Do Fundo da Alma escrita por Hogsmeade


Capítulo 1
Robbie


Notas iniciais do capítulo

Este primeiro capítulo está bem grande, mas eu precisava apresentar as personagens que serão importantes no decorrer da história. Os outros eu prometo que serão menores!

Espero que gostem! Boa leitura!



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PRÓLOGO

Os olhos perturbadores encararam os meus de uma forma tão intensa que parecia que podiam enxergar minha alma. Uma brisa doce bateu em nossos rostos e esvoaçou meus cabelos. Ele sorriu e deu um passo a frente, ficando perto o bastante de mim para que pudesse ouvir sua respiração.

- Eu te amo, Robbie.

Quando nossos lábios se encontraram, o mundo a nossa volta pareceu não existir,  era como se o tempo tivesse congelado. Eram só ele e eu. A vida nunca pareceu tão bela. Os problemas pareciam não existir mais. Me puxou para mais perto de si, nunca me sentira assim, a vida parecia completa em seus braços.

1

ROBBIE

Setembro chegou rápido e fresco naquele ano. Londres, como sempre, estava adorável e apesar da temperatura instável durante o dia, o céu era limpo e lindamente azul. Aquele dia primeiro pareceu ser perfeito para viajar, porque a estação King Kross era lotada e barulhenta.

Do outro lado da rua, o destaque foi para uma garota de estatura média e corpo esbelto, de cabelos cor de amêndoa cortados repicadamente, que radiante, atravessou o cruzamento ligeiramente a frente de um grupo, aparentemente sua família. Ela parou na entrada da estação e com seus olhos cor de âmbar, observou o espaço ao seus redor, estudando desde o céu até os viajantes que passavam por ela. Reconheceu um ou dois que entraram dentro e a estes saudou com um educado “Olá”. Estudou o interior do lugar, procurando enxergar algum trem, mas o máximo que conseguiu foi ouvir um apito agudo, não se preocupou, seu Expresso só partiria dali a quarenta minutos.

Olhou para o outro lado da rua, onde seus pais e seu irmão esperavam uma brecha para atravessar. A garota suspirou e apoiou-se na coluna de mármore atrás de si, queria chegar logo a sua plataforma. Colocou os cabelos longos para trás dos ombros e avistou a poucos metros de onde estava, uma garotinha vestindo uma estranha capa negra, que empurrava com dificuldades um carrinho com uma grande maleta e uma gaiola com uma coruja belíssima. Soube instantaneamente que era uma bruxa e isso a fez lembrar-se de sua primeira viagem a Hogwarts.

- Tem certeza que não vou colidir com a coluna? – perguntou Robbie insegura, com os olhos fixos no lugar entre as plataformas nove e dez.

Sua velha bisavó Molly colocou uma mão branca e tortuosa no ombro da menina.

- Ora, é claro que não. – Robbie tirou os olhos castanhos da coluna e voltou-os para a bisa. – Onde está a garota corajosa que eu conheço?

Robbie sorriu e respirou fundo. Segurou  firme seu carrinho e correu o mais rápido que conseguiu em direção a coluna. No último momento fechou os olhos, apesar de que não precisou, já estava do outro lado da passagem. Olhou admirada para a plataforma 9¹/², onde um trem vermelho soltava muita fumaça, preparando-se para partir dali a alguns minutos.

Sua bisa Molly a alcançou com dificuldade, não conseguia mais andar como antes, agora contava com a ajuda de uma bengala. Robbie deu um braço de apoio a ela e as duas foram caminhando devagar em direção á um pequeno grupo.

Uma moça de cabelos ruivos cacheados dava as últimas orientações a um garotinho pouco mais alto que Robbie, de cabelos tão louros que chegavam a brilhar no contato com o sol. O homem alto, muito semelhante ao garotinho, só que mais velho, tinha os braços em volta de duas meninas, uma usava vestes azuis da Covinal e a outra, vestes douradas e vermelhas da Grifinória. Ainda havia mais uma garota, esta mais velha que as outras, também era a mais bonita. Os cabelos encaracolados desciam graciosamente por suas costas, e não havia alguém não olhasse para eles, eram ruivos, e a garota era a mais parecida com a mãe.

A moça de belos cabelos encaracolados, sua mãe, levantou -quando seus olhos encontraram os de Robbie.

- Querida! Venha, meu bem – chamou sorrindo, com carinho. – Não queremos nos atrasar.

Rose Malfoy beijou o garoto loiro no rosto e juntou-se à filha caçula, aninhando sua mão com a dela, enquanto arrumava o casaco azul da pequena.

- Está quentinha? – perguntou.

Robbie afirmou com a cabeça e seus olhos seguiram preocupados para o trem.

- Vai escrever para mim, certo?

A mãe sorriu e em seguida puxou-a garotinha para perto de si.

- É claro que vou, meu anjo. Não se preocupe, seus irmãos também estarão com você.

A pequena virou-se para a bisa.

- E você?

Molly olhou com amargura para Robbie. Não sabia por quanto tempo mais estaria com ela para oferecer-lhe carinho e amor. A velha mulher abaixou-se com muita dificuldade. Não era mais a Molly de antigamente. Os cabelos, antes ruivos, agora eram totalmente grisalhos e ralos, as mãos já não eram mais tão precisas e por isso tinham enorme dificuldade de realizar feitiços. Ela olhou nos olhos da bisneta e passou a mão pelos seus cabelos, naquela época, um pouco mais claros do que eram hoje.

- Prometo estar sempre com você, minha querida Robbie.

A menina sorriu e abraçou forte. Despediu-se do pai, e de mãos dadas com a irmã mais velha Jane, seguiu para o trem. Antes de entrar, olhou uma última vez para trás, onde Molly lhe dava um aceno. Gravou o momento na mente, por algum motivo achou que um dia precisaria recordar-se dele.

E realmente precisou, pois a bisa já não estava mais com ela. Partira para sempre dois anos depois, quebrando a promessa feita à Robbie. A garota, agora com 16 anos, ainda não conseguia aceitar o fato de que nunca mais veria a bisavó.

Já haviam se passado três anos desde seu falecimento, mas  sua partida tinha sido totalmente inesperada para a garota. Sentia que ainda havia tanta coisa que Molly não lhe dissera ou que não a havia ensinado, aquela não pareceu ser verdadeiramente a hora certa para morrer. Porém, aconteceu. E uma das únicas coisas que Robbie lembrava-se quando pensava na bisa, fora justamente a sua primeira ida para Hogwarts. Ainda conseguia visualizar a mão estendida de Molly e um sorriso formando-se em seus lábios. Nada mais disso existia, e por mais que não quisesse admitir, Molly havia levado uma parte do coração de Robbie consigo, e a garota pareceu sem vida por um bom tempo depois disso. Foi como se alguém lhe tivesse dado um empurrão para que crescesse, e assim foi. Robbie deixou de ser a criança tão alegre de sempre para ser uma menina durona, tímida e calada. Embora que nunca deixava a meiguice de lado, e um sorriso ainda se escondia em seus lábios. Mas prometeu que apagaria a bisavó de sua vida para sempre.

Segurou uma lágrima, não gostava de chorar, não na frente dos outros. Sua mãe, pai e irmão já se aproximavam, a última coisa que queria era que Eddie, um ano mais velho que ela, zombasse de sua cara.

- Tudo bem, mana? – perguntou, com os lábios erguidos num sorriso irônico, o que sempre fazia.

Robbie tinha de admitir: Eddie era um garoto muito bonito. Os cabelos loiros eram irregulares, de modo que os fios podiam estar bagunçados, mas sempre tinham uma aparência bonita aos olhos de alguma garota interessada, o que realmente não era o caso de Robbie. Os olhos eram cinzentos como os do pai e suas pupilas, tão negras quanto carvão. Seu irmão havia se tornado de magricelo para incrivelmente forte de uns tempos para cá. Há menos de três anos, Robbie ainda vencia Eddie na queda de braço, agora isso era humanamente impossível. O garoto devia estar com quase um metro e noventa de altura, e seus braços eram grandes o suficiente para derrubar qualquer um com apenas um soco. Ninguém mais se metia com Eddie, apesar de que Robbie achava simplesmente divertido provoca-lo.

- Está com medo de entrar na estação sozinha? – disse, sorrindo como um garoto que acaba de aprontar algo sem ninguém saber. – Não se preocupe, irei protegê-la.

Robbie ergueu uma sobrancelha.

- Como se eu precisasse de sua proteção. – murmurou.

Eddie agarrou-a, imobilizando-a.

- Tem certeza? Pelo que sei você tem vários admiradores e uma grande fama de ser atropelada por trens. – sussurrou no ouvido da irmã.

Robbie lhe deu uma cotovelada com toda força, mas não causou efeito algum, Eddie nem sequer moveu-se.

- Chegue mais perto, Eddie. – pediu ela, e o garoto aproximou o rosto do de Robbie.

A garota deu um tapa em sua bochecha, o irmão grunhiu, e foi tempo o bastante para Robbie escorregar de seus braços e ficar livre.

- Você é tão criança quanto qualquer primeiro ano, Eddie.

Uma mão masculina posou em seu ombro direito.

- Ora, Robbie, não machuque seu irmão. É o último ano dele em Hogwarts. – falou Scorpius sorrindo.

Eddie fez uma careta e em seguida bagunçou os cabelos soltos de Robbie.

- Ela não me machucou, pai. Veja só o tamanho dela, você acha que...

- Não seja imaturo, Eddie Malfoy – interrompeu sua mãe, Rose. Como sempre, estava fantástica, com os cabelos encaracolados preso em um belo rabo de cavalo e as sardas do rosto, depois de anos, ainda lhe davam um certo charme, o qual Robbie sabia que tinha feito o pai se apaixonar por ela. -, você começou a importuná-la.

Eddie deu de ombros, e provocou-a irmã mais uma vez, dando-lhe um beijo melado em sua bochecha.

- É porque eu a amo.

Robbie limpou o rosto com a manga do moletom. Dezessete anos e ainda tinha a mentalidade de uma criança de dez. Não entendia como ainda conseguia viver com ele.

Scorpius balançou a cabeça, rindo e colocou o braço ao redor da filha, guiando-a para dentro da estação.

- Seu irmão não mudou muito durante esses anos, não é? – perguntou retoricamente, os olhos fixos em Robbie.

A garota puxou o malão com dificuldade e o colocou sob um carrinho. Sua minúscula corujinha das torres, Alvin, se encontrava empoleirado dentro de uma gaiola e piou bastante quando Robbie, por acidente, o despertou de sua soneca.

- Ainda é o mesmo menino de que colocava tortas debaixo das almofadas de visitas, pai.

Scorpius fez uma careta ao lembrar-se daquilo. Eddie conseguia ser um excelente encrenqueiro, não importava o lugar, estava sempre metido em confusões.

Robbie olhou por trás dos ombros, onde sua mãe parecia dar um belo sermão no irmão. Era costume ela repassar todas as regras de Hogwarts a ele antes das aulas, mas Eddie é claro, parecia nunca escutar, pois sempre as quebrava. Robbie pensou se naquele ano as coisas seriam diferentes, afinal, o irmão faria os N.I.E.M’s (Níveis Incrivelmente Exaustivos de Magia), e isso exigiria muito estudo da parte dele. Já Robbie, iniciaria o sexto ano, onde teria oportunidade de escolher as matérias que melhor definiam sua profissão futuramente. O problema era que a garota ainda não tinha ideia do que faria, estava totalmente desnorteada e confusa. E viver a sombra de irmãs brilhantes não ajudava nem um pouco.

Robbie mordeu o lábio inferior e apressou o passo em direção as plataformas 9 e 10. O fato de estar tão incerta quanto ao seu futuro a assustava. Mal sabia quem era, e durante dezesseis anos nunca apresentou algo que fosse realmente talentosa.

Encarou a coluna como fizera há seis anos. Mas diferente dos anos anteriores, não queria atravessá-la. A ideia de que poderia sair correndo dali começou a tomar conta de sua mente.

- Está tudo bem, querida? – sua mãe já postava-se ao seu lado, e a observava com doçura.

Robbie procurou sorrir da melhor maneira que pôde.

- Estou ótima.

Firmou as mãos no carrinho e o empurrou em direção a coluna de tijolos. Não teve medo de colidir contra a superfície dura, havia aprendido que quanto mais calma ficasse, menores as chances de bater na parede.

A plataforma 9 ¹/² estendeu-se na visão de Robbie. Era encardida e movimentada, de modo que levaria várias cotoveladas quando estivesse chegando a hora da partida. O Expresso já soltava muito vapor, deixando o ar denso e carregado.

Passou os olhos por toda a plataforma, procurando inutilmente sua irmã, Cathy, que trabalhava no Departamento de Transportes Mágicos no Ministério da Magia, e por isso devia estar verificando o trem naquele dia, como sempre fazia. Robbie achava realmente uma tarefa muito inútil, já que o Expresso já havia sido devidamente preparado para a viagem, e por isso não precisaria de mais ajustes. Mas  tarefas relacionadas a transportes mágicos estavam rendendo bons galeões a Cathy, que com seus vinte anos já conquistara mais méritos que muitos bruxos conseguiam conquistar durante toda uma vida.

Robbie avistou Cathy ao lado da cabine do maquinista. Segurava uma prancheta e anotava nela uma vez ou outra. Cathy era a única das quatro filhas que tinha os cabelos loiros. Eles iniciavam-se lisos e terminavam em cachos lindos, que caíam com perfeição em seus ombros. Seu rosto parecia ter sido esculpido e as feições eram delicadas como as de uma boneca de porcelana. Não se parecia com Robbie, e a única coisa que compartilhavam em semelhança era que as duas precisavam de óculos para ler.

Robbie olhou para trás e sua família parecia ter se perdido dela, o que não era muito difícil no meio daquela multidão. Decidiu cumprimentar a irmã, fazia mais de uma semana que não a via.

- Olá, Cathy!

Ela demorou a erguer a cabeça e distinguir Robbie, mas quando o fez, sorriu.

- Olá, Robbie. – disse, tirando uma mecha do cabelo e pondo-a atrás da orelha. – Tudo bem?

Ela assentiu e esticou o pescoço para ver a prancheta de Cathy.

- O que está fazendo?

Cathy sorriu entusiasmada. Tudo que tinha haver com letras, relações ou gráficos a animava. Amava estudar e por esse motivo havia sido a única da família a ir para a casa Corvinal.

- São só algumas anotações. O chefe do Departamento quer um relatório completo do trem.

- Hum...

Robbie fingiu se interessar, diferente da irmã, para ela aquilo não se parecia nada empolgante. Cathy voltou-se as anotações e Robbie se afastou, pensativa. Nunca se identificara muito com Cathy, as duas eram meio distantes. Mas o que mais a atormentava era o medo de nunca conseguir fazer algo grandioso como os irmãos estavam para fazer ou já faziam.

Eddie, embora fosse um bobalhão, tinha notas boas o suficientes para tentar ser auror e Robbie sabia que conseguiria. O irmão tinha azarações tão boas quanto seu tio-avô Harry, que já tinha enfrentado Lord Voldemort no passado.

Cissa, de dezenove anos, mal acabara de sair de Hogwarts e já havia se tornado jogadora profissional de quadribol, jogando num dos melhores times do mundo: Puddlemere United.

Jane, a mais velha dos cinco, era tão inteligente e talentosa que hoje era assistente do próprio Ministro da Magia. Era o maior orgulho da família, além de estar noiva de um italiano lindo.

E Robbie, bem... Não era lá uma garota muito talentosa. Tinha notas boas na escola, mas nada comparado com as de Cathy. Tinha amigos, mas nunca fora popular quanto Eddie. Detestava quadribol, diferentemente de Cissa. Não era boa líder e nem fora Monitora igual Jane. O que sabia fazer? Nada de mais, não passava-se de uma garota comum que vivia a sombra da família brilhante. A única coisa que Robbie sabia fazer de fato era nadar. Desde o primeiro ano tinha o hábito de nadaR no lago ao lado do castelo todas as manhãs. É claro que ninguém valorizava seu simplório “talento trouxa”, mas era algo que gostava de fazer para fugir de seus problemas.

- Você está aí, Robbie – Rose falou ofegante, juntando-se a filha. – Já viu Cathy?

- Sim, está bem ocupada.

Rose passou a mão pelos cabelos repicados de Robbie.

- Ela está se esforçando, e você deveria fazer o mesmo. – sugeriu autoritária. Robbie revirou os olhos e foi juntar-se a Eddie para guardar os malões no trem.

- Eddie... – começou ela insegura, sabia que por mais que o irmão fosse brincalhão e zoador, sabia levar as coisas a sério quando queria.

O garoto ergueu os olhos para ela.

- É que... – continuou Robbie. – Não sei o que fazer – admitiu num suspiro derrotado. -, já estou no sexto ano e não tenho ideia do que vou fazer depois de Hogwarts.

Eddie colocou as mãos nos ombros da irmã e sorriu encorajadoramente.

- Na hora certa vai saber o que fazer. Vai sentir que aquilo foi feito para você e pronto.

- Simples assim?

- Simples assim – repetiu Eddie num sorriso.

Os dois despediram-se dos pais com abraços e beijos. É claro que houve vários outros lembretes à Eddie, que pareceu ignorar por completo. Scorpius desejou-lhes um bom ano letivo e embarcaram no Expresso.

Robbie ainda tinha o rosto colado no vidro, vendo a plataforma sumindo, quando o irmão a chamou.

- Vou procurar um compartimento vago.

A garota concordou, pois não havia achado ainda as amigas no meio do monte de alunos, e sentar-se com Eddie era melhor do que ficar no corredor sozinha.

Esperou apoiada na parede do trem pelo que pareceram horas. Até que um grupo de alunos da Lufa-Lufa passou por ela.

Eram quatro. O primeiro era bem magro com cabelos dourados e um nariz tão grande e pontudo que lhe davam um ar engraçado, como se o garoto estivesse tentando inutilmente aparecer. O segundo era grande como um armário e os braços eram totalmente desproporcionais ao corpo, deixando sua cabeça com um aspecto minúsculo. O terceiro era bem alto e moreno, tinha uma expressão descontraída no rosto, mas ao mesmo tempo bem séria. O quarto garoto era que chamara sua atenção.

Reconhecera sendo Will Daves, apanhador do time de quadribol lufano e considerado o garoto mais bonito e popular de Hogwarts. Robbie tinha que admitir que Will era bastante atraente. Com seus cabelos castanhos e rebeldes e os olhos de um verde muito intenso, capazes de arrancar suspiros de praticamente todas as garotas sextanistas. Todas, menos Robbie. Apesar de Will ser lindo, ele a tinha perturbado muito quando eram crianças.

Lembrava-se de que no primeiro ano, o garoto colocara minhocas peludas e venenosas em seu cabelo e fazia azarações nada gentis quando Robbie não estava olhando. Além dele a provocar várias vezes ao dia, dizendo que seu cabelo parecia um monte de palha e que Robbie morria de medo de vassouras. A segunda coisa era realmente verdade, mas Will não sabia disso, para ele fora uma mentira que inventara apenas para infernizar a vida da garota.

Quando chegaram no quarto ano, Will pareceu ter crescido fisicamente e mentalmente. Já não era o garotinho chato de sempre. Havia amadurecido. Estava mais alto, os braços mais fortes e os ombros mais largos. E o melhor de tudo é que ele pareceu ter cansado de provocar Robbie.

Agora, por algum motivo, ela não conseguia tirar os olhos dele quando este passou no corredor. Algo estava diferente em Will, parecia mais velho, mas não só por causa da barba que começava a crescer no queixo, algo no seu andar e olhar mostrava uma grande mudança ocorrida com ele no verão, e Robbie desejou muito saber o que tinha sido.

O garoto do nariz pontudo, Phil, assoviou quando a viu. Era o que sempre fazia, depois que Will tinha parado de atormentar a vida de Robbie, Phil parecia ter lhe tomado o lugar. Era o garoto mais insuportável que conhecia, não entendia como estava na Lufa-Lufa e não Sonserina.

Robbie virou o rosto, como odiava Phil! Os dois outros garotos (Jake e Corner) passaram sem dizer nada, já Will, pareceu encontrar o olhar de Robbie por um momento mas logo o desviou, e os quatro entraram num compartimento logo a frente.

A garota ainda permaneceu de olhar fixo no lugar onde antes Will Daves estava. Balançou a cabeça: “Não posso... Ele é um...”. Não conseguiu nem completar seus próprios pensamentos. Resolveu procurar as amigas, já que Eddie parecia ter se esquecido dela.

Era a única no corredor. Não olhava para o chão enquanto andava, até que alguém colocara a perna propositalmente para fora do compartimento, justo no momento em que Robbie passou. Ela não viu e tropeçou, caindo com tudo no piso do vagão.

Sentiu a cabeça inchar e latejar, impediu com a mão de cair com o nariz, mas agora os dedos e o pulso doíam tanto que pareciam que os ossos sairiam da pele. Risadas soaram e logo, todos os alunos dos compartimentos ao lado olhavam para ela. Robbie sentou-se com dificuldade. Tentou ficar de pé mas a dor no pulso não deixou, havia caído justamente sob as duas mãos.

- Você está bem? – Will Daves estava ao lado dela, olhava-a com preocupação. Pegou um dos pulsos de Robbie e apertou de leve no local quebrado. Ela urrou de dor e recuou a mão.

- Não! – grunhiu com raiva. Sabia que tinha sido Phil quem estendera a maldita da perna de propósito, e Will não tinha feito nada para impedir. – Será que pode me deixar levantar, Daves? – perguntou ríspida.

Will se afastou.

- Tente se levantar.

Ele sabia que Robbie não conseguiria sem ajuda. A garota se esforçou, ergueu-se apenas com as pernas e desequilibrou-se. Will a segurou no mesmo instante.

- Não banque a durona, Malfoy. Não está em condições para isso.

- Posso quebrar seus pulsos se quiser – Robbie falou, olhando nos olhos de Will que não deixou se intimidar.

- Não precisa tentar. Já se machucou demais, não acha?

Robbie tinha vontade de soca-lo com toda a força, mas além de estar dolorida, a maioria dos alunos espiava os dois de dentro dos compartimentos.

- Diga ao seu amiguinho Phil que ele é um perfeito idiota. – disse Robbie com tanta raiva que sentia que explodiria.

- Vou dizer. Agora vem, devo ter uma atadura na mochila para enfaixar seus pulsos.

Robbie olhou indignada para ele.

- Por que pensa que vou deixar você me ajudar? Se não viu bem, Phil estava no mesmo compartimento que você. Ninguém garante nada que não tenha bolado tudo isso.

Will bufou e revirou os olhos, já impaciente. Robbie não pôde deixar de pensar como ele era lindo quando ficava nervoso.

- Por que eu faria isso com você, Malfoy?

Robbie sorriu cinicamente.

- Oh, não sei! Deve ser porque me infernizou durante três anos!

Will parecia se divertir com o que Robbie dizia, e em seus lábios formava-se um pequeno sorriso.

- Não sou mais aquele garoto – falou com calma. – Éramos só crianças, Malfoy.

- E você era mais criança ainda. – Robbie continuou num ímpeto.

Will a ignorou com uma respiração exausta.

- Venha.-  e puxou-a pelo braço para dentro do compartimento.

Robbie lançou um olhar fulminante para Phil, que parecia bastante assustado. Ela o conhecia bem para saber que tinha um grande ego, mas era tão covarde quanto qualquer garotinha.

- Seu... – Robbie grunhiu e avançou para cima de Phil. Teria batido nele se não fosse por Will e Corner lhe segurarem pelas costas.

Phil se encolheu, o garoto ainda lembrava-se do dia em que jogara um ingrediente errado no caldeirão de Robbie na aula de Poções. O resultado foi que a poção explodiu bem no rosto da garota, lotando-a de furúnculos e bolhas. Depois que se recuperou, Robbie lançou-lhe uma azaração tão forte que Phil ficou com a pele cor de rosa por mais de duas semanas. A verdade era que morria de medo de Robbie.

- Ele é um idiota mesmo, Robbie. – Corner falou acalmando-a enquanto olhava feio para Phil. – Está sentindo muita dor?

Robbie até que gostava de Corner,. Dos quatro, fora o único que nunca a incomodara. Sabia que ele tinha pais trouxas, e que sofrera muito preconceito por vir de um país africano.

- Um pouco.

Não. A verdade era que sentia muita dor. Wil remexeu uma mochila no bagageiro e de lá tirou um rolo de atadura.

- Não pense que vou deixar você enfaixar meu pulso no mesmo lugar em que o idiota que quebrou meus ossos está sentado. – reclamou ela.

Will olhou para Phil, como se mandasse-o sair dali. De má vontade ele se levantou e saiu do compartimento, Corner e Jack foram atrás.

- Melhor agora? – perguntou Will.

Robbie resmungou um “sim” e estendeu o braço para ele. Wil começou a enrolar a atadura em seu pulso. Fez isso firmemente, como se fosse um hábito.

- Por que tem um rolo de atadura na mochila? – perguntou Robbie, curiosa.

Will ergueu o olhar do curativo para a garota.

- Nunca se sabe o que pode acontecer. – falou, amarrando a ponta da atadura com força no pulso dela. – Além disso, fui acampar com a minha família no verão. É sempre bom ter um kit de primeiros socorros na bolsa.  Pronto. Acho que deve aguentar até Hogwarts.

Robbie analisou o trabalho de Will.

- Você é bom nisso – comentou. – Vai ser médico?

- Se meu pai deixasse.

- Ele não aprova?

Will largou o corpo no assento.

- Quer que eu trabalhe com ele no Departamento de Execução de Leis de Magia. – contou, e pela cara que fez, ela podia jurar que não era isso que ele queria fazer.

Robbie sentou-se na frente do garoto.

- Bem, pelo menos você tem um rumo a tomar. Já eu não tenho.

Will a encarou, ligeiramente surpreso.

- Não tem? Puxa, você faz parte de uma das famílias mais brilhantes de Hogwarts. Suas irmãs são incríveis  e seu irmão é um excelente jogador de quadribol. Era de se esperar que você também tivesse algo a oferecer, não acha?

Robbie o olhou revoltada. Não acreditava que ele havia dito isso, quem Will Daves pensava que era para dizer-lhe quem deveria ser?

- Já vou indo – falou levantando-se e abrindo a porta do compartimento, onde deu de cara com Phil, Corner e Jack, que aparentemente ouviam toda a conversa. – Obrigada pelo curativo.

Will a chamou de volta, mas Robbie nem sequer olhou-o novamente. A primeira vez que havia tido uma conversa decente com ela e ele havia pisado na bola. Mas afinal: por que se preocupava tanto? Quem era Robbie Malfoy para mexer daquele jeito com seus sentimentos?


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Notas finais do capítulo

Está aí! Comentem por favor! Críticas e sugestões são sempre bem vindas!



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