Altruísmo escrita por Chibi Midori


Capítulo 1
Decisão de uma princesa


Notas iniciais do capítulo

Eu escrevi isso no ano passado, quando eu terminei de ver Pri-Pri. Eu nem ia publicar, mas precisava apagar as fics velhas daqui e não tinha coragem de apagar essa sem postar no nyah pelo menos >< Não que eu espere que alguém leia, mas... Pois é.



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Voltei ao P-room e encontrei Mikoto e Yuujirou exatamente como tinha deixado: Sentados no chão conversando. Pareciam despreocupados e a vontade, como eu estaria não fosse tudo o que aconteceu com Sayaka. Contudo, se Sayaka não tivesse agido daquela forma, eu nunca teria mudado de escola. Não teria me tornado uma princesa. Não teria me tornado amigo de Mikoto e Akira. Não teria conhecido Yuujirou.  Olhando por este lado, me senti grato por toda a confusão. Mas não... Não é certo ter estes pensamentos egoístas. 

- Kouno. Já terminou? - perguntou Mikoto logo que me viu ali. 

-Sim. - respondi com um sorriso forçado. - Não há ninguém usando o telefone agora.

- Vou fazer uma ligação! - anunciou Mikoto saindo do quarto. 

Observei-o marchar com uma expressão alegre no rosto. Mikoto, sempre tão bobo. Eu sentiria falta de implicar com ele, caso resolvesse sair da escola para ficar com meus tios. Meu coração acelerou dolorosamente. Pude sentir os olhos de Yuujirou perfurando minhas costas. Precisava distraí-lo antes que ele perguntasse. 

- Dia após dia... Sobre o que ele e sua namorada tanto conversam? - perguntei, esquecendo que Yuujirou havia feito a mesma pergunta no dia anterior.

- Algo errado? - perguntou-me. 

- Não, nada. - menti - Sayaka já está em casa. Parece ter se acalmado.

- Tooru! - Yuujiro pronunciou meu nome lentamente, em tom de censura.

Seus olhos claros se estreitaram e ele me encarou, cheio de suspeita. Sustentei seu olhar franzindo as sobrancelhas até compreender que não podia esconder aquilo de Yuujiro. Ele ia saber a qualquer momento. Era melhor que contasse de uma vez por todas. 
Sentei-me ao lado do meu melhor amigo e abracei os joelhos. Por algum motivo que eu não compreendia, não consegui olhá-lo nos olhos enquanto falava. Simplesmente fiquei ali, encolhido, repetindo palavra por palavra o que meu tio me disse no telefone... Sobre a súbita compreensão de Sayaka. Falei tudo exatamente como aconteceu, de modo completamente imparcial. Não expressei qualquer opinião sobre o assunto. Talvez por esse motivo, Yuujirou não tenha feito nenhum comentário sarcástico. Apenas ouviu em silencio, o que não lhe era natural.

Apesar de ser Yuujirou a pessoa em que eu mais confiava, não disse uma palavra sobre as desconfianças que se agitavam dentro de mim: Sobre como eu achava que toda essa mudança na Sayaka era repentina. Não que duvidasse de sua bondade! Longe de mim pensar algo tão ruim da minha irmã mais nova. Contudo, ela não ia esquecer uma obssessão tão grande tão rápido. Talvez fosse doloroso para ela me ter por perto... A distancia devia me apagar dos pensamentos românticos de Sayaka. 

Ao mesmo tempo, queria satisfazer meu tio e minha tia. Fiquei realmente feliz que meu tio e a minha tia se preocupassem tanto comigo e me quisessem por perto. Queria satisfazê-los ao máximo e deixá-los orgulhosos de mim. Já havia me distanciado de Sayaka uma vez e isso de nada adiantou. Ela apenas me encontrou outra vez, chegou a machucar Yuujiro. Por ouro lado, dessa vez era diferente, afinal ela estava decidica a me esqucer e não a me reencontrar. E se a distancia... ?

Oh, nem eu mesmo entendia mais meus pensamentos. Era melhor de fato não dizer nada em voz alta. 

- Tooru...

Eu havia quase esquecido a presença de Yuujiro. Havíamos ficado em silencio por um longo tempo depois que terminei de falar, mas a voz dele me arrancou dos meus pensamentos, mesmo que não tivesse passado de um murmúrio.

- Você... Pretende voltar? - perguntou tão baixo que tive de ler seus lábios para entender.

- Eu... Ainda não sei. - admiti - Quero ficar e quero ir.

- Isso é impossível e você sabe. - rebateu na mesma hora - Uma pessoa não pode querer duas coisas tão opostas ao mesmo tempo. A verdade é que você não sabe ainda o que quer.

Eu sei o que eu quero, Yuujirou! Quero ficar! Por mais piegas que isso possa soar, será doloroso ficar longe daqui. Ah, a que fui reduzido? Sentado no chão tendo pensamentos melancólicos estranhos... Até parecia Mikoto falando com sua namorada. Certamente, Yuujirou riria até explodir se me ouvisse dizer algo assim. 

- Sabe de uma coisa? Você não vai morrer se tomar uma atitude por capricho uma vez na vida! 

- Yuujirou... - falei surpreso com seu tom. 

Sarcástico a ponto de ser frio, Yuujirou raras vezes perdia sua calma. Por isso, acabei ficando sem palavras ao ouví-lo falar naquele tom tão furioso. Certamente esperava que ele agisse com frieza comigo. Esperava que me olhasse com superioridade, no máximo me tratasse com desprezo por ser um covarde indeciso... Mas nunca aquela fúria gélida. Por que ele estava tão bravo?

- Não faça essa cara de estúpido, assim você fica parecendo o Mikoto. - impaciente, Yujirou levantou-se.

- Yuujirou, você...

- Escute, Tooru. Você deve fazer o que quer. Entendeu? Não deve voltar para casa contra a vontade só para satisfazer seus tios! 

Como esperado dele... Ele já havia descoberto meus verdadeiros motivos. Contudo eu não disse nada, o que o irritou ainda mais. Trincou os dentes e parecia prestes a dizer algo realmente ofensivo quando algo o deteve. Pareceu notar outra coisa. A expressão furiosa abrandou-se na falta de qualquer expressão. A frieza que eu havia esperado surgiu em seus olhos.

- Também não precisa ficar para agradar a mim e à Mikoto. - disse num tom completamente despido de emoção

- Eh? - consegui dizer, totalmente surpreso.

- Quero dizer sobre o trabalho de princesa. - continuou - Caso ache que vamos martirizá-lo ou coisa parecida por nos deixar. Não se obrigue a ficar por nossa causa. Certamente, Mikoto vai ficar furioso e dar um ataque, mas vai sobreviver. E eu ficarei bem.

-Claro que não é nada disso! - exclamei, nervoso - O motivo pelo qual estou indeciso não tem nada a ver com você e Mikoto ficarem bravos comigo! Yuujirou, você... Você quer que eu vá embora? 

Ele não respondeu. Nos olhamos por um longo tempo sem que nada fosse dito, mas a expressão de Yuujiro lentamente passou de cruel a vazia outra vez. Ele suspirou e veio sentar-se ao meu lado outra vez. Concluí que não teria uma resposta de qualquer jeito, então continuei:

- Eu... Não sei o que fazer. 

- Se me permite dar a opinião, você está sendo um covarde. - ele alfinetou.

- Você é sempre tão sincero. - reclamei - Não te trás problemas dizer tudo desse jeito? 

- Na verdade, é mais fácil assim. Quando você mente, tem que prestar atenção nos detalhes e ao mesmo tempo não ser tão detalhista ou levantará suspeitas. E também precisa lembrar sempre da mentira, ou poderá se contradizer mais tarde.

- Eu não quis dizer mentir. - ressaltei. - Quis dizer ser mais delicado. 

- Trocadilhos à parte, eu não sou uma princesa. - um sorriso discreto e sarcástico surgiu em seu rosto. - Não sou obrigado a ser doce o tempo todo.

- Também não precisa ser tão grosso o tempo todo. - sorri.

- Acho que estávamos discutindo sua indecisão, não a minha encantadora personalidade. 

- Achei que você não me importunasse. - lembrei-o de algo que ele havia me dito vários meses atrás.

- Não importunava por que achava que fosse mais parecido comigo. Mas vendo você agora, acho que se parece mais com o Mikoto. 
Suspirei. Aquilo era muito típico do Yuujirou. De fato, ele era o tipo de pessoa que todos querem saber o que está pensando. Mesmo conhecendo-o tão bem, eu ainda tinha dificuldades para interpretá-lo. Ele estava se fazendo de forte? Agindo com indiferença e sarcasmo, como sempre. Era impossível dizer se estava mesmo despreocupado e não ligava para mim ou se estava fingindo.  A noite avançou sem que nenhum de nós dois saísse do lugar. Eu não soube da hora, mas em dado momento, Yuujiro deixou sua cabeça tombar na minha cama, onde estava encostado. Minhas costas doíam de ficar a noite toda na mesma posição, então levantei-me e deitei-me de bruços com o queixo apoiado nos braços. Virei o rosto de lado para olhá-lo. Yuujirou não havia se movido nem um centímetro. 

A luz refletia de um modo engraçado em seus cabelos castanhos, quase dourados.  Era um convite quase irresistível. Sem que eu controlasse, estendi a mão e comecei a acariciar os fios macios, afastando um pouco a franja de sua testa. Yuujirou não notou... Talvez esitvesse dormindo.

- Pelos meus tios, quero ir. - murmurei para mim mesmo. - Por mim mesmo, quero ficar.

- Então fique, seu altruísta dos infernos. 

Fique surpreso ao ouvir a voz sonolenta e arrastada de Yuujiro. Ele mexeu-se levemente e percebi que ele não estava de fato acordado. Estava num estado de semi-inconsciência.

- Se precisa de um motivo altruísta para ficar, fique por  mim. - continuou lentamente, como se cada palavra exigisse esforço. De fato, estava com sono. - V... Você prometeu que ficaria ao meu lado sempre, caso... - bocejo - ... Eu me machuque.

Sua cabeça tombou de lado. Cheguei a sentir pena da dor no pescoço que ele sentiria quando acordasse. Agindo por impulso, levantei sorrateiramente e agachei-me ao  seu lado. Passei um braço por trás de seus joelhos e o outro por trás de seu pescoço, erguendo Yuujiro no colo. Era como se ele fosse minha princesa. O deitei com cuidado na minha cama, que era a de baixo. Não tinha forças suficientes para deitar Yuu em sua própria cama, na parte de cima do beliche.

Dormindo daquele jeito frágil, ele parecia mais ainda com uma garota. Sorri comigo mesmo e subi a escada para deitar na cama de cima. Talvez a minha escolha fosse mais difícil do que eu pensei. Havia mais um motivo pelo qual eu não queria voltar para casa. Eu não queria ficar longe de Yuujiro.

Fechei os olhos. Yuu não quer que eu vá. Ele também não quer ficar longe de mim. Sem dúvida, isso tem peso na minha decisão.


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