A mesa de madeira nunca estivera tão cheia, papéis, pastas, um recém inutilizado computador e caixas... O único lugar livre da bagunça era apenas a parte em que a loira descansava os cotovelos apoiando a cabeça.

Ela suspirou fundo colocando sua franja ondulada atrás da orelha. Em um momento de exaltação, tentando se encontrar no meio daquelas palavras, ela jogou seu corpo para trás tamborilando impaciente com os dedos sobre os braços da cadeira executiva. Deixou sua mão passar pela face magra, como se tentasse remover dela toda a raiva que a situação lhe trazia.

Ela exalou forte e teve sua atenção desviada pelo barulho da porta se abrindo.

-Vamos? - O moreno de ombros largos entrara na sala com um largo sorriso, que tinha dado lugar a um cenho franzido ao encarar a mesa da namorada. -Acho que não...

-Relatório... Desde o ano em que cheguei aqui. - O moreno sentiu seu queixo cair.

-Por quê? - Ele só conseguiu pensar nessa pergunta, guardando toda sua indignação para si, sendo brutalmente forçado a engoli-la, sem nem se tocar em transparecer o contrário, sem pelo menos esconder a raiva dos desaforos merecidos que não diria.

-Algo sobre protocolo de arquivamento não seguido. - Agora era ele que exalava com força.

-Você sabe que dia é hoje? - Perguntou com os olhos fechados, em um prece silenciosa para ela respondesse certo.

-20 de agosto? - Ele balançou a cabeça ainda com os olhos fechados, incrédulo.

-Não Brenda, não. Hoje era o dia da nossa reservar para jantar a dois no Place Hill. - Os olhos da Chefe se arregalaram levantando o olhar dos papéis para o agente do FBI.

-Hoje? Tem certeza? - Ela engoliu a seco.

-Sim, tenho. - Ele disse ríspido.

-Desculpa! Desculpa! Eu sinto muito, sinto muito mesmo! - Ela tentou se justificar.

-Não, você não sente muito! - Ele estava chateado, as sobrancelhas arqueada e o cenho franzido demonstravam isso, por mais que não aumentasse o tom de voz, a forma como ele pronunciava cada palavra medindo-a e pesando-a, movimentando bem os lábios para não perder o controle e dizer o que realmente queria... Ele estava no mínimo magoado.

Ela se levantou e quando foi sair de detrás da mesa a porta da sua sala foi novamente aberta, anunciando quem entrara pelo barulho do vento contra as persianas das paredes de vidro.

-Brenda, eu só queria... - Um homem branco, esguio, calvo de olhos azuis, adentrou pela sala.

Brenda baixou rapidamente a cabeça coçando sua testa, curvado sua enorme boca em uma reprovação pela invasão do seu chefe.

-Não sabia que estava aqui... Oh, quer dizer, boa noite Agente Howard. Eu estava atrapalhando alguma conversa importante? - Ela balançou a cabeça.

-Não, não, não você realmente não atrapalhou nada. - Ela olhou para Fritz forçando um sorriso amarelado, como se o induzisse a concordar com ela.

-Nada que mereça sua atenção, Chefe Pope. - Ele complementou com um sorriso sínico, provocando Brenda com o olhar, sabendo que estava indo de inteiro contra vontade dela.

-Oh... Bem, eu só vim aqui mesmo para saber se queria jantar, mas acho que você já está acompanhada. - Eles acenaram com a cabeça em uma cordialidade de despedida, onde Fritz e Brenda se aproximaram um do outro e viram Will deixar a sala sem olhar para trás.

-Você passa as noites na companhia dele? - A pergunta foi mais uma insinuação da parte dele.

-Não, não!

-Poderia ter outra resposta, pelo menos mais completa, que “não”? - Ela balançou a cabeça.

-Eu sinto muito! - Fritz exalou com força.

-Realmente vamos continuar aqui enquanto poderíamos estar em um bom restaurante apreciando uma boa comida? - Ele falou com uma voz calma tocando no rosto de Brenda.

O cenho dela franziu, eles ficaram um de frente para o outro, suavemente Fritz colocou as duas mãos na face da Delegada, acariciando a pele clara. Ela engoliu a seco encarando os seus olhos.

Ele desceu um das mãos para a sua nuca e outra para a cintura, Brenda só pode abraçar os largos ombros do moreno quando ele lhe puxou para si encontrando os lábios e se deixando dar um longo e delicado beijo.

Eles se olharam por alguns instantes, em silêncio, Brenda pegou sua bolsa e de mãos dadas a Fritz saiu daquele tumultuo de papel desorganizado.

-Só para constar, eu ainda quero uma explicação. - Ele disse ao pé do ouvido dela.

Ela engoliu a seco voltando o olhar para ele.

-Não teve graça. - Ela retrucou e depois deu um sorriso no canto do rosto.

Ela soltou sua mão e com mesmo braço envolveu a cintura do agente especial, ele a circundou pelo ombro, como se ambos fizessem uma barreira inviolável só para outro lhe sentir mais perto.