Eu sonhava com minha mãe, aquela linda mulher que meu pai, falava tanto que se parecia comigo. E minha avó, aquela velhinha que já estava nos céus me olhando e me guiando, me defendendo do mal. Parecia tão real, parecia que eu podia tocá-las, por elas estarem tão perto. Eu voava por cima daquele grande rio, que ficava no rancho perto de um pé de laranja, confundia as nuvens com as águas, e pedia sempre mais e mais.

  Como se tudo aquilo um dia não fosse acabar... Mas acabou mais rápido do que eu pensava.

  - CARRIE ACORDA... – Meu pai começou a bater desesperadamente na porta do meu quarto.

 - Ah pai são oito da manhã ainda e o pior hoje é domingo.

 - Sim domingo, e hoje o xerife vem almoçar aqui, então levante e fique apresentável.

  Joguei o travesseiro contra a porta, peguei o caderno que ficava em baixo da cama, bem na verdade o diário de Kathy minha prima, que eu não faço idéia onde está nesse exato momento. Mas a primeira garota boa o suficiente para montar Flicka, a primeira a montar Flicka, assim como minha prima eu farei tudo que for necessário para o bem da minha mustangue selvagem.

   Eu e ela tínhamos muitas coisas em comum, talvez a família, as amizades e as paqueras. Como se nós fossemos as mesmas pessoas, só que em anos, e lugares diferentes.

   Levantei-me rapidamente escolhi a primeira roupa que vi na frente, um short jeans e uma camisa xadrez de botão, coloquei a bota de montaria, penteei meu cabelo e desci para tomar meu café. Veloz aquele cachorro gordo, fedido e preguiçoso estava deitado sempre no mesmo lugar, no tapete bem em frente à porta.

  Sai e fui em direção ao estábulo iria dar um bom banho em Flicka, ela havia se exercitado muito ontem.

 Acabando peguei o cavalo de meu pai, e fui andar pelo rancho. Dei de cara com a nossa rival loirinha. Aquela que queria ganhar todas.

 - Carrie como cresceu. – Ela disse jogando seu cabelo para trás.

 - Você não quer que eu fique do mesmo jeito para o resto da minha vida, né? – Respondi.

 - Continua a mesma garotinha revoltada, da cidade e sem nenhuma classe. – Disse ela levantando a sobrancelha.

 - Tenho que voltar para o rancho, boa tarde pra você.

  Coloquei aquele cavalo lerdo para correr e sumir da vista da “coisa ruim”. Alias aquela garotinha com cara de Barbie já havia tentado tirar Flicka de mim.

 Não poderia ter nenhuma amizade com ela, apesar ia ser contra ela que correria no campeonato.

   O xerife já estava no rancho.

- Tarde xerife. – Disse abaixando o chapéu de caubói como um comprimento de educação.

 - Tarde, como vai nossa mustangue?

 NOSSA? DESDE QUANDO?

- Vai bem, ela esta sendo bem cuidada aqui. – Respondi com um sorriso.

- Ótimo.

- Me de licença.

 Alcancei um pedaço de costela que já estava assado, sei que não morreria de fome, mas eu estava com muuita fome, andar de cavalo da uma fominha.

   Eu e Jack não tínhamos se trombado ainda, ele já não estava com meu pai na churrasqueira.

Queria contar a ele meus sonhos, aqueles que ele nem existia. Que minha felicidade estava em primeiro lugar.