Come And Save Me Tonight escrita por Lively Storm


Capítulo 2
Berry, o que você está fazendo aqui?




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Sue Silvester se recostou ao alambrado do campo de futebol americano, observando suas crianças pulando de um lado para outro, cruzando-se e voltando a descruzar, enquanto os acordes de uma dessas músicas que eles gostavam explodia aos quatro cantos através do aparelho de som de última geração, sua última aquisição para as cherios.

Franziu os lábios, pensando em como seria possível que os jovens de hoje em dia fossem tão inúteis. Talvez um daqueles instrumentos que ela havia comprado clandestinamente em um museu alemão em sua última viagem, fosse bastante útil agora.

Enquanto ela decidia qual deles ela usaria (talvez aquele de metal, que era amarrado à uma coleira e tinha as duas extremidades pontiagudas, para ensinar Brittanny como deveria ser a postura de uma cherrio nas paradas estratégicas da coreografia), a música encaminhou-se para o final e Sue a interrompeu.

Como era de se esperar, foi encarada por algumas dezenas de pares de olhos confusos demais para o gosto dela e franzindo os lábios uma vez mais, ela levou o megafone à boca.

- Senhores, eu estou decepcionada. Eu não vejo tamanha incompetência desde que aboliram a tortura como forma de repreensão estudantil.

Uma Quinn ofegante levou a mão até a franja loira que se colava à testa. Engoliu em seco, o corpo protestando com veemência contra a nova dieta a que ela vinha se sujeitando desde o começo da semana, mas as competições seccionais das equipes de cheerleading estava chegando e Sue já havia avisado que caso ela perdesse novamente as nacionais desde ano, toda a equipe seria submetida a uma sessão de pelo menos doze horas seguidas de um vídeo motivacional onde ela, a própria Sue, dissertava sobre a vida de um perdedor, imigração e os filmes de Steven Seagal.

Olhou em volta, analisando o resto do time e todos pareciam tão ou mais exaustos que ela. Mas antes que Quinn pudesse processar e divagar sobre qualquer outra coisa, Sue parou de falar, a voz poderosa de Beyoncé ecoou aos quatro cantos do gramado novamente e Quinn se viu puxada para dentro de uma coreografia em que ela se destacava.

Toda a música foi feita de forma quase automática. Sue não voltou a interromper a música e ainda no piloto automático, Quinn se sentiu flexionando os joelhos. Quase que imediatamente, teve a cintura envolvida por mãos fortes e o corpo impulsionou-se sozinho quando ela começou a ser erguida.

O processo seria simples. Tudo o que as bases da pirâmide tinham que fazer era passar o corpo extremamente leve para a base imediatamente acima. E o movimento se repetiria até que Quinn estivesse onde tinha que estar: no topo da pirâmide.

Um processo muito simples, não?!

Bem... Quinn também pensava assim.

Sibel Smith estava no segundo degrau da pirâmide, na extremidade esquerda. Richard Baker a segurava e ela por sua vez, segurava Samantha Perez, que deveria segurar Quinn.

Nunca ninguém teve certeza de quando, como e porque foi que Sibel começou a perder o controle do próprio corpo, mas todo mundo pode ver quando ela desabou. Richard soltou a outra menina que também se apoiava nele para segurar a primeira moça e o que se seguiu, foi um embolado de mãos, braços, pernas, gritos... e uma Sue boquiaberta que apenas assistiu quando Quinn Fabray desabou em queda livre de quase dois metros e meio de altura direto para o chão, diferente dos outros alunos que por sorte (sim, sorte), caíram uns sobre os outros.

A primeira coisa que Quinn sentiu foi a cabeça.

E acreditem em mim, a primeira coisa que ela pensou tão logo sentiu a cabeça foi que daria TUDO e mais um pouco para NÃO ter sentido a cabeça. O primeiro impulso foi o de levar ambas as mãos até a fronte dolorida. E foi então que ela sentiu o resto do corpo. Engoliu com muita dificuldade o mais doloroso dos gemidos, enquanto sentia a própria respiração se alterando. Uma arma do próprio corpo pra tentar aliviar um pouco daquilo que mais parecia alguns milhões de agulhas em todos os seus quase cento e setenta centímetros de altura.

O que havia acontecido?

A mão direita deslizou para os olhos e ela os apertou gemendo. Quando tentou por fim abri-los, a onda de náusea a fez gemer outra vez, enquanto ela se obrigava a permanecer de olhos muito abertos.

Estava tudo muito claro, tudo muito branco. Era óbvio que aquele não era o seu quarto.

O que diabos havia acontecido?

Com outro gemido, ela se permitiu voltar a fechar os olhos enquanto se virava na cama, sobre o braço direito... Entretanto o que viu de relance, enquanto se movimentava, a fez voltar a arregalar os olhos. Sobre a mão direita e protegida por algumas camadas de esparadrapo, ela pode distinguir o que ela tinha certeza que era uma punção endovenosa e uma rápida olhadela ao redor a fez ter certeza de onde estava.

Quinn estava em um hospital.

Seu quarto havia mais uma cama, vazia até então e enquanto ela se permitia olhar o resto do quarto com um pouco mais de atenção, outra coisa lhe chamou a atenção.

Sentou-se na cama, os olhos fixos na figura que se mantinha de cabeça baixa, lendo com o que parecia muita atenção algo que Quinn julgou ser uma revista.

Quinn ainda a encarou franzindo o cenho e tentando ignorar o resto do corpo que clamava por um pouco mais de cama por mais alguns pares de segundos, em silêncio.

Já era estranho o fato de estar em um hospital depois de um treino corriqueiro, mais estranho ainda era estar tão dolorida... e quase inaceitável para os padrões de sanidade normais, era estar acompanhada pela garota baixa e extremamente cheia de si que se acomodava como se fosse a coisa mais normal do mundo estar ali, no quarto de Quinn, ao lado da janela lendo uma revista de fofocas.

- O que diabos você está fazendo aqui, RuPaul?

Bom... Pelo menos para falar não doía, a menina loira pensou, enquanto ainda olhava Rachel que não parecia ter lhe dado a mínima atenção. Quinn ainda esperou mais um pouco, estarrecida com o fato de ter sido ignorada.

Quem em sã consciência ignoraria Quinn Fabray?

- Eu estou falando com você, anã.

O tom de voz saiu um pouco mais firme agora e ela se ajeitou na cama, tentando achar um jeito de permanecer sentada que não doesse tanto. A força do hábito a fez olhar em volta, em busca de alguma coisa para jogar em Rachel a obrigando assim a olhar para ela. Bufou com raiva, quando a única coisa que achou foi o próprio travesseiro e a força de vontade a abandonou só de pensar no quanto doeria para ela se inclinar para pega-lo.

- Berry, eu estou falando com você.

O sobrenome a fez ficar em estado de semi-alerta, mas ainda assim, Quinn ainda teve que esperar mais alguns pares de segundos antes que Rachel erguesse os olhos. E nem foi para ela... Rachel olhou primeiro para a porta, como se procurasse com quem Quinn estava falando... Então voltou os olhos para a própria Quinn, e a loira pode notar quando Berry prendeu a respiração e arregalou os olhos. Quinn respondeu o gesto com um arquear desconfiado de sobrancelhas. Rachel permaneceu em silencio por mais algumas frações de segundos... só voltando a falar quando Quinn tombou a cabeça, franzindo o cenho em estranhamento àquele comportamento.

- Quinn?

Outro erguer de sobrancelhas.

- Você está me vendo? – Os olhos de Rachel pareciam duas vezes maiores agora.

- É algum tipo de brincadeira, Berry? O que você está fazendo aqui?

Quinn a viu abrir a boca para responder, ainda parecendo muito assustada, mas antes que pudesse ouvir a voz de Rachel, a porta do quarto rangeu e Quinn desviou os olhos por puro instinto.

Sentiu o próprio cenho se franzindo ainda mais enquanto Brittany, Santana, Kurt, o pai de Santana, uma mulher desconhecida e... (um gato? Sim, um gato.) um gato entraram no quarto. Os três adolescentes conversando alguma coisa qualquer sobre a competição do grupo do coral que também se aproximava.

- Q, você morreu? – Foi Brittany quem perguntou, desviando a atenção de Santana enquanto se sentava na cama, ao lado de Quinn, que ainda encarava com o cenho franzido a mulher desconhecida que estava agora ao lado de Kurt. Quinn desviou os olhos para Rachel por alguns segundos, e ela parecia tão apavorada quanto antes... Talvez até mais apavorada agora.

- Eu sei que você é idiota, Fabray, mas não precisava mergulhar exatamente de cabeça na grama do estádio. – Foi Santana quem falou, chamando a atenção de Quinn outra vez.

O gato (seria aquele o gato de Brittany? Como era o nome dele mesmo? Mister... Lord... Droga!), pulou do chão para a cama vazia e também a olhava, por mais estranho que parecia... Aliás, todos ali dentro daquele quarto a encaravam nesse exato momento.

Quinn meneou a cabeça e outra vez a pontada forte a fez fechar os olhos.

- O... O que aconteceu?

- Você decidiu ver se o plano de saúde do seu pai era bom.

Kurt revirou os olhos ao ouvir Santana e pela primeira vez desde que entrara no quarto, se dirigiu diretamente para Quinn.

- Você caiu, Quinn. Parece que uma das novatas escorregou da pirâmide. Todo mundo caiu, mas você foi a única que caiu direto no chão.

Quinn assentiu com a cabeça com vagar e com medo da dor piorar por causa do movimento. Se lembrava muito vagamente de realmente estar subindo em alguma coisa... em alguém, para ser mais específica.

- Você não está mesmo morta, Q? Me disseram uma vez que as pessoas não sabem quando morrem de verdade. – Brittany perguntou verdadeiramente preocupada, arrancando um sorriso fraco da parte de Quinn.

- Ela não está morta, B. Nós não temos tanta sorte. Ai! – Quinn voltou a abrir os olhos quando Santana gritou, bem a tempo de ver a latina olhando com verdadeiro ódio para um Kurt que retribuía o olhar com um sorrisinho cínico.

- Não morri, B... – Quinn respondeu, se voltando para a amiga loira, que agora lhe acariciava com cuidado os cabelos que lhe caíam pelos ombros, quase da mesma altura que estavam quando os cortara no ano passado, em Nova York.

- Que bom, Q. Eu não queria ver a S. chorando de novo, sabe?

Quinn se sentiu sorrir quase que involuntariamente enquanto voltava a se virar para Santana.

- Chorando?

- O que? – Santana se empertigou, limpando a garganta antes de voltar a falar – Você é uma demente que mergulha na grama e não quer que eu fique preocupada, Fabray?!

Quinn soprou-lhe um beijo que foi retribuído com uma careta de desdém.

- Onde vocês estavam?

- Na lanchonete. Estávamos com fome. – Kurt se sentou na cama vazia, da onde o gato ainda continuava a encarar Quinn. – Você sabe que horas são?

- Não...

- Acabou de dar quatro horas. Você dormiu por quase seis horas seguidas.

- S, eu sei que o seu pai é médico, mas porque ele está aqui agora? Eu já não fui medicada? E quem é essa mulher? E porque vocês me deixaram sozinhos com a Berry? Ela poderia me matar!

Quinn perguntou à queima roupa, sem conseguir mais se segurar. Santana franziu o cenho, olhando para Brittany, para Kurt e só então para Quinn novamente.

- Meu... pai?

- Esse aí não é seu pai? – Quinn apontou para o homem que estava parado ao lado da porta desde que entrara. E o homem agiu do mesmo jeito que Rachel havia reagido antes. Arregalou os olhos e o longo bigode do homem moreno e muito alto pareceu ainda mais farto com o gesto. Olhou para Quinn em algo que ela julgou ser quase pânico e então para Rachel... e para a outra mulher, que estava no mesmo estado que ele.

- Q... – Santana chamou com cuidado, prendendo a atenção de Quinn outra vez. – Que homem?

Quinn franziu o cenho ainda mais, se sentando com um pouco mais de cuidado na beirada da cama. Como assim que homem?

- Como assim que homem, Santana? Aquele ali. E essa mulher, quem é?

- S, de quem ela está falando? – Brittany perguntou, a mesma inocência de sempre presente na pergunta.

Santana olhou de Quinn para Brittany e novamente para Quinn enquanto respondia, tentando se aproximar.

- Eu não sei, B...

- Quinn, você está se sentindo bem?

Kurt a olhava com tanta estranheza quanto Santana, ainda sentado do lado do...

- E esse gato? – Ela praticamente gritou, se sentindo ofegar outra vez, mas dessa vez não por culpa da dor.

- Gato?! – Os três perguntaram em quase uníssono... E foi então que Quinn percebeu que tinha alguma coisa errada.

Se levantou da cama, com muito cuidado e receosa de que as próprias pernas não fossem capazes se sustentar o próprio corpo.

- Q, eu acho melhor você se sentar...

- Quem são essas pessoas, Santana?

- Q...

- Não tem ninguém aqui, Quinn... Só eu, Santana e Brittany. – Kurt se levantou e veio se aproximando de uma Quinn extremamente assustada, que recuava passo ante passo, na direção da parede. A mulher que o acompanhava também veio na direção dela e pela primeira vez em que tinha mais alguém no quarto além das duas, Rachel falou.

- Você vai assustar ela...

- Berry, você também está vendo eles. Fale para eles que eu não estou louca. – Quinn mantinha os olhos na mulher que parara tão logo ouvira Rachel, mas Quinn continuava a recuar. Não demorou a achar a parede e então o suporte do soro que se prendia à mão direita foi trazido para mais perto do corpo da loira, ao que tudo indicava, numa tentativa de proteção a mais.

Os olhos de Santana dobraram de tamanho... Os de Kurt também.

- Q, a Rachel não voltou da lanchonete ainda. Ou será que voltou? Será que ela conseguiu uma capa de invisibilidade igual a do Harry Potter? S, eu posso ter uma também?

- Quinn... – Santana deu um passo a mais na direção de Quinn, que levantou o suporte do chão, inclinando-o na direção da latina, tentando não entrar em pânico.

O que diabos estava acontecendo?

- Quem são essas pessoas? Eu não estou ficando louca...

- Está tudo bem, Q. Você só está confusa... – Santana a olhava como se Quinn fosse uma espécie de bicho selvagem ou algo do tipo... Tentava se aproximar, com medo de que ela se assustasse ainda mais...

E foi então que aconteceu.

A porta rangeu novamente.

A risada que Quinn pode ouvir mesmo enquanto não podia ver quem estava chegando ao quarto, lhe fez o estômago gelar com violência.

Por instinto, ela olhou para Rachel, que parecia três vezes mais em pânico agora do que já estava.

Finn entrou no quarto... Cheio de si, parecendo duas vezes maior, e atrás dele, Rachel Berry entrou também.

Outra Rachel Berry.

Com o coração na boca, Quinn voltou a olhar para a primeira Rachel, que ao contrário da segunda que sorria, afetada para Finn, tinha os olhos pelo menos três vezes maiores do que já eram. Quinn engoliu em seco, tentando controlar a própria respiração...

E então outra pessoa também entrou. Duas pessoas na verdade. Mr Schuester e... Barbra Streisand (!!!!), logo atrás de Rachel.

O mundo girou... E girou... E girou...

Quinn colocou o suporte de soro no chão outra vez, levando a mão esquerda até os olhos doloridos...

E antes de perder os sentidos por completo, pode sentir braços que o último resquício de consciencia julgou ser de Santana envolvendo-lhe a cintura, evitando que caísse e fizesse uma bagunça enorme de soro e sangue pelo quarto todo.


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Notas finais do capítulo

Opiniões, por favor.