Mirrors And Shadows - Sequel To Ls escrita por Laradith


Capítulo 7
SETE




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Com a ameaça a vida de Lissa, a vida dos guardiões se resumiu a somente uma tarefa: mantê-la a salvo.

Mesmo com as palavras sutis e perigosas de quem havia mandado o pedaço de papel, Lissa estava cada vez mais empenhada em cancelar o quorum e estabelecer ordem à sociedade Moroi. No dia seguinte, Lissa deu entrada a uma longa papelada requerendo a abolição da lei de idade, e outro arquivo propondo o fim do quorum foi entregue ao Conselho. Pouquíssimas pessoas sabiam, apesar de todas as sessões que estavam tendo no Conselho eram fechadas.

A oposição resolveu se manifestar poucos dias depois que as sessões começaram e assim que descobriram os planos da rainha. Vários protestos se desenrolaram por dias na frente dos prédios administrativos, os Moroi segurando cartazes ofensivos à família Dragomir e a sua política. E embora Lissa não demonstrasse medo, eu fiquei cada vez mais preocupada, porque o espírito estava bem ali, esperando para se manifestar – foi exatamente assim que aconteceu comigo quando eu fugi da prisão.

E quanto a Dimitri e a mim? Nossas rotinas ficaram mais corridas ainda, e eu não saí do lado de Lissa por um segundo.

Mesmo sem o laço, eu ainda era a guardiã mais adequada à proteção da Rainha naquela Corte. É claro, os Guardiões Reais eram aqueles especialmente designados à rainha, mas ninguém me questionava quando eu avisava que ficaria trabalhando por três turnos seguidos. Lissa tinha que praticamente me dispensar toda noite. Eu não era a única superprotetora. Christian ia com ela até nas reuniões do Conselho, e eu o flagrei olhando ao redor atentamente mais de uma vez. Seu treinamento não chegava nem perto do de um dhampir, mas sua magia mataria um Moroi quase tão rapidamente quanto um Strigoi.

Eu tentava tirar essas preocupações da minha cabeça durante os poucos momentos que eu tinha com Dimitri. Às vezes nós simplesmente sentávamos e conversávamos quando tínhamos tempo; ou então, um abraço longo parecia dizer tudo. Era difícil trabalhar tanto e sentir como se nada fosse dado em troca. Lissa estava segura, é claro, mas nenhum progresso estava sendo feito. A papelada demoraria semanas para ser aceita, e mais de dois meses para entrar em ação se for aprovada.

- O que acha do Pólo Norte? Estava pensando em fugirmos para lá por alguns meses. – Eu disse enquanto Dimitri e eu estávamos de folga, sentados em um banco embaixo de um carvalho. Um milagre, porque era extremamente difícil para nossas folgas caírem no mesmo dia. – Com a sua super resistência, talvez seja um ótimo lugar.

Dimitri revirou seus olhos. – Mesmo indo até a Rússia, você ainda acha que sou acostumado a um clima tão frio? – ele perguntou. Sua mão estava ao redor dos meus ombros, minha cabeça encostada nele.

- Ora, vamos. Eu sei que você tem um pinguim em algum lugar por aqui. Só não achei ainda. – Ele riu abertamente com isso, e eu senti o meu próprio sorriso se abrindo. Era mais raro ainda Dimitri rir desse jeito, mesmo depois que a nossa vida “entrou nos eixos”. – Além disso, nenhuma pessoa com um pinguim teria esse tanto de calor corporal. Se é que você me entende.

- O pinguim está bem guardado, Roza. E sim, eu entendi perfeitamente.  – Ele disse olhando nos meus olhos. Meu sorriso se tornou provocador, mas antes que eu pudesse falar alguma coisa que o fizesse me beijar ou dizer algo mais romântico ainda, eu senti meu celular vibrando no meu bolso. Droga. Eu tinha ativado o alarme para o fim da minha folga.

- Bem, eu preciso voltar para o trabalho. Talvez você deva construir uma casa para que compartilhemos o nosso calor corporal, o que acha?

- Eu acho que a sua necessidade por calor corporal pode ser saciada de outras maneiras. E que são bem mais viáveis. – Ele murmurou, sua voz bem baixa no fim da frase. Eu dei outro sorriso a ele e me virei para ir embora – de propósito.

Do jeito que pensei, Dimitri me pegou pela cintura e me puxou, de modo que eu caísse no seu colo. Após um beijo longo e exasperado de despedida, eu estava mais uma vez a caminho da minha melhor amiga.

Entretanto,a mensagem que eu recebi logo em seguida mudou meu destino.

Prédio Administrativo, escritório de Hans, lia a mensagem de texto que minha mãe tinha me mandado. Franzi o rosto. O que tinha acontecido agora para a minha própria mãe ter me enviado uma mensagem? Eu decidi que tinha que ir lá o mais rápido o possível.

No caminho,liguei para um dos guardiões que estaria saindo de seu turno em meia hora para que substituísse o meu. E também passei um pouco do meu gloss – que por incrível que pareça ainda era o mesmo que Dimitri havia me dado de presente cerca de um ano atrás. Mas que também já estava acabando.

Alguns protestantes estavam ao redor do prédio administrativo, e tentei evitar olhar para eles enquanto entrava pelas portas agora familiares. “Fora, dragão!” estava escrito em um dos cartazes, e impulsivamente eu fui até o Moroi louro, arranquei o papel de suas mãos e o rasguei. Várias pessoas pararam para olhar o que diabos eu estava fazendo, mas evitando o olhar de todos, me dirigi ao QG dos guardiões, onde estava o escritório de Hans.

Ele estava sentado na sua escrivaninha, olhando para os monitores de segurança, sem duvida procurando por invasores. Um homem e uma mulher estavam em um canto da sala, tensos. Pelas tatuagens douradas em formato de lírio, reconheci que eram Alquimistas, e eu me perguntei se isso tinha alguma coisa a ver com Sydney.

Sydney Sage foi a alquimista que encontrei na Rússia, enquanto eu estava tentando encontrar Dimitri. Abe a tinha contratado para manter um olho em mim. Eu ainda pensava em que tipo de negócios que os dois estavam metidos por ela ter me ajudado a escapar da prisão mais tarde, porque Sydney não faria isso por livre e espontânea vontade. Mas, mesmo que Sydney detestasse os vampiros por eles serem criaturas malignas da noite, ela e eu meio que acabamos nos tornando amigas. Ela também se deu bem com Dimitri e nos ajudou a encontrar Jill.

Da última vez que a vi, estava presa em um quarto por ter me ajudado a escapar. Eu me preocupava com ela, pois não tinha ideia do que seus superiores faziam a Alquimistas desobedientes. Eu tinha até tentado contatar alguém que soubesse do seu paradeiro, mas nem mesmo o meu pai – o poderoso chefão da máfia, como eu o definia – sabia onde e como ela estava.

Um dos rostos a minha frente, porém, era estranhamente familiar. Ela participou nas interrogações quando eu fugi da cadeia, eu lembrei. Era negra e tinha a mesma idade de Alberta, mais ou menos. Seu olhar inteligente e afiado me disse que ela também se lembrava de mim. Qual era o nome dela mesmo? Stella? Não, era parecido... 

– Estávamos te esperando, Guardiã Hathaway - ela disse.

- Parece estar se tornando um hábito você se atrasar, Hathaway - Hans adicionou, me dando um sorriso frio. Ele não gostava de mim, isso estava bem claro, mas eu esperava mais dele. Me criticar na frente dos Alquimistas era baixo.

- Com certeza. E parece estar se tornando um hábito seu falar por mim. Eu tenho boca, Guardião Croft - disse levemente, e embora o tom sugerisse uma piada, ele sabia que não era.

- Como estava dizendo a Srta. Stanton e Bryan antes da sua chegada, a oposição explodiu nesses últimos dias, embora o motivo ainda esteja pouco claro.

- A Rainha tem iniciado uma papelada contra o quorum e a lei de idade - eu disse - A maioria dos Moroi que estão contra isso provavelmente resolveram se manifestar.

- Talvez. Mas o timing ainda é interessante. – Stanton disse.

- Acho que ‘esperado’ é a palavra mais adequada. – falei – A maior parte desses protestantes é da realeza, o que não é nenhuma surpresa para nós. – eu olhei para Hans – Vocês viram a briga que a rainha separou semana passada. Os Moroi estão com medo de que ela arranque seus guardiões ou que eles se rebelem.

Um dos alquimistas se levantou. Ele nos olhou brevemente antes de falar.  - Há mais. A rainha também é a favor de que seus Moroi lutem com magia. E que também tenham treinamento físico.

Hans sorriu cinicamente e quando eu abri a boca para falar, ele disse. – Isso não é tão grave. Eles não serão obrigados a lutar, apenas se quiserem.

Era verdade. Recentemente muitos Moroi se manifestaram com o desejo de poder lutar – claro que a realeza era a minoria entre eles, mas era pelo menos algo – e só estavam esperando que a rainha desse esta permissão. Tatiana podia ter sido conservadora quanto a essa questão, mas eu mudei de opinião quando descobri que ela treinava com mais um grupo de Moroi da realeza. Tanto que o falecido guardião de Lissa e parceiro de Serena foi o professor.

No entanto, se essa permissão fosse finalmente concedida, muitos Moroi aprenderiam a lutar para sobreviver com a mínima ajuda dos guardiões. E aqueles que não iriam lutar... Click.

- Mas pode se tornar grave – todos os olhos viraram em minha direção.

Hans tinha uma sobrancelha arqueada. – O que pode se tornar grave?

- Vocês não vêem?  Se for permitido o uso de magia ofensiva e os treinamentos, guardiões começaram a pedir suas contas para viverem a própria vida. Não estou reclamando, claro que temos que viver nossa própria vida e arriscarmos ela por alguém que amamos, mas é que isso enfraqueceria a guarda dos Moroi.

- Ela tem um ponto – Stanton disse. Assenti e olhei para todos.

- O fato é: os Moroi que não querem lutar se sentem ameaçados porque vão eventualmente perder parte da sua guarda. É por isso que eles não querem isso. Se permitir o uso de magia ofensiva, muitos sentirão que não haverá mais necessidade de termos guardiões para nenhuma outra obrigação que não seja caçar Strigoi. E se Lissa liberar o uso de magia ofensiva contra Strigoi e aulas de combate...

- Eles tentarão impedi-la. Matarão se for preciso. – completou minha mãe com os olhos duros e meio que brilhando, como se ela estivesse pensando em um plano suicida para matar todos os opositores de Lissa. Não que isso fosse uma má ideia.

Outra alquimista, uma ruiva cheia de sardas que era apenas um pouco mais velha que eu, se mexeu desconfortável com a última frase de Hans.

- Nós precisamos montar outra guarda – seus olhos caíram em mim – E você sabe que seu dever é estar com ela o tempo todo, certo?

Eu bufei – Mas é claro. Eu sempre estive e não vou abandoná-la num momento como esse. Eu sou capaz de matar o primeiro que vier atacá-la, mesmo que seja um Moroi.

Seriamente, eu seria capaz de matar um Moroi como Eddie fez? Afinal, meu trabalho não era acabar com a ameaça? Hans por outro lado, assim como os outros, era contra isso.

- Cuidado com o que fala, Hathaway – avisou ele. – Nem que você fosse a melhor guardiã do mundo, você escaparia das conseqüências de matar um Moroi.

- Ultimamente eles têm provado que podem ser tão perigosos quanto os Strigoi. – Larry, um alquimista já na casa dos quarenta, disse. Seus olhos olhavam Hans e eu com um misto de nojo e desaprovação. Ah, aí sim um exemplo bem típico do desprezo que os alquimistas tinham para monstros desalmados como nós.

Hans começou a contradizê-lo, dizendo que não podíamos matar um da espécie que dedicávamos nossas vidas para protegê-los quando Stanton os interrompeu.

- Nós estamos perdendo o foco – ela disse numa voz séria e pousou sua mão no ombro de Larry, que recuou. – Não foi para isso que viemos.

- Qual o problema dessa vez? – perguntei. Eu acho que Stanton ficou um pouco agradecida por eu começar a colaborar. Ou eu estava imaginando isso.

Ela abriu uma maleta preta e retirou um notebook e o ligou. – Exposição. Uma que se os humanos não achassem engraçado e nós não tivéssemos de olho, vocês estariam em sérios problemas.

Eu arregalei os olhos. – Oh. Por um acaso um viajante perdido descobriu a localização da corte ou alguém que foi mordido decidiu espalhar para o mundo que vampiros existem?

Hans revirou os olhos em resposta e eu engoli o restante do meu sarcasmo. Larry por outro lado, decidiu apenas ignorá-lo.

- Um pouco pior – ele disse me olhando. – Quero dizer, se você considerar o fato de que alguns de seus amiguinhos decidiram discutir política vampira em um local público infestado de humanos.

- Eles expuseram Lissa? – agora sim eu fiquei realmente séria. Expor aos humanos que vampiros existiam é uma coisa ruim. Mas expor que vampiros existiam e que eles tinham uma rainha era uma coisa muito, muito pior. Especialmente quando essa rainha era a minha melhor amiga.

Esse era um dos trabalhos dos alquimistas: manter os humanos ignorantes sobre a nossa existência. Séculos atrás, nós vivíamos em harmonia com os humanos. Mas com a evolução da tecnologia e da mente humana, tivemos que nos esconder. Os Moroi temiam de que se fossem descobertos, os humanos passariam a capturá-los para fazer experimentos científicos dentre outras coisas. Esse também foi um dos motivos para que os Moroi mascarassem suas verdadeiras identidades dos humanos.

Play foi dado e o vídeo começou a rodar. Eu não consegui evitar de por a mão na boca por causa da surpresa que senti. A gravação não era tão boa, muito menos o som. Mas dava para ver duas silhuetas e ouvir o que diziam.

Dois homens Moroi estavam discutindo furiosamente no que parecia ser um bar. Um deles segurava uma taça de vinho enquanto o outro apenas fazia gestos com as mãos, aparentemente irritado.

- A rainha está louca! E você... Mais louco ainda de acreditar nela!

- Não, o louco é você, porque não aceita que idéias revolucionárias possam ser boas para os Moroi!

Ambos estavam tão bêbados que não faziam o menor sentido conforme a gravação prosseguia, mas eu ouvi algumas palavras sobre a rainha e seus guardiões, e a Corte, tudo falado com tanta embriaguez que chegava a ser sem nexo.

E então, um deles riu desdenhosamente, e até de onde eu estava pude ver o brilho das suas presas, seguido por um arfar surpreso do humano com a câmera. – Que diabos? Vampiros? – ele perguntou, surpreso.

A tela congelou enquanto um socava o outro, e Stanton olhou para mim, cheia de determinação. – Isso poderia acarretar sérios problemas para vocês.

- A situação está sob controle? – minha mãe perguntou ao mesmo tempo que eu, com a voz séria.

Ela assentiu e Hans deu um passo a frente. – É o que mais temíamos. Os Moroi estão se envolvendo o suficiente para fazerem coisas estúpidas como essa, e com Vasilisa no poder, é bem capaz de uma guerra civil explodir aqui.

- Oh, não - Larry murmurou, seus olhos brilhando. – Isso não vai acontecer, vampiro. Pode ter certeza.

- A nova equipe para guardar a Rainha tem que ser composta somente de guardiões confiáveis. Não temos tempo para lidar com uma traição ou algo do tipo.

Todos assentiram.

– Você e o Guardião Belikov parecem ser a escolha certa para o trabalho. Eu também estarei nessa. Quem mais poderia fazer parte do grupo? – Janine pensou em voz alta, a pergunta passando pela minha mente ao mesmo tempo. Claro, comigo sendo a Guardiã pessoal de Lissa e Dimitri de Christian, era improvável que houvesse ataques enquanto estivéssemos trabalhando. Mas não éramos sentinelas, e em alguma hora teríamos de descansar. E era aí que o perigo aguardava.

Mas minha mãe deixando seu Moroi para proteger Lissa? Bem, isso era absurdamente errado.

Eu podia admitir que proteger a Rainha era uma causa nobre, mas não quando se tinha seu próprio protegido. Principalmente quando ele era da realeza. Queria responder algo bem ultrajante, mas fiquei quieta. Gritar com a minha mãe numa sala cheia de Alquimistas era humilhar a nós duas.

- Eu vou procurar nos registros os Guardiões mais confiáveis. Sendo mais próxima da Rainha, mandarei os documentos a você. – Hans disse, e senti minhas sobrancelhas se levantando em surpresa. – Então, esse assunto está encerrado por enquanto. Com o perigo da exposição mais sério, trabalharei dobrado para me assegurar de que idiotas como esses – ele apontou para o notebook – não façam outra besteira.

- Nós também - Stanton disse. – Saibam de uma coisa: se a situação dos Moroi ficar grave o suficiente a ponto de colocar em risco a vida dos humanos e a exposição de sua raça, vamos trabalhar dobrado para achar nossas próprias soluções. – Antes que pudesse pular em defesa de Lissa, Stanton balançou a cabeça. – Não estou falando de um golpe. Mas se ela não conseguir colocar as coisas em ordem em alguns meses, não vejo como seu reinado possa melhorar. Trazer desgraça a uma sociedade não faz bem a ninguém, e ela só vai estar enganando a si mesma.

Hans me lançou um olhar que praticamente gritava Não fale nada!. Ah, mas eu queria. Sentia-me como se estivesse lendo a carta de ameaça à Lissa de novo e de novo. Tanta gente contra ela, contra as mudanças que só beneficiariam a vida dessas pessoas. Era um absurdo como a ignorância podia cegar alguns.

Depois de uma despedida tensa e desconfortável, Janine e eu saímos da sala, deixando Hans e os Alquimistas conversando sobre a nova guarda, e assim que saímos da ala onde o escritório de Hans estava, me virei para ela e deixei escapar o que estava segurando. – Que diabos? Como você pode abandonar o seu Moroi desse jeito?

Ela suspirou, pegou meu braço e me conduziu até o lado de fora do prédio. Atrás de uma fonte, havia um pequeno jardim de orquídeas. Fomos até lá, e só aí ela respondeu. – Há coisas mais importantes, Rose. Andrew não está em perigo dentro da Corte.

- Ah, claro, assim como Lissa também não estava. Oh, espere. Ela foi atacada na Corte. – Minha voz estava pesada com sarcasmo.

- Você sabe que não é a mesma coisa. Ela é a última Dragomir – ela parou – legítima, eu digo. E estava indicada ao trono. Andrew é somente um entre muitos de sua família, e não tem nenhuma ligação à política. Então, não, ele não corre perigo aqui. E mesmo assim, arranjei com outro guardião para ele manter vigia sobre Andrew.

Revirei meus olhos. Há muito tempo, minha mãe tinha me dado uma lição de moral por causa de um vestido que estava usando em um jantar. E agora, aqui estava ela de novo, jogando na minha cara que sabia o que estava fazendo.

- Não importa, mãe. Ele é seu Moroi, você deveria protegê-lo. Você, e não outro Guardião.

- Foi Andrew que insistiu nisso, na verdade. Ele concorda com Lissa e as mudanças que ela quer trazer, e queria que ela ficasse o mais segura possível. Vamos, Rose. Não seja ingênua, Lissa precisa do máximo de proteção que puder conseguir – minha mãe disse, mas sua voz não estava mais em tom de discurso.

Suspirei alto. – Eu nunca faria isso com Lissa, não importa quem estivesse em risco. – Eu disse, mas no momento que as palavras saíram da minha boca, sabia que eram mentira. Afinal, eu tinha deixado Lissa para caçar Dimitri, não é? Meu coração estava tão quebrado que não pensei nas conseqüências.

Como se lendo meus pensamentos, Janine respondeu - Oh? Então seu tempinho na Rússia foi com Lissa ao seu lado? Ao menos que eu estivesse cega, ela não foi com você.

- Foi uma emergência.

- Assim como essa é uma emergência. Não discuta comigo, Rose. Morreria para proteger Andrew, Sophie e Lucy. Eles são minha família também, quase tanto quanto você.

Hesitei com suas palavras. Minha mãe tinha me deixado na Academia quando eu era uma criança, praticamente, e só a via de vez em quando. Falar que eu era mais importante em sua vida que Andrew pareceu meio falso, mas não falei nada. A suavidade em seus olhos, tão incomum em Janine Hathaway, me fez engolir quaisquer resposta que eu tivesse.

Por fim, eu disse. - Tudo bem. Mas ainda não concordo muito com isso.

Ela sorriu. – Não preciso que você concorde. Só que confie em mim.

- Você é minha mãe. É claro que confio em você.

Porque embora eu tivesse sido criada pela Academia, ela ainda era meu sangue, quem me trouxe ao mundo. E eu ainda a amava. Sendo guardiã, era capaz de entender um pouco mais dos seus motivos, já que guardar Lissa me enchia de um propósito e determinação que tinha certeza que Janine também tinha.

Ela colocou uma mão no meu ombro, me abraçou muito rapidamente, e com uma desculpa esfarrapada, desceu uma rua em direção aos apartamentos.

Balancei a cabeça. Só conseguia imaginar como o relacionamento dela e de Abe deve ter sido, com o humor irônico de Abe e o temperamento curto de Janine. Vai entender. Pensando em meus pais agora, eu percebi que estava muito mais próxima deles, mais do que achei que estaria. Eram uma constante na minha vida, e isso me deixava mais completa, de algum modo. Dimitri estando lá era o céu para mim, e nunca deixaria de amá-lo, mas havia uma partinha no meu coração dedicada à família. Não Lissa, mas meus pais. E com eles do meu lado, eu sentia essa partinha cheia de contentamento.

Enquanto pensava sobre meus problemas familiares, fui em direção a um dos salões que o palácio tinha para ver como Lissa estava. Tinha acabado de sair de uma reunião com o Conselho sobre a papelada do Quorum e devia estar cansada. Torci para que não fosse interromper alguma sessão de amassos com Christian, mas felizmente ela estava colocando em ordem sua agenda.

Lissa adotou um ar tão sério depois da ameaça à sua vida que quase não a reconheci mais. Ela não era somente Vasilisa Dragomir, uma das últimas da família. Agora minha melhor amiga havia se tornado uma rainha tão responsável e determinada que uma onda de orgulho passou por mim. A oposição teria um trabalho danado se tentasse tirá-la do trono, e comigo e Dimitri lá para se assegurar de que tudo corresse bem, Lissa tinha um futuro brilhante à sua frente.

Seu relacionamento com Christian estava forte, mas combine as tensões familiares dele com os lapsos de espírito e a rotina turbulenta de Lissa, e você têm em mãos um casal absorto em preocupação e pouco tempo. Essa situação era um espelho exato da minha própria vida amorosa, e tentei não pensar muito sobre as dificuldades que enfrentaríamos. Uma coisa de cada vez já era o bastante.

Não conversei muito com Lissa, vendo que estava ocupada, mas dei algumas instruções aos guardiões posicionados do lado de fora do seu quarto.

Estava indo à cafeteria para comer alguma coisa antes de entrar no meu turno – algumas horas sem chocolate eram o bastante para me deixar em abstinência – quando avistei um Christian perturbado, e muito, muito irritado. Mesmo estando a uns cinco metros, eu praticamente pude sentir a raiva saindo de seus músculos em ondas. Se ele fosse até Lissa desse jeito, só iria aumentar sua preocupação.

Coloquei uma mão em seu ombro quando Christian estava prestes a passar direto por mim, sem nem me dar um olhar, e olhos azuis encararam os meus com raiva. – Qual o problema? – ele perguntou.

- O problema é você vagando pela Corte para assustar as pessoas com esse temperamento. O que aconteceu? – perguntei.

- Nada - sua resposta foi curta, e mesmo uma criança de três anos sentiria a mentira.

- Eu vou te dizer onde você enfia esse “nada”, Christian. Me diga qual é o problema. Eu sou sua amiga, sabia? Embora não pareça muito. – Eu disse, essa última parte sendo tão baixo que esperava que ele não tivesse ouvido.

Christian balançou a cabeça. – Você não quer ouvir isso, Rose.

- Se eu não quisesse, não estaria perguntando. Vamos. Pode se abrir comigo. – Eu disse gentilmente.

- É sobre Tasha. – Desde que Tasha foi presa, Christian dificilmente usava “tia Tasha” para mencioná-la. Mágoa e traição eram somente alguns dos sentimentos que Christian havia em seu coração depois do que ela fez – matar Tatiana, me acusar do crime, e alojar uma bala no meu coração.

As palavras de Christian dispararam alarmes na minha cabeça, mas mantive minha expressão sob controle, permitindo que uma sobrancelha se levantasse em curiosidade. – O que ela fez?

- Não foi exatamente ela. A data do julgamento já foi decidida, e Lissa decidiu não me contar. – Ele disse, dor pingando em sua voz. Eu senti meu sangue gelar.

- Quando? – perguntei olhando-o fixamente. – Quando eles decidiram e quando vai ser?

- Decidiram ontem. E vai ser dentro de quatro dias. Eles finalmente decidiram que há provas o suficiente para levá-la a julgamento.

Eu desviei meu olhar do dele, tentando manter o controle para não surtar com essa informação e com o fato de que Lissa, Dimitri e minha mãe estavam escondendo algo grande de mim. Eu suspeitava que eles sabiam dessa informação, só pelo fato deles estarem um pouco desconfortáveis desde ontem a noite.

E agora eu entendia e compartilhava parte da raiva de Christian. Ele provavelmente deve ter ido visitar Tasha e descobriu por ela a data do julgamento. O que eu achava estranho era que tinha acabado de ver Lissa, e ela não parecia perturbada em relação a Tasha. Na verdade, eram poucas as coisas que ela não me contava, mas saber de que ela também manteve isso de mim machucou.

Christian estava olhando para o chão quando suspirei, e ele levantou seu rosto para olhar para mim. – Ela provavelmente está preocupada com você, e queria te contar de uma maneira mais... delicada.

- Delicada? Lissa não está preocupada comigo, e sim com pena. Ela me olha como se eu fosse um filhotinho sem seus pais. Estou cansado disso, Rose. Você sabe como eu posso me virar sozinho, e não preciso de mais uma pessoa me olhando desse jeito. Muito menos ela.

Eu o entendia. De verdade. Já tinha sido alvo desses olhares quando era menor – a pequena dhampir abandonada pela grande Janine Hathaway. E mais tarde também, quando Dimitri foi transformado. Eu explodiria do mesmo jeito se fosse Christian, mas Lissa era uma rainha, e estava com tantos problemas que me surpreendia com sua persistência. E eu sabia que ela era assim por causa de Christian. Ele dava forças a ela, assim como Dimitri dava forças a mim. Se Christian desse as costas para Lissa... Não havia nada que a impedisse de desmoronar.

- Jogar isso na cara dela só vai destruí-la, Christian. Tome um tempo para se acalmar, e depois converse racionalmente com Lissa. Não vá ao quarto dela enquanto estiver de cabeça quente. Você nem sabe por que ela manteve isso em segredo.

Enquanto Christian pensava sobre o que eu tinha dito, dei uma olhada ao nosso redor. Poucos tinham percebido a situação de Christian, mas não queria arriscar mais fofoca na Corte – que o namorado da rainha não tinha controle. Então peguei no seu braço e o levei à cafeteria, a uma mesa tão afastada que ninguém seria capaz de xeretar.

Christian passou a mão pelos cabelos. – Não agüento mais isso. Primeiro minha própria família me trai. De novo. Agora Lissa como rainha e um bando de desgraçados tentando tirá-la do poder, a ponto de mandarem uma carta ameaçando sua vida. E eu achava que depois que o assassinato de Tatiana fosse solucionado, teríamos mais paz. O destino é um filho da mãe.

Bufei. Não podia concordar mais.

- Acredite em mim, eu pensava a mesma coisa. Mas eu protegerei Lissa com a minha vida, e tenho certeza que você fará o mesmo. Agora - eu disse - pare de se culpar. Se estressar não ajuda ninguém. Lissa precisa do seu apoio, não da sua ira.

- Eu sei, mas você não espera que eu fique calado depois de descobrir uma coisa dessas. Ela não tinha o direito de esconder isso de mim. Você também está tão irritada quanto eu, admita.

Suspirei, derrotada. – Sim, eu estou. Mas você não sabe por que ela fez isso. Tente conversar civilizadamente, ok? Não exploda, porque é aí que tudo vai se complicar.

Ele assentiu, pensativo, e por último murmurou:

– Obrigado, Rose.

Levantei uma sobrancelha. – Oh? O grande e ilustre Lord Christian Ozera me agradecendo? Cuidado, Lord, eu acho que seu fogo está se apagando.

Ele revirou os olhos. – Você não tem alguém para matar, Hathaway?

- No momento, não. E você, Vampiro Tocha, não tem que esquentar alguma coisa?

- Sonhe.

Sai da cafeteria balançando a cabeça, mas meu bom humor rapidamente se dissolveu quando o que tinha acabado de aprender finalmente penetrou meus pensamentos. O que me deixou irada não foi o fato de Lissa ter mantido um segredo de Christian e de mim, mas sim de Tasha ter despejado as noticias sobre seu julgamento para deixar Christian perturbado. Porque ela teria percebido no momento que ele entrou na prisão que Lissa não tinha contado nada a ele. E sendo manipuladora do jeito que é, Tasha usou isso para criar discórdia entre nós, e quem sabe adiar seu julgamento.

Foi por isso que ao invés de patrulhar os terrenos do Prédio Administrativo, como fazia nessa hora do dia, me encontrei indo em direção à prisão dos Moroi.

Jamie estava em guarda, e não foi difícil convencê-lo a me deixar entrar. Ele e eu já conversamos algumas vezes, e meu status na Corte era alto o bastante para me garantir acesso a alguns lugares privados. Até mesmo a prisão.

Os corredores frios e não-acolhedores me davam calafrios, mas eu estava determinada a seguir em frente. Mesmo com as memórias da minha prisão, onde eu me sentia sufocada com aquele ambiente tão acinzentado, e daquela primeira conversa com Dimitri voltando, coloquei um pé na frente do outro, observando as luzes pálidas em contraste com o chão.

Alguns Guardiões estavam em guarda, e dei um aceno educado, não parando para conversar. Perto da cela que uma vez já foi minha, havia uma guardiã loura, sem maquiagem e em alerta. Ela ficou mais tensa quando viu alguém se aproximando, mas sua postura relaxou um pouco quando viu a marcação na minha roupa que me tornava uma Guardiã Real.

- Não vou demorar muito - disse a ela.

A Guardiã assentiu, e eu virei minha atenção para Tasha Ozera, que tinha se virado para me olhar.

Spoilers do próximo capítulo:

#1: Foi a vez de Tasha de estreitar os olhos, e eu pude ver a raiva neles. – Você era um obstáculo na minha vida, e eu fiz o necessário para tirá-lo do caminho. Você quer falar de coragem? Aí está ela.

#2: - Você é fraca - Victor disse. – Tão fraca que chega a ser patética.

#3: - Que treinamento? – Dimitri me lançou o mesmo olhar que ele me lançava todas às vezes quando ele queria me dizer que eu deveria apenas me acalmar e esperar pelo momento certo. Eu cruzei os braços, demonstrando irritação. – Certo, eu vejo que não fui informada sobre o que vai acontecer enquanto todos vocês já sabem. Como sempre.


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Notas finais do capítulo

Oi, pessoal, é a Bia ^-^
Queria agradecer todos os comentários, elogios, criticas... isso nos dá um up enooorme pra escrever *o* Obrigada mesmo! AMAMOS a recomendação! Obrigada MESMO, de verdade, dykaline! *o*
O próximo cap. a gente vai postar na semana que vem (ou sexta,dependendo dos reviews), por causa das provas e tal. Estamos ficando sem tempo pra escrever D: E junto com as provas também tá chegando uma feira cultural gigantesca na minha escola, então isso está me deixando muito ocupada D:
Comente, recomende...
Bjoos,
Bia. ^-^