havia qualquer barata a vista e os lençóis estavam impecavelmente esticados nas camas.

_Bem,acho que podemos dar uma volta por aí. -Dean arremessou a bagagem sobre a cama mais próxima. _ Tomamos umas cervejas, falamos com as pessoas. O básico.

_Por que não ? Dê-me só um minuto, está bem?

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              Os irmãos entraram numa lanchonete na rua principal. Não havia muita gente lá, mas os que estavam, os encaravam com curiosidade. Sam sorriu sem jeito. Escolheram uma mesa junto à janela. Um senhor muito magro e meio calvo, mas de feições amistosas aproximou-se deles e retirou um bloquinho do bolso do avental.

_Uma graça, o seu avental. Foi sua esposa quem  o bordou ? - Dean gracejou.

              Sam chutou o irmão por baixo da mesa, olhando-o sério.

_Na verdade fui eu mesmo. Não sou casado.

_Desculpe-nos, senhor.- Sam tentou consertar o estrago. – Meu irmão é fascinado por bordados

_É. Me faz  lembrar a mamãe, sabe ?  -  golpeou a canela do mais moço.

_Vão comer alguma coisa ? Um café ? Quem sabe o prato do dia ?

_Pode ser o prato do dia. - Aceitou o caçula.

_Traga-me também uma porção extra de batatas fritas e catchup, por favor. – Dean entendeu o olhar  aborrecido do irmão. _ O que é ? O faquir aqui é você, amigo. Eu preciso de energia!

              O garçom não demorou a voltar com o pedido. Enquanto arrumava os pratos sobre a mesa, Dean puxou conversa.

_Então, sempre viveu por aqui, senhor ? - Samuel iniciou a aproximação.

_A vida toda. E é Larry.

_Legal, Larry. Parece uma boa cidade.

_E é mesmo. Não a trocaria por nenhum outro lugar no mundo. E vocês, rapazes, estão só de passagem ?

_Sim. - o mais velho respondeu com um sorriso, já mordiscando a porção de batatas fritas.

_Não!- Sam retrucou.

_É... mais ou menos. -Dean encarou o irmão, inquisitivamente.

_Vamos ficar por alguns dias até que chegue um novo professor para a escola – o rapaz moreno adiantou-se em  explicar.

_Ah! Vocês são professores, então?  - O velhote pareceu surpreso.

_Não, não. - Sam sorriu e Dean tratou de concordar com ele. _ Eu não sou, não. Mas o  meu irmão aqui é. Ele veio substituir a Sra Harper. Eu só estou fazendo companhia.

              Dean arregalou os olhos e engasgou com as batatas. O garçom  deu-lhe uns tapinhas nas costas para ajudá-lo a respirar. O rapaz sorriu sem jeito e agradeceu . Lançou um olhar fulminante para o irmão caçula que parecia estar se divertindo muito com a situação.

               Sam continuou dando corda à conversa e descobriram vários detalhes sobre os últimos acontecimentos e sobre os hábitos dos moradores daquela pequena cidade.

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              De volta à hospedaria, Dean entrou no quarto primeiro, batendo a porta. Estava irado. Parou no fundo do cômodo e começou a tamborilar os dedos sobre o aparador do espelho.Apertava os lábios e coçava a cabeça com irritação. Sam entrou em seguida, fechando a porta e manteve-se em silêncio.Só estava esperando pela tempestade que se formava. Podia até ver as nuvens negras rodeando a cabeça do irmão. Dean finalmente voltou-se para ele, fechou os olhos e respirou fundo, tentando manter o controle.

_Dá pra me explicar que palhaçada foi aquela ?

_É verdade... eu esqueci de te contar, não é ? - Sam tinha no rosto uma expressão muito inocente.

_Olha,Sam... – Dean deu um passo na direção do irmão num tom ameaçador.

_Calma aí, meu chapa! – O rapaz afastou-se tentando conter o riso.

_O que é que botaram naquele teu café ?  Andou bebendo ? - farejou ao redor do outro _ Só pode ser isso ! Cara, já cansei de te dizer...  você é fraco pra bebida.  Quando você bebe sai falando um monte de besteiras. Diz que estava bebendo!

_Sinceramente? Não.

_Presta atenção, Sam. Eu não vou, de jeito nenhum, bancar o idiota naquela escola. Vai você!

_Agora  não dá. Todo mundo já deve estar sabendo da novidade. Ou você acha que o Larry ia guardar segredo ? E tem mais. _ o caçula afastou-se do irmão,saindo do alcance de seu punho. _ Eu sempre sou a isca, reparou ? É a sua vez.

_Sammy, se concentra. Escuta e vê se entende - segurou o rosto do caçula entre suas mãos e fitou-o _ Tem séculos que eu saí da escola. Eu  nunca fiz parte daquilo. Nem no jardim de infância eu conseguia me enquadrar e você  vive jogando na minha cara o  meu vasto acervo de cultura inútil! Isso não vai dar certo...

_Sinto muito.- o mais moço desvencilhou-se do irmão e afastou-se novamente, tomando uma distância segura.

_Qual é, cara, quebra essa!  Você consegue me imaginar de terno e gravata no meio de um bando de pirralhos espinhentos ? Ham? Consegue ?

_Devo admitir que seria uma visão histórica...

              Dean inspirou profundamente, mais uma vez, enquanto coçava a cabeça, andando de um lado para o outro. Nenhum argumento era capaz convencer o irmão. Sentou-se ao lado se Sam ,na cama, na  esperança de uma última cartada.

_A gente pode dizer que o garçom se confundiu, que tudo não passou de um pequeno engano,heim? O que você acha, irmãozinho ? Aí você vai lá e bota pra quebrar com esse seu cérebro turbinado! Ham ?

                    Sam olhou-o nos olhos e, depois de alguns segundos intermináveis,  abriu    um  sorriso.       

_De jeito nenhum.

_Certo! – Dean golpeou o criado-mudo com o punho fechado, contrariado e levantou-se .Passou a mão pela barba.

-Você não vai desistir mesmo dessa idéia idiota, não é ?

_ Absolutamente.

_ Depois não vá dizer que eu estraguei tudo. – Entregou-se resignado. – E vou ter... vou ter que ensinar ...o que ? _ Ele mais parecia não querer saber.

_História da Arte. – Sam murmurou rápido entre os dentes.

_O que ?!

_História da Arte. – Repetiu, desafiando o irmão.

_Sem essa!!! Nem pensar !!! Pode esquecer porque eu estou fora! – Dean estava vermelho.

_Qual é, Dean ? Nós já nos passamos por presidiários, padres e coisa muito pior. Deixa de ser preconceituoso. Até eu já estudei história da arte.

_Não estou falando ?-suas mãos suavam_ Sem essa, Sammy. – o mais velho estava perdendo o controle _Não tem jeito dessa droga dar certo. Sem chance!

_Está bem, agora chega!_ Sam estava ficando realmente aborrecido com a teimosia do irmão e levantou a voz: - Olha aqui, eu sempre sigo os seus planos idiotas,certo? Agora é a minha vez.- levou as mãos à cintura e apertou os olhos _ Você fez as regras: quem bola o plano fica com o trabalho pesado e, se for preciso, o outro é  a isca. São suas palavras,não minhas. E aí ? – encarou-o

_Ainda bem que você sabe que esse é um plano idiota. _  Dean, sem mais argumentos, pegou a carteira e dirigiu-se à porta. Ia dizer mais alguma coisa, mas desistiu.

_Aonde você vai ? _ Quis saber o caçula.

_Vou comprar uma gravata, gênio. – antes de sair, voltou-se _ E só pra ficar registrado, eu te odeio! – bateu a porta atrás de si.

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              Na manhã seguinte, devidamente engravatado e incomodado, Dean bateu à porta do gabinete do diretor. Não teve que esforçar-se  muito para agradar. Afinal, Sam havia preparado um currículo de dar inveja e ótimas referências.

              Uma funcionária apareceu para levá-lo  à sala de aula.

              Lá dentro, os alunos conversavam  espalhados. Quando entrou, cada qual tomou o seu lugar. Silêncio. Dean estava apavorado. Uma gota de suor escorreu-lhe pelo canto do rosto, mas não se deu por rogado. Pôs a valise sobre a mesa e retirou dela uns livros e alguns papéis. Engoliu em seco e teve vontade de quebrar o pescoço de Sam quando leu o nome no alto do diário de classe. Voltou-se para o quadro, escreveu sua matéria e, logo abaixo, a identidade que seu irmão criara. Largou a ficha na mesa e virou-se para a turma. Esperou que os risinhos terminassem.

_Isso é sério, senhor... Dumbledore?- um garoto sardento questionou-se em meio a um sorriso sarcástico.

_É britânico. Algum problema? –Definitivamente ele mataria o irmão.  – E antes que alguém fique tentado a tecer mais algum comentário engraçadinho... – caminhou na direção do garoto que havia falado –gostaria de lembrá-los de que esta matéria reprova e eu não tenho muito talento nem paciência para lidar com espertinhos. – Deu um sorrisinho homicida  e caminhou de volta .

_Bem, passados os esclarecimentos, quem pode me dizer onde a Sra Harper parou?

_Nas características da arte renascentista. – Respondeu uma garota na primeira fila, toda melosa.

_Arte renascentista...ham...- limpou a garganta _ Muito bem... Isso é ótimo...excelente. Muito bom mesmo... – Não havia mais nenhuma dúvida: Sam não passaria daquela tarde.

              No final do dia, quando Dean abriu a porta do quarto, Sam fitava,intrigado, a tela do computador  e fazia anotações.

_Você demorou. _ comentou o mais jovem _ Tudo bem ?

_Tudo ótimo. _  Dean puxou o nó da gravata.

_Certeza?

_Claro. – O mais velho sentou-se numa cadeira em frente ao irmão, deixando o corpo escorregar no assento, enquanto enrolava  gravata. _ Hogwarts não é tão ruim. -Deu de ombros.

               Sam estava louco para saber os detalhes daquela experiência inusitada e mal conseguia conter o riso, mas devido a certos aspectos do temperamento de Dean, decidiu que seria mais seguro ficar calado.

_Então, Sammy, descobriu mais alguma coisa enquanto eu brincava com os pequenos monstros ?

_Muita. - Ele evitava encarar o irmão  _Existe um sem número de lendas e profecias envolvendo rituais  com sacrifícios de sangue em ciclos lunares. Mas o que me chamou atenção é que algumas lendas célticas  mencionam também rituais de invocação praticados por seres inferiores  nos equinócios .

_Equinócio ?

_É, quando o dia e a noite têm exatamente a mesma duração. Como nas mudanças de estação e coisas do tipo.

_Sam, eu sei o que é um equinócio.O que uma coisa tem a ver com a outra ?

_Essas profecias rezam que, na passagem do dia para a noite,durante o equinócio, o mundo natural e o espiritual ficam muito próximos. Se o ritual for realizado nesse momento, pode-se ter acesso ao outro lado.

_Como uma passagem cósmica?

_É.

_Bem... e o que eles querem trazer do outro lado ?

_Não sei. Mas não deve ser boa coisa. Do contrário, por que um bando de demônios de quinta se daria a tanto trabalho?

_Faz sentido. _ Dean pegou sua caderneta e entregou-a ao irmão. _ Aquela escola está cheia dessas coisas. Bastou mencionar Cristo aqui e ali e a galera começava  a se arrepiar.Teve um garoto que chegou a vomitar toda  a sopa de ervilha. Pobrezinho... que lambança...

_Anotou os nomes ?

_Claro. Sei fazer o meu trabalho. Tem doze aí. – apontou o caderninho.

              Sam ficou em silêncio por instantes, tentando organizar mentalmente as informações que tinham recolhido. Dean passou por trás do irmão, pegou a valise no chão e virou-a na cama. Samuel acordou de seu transe com o som das caixas dos K7s do irmão caindo sobre o colchão. Dean apanhou um saquinho de papel e jogou-o  para o caçula.

_Você levou os K7s para  a escola ?  Para que ?

_Plano B. - piscou _ Quem quer saber da Renascença ? Os moleques curtiram AC/ DC.

_ E desde quando você compra frutas ?  - perguntou, limpando uma maçã perfumada na manga da camisa.

_Não compro. Ganhei.

_Um aluno te deu uma maçã ?!

_Estava na minha mesa, depois da aula. Então...Mas não desvia do assunto. Já sabemos quem, como e para quê . Só falta onde e quando.

_Será amanhã, às 6 horas e 12 minutos.

_Está vendo coisas novamente ?  - Dean parecia surpreso.

_Nada disso. Veja aqui. - virou a tela do computador para o mais velho.  _ Teremos um equinócio amanhã e o pôr-do-sol começa exatamente às seis e doze.

_Agora ficou moleza. -Dean pegou roupas limpas na mochila. _Você descobre onde, a gente vai lá , acaba com a farra da molecada e toca a vida. Simples. Gostei. Parabéns, Sammy! _ Já se dirigia ao banheiro quando parou de repente e voltou-se ao irmão: _ Ah! Já ia esquecendo de um detalhe. Só não vou te dar uma surra porque tenho coisas mais importantes pra fazer agora,Ok?

-Vai a algum lugar ?

-Tenho um encontro com uma gostosíssima professora de Ciências. Está fazendo mestrado em  anatomia.. Eu amo anatomia !

-Cara, você não vale nada! No primeiro dia de aula, já está recebendo presentinhos e caindo em cima da professora ?! Como você consegue ?!!!

-Talento, meu caro. Puro talento. - o mais velho dos Winchester bateu a porta do banheiro atrás de si.

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             No dia seguinte, durante o intervalo do almoço, o celular de Dean tocou. Ele se afastou da mesa onde um grupo de professores conversava animadamente. Foi seguido pelo olhar lânguido da professora de seu encontro.

-Sammy, onde você esta?

Encontrei o local do ritual.

-Esse é o meu garoto !

Sabe aquela lista que você fez ? Um dos garotos mora numa pequena fazenda fora da cidade. É perfeito.

-E daí ?

Daí que estes rituais precisam ser feitos a céu aberto, em contato com a terra. Sabe o que encontrei ?

-Sam, o vidente da família é você. Fala logo.

Tem uma clareira aberta num pequeno bosque e, bem no meio, uma mesa de pedra. Coisa artesanal, sabe? E tem várias inscrições nela.

-Beleza. Já descobriu como se livrar das criaturas?

Ainda não tenho certeza mas, basicamente, temos que exorcizá-los. Dean ?

-O que é ?

Como vamos exorcizar doze garotos no meio do mato ? Eles não vão ficar parados esperando a gente terminar...

-Sei lá. Dá o teu jeito.

Mas , Dean...

-Olha aqui, Sammy, foi você quem disse: esse é o seu plano e  eu sou a isca. Então você faz o trabalho sujo, certo ?

Certo... Vou pensar em alguma coisa.

-Tenho que ir. Vou dar mole por aí e facilitar a vida dos caras antes que eles escolham outra pessoa.  _ Desligou.

              Na estrada, Sam guiava o impala quando desligou o telefone. O rapaz tinha uma expressão preocupada. Passou por uma construção e, de repente, brecou o carro. Voltou de ré , parou diante do portão e sorriu aliviado:

_É isso!

              Depois da aula, Dean caminhava pelos corredores vazios. Sentiu que era observado, mas  continuou seu passeio. Parou diante dos armários e pôde perceber que havia mais alguém ali. Não deu qualquer sinal. Abaixou-se e fingiu amarrar os cadarços do sapato. Um saco envolveu sua cabeça e alguma coisa o golpeou com força.

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              Na fazenda, Sam escondeu-se entre os arbustos. Vários garotos entraram na clareira arrastando um corpo amarrado e encapuzado. Provavelmente, seu irmão. Colocaram-se  ao redor do altar  e retiraram o capuz da vítima. Era mesmo Dean.

               O mais jovem dos Winchester olhou o sol e, depois, o relógio. Alguns meninos, os maiores, puseram Dean sobre o altar. Uma garota pequena subiu na mesa e começou a entoar  cânticos numa língua desconhecida. Os outros a acompanhavam, murmurando palavras ininteligíveis. Sam passava sorrateiramente, de um arbusto a outro, aproximando-se mais e mais.Tinha na mão um isqueiro. Dali podia ver os olhos enegrecidos e a face transformada das crianças. Viu também que Dean começava a se mexer. Precisava do irmão consciente para levar a cabo a sua empreitada. Olhou o relógio novamente. A pequena demônia bradava a adaga no ar, enquanto os outros recitavam num ritmo frenético. Sam acendeu um rastilho de pólvora no chão, provocando um clarão e muita fumaça que corriam pela grama, formando uma figura de fogo.  A garota percebeu a presença do rapaz  e atacou, com violência, o irmão na mesa de sacrifício.

               O caçula iniciou a leitura do exorcismo. Não sabia ao certo se funcionaria, mas era  sua única opção. Dean, neste momento, rolou para o lado, caindo ao chão. Ela, por sua vez, pulou sobre ele e, de todas as formas, tentava golpeá-lo no intuito de concluir o ritual. O rapaz desvencilhava-se como podia, mas a garota era rápida e tinha uma força sobrenatural.Samuel ouviu o irmão gritar seu nome ao ser atingido pela adaga afiada.Passou então a ler  mais rápido, fazendo com que as crianças se contorcessem e tentassem, a todo custo, sair da armadilha que havia preparado. Dean aproveitou a confusão e arrastou-se para longe. Tufos de fumaça negra saíam dos garotos e se dispersavam no ar, deixando-os inconscientes sobre a grama.

                Os últimos raios de sol   desapareciam quando Sam conseguiu controlar a respiração. Correu para acudir o irmão.

_Você está bem ? _ ajoelhou-se ao lado de Dean  e sentiu-lhe o jeans ensopado.

_Ai!- reclamou ao toque do irmão _ Considerando que uma guria endiabrada da sexta série tentou arrancar o meu coração para fazer um lanchinho, até que estou legal.

_Dean, me dá o cinto. – Sam  iluminou o ferimento com a lanterna.

_O que você vai fazer ? Arrrgh!

_Preciso estancar o sangramento. - Sam envolveu a perna do irmão, acima do joelho e apertou o cinto com força. _ Isso está bem feio. Temos que achar um médico.

_Qual é, Sammy? Só estou um pouco tonto. Foi um arranhãozinho de nada.

                   Sam apertou o cinto.

– Au! Calma aí, rapaz.

_Vamos dar o fora daqui . – Levantou-se apoiando o mais velho.

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                  Algumas horas mais tarde, os Winchester deixavam uma pequena clínica em outra cidade. Um  senhor idoso entregou a Sam uma receita e um vidro com remédios. Ele agradeceu e seguiu o irmão que já se distanciava mancando. De volta ao Chevy, o caçula tomou o lugar do motorista e deu a partida.

_Sam?

_ O que foi ?

_Quanto ao seu plano...

_Olha, Dean, eu sei que as coisas não saíram bem como planejamos...

_Planejamos?

_Como planejei. Mas no final, deu tudo certo, não é ? As crianças estão bem, mandamos os demônios de volta pro inferno e, tirando esse ferimento...

_Já sei. Não precisa nem dizer... Você salvou o meu traseiro.... Obrigado.

                  Sam sorriu satisfeito,mantendo os olhos na estrada. Continuou:

_Vai ficar uma cicatriz bem  feia aí.

_Não esquenta. As garotas adoram cicatrizes. É muito heróico. - Dean deu uma  piscadela maliciosa, tirando outro sorriso do irmão. – Sabe,Sammy, foi muito esperto aquele lance com a pólvora. De onde tirou essa idéia ?

_Cara, não vou te enganar: a necessidade é a mãe da criatividade...Para onde agora ?

_Sei lá. Você decide. - silêncio _  Sam...

_ Fala.

_Da próxima vez que precisar, vê se arranja  um médico de verdade.

_Não sei do que você está reclamando.O nome do Dr. Brown estava no diário do pai. Ou você queria que eu te levasse a um hospital ? Foi um ferimento com arma branca, Dean.   Iam avisar a polícia e, com a sua ficha, o FBI cairia em cima de nós antes de darem o último ponto.

_É, eu sei. Você tem razão... Desculpe-me. Mas um veterinário ?!

FIM


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Notas finais do capítulo

Um comentariozinho vai deixar essa dublê de escritora imensamente feliz.
Obrigada pela audiência e paciência.