Tr3s - Amor Vs Ódio em Pátras escrita por MiraftMaryFH, thetigas08


Capítulo 3
Diferentes dos outros - Por Damien Willis




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Por Damien Willis

O meu nome é Damien Willis e tenho 16 anos.

Vivo num mundo á parte. Num mundo onde poucos pertencem, onde poucos conseguem permanecer. No mundo da realidade. Aquele a que muitos recusam ver. Quer por comodidade, quer por questões dogmáticas. Já lutei para que me entendessem, na tentativa de poder deixar este mundo e pertencer ao Mundo. Mas as coisas acabaram no que são agora. Eu e alguns, habitantes deste, a maioria, habitante do outro. Do frequentemente dito mundo normal. Mas as coisas estão correctas assim, pois não pertenço á normalidade. Recuso-me a pertencer. E enquanto me for possível, praticarei a loucura e a diversão. Enquanto for capaz, partilharei sorrisos e deitarei por terra lágrimas. Porque eu não sou perfeito e não o procuro ser. Pratico o erro. É um orgulho poder dizê-lo.

Mas este meu mundo que me acolheu, não me traz de todo a felicidade por inteiro. Ainda choro por alguns que se recusaram a receber-me do outro lado da fronteira. Mas por isso já fiz o que podia. Já fui um fantasma perdido por aqueles lados, á procura de alguém que me pudesse perceber, ouvir, ou mesmo abraçar. Cheguei a esperar por isso. Cheguei a ter a esperança no nível máximo, mas o tempo foi agastando. Hoje nada mais é do que uma ilusão. Uma ilusão da qual receio que se possa de novo apoderar de mim e me fazer sofrer, como naqueles tempos.

Sinto-me um espécime de renegado. Mas sei que isso só acontece pois quis ser aceite por aqueles que me mostravam, dia após dia, de que a diferença nunca era bem aceite. Os limites impostos eram demasiados para um ser como eu, alguém que não impõem á vida aquilo que ela não pode ter, dar ou esconder. E não guardo arrependimento por nada do que fiz em relação a isso. Continuo a amar pessoas que têm uma maneira de viver e pensar completamente diferente da minha. Mas ao contrário deles, eu aceito essa diferença. Em qualquer momento que por eles me fosse pedido um abraço, eu daria. Porque embora os sentimentos nutridos por eles sejam diferentes dos que sinto, tenho amor suficiente para partilhar.

Falo dos meus pais, do meu irmão, da minha irmã, dos que costumavam ser meus amigos, da minha família. São eles que mais me entristeceram por me recusarem. Unicamente, por lhes ter contado com sinceridade aquilo que era. As reacções magoaram-me o suficiente, para que hoje, deste lado, ainda sinta as feridas. Tudo por lhes contar que sou bissexual.

Foram dias duros, muitos olhares de repulsa e palavras pesadas. Mas as coisas só ficaram realmente complicadas quando eu e o Ryan, meu melhor amigo até então, começámos a namorar, passados dois meses do meu anúncio.

Fora ele, que, primeiramente, me tentara convencer a assumir a minha bissexualidade perante a sociedade. Explicou-me que quanto mais tempo a escondesse, mais complicado seria viver com ela. Fora ele quem me tirou a ideia de que isto era um problema, com o qual receava viver. Ele ensinou-me a saber viver com ela, e foi ele quem me ajudou, bem antes disso, a entender esta minha condição que me diferenciava de tantos outros. Lembro-me perfeitamente, e jamais esquecerei, o nosso primeiro beijo. O beijo que mudou a minha vida. Para sempre. Mas contrariamente ao meu caso, a família dele, os Foy, aceitaram bem o namoro.

Hoje estou num colégio interno por causa disso. Por considerarem que a liberdade que tinha no exterior era demasiada e contribuíra para aquilo que me tornara. Cá estou, apenas porque acreditam que isto servirá de terapia. Como se fosse uma doença benigna, que caso fosse tratada, me daria outra vida. Pois bem, estou certo de que quanto a isso nada mudará.

O director recebeu-me de uma forma hipocritamente sorridente. Olhava-me na procura de mais tatuagens para além daquelas que conseguia ver, como se aquilo fosse escandalosamente inaceitável, mas fingia o contrário. Muito mal, porém. Também elas me trouxeram até ali e assumem um grande significado na minha vida. Mostrou-me todo o edifício e levou-me ao que será o meu quarto nos próximos meses. Mal entrei pude ver cinco gajos aparentemente da minha idade que jogavam ás cartas e pararam o jogo para me olhar. Nem sequer os olhei enquanto arrumava as poucas roupas que levei.

Assim que terminei, peguei no meu iPod, levei os fones aos ouvidos e saí do quarto. Queria estar sozinho e pensar na minha vida, no futuro. Procurei um banco e sentei-me. Olhei o chão e esperei que a música me fechasse de novo no meu mundo.


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