Dulce parou de pedalar quando chegaram na ponte, desceu da bicicleta e ficou admirando o riacho a sua frente. Math se aproximou e também ficou observando as águas.

- Este é o riacho da bruxa. - disse ele.

- Que bruxa? - perguntou Dulce.

- A muito tempo morava uma bruxa naquela casa que seu amigo comprou. Ela atría as crianças e roubava seus dentes de leite. Depois ela os matava e colocava os dentes em uma caixinha de música para prender suas almas. Ela teve uma doença horrível na infância, seu rosto ficou desconfigurado, então, quando os pais morreram, ela pintou todos os espelhos de preto e fechou todas as janelas da casa.

- Sinistro. Mas você acredita nisso? - Dulce riu zombando. - Me fale mais, qual o nome dela?

- Chega! Falar na bruxa dá azar.

- É como Lord Voldemort em Harry Potter?

- O quê? - perguntou Math, sem entender do que a garota estava falando.

- Harry Potter... você nunca leu? Nunca ouviu falar? A câmara secreta? O prisioneiro de Azkaban? J.K Rowling?

- Eu não conheço essas coisas, minha família nunca me deixa ir na cidade. - respondeu o garoto.

- Se nota, suas roupas ainda são bem antigas. Vamos até a pousada? Quero te apresentar a minha mãe.

- Não, tenho que ir embora, minha mãe fica brava quando demoro. Dulce, não deixe que seu último dente caia. - Math começou a se afastar.

- Tudo bem. Amanhã agente se vê. - Dulce subiu na bicicleta. Se virou pra se despedir do amigo, mas ele já não estava mais ali. - Como ele é rápido!

Dulce fez o mesmo caminho da estrada de terra para voltar. Quando fez uma curva, alguém vestido de preto se atirou em cima da bicicleta. Dulce caiu no chão. O impacto foi muito grande. Quando ela levantou a cabeça pra procurar a pessoa que a derrubara, vira que seu dente havia caído.

- Droga!

- Nick, viu a Dulce? - perguntou Marry saindo na varanda da pousada.

- Ela não estava com você? - perguntou.

- Ela me disse que iria dar uma volta aqui na frente, mas já faz muito tempo que ela saiu.

- O que aconteceu? - perguntou Pammy se aproximando.

- A Dulce sumiu. - disse Marry.

- Calma Marry, vou chamar o Rique e vou fazer uma ronda nas proximidades. Ela não pode ter ido muito longe.

- Eu vou ver atrás da casa. - disse Pammy. - Dulce! - ela gritou em direção do depósito.

No fim da estrada de terra, Pammy viu a garota chegando empurrando a bicicleta.

- Senhorita Marry, encontrei! - gritou ela.

Marry e Nick foram correndo ao encontro da garota. Marry abraçou a filha e viu o sangue saíndo da boca dela.

- O que aconteceu? Onde estava?

- Fui dar uma volta de bicicleta até o rio com o Math Jhonson. Na volta meu dente caiu.

- Filha tem que avisar quando sair. - Marry deu um beijo no rosto da filha. - Não tem problema, daqui uma semana terá a foto da classe lá no colégio, você terá uma janelinha no sorriso.

Eles voltaram pra dentro da casa. Estava escurecendo. Marry e Pammy ajudaram a fazer o jantar. As oito da noite todos estavam à mesa. Fizeram a oração, e depois comeram. Rique contou algumas piadas, arrancando boas gargalhadas de todos. Dulce se levantou da mesa e foi até a pia lavar seu prato. Olhou pra janela, queria ver a lua. O prato em suas mãos caiu quando ela viu do lado de fora a mesma pessoa de capa preta passar correndo.

- Filha? - Marry correu até ela e se abaixou para pegar os pedaços que sobraram do prato.

- Eu limpo, eu limpo. - disse ela ainda assustada.

- Pode deixar, eu limpo isso. - disse Marry. - O que te assustou filha?

- Passou alguém lá fora de capa preta.

- Será? - Rique se levantou e foi até o lado de fora da pousada. Minutos depois ele voltou. - Não tinha ninguém lá fora Dulce.