Mirrors And Shadows - Sequel To Ls escrita por Laradith


Capítulo 12
DOZE


Notas iniciais do capítulo

É a partir dele que a fic vai se misturar com Bloodlines,então quem não leu Bloodlines e não quer saber de spoiler,sugiro que pare já neste aviso!



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O enorme salão de festa hoje estava decorado especialmente para um verdadeiro baile de gala. Eu já tinha ido a vários deles, mas nunca na Corte e nunca num salão enorme como aquele. As paredes davam aquele ar de realeza com aquela cor vermelha e com detalhes dourados. Os pilares de mármore branco faziam um belo contraste com o salão e do meu lado esquerdo, havia uma pequena orquestra que tocava uma melodia suave.

Do lugar onde eu estava, bem próximo ao trono onde Lissa conversava com um casal de Moroi, eu tinha uma visão privilegiada do salão.

Alguns casais estavam dançando com a música enquanto outros estavam em grupos conversando. Eu sabia que a realeza estava se sentindo acuada nesta noite por causa da presença de Moroi comuns e – acredite se quiser, de alguns Dhampirs. Eu tecnicamente deveria estar entre eles, mas minha mente gritava que eu deveria manter os dois olhos grudados em Lissa.

E eu estava cumprindo esse serviço ao lado de mais vinte e cinco guardiões, todos da Guarda Real. Claro que havia os outros guardiões – que estavam bem distribuídos no salão – para tomar conta dos outros, caso alguma briga começasse e na pior das hipóteses, houvesse um ataque dos Strigoi. Mas eu também sentia que...

- Relaxe a postura Hathaway, está parecendo um gavião escolhendo sua próxima vítima. – Emma, uma guardiã que era uns cinco anos mais velha que eu, exibia um sorriso amigável.

- Não exagere – eu sorri de volta, descruzando meus braços. – Eu só dando uma rápida olhada para checar a segurança. Nunca se sabe o que esperar desses Moroi.

- Eles até que estão reagindo bem a tudo isso – comentou. – Eu esperava que eles estivessem protestando e gritando de raiva. Mas ao invés disso, eles estão... quietos.

- Ah, mas é claro que eles estão furiosos e agindo. Só que de uma maneira mais educada. Olhe – eu apontei para onde Carrie Ivashkov e duas amigas estavam rindo de duas mulheres Moroi que não eram da realeza. Com certeza estavam zombando de seus vestidos baratos e de suas expressões entusiasmadas por estarem em um local daquele. – Carrie com certeza está adorando humilhar os outros convidados por causa de sua situação financeira e descendência. A corte é cruel e racista com seus próprios súditos.

Ela assentiu. – Mas Vasilisa é diferente. Ela é a voz que precisávamos para restaurar a antiga harmonia que há muito tempo está desaparecida. E seus súditos têm que apoiá-la e fazer a parte deles que não é se deixar intimidar pelos tubarões da realeza.

- Exatamente.

- E apesar de todos os conflitos que andamos tendo, ela consegue avançar. Eu nunca vi uma rainha ser tão idolatrada pelo povo como ela.

Eu olhei para Lissa, que neste momento estava conversando com um casal Moroi que estava aparentemente deslumbrado. Não vou mentir que Lissa estava magnífica usando um vestido verde em estilo medieval – que era uma tradição ao monarca nos bailes reais - com um decote quadrado que exibia um lindo colar de esmeraldas. Seu cabelo estava preso em um coque bem elaborado, e ela usava uma coroa de ouro com as mesmas esmeraldas do colar e brincos que combinavam com a cor de seus olhos. Em resumo, juntando a imagem de uma verdadeira monarca que ela exalava, Lissa estava magnífica.

E eu nem acreditava que até alguns meses atrás nós não passávamos de estudantes adolescentes. Lissa tinha evoluído muito em muito pouco tempo. Ela realmente nascera para ser uma monarca.

- Ela vai ser uma grande rainha – eu disse sorrindo de orgulho.

Alguns minutos se passaram e Emma teve que voltar ao seu posto. Eu decidi que estava na hora de vasculhar a área em busca de algum problema, que com certeza tinha. Os guardiões eram excelentes em farejar encrencas. E depois de uma rápida olhada, eu não resisti em pegar um bolinho que estava gritando para ser comido por Rose Hathaway.

Foi quando eu quase dei um encontrão em Adrian.

Ele tinha acabado de virar com uma taça de vinho, uma que eu quase derrubei. Só que eu tinha me esquivado no último segundo, prevenindo um grande desastre. Um que mancharia seu terno preto que praticamente gritava dinheiro. Ele me lançou um rápido olhar.

- Você não deveria estar guardando a rainha? – seu tom de voz não estava duro, mas eu podia sentir a frieza vindo dele.

- Você sabe que eu estou – respondi calmamente, tentando não me sentir agitada por estar finalmente falando com Adrian. Mesmo que ele estivesse me insultando.

E cara, ele tinha todo o direito de agir comigo dessa maneira.

- Então, – ele apontou sua taça de vinho - pelo jeito que o seu equilíbrio está afetado, diria que andou bebendo, Rose.

Seu tom de voz era leve e um pouco divertido, mas a tensão era palpável. Por isso, só revirei os olhos. - Como se eu desprezasse meus deveres tanto assim.

Adrian me deu um aceno e se virou para o outro lado, mas eu sabia que ele estava me evitando. Desde o fim do julgamento, isso ficou óbvio. Peguei no seu braço e o puxei de volta, só para receber um olhar verde frio. - Quando chegou à Corte? - perguntei, tentando mantê-lo aqui o máximo que pudesse.

- Há alguns dias.

- Tem visto sua mãe?

- Algumas vezes. Se me dá licença, preciso conversar com um amigo meu. - Ele já ia se virando de novo quando a minha voz o fez parar.

- Por que você fez aquilo? Por que me defendeu daquele jeito?

Aquele sorriso simples que era bem típico dele apareceu em seu rosto. Mas eu podia ver que ele não estava nada feliz. Mas sinceramente, eu necessitava saber o porquê dele ter me defendido. Era essencial.

- Adrian...

- Eu fiz isso porque não sou egoísta. – ele disse finalmente. – Não importa o que tenha acontecido entre nós, não importa o quanto a minha raiva por você ter me despedaçado me afete. Eu fiz isso porque era a coisa certa. Você era inocente de um crime que não cometeu e eu apenas comprovei isso.

- Obrigada.

- Hm? – ele tinha uma sobrancelha cuidadosamente arqueada, surpreso.

Eu suspirei. – Obrigada. Por... Por ter me defendido das acusações de Tasha.

Ele apenas ergueu a taça de vinho em resposta. – Bom, agora se você me der licença, eu realmente tenho que ir.

Adrian se afastou e foi em direção a uma Moroi adolescente que eu reconheci ser Jill. Ela abriu um sorriso iluminado quando o viu. Apesar da paixonite que Jill nutria por ele, Adrian sempre a tratou como uma irmã mais nova. Sempre esteve lá para ela, bem mais do que eu. Ele a protegia dos outros Moroi que a atormentavam e a ensinava como deveria agir nesse ninho de víboras.

E diabos, eu tinha certeza que Jill foi a única garota que ele não flertou e não tentou levar para a cama.

Dando uma última olhada neles, vasculhei o restante do salão. Eu tinha que concordar com Emma: a realeza estava quieta demais. Claro que eles estavam usando seus próprios métodos de protesto, mas eu esperava que eles fossem gritar com Lissa ou fazer algum tumulto.

Eu lancei um rápido olhar para Dimitri, que estava um pouco atrás de Christian, encostado na parede. Era a sombra de Christian, só que bem maior. Eu acenei com a cabeça e ele me devolveu com um sorriso que me prometia um milhão de coisas assim como seu olhar penetrante. Dimitri gesticulou para onde Lissa estava com o queixo e eu me lembrei da minha obrigação maior.

Assentindo – a mensagem entendida – estava andando em direção à minha melhor amiga – agora a Rainha de milhares de Moroi e Dhampirs – quando avistei uma figura perto do bar, parecendo pensativa e meio solitária.

Mia não se destacava tanto assim, com seu vestido rosa bebê e cabelo cuidadosamente arrumado. Há alguns anos, eu diria que ela era a vadia do lugar, mas vendo-a desviando dos nobres mais preconceituosos e procurando ficar mais perto dos amigos me fazia vê-la diferente.

- Aproveitando a festa? – perguntei e ela pulou, levando uma mão ao pescoço. Eu sorri, e ela fez o mesmo.

- Sim, bem... festas de realeza são uma droga quando não se é tão rica assim - ela murmurou, piscando para mim, e eu balancei minha cabeça, olhando para o vestido dela que, embora não fosse um dos mais sofisticados do salão, era seda e muito fino.

- Você está fazendo um ótimo trabalho em se misturar.

- Bom saber. Da próxima vez, vou tentar seduzir um nobre. Quem sabe isso não aumenta minha popularidade.

Ambas rimos, embora o momento leve estivesse rapidamente se dissolvendo frente à tantos problemas. – Qualquer coisa que precisar, estou à disposição - disse.

Mia ergueu uma sobrancelha, seu rosto delicado brilhando nas luzes do salão. – Para que você possa quebrar a cara de alguns Strigoi? Ou de algum Moroi nobre?

- Se eu te dissesse que não sei qual seria mais satisfatório, o que você me diria?

Ela sorriu e pediu um Martini ao barman. – Que você é Rose Hathaway - ela respondeu.

Eu balancei minha cabeça pela segunda vez. Bom saber que meu nome ainda é um mantra por aqui, pensei enquanto me despedia de Mia.

Ao me aproximar de Lissa, desejei que o laço ainda existisse. Não ser capaz de captar nenhuma emoção dela era conveniente quando sua vida sexual estava no auge, mas em momentos como esse, eu queria saber como minha melhor amiga se sentia, e dizer exatamente a melhor coisa para ajudá-la. Lissa estava deslumbrante, como em todas as ocasiões, e mesmo a oposição tendo aumentado, era óbvio os olhares adoradores de vários Moroi e Dhampirs, tanto comuns quanto nobres.

Parte influência do Espírito, parte carisma próprio, eu mesma me sentia atraída à ela, ao seu governo. E toda vez que percebia isso, meu medo pelos efeitos do elemento que Lissa controlava aumentava. Mas por hoje, eu tentei tirar isso da minha mente.

- Você não está cansada de ficar sentada aí acenando e sorrindo?

– Um pouco. Mas como diz a etiqueta, só poderei me levantar daqui a meia hora.

- Se eu fosse você, mandaria essa coisa de etiqueta pro inferno e iria comer. Porque a comida está maravilhosamente boa de um jeito que eu não esperava.

Ela gargalhou alto, e algumas pessoas se viraram para nos observar. Lissa limpou a garganta e sufocou o restante do riso. Seus olhos verde jade se encontraram com os meus.

- Você é a pessoa mais sem noção que eu já conheci em toda a minha vida!

- Sem noção, não. Estou apenas dizendo a verdade. E tentando fazê-la enxergar que essa coisa de seguir protocolos de etiqueta é para os fracos. Você é você e ninguém manda na sua vida.

- Mas se eu não seguir regras, que moral terei para exigi-las dos outros?

Para isso, eu não tinha resposta. Eu ia falar alguma coisa rápida para amenizar o clima quando uma idosa Moroi usando mais diamantes que uma mina se aproximou de Lissa, se ajoelhou em respeito, e passou a falar sobre como o governo da nova monarca a agradava, e quais leis seriam mais adequadas a realeza.

Os modos da idosa eram impecáveis, e toda sentença terminava com “Vossa Majestade”. Depois de cinco minutos ela se despediu, fazendo outra reverência, e se retirou para conversar com um dos filhos.

- Talvez você tenha razão - eu murmurei, voltando ao assunto que estávamos conversando – Quebrar regras não te dá o direito de mandar nos outros, mas se você não aproveitar seu tempo como Rainha, tanto para o povo quanto para si mesma, serão anos muito difíceis, Liss.

Ela me deu um sorriso triste, e seu rosto envelheceu uns 10 anos só naquele momento. – Eu estou nesse cargo para o povo, Rose, não para mim mesma.

E de novo, eu não sabia o que dizer.

Nós ficamos conversando assim durante um tempo. De vez em quando algumas pessoas iam até ela para conversar, especialmente sobre o assunto mais quente, que era sobre a mudança das leis. Quando a conversa ficava cada vez mais séria ou partindo para a direção ofensiva, eu e os outros guardiões interferíamos. E eu tinha que me segurar para não socar cada um.

Lissa estava prestes a se levantar para sair do salão quando viu um grupo de mais ou menos oito pessoas caminhando em sua direção, todos Moroi. Oh, aí está a prova de que eles não iam deixar isso barato, eu pensei enquanto notava a expressão séria da maioria deles.

Mas na mesma hora, eu fiquei em posição de alerta caso eles representassem alguma ameaça, assim como a guarda, que antes estava dispersa pelo salão, praticamente havia rodeado Lissa. Então sim, eles meio que estavam demonstrando uma ameaça para a rainha. Até mesmo Dimitri tinha se juntado a nós, com Christian ao seu lado.

Eu ia abrir a boca para dizer a Lissa que ela não deveria ligar para o que aqueles caras iriam dizer a ela, mas a expressão que tomou seu rosto fez a adrenalina no meu sangue me deixar rígida, mas ainda sim assustada.

Apenas uma arfada e um sussurro dela que confirmou o que estava prestes a acontecer: - Não!

Segundos depois, ouvi um som de tiro. E então o caos tomou conta de tudo.

Não sei exatamente como descrever o que se seguiu. A única coisa que sei foi que me joguei em cima de Lissa para defendê-la enquanto os gritos aterrorizados dos convidados enchiam o salão. Outro tiro foi dado e eu vislumbrei um corpo caindo no chão.

- Saia daqui! – ordenei a Lissa, que apenas cobria a boca com as mãos e apontou para um lugar perto da mesa onde estavam os doces. Eu arregalei os olhos, tanto surpresa quanto apavorada.

Mas o que me assustou de verdade foi o primeiro corpo, um que estava com uma enorme possa de sangue ao redor e com Adrian ajoelhado, chacoalhando-o desesperado enquanto dois guardiões corriam para seu lado. E o que me impediu de gritar foram os guardiões da rainha que de repente nos cercaram.

Porque eu conhecia aquele corpo. Era de Jill.

- Me deixem sair daqui! Eu preciso ver Jill! – eu gritava tentando me livrar dos guardiões, mas eles não queriam me largar.

Eu estava cega de fúria e desespero, com um único objetivo em mente: ir até Jill. Eu precisava protegê-la. Ver se ela estava bem, porque era culpa minha.

Eu deveria ter mantido um olho em Jill! Mas nunca eu imaginara que eles iriam atacá-la! O alvo era para ser Lissa! A única forma de... Oh não! Não! Não! Não!

- Não, me larguem! – eu nocauteei o primeiro guardião que tentou me parar e corri de volta para as portas quando um enorme peso me atirou no chão, impedindo a minha fuga.

- Hathaway, você precisa guardar a rainha! – Hans gritou prendendo meus braços as costas, mas eu não ouvia.

A única coisa que passava pela minha cabeça era que Jill fora baleada, estava sangrando até a morte. Isso é, se ela não tinha sido morta por aquela bala. E a culpa era minha.

Agora a carta que Lissa recebeu fazia total sentido para mim: Jill era a base da pirâmide. Se ela fosse morta, o governo de Lissa já era. E como ela seria um caminho mais fácil porque a guarda estaria apenas em cima de Lissa, ela se tornou o alvo perfeito. Merda!

- Vocês não entendem! – eu chorei puxando meu braço com mais força. – Eu preciso voltar! Jill está ferida e a culpa é minha! Eu deveria estar protegendo ela!

- Não foi sua culpa. – Dimitri disse se agachando e me olhou. – Ninguém sabia que eles iriam atacá-la. O alvo parecia ser Lissa –

- Eu não quero saber quem era pra ser o alvo! – gritei tentando dar um chute em Hans, o que foi em vão. – Preciso ver Jill! Eu preciso, vocês não tem ideia... – minha visão de repente se tornou desfocada por causa das lágrimas de desespero. Eu engoli em seco. – Vocês não entendem que eu jurei protegê-la como a minha vida! Eu tenho que vê-la!

- Você jurou sua vida para proteger a rainha, não a de Jillian - Hans falou.

- Você não sabe de nada – rosnei conseguindo acertar uma cotovelada em seu queixo. – além de só saber ficar sentado naquela sua maldita sala fumando!

- Chega! – exclamou Dimitri, agora irritado. Seus olhos pareciam capazes de incinerar alguém.

- Não! – disparei de volta, e continuei a fuzilar Hans com meu olhar. – Você não tem o direito de me dar ordens! Não sobre isso! A vida de Jill está em jogo, e se eu não for lá agora-

- O que? Ela vai morrer? Isso pode acontecer, Hathaway, independente da sua presença. – Sua voz era um grunhido, soando cansada de me segurar, já que eu continuava lutando.

Dimitri deve ter sentido que eu não ia recuar, e lançou a Hans um olhar cheio de aviso. – Se afaste, Hans. Segurá-la não vai melhorar a situação.

Hans somente olhou para Dimitri uma vez, seu rosto contorcido em uma expressão que eu não conseguia identificar. Ao nosso redor, a maioria das pessoas tinha fugido, e as que ainda estavam no salão tentavam ajudar Jill, de alguma forma. Ele também percebeu isso, e quando afrouxou seu aperto em mim, levantei minha perna direita para trás, perfeitamente reta, tentando acertar Hans. Ele percebeu e deu um pulo para evitar o meu chute.

- Você enlouqueceu? – ele murmurou, percebendo que eu estava prestes a atingir seus filhos em cheio.

Mas minha racionalidade estava escapando. Ver Jill sendo baleada, Lissa atacada, enquanto eu não podia fazer nada para impedir – e ter que aturar Hans bancando o chefe e me dando ordens quando claramente eu me considerava culpada – estava além do meu nível de calma.

- Como disse, você não tem o direito de me dar ordens nesse assunto, - eu murmurei, e os olhos de Hans se arregalaram.

- Você ousa me questionar? Talvez eu deva te lembrar de que você esteve aqui por menos de um ano? – Ele disse, e eu sabia que já tínhamos passado do limite.

- E talvez eu deva te lembrar de tudo que fiz para manter Lissa e Jill seguras. E o que eu ainda farei. – A ultima frase foi murmurada, como um aviso.

- Ninguém duvida da sua capacidade, Rose, - Dimitri murmurou, - muito menos Hans. Vocês dois estão agindo como imaturos. Hans, pare com isso agora.

- Estou cansado de você, Hathaway. Recue, agora. Eu estou no comando aqui. – Hans escolheu ignorar Dimitri, mas o favor não foi retribuído.

Eu vi o jeito que Dimitri deu um passo a frente, como se para me proteger, e eu estava grata. Ao mesmo tempo, sabia que essa era uma batalha minha, e Dimitri não conseguiria me proteger disso. Mesmo assim, seus olhos estavam cheios de raiva, e por um momento, ele me lembrou de quando era Strigoi. Ele também me protegia com esse olhar raivoso.  – Estando no comando ou não, nem você nem ninguém tem o direito de ameaçar Rose desse jeito. Ambos sabemos como ela está por causa desse ataque, e você só está piorando.

- Pela lei, eu tenho sim o direito de punir qualquer guardião que eu achar necessário.

Já tinha ouvido coisas demais de Hans, e foi naquele momento, com o medo pela vida de Jill e todos os acontecimentos recentes nos meus ombros, que eu dei um passo para frente e disse perigosamente - Você nunca esteve no comando, Hans. E nunca vai estar.

Seus olhos se arregalaram, e como eu, ele estava longe de qualquer traço sano. Eu observei o momento em que suas feições ficaram contorcidas por raiva, vi sua mão disparando na minha direção. Rapidamente, desviei, e mirei um chute nas suas costelas.

Hans deu um pulo para trás, e antes que eu pudesse voltar com os dois pés no chão, me deu uma rasteira, que me deixou esparramada no solo luxuoso do salão. Sentindo humilhação mesmo através da raiva, fiquei de joelhos e ia me levantar para desferir outro golpe quando Hans aparentemente decidiu que eu tinha passado tempo demais atrapalhando sua vida.

Eu só tive tempo de ver um flash de seu punho vindo em direção à minha têmpora antes dele fazer contato com a minha cabeça.

E então, só havia escuridão.

***

Eu acordei com uma puta dor de cabeça no meu quarto.

Para falar a verdade, a minha bochecha esquerda era quem estava doendo. E muito. Passei meus dedos e senti que meu olho estava levemente inchado. Convoquei minhas memórias para tentar me lembrar o que tinha acontecido para eu parar aqui.

E quando tudo voltou a tona, o barulho de tiros, o sangue escuro manchando o chão e o grito desesperado das pessoas, eu pulei alto da cama.

- Jill! Ah meu deus! – chutei as cobertas e corri para a porta. Entretanto, fui impedida de sair por um aperto de ferro no meu braço. Era Dimitri.

- Nem pense em sair daqui – avisou ele.

- Jill está em perigo! – chorei tentando puxar meu braço. A expressão de Dimitri nem sequer mudou. Ele continuava calmo, como se nada de extraordinário tivesse acontecido. Isso me desesperou.

- Você me ouviu? Jill foi baleada e –

- Ela está na enfermaria e já recebeu alta. – informou ele, me puxando para longe da porta. Eu o deixei me fazer sentar na cama, porque aquela notícia me aliviou. Jill não estava morta, mas ferida.

- O quanto ela se machucou?

Dimitri hesitou antes de responder.

- Eu não sei exatamente sobre os ferimentos, mas ela foi baleada no estômago. Os médicos disseram que esperavam algo pior pelo tipo da bala e o ângulo que ela foi disparada.

Uma bala. Eu enterrei meu rosto em minhas mãos.

Dimitri me tocou gentilmente em um dos ombros – Não foi sua culpa, Rose. Ninguém sabia que ela era o alvo, até porque eles estavam indo em direção a Lissa. Ninguém imaginava que o alvo deles na verdade era Jill.

- A culpa foi minha – eu disse, esperando que uma cratera se abrisse no chão e me sugasse para o inferno. Porque eu merecia. – Se eu tivesse preparado uma escolta para Jill ou ter dito a Lissa para mandá-la de volta para Detroit ou St. Vladmir, nada disso teria acontecido.

A conversa que tivemos com Emily em Detroit de repente voltou com tudo. Eu ainda podia sentir aquele desespero vindo dela, o medo por sua filha assim que ela fosse revelada a todos como filha ilegítima de Eric Dragomir. 

“É exatamente por isso que Jill não pode ir. É a razão pela qual eu não deixei Eric reconhecê-la. Não quero Jill envolvida. Esse lugar é venenoso e o assassinato de Tatiana é a prova. Todos esses nobres... eles são viciosos. Eles não querem Jill se tornando um deles. Eu não vou deixar ela se tornar um deles” ela tinha dito. “Eu tenho certeza que há nobres felizes em vê-la silenciosa – nobres que não querem ver a família Dragomir se reerguer. Eu contei a você: Eric era um homem bom. Ás vezes, eu acho que não foi coincidência a família toda ter morrido.

E finalmente, eu consegui entender o porquê de atacarem Jill. Tudo fazia sentido agora.

“E o que vocês acham que eles iriam fazer se outro Dragomir surgisse? As pessoas que se opõe a Vasilisa? O que vocês acham que eles fariam se uma única pessoa ficasse entre eles e o poder da família dela?”

- Eles tinham que matar Jill para derrubar Lissa do poder – murmurei e outra lembrança, uma que eu tinha simplesmente esquecido por achar que estava tudo seguro. Eu olhei para Dimitri. – Dimitri, aquela carta! Como eu pude ignorar o aviso que estava lá? Como eu pude ter sido tão estúpida?

- Você não foi estúpida - Dimitri disse, olhando bem nos meus olhos. Ele pegou minha mão e a colocou contra seu peito, e o batimento rítmico de seu coração devia ter ajudado a me acalmar. Não deu muito certo. – Não tinha como saber que Lissa não era o alvo. E nenhum de nós levou muito a sério o aviso sobre Jill.

- Mesmo assim. A carta ameaçando a vida de Jill deveria ter sido indicação o bastante, não acha? – Eu pude sentir minha voz ficando mais grossa por causa das lágrimas que ameaçavam cair. – Eu falhei. O meu trabalho é proteger a família Dragomir com a minha vida, e eu falhei.

Dimitri respirou fundo, e me levou até a cama, mesmo meu corpo oferecendo resistência. Ele me empurrou até que fiquei sentada, totalmente frustrada. – Você não falhou - ele disse quietamente.

- Claro, e Jill levou um tiro por causa do meu sucesso. Não é a toa que Hans tentou me punir daquele jeito. – o sarcasmo era evidente em minha voz.

Eu percebi o exato momento em que os ombros de Dimitri ficaram tensos, e seus olhos brilharam com algo que não pude identificar. – Você é uma das melhores Guardiãs daqui - ele disse. – E Hans não tinha o direito de encostar em você.

Memórias vieram à minha mente. Dimitri ameaçando Hans e me defendendo, mesmo ele sendo seu superior. A tensão protetora de seu corpo, como se estivesse preparado para a luta. Suspirei, dividida entre gratidão e raiva. – Ele estava certo. Eu devia ter me certificado de que Jill também fosse protegida. Além do mais, não importa. Não é como se eu pudesse socar Hans agora. Perdi minha chance.

Dimitri ficou silencioso, e eu olhei seu rosto. Seus olhos pareciam quase desconfortáveis. E pelo jeito que olhava para todos os lugares exceto eu, fiquei curiosa com o que tinha acontecido depois que foi nocauteada.

- Mas você não perdeu sua chance, camarada? – perguntei, tentando fazer uma piada para aliviar o clima, mesmo meu coração ainda nadando em culpa por causa de Jill.

Silêncio.

Pedaços começaram a se encaixar, como um quebra-cabeças. Olhei para Dimitri, boquiaberta, compreendendo sua hesitação. – Espera ai - eu disse, balançando a cabeça. – Você não perdeu mesmo sua chance? – Dimitri só suspirou. – Que diabos-

- Foi impulsivo, Rose. – Ele disse. – Assim como vocês, eu não estava pensando muito naquela hora. Ver Jill ser baleada e depois Hans agindo daquele jeito com você... Bem, me deixou no limite.

Fiquei quieta por alguns segundos. – Você socou Hans, de verdade?

Dessa vez, ele não hesitou. – É claro. Ninguém, sendo superior ou não, tem o direito de encostar em você.

Sua voz era tão firme, seus olhos tão suaves, que eu quis beijá-lo ali mesmo. Era assim, em momentos como esse, que eu tinha certeza de que ele me amava. E eu me apaixonava por Dimitri novamente toda vez. – Não vale a pena queimar o filme com todos os Guardiões da Corte por causa disso. Você não devia ter feito isso, Dimitri. Embora eu quisesse acabar com Hans há muito tempo, não vale à pena.

Ele colocou uma mão no meu rosto, e empurrou uma mecha do meu cabelo que tinha caído em meus olhos. – Vale à pena se for por você.

Meus olhos deviam ter dito o que eu sentia por aquelas palavras, e antes que pudesse entender o que estava realmente acontecendo, eu estava beijando Dimitri e ele estava me beijando, e no momento, era só isso que importava.

Ele me puxou contra o seu corpo, do jeito que eu amava, e eu coloquei uma mão em seu ombro, sentindo a força de seus músculos, enquanto ele me deitava na cama. Quando aprofundei o beijo, porém, senti ele se retrair, como se com dor. Recuei, e vi que seu lábio inferior estava cortado.

- Você não me disse o que aconteceu depois que socou Hans - eu murmurei, odiando Hans mais ainda por ter machucado Dimitri. Minha voz estava rouca pelo o que tinha acabado de acontecer, mas a curiosidade estava ali.

Dimitri arqueou uma sobrancelha, uma expressão levemente divertida em seu rosto. – Depois que eu soquei Hans, ele me bateu de volta, e me conduziu a esse quarto. Eles te trouxeram pouco tempo depois, já que uma enfermeira da Corte foi te examinar antes.

Eu estava fora da cama antes de pensar duas vezes, e meu corpo ficou frio com a falta do toque de Dimitri. – Então o que estamos fazendo aqui? Preciso ver Jill!

Ele me olhou com uma expressão curiosa e cautelosa no rosto. – Rose, estamos em prisão domiciliar. Até segundas ordens, não temos permissão para sair desse quarto.

Como ele se atrevia? Hans podia me nocautear, e dar um soco em Dimitri, mas me manter longe de Jill depois de tudo isso? Depois de um ataque desse na Corte, a multidão estaria em caos, e eles precisavam da maior ajuda possível. Mas ainda assim, aqui estava Hans, nos mantendo presos como crianças quando o problema era muito mais sério.

- Pro inferno com isso - eu murmurei, e fui até a porta. Um chute, dois chutes, e ela continuava trancada e sem se mexer. Mesmo estando num lugar milenar, a madeira das portas era totalmente resistente.

Droga, pensei.

- As coisas podiam ser piores - Dimitri murmurou.

Podiam? Jill tinha sido baleada, minha melhor amiga estava em perigo, e Dimitri estava em sérios problemas com os Guardiões da Corte. Além disso, eu falhei na minha única tarefa – proteger Lissa e Jill com a minha vida. E mesmo com respostas sarcásticas e treinamento extensivo, não fui capaz de cobrir toda a área do salão.

Talvez eu devesse me sentir um lixo. Mas ao olhar para os olhos de Dimitri, eu sabia que encontraria ali toda a força que precisava para seguir em frente e consertar meus erros. Porque era sempre assim conosco. Não hesitávamos quando o assunto é o bem estar do outro. E do mesmo jeito que Dimitri tinha me defendido e estava me dando apoio nesse exato momento, eu faria a mesma coisa.

Portanto, respirei fundo, e ao entrar mais uma vez nos braços dele, um único pensamento passou pela minha cabeça. As coisas podiam mesmo estar piores.

Um barulho de chave me fez sair dos braços de Dimitri e entrar em modo de ataque assim como ele, especialmente quando dois guardiões entraram no quarto. Eu não lembrava o nome deles naquele momento, mas eles faziam parte da segurança dos prédios administrativos.

- Guardiã Hathaway, você precisa vir conosco. A rainha exige sua presença neste exato momento.

- Já estava na hora – murmurei indo até eles. – Guardião Belikov pode vir comigo?

- Ninguém disse nada sobre ele acompanhá-la – o outro disse secamente.

Suspirei e lancei um último olhar a Dimitri, que me encorajava, antes de ir com eles. Eu não queria que eles o deixassem trancado lá sendo que ele poderia estar trabalhando em algum lugar para ajudar na proteção.

Eu fiquei surpresa e excitada ao descobrir para onde eles estavam me levando. A enfermaria era o último lugar que eu esperaria ir nesta noite.

Lissa estava em uma sala adjacente, observando um vaso de lírios que tinha perto da janela. Ela se virou quando eu cheguei.

- Eu não sei como te contar isso. – sua expressão era um misto de agitação, preocupação e surpresa. Mesmo não tendo mais o laço, eu sabia que era algo grande.

- Jill está bem? – eu olhei pelo vidro e vi Jill lá, deitada em uma cama de hospital dormindo profundamente por conta dos anestésicos. Meu coração se apertou mais ainda ao lembrar que a culpa era totalmente minha.

Lissa suspirou e se moveu para ficar ao meu lado. – Graças a deus, sim. Se Adrian e Eddie não estivessem lá para socorrê-la, ela não teria sobrevivido.

- Ele a curou? – eu me sentia grata por Adrian ter curado Jill.

- Ele fez mais do que isso – o exaspero na voz dela me fez virar bruscamente para olhá-la. Aqueles olhos verdes escondiam um segredo poderoso. Um que começou a me fazer queimar de curiosidade.

- O que você quer dizer? – perguntei confusa.

Lissa sorriu, mas não de um modo muito feliz. – Adrian a trouxe de volta. Jill é sua shadow-kissed.

Spoiler do capítulo 13

#1 - Como ela está?

- Encrencada – murmurei e ele me fitou com um ar de interrogação.


#2 Ela fez uma careta. – Eu me lembro da sensação de estar flutuando e depois eu senti um formigamento e um puxão. Era como se eu estivesse fora do meu corpo e depois sendo puxada de volta. – seus olhos piscaram e eu pude ver pequenas lágrimas descendo – eu... eu não quero soar louca nem nada, mas é que eu simplesmente senti isso. E agora, eu não sei. Minhas emoções estão confusas, como se elas estivessem misturadas com as de mais alguém.

#3  Esse preconceito com Eddie já estava me deixando no limite há um tempo, mas só hoje deixei minha irritação transparecer. – Tudo bem, - eu disse - então eu vou. 


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Notas finais do capítulo

aqui é a Feeh. espero que tenham gostado do capítulo!
só estou dando uma postada rápida porque vou ter que voltar a me enfiar nos livros de física e química de novo D:
estou super feliz por vocês terem gostado do capítulo anterior,especialmente por causa das cenas romitri haha prometo que as próximas serão melhores!
beijos