Come And Save Me Tonight escrita por Lively Storm


Capítulo 15
No llores más, cariño mio.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/156351/chapter/15

Rachel vinha fazendo um bom trabalho administrando a situação com Finn. Ela estava orgulhosa de si mesma. A relação dos pais Berry com Quinn também havia melhorado significativamente depois que Rachel tinha lhes contado o episódio da raspadinha que Quinn tinha levado por sua causa. É claro que ela teve que contar por fim que sua vida social não era tão boa quanto ela lhes havia feito crer desde que começara a namorar Finn e claro que ela encobriu o fato de que Quinn e Santana, com a ajuda de um Puck muito, muito irritado, quase tinham arrancado o couro do jogador de hóquei autor da travessura.

Não era como se Finn e Quinn fossem melhores amigos, muito menos como se Quinn gostasse de vê-la junto de Finn. Mas depois de algumas horas discutindo o quanto rosnar para o rapaz era feio e como as pessoas passaram a olhar para ela com ainda mais medo, Quinn tinha concordado em não mostrar os dentes toda vez que elas cruzavam pelo quaterback, somente quando ele chegasse muito perto ou quando falasse seu nome. Bem, era um avanço, não?

Da parte de Finn, ele parecia que por fim tinha entendido que Rachel e ele não estavam bem, parecia ter entendido também que falar mal de Quinn não ajudaria nem um pouco e que brigar por causa de sexo também não. Ela ainda se irritava com o namorado todas as vezes que ele fazia piadinhas de mau gosto sobre seu corpo nu ou quando ele a abraçava com mãos demais. Entretanto, e apesar de todos os poréns, ela e o namorado estavam se acertando. Então Rachel não estranhou quando Finn apareceu em sua casa na noite de uma sexta-feira, usando sua jaqueta do time de futebol e escondendo um engradado de cerveja no banco de trás da camionete de Burt. Ele entrou por um minuto, enquanto Rachel, que não estava preparada para a ocasião, subiu para se trocar.

"É uma festa na casa do Puck" ele disse "todo o time de futebol vai estar lá".

Foi nesse momento que Rachel soube que sua noite não seria das melhores.

Veja bem, o fato de que metade do time de futebol era formado pelos meninos do grupo do coral tinha significado uma queda absurda no bullying que era dirigido à Rachel e aos outros (mais para Rachel que aos demais), principalmente depois de Sam ter quebrado o nariz de Karofsky no meio do ano passado. Mas ainda assim, Rachel sabia muito bem que não era bem vinda nas reuniões do time onde havia basicamente atletas e meninas gostosas. Ela tinha brigado com Finn alguns pares de vezes, mas ainda assim ela desconfiava que ele tivesse ido a muitas festas, escondido.

Claro que o fato de que Noah era o anfitrião dessa festa melhorava um pouco as coisas para ela. Puckerman sempre fora um cavalheiro. Mas nem Noah Puckerman poderia controlar uma dúzia de garotos grandes demais para sua idade e um pouco mais bêbados que o socialmente aceitável. Rachel pensou enquanto olhava o próprio reflexo no espelho do guarda-roupas. Suspirou enquanto se deixava imaginar que Quinn gostaria do que ela estava vestindo.

Ela sentia falta de Quinn, continuou refletindo enquanto descia as escadas. Mas o modo como Finn se aproximava e o modo como Quinn se afastava dela, eram diretamente proporcionais. E quanto mais Quinn se afastava, mais Rachel pensava nela. Não é preciso pensar muito em uma pessoa quando você a tem todos os dias, como ela costumava ter Quinn. Mas quando a convivência diária passa a ser semanal, ou nem isso, dói um pouco.

Finn se despediu de Hiram com a promessa de trazer Rachel de volta antes das duas e então eles saíram. Ele passou o braço direito sobre os ombros da namorada e Rachel pode sentir o cheiro forte de colônia masculina. Ela não gostava daquele cheiro. Ficava ainda pior quando ele suava e Rachel tentou não pensar em como seria o cheiro de Finn misturado com a cerveja contrabandeada. Quinn não era assim. Ela cheirava a rosas com alguma coisa cítrica. Essa coisa cítrica se intensificava quando ela mexia a cabeça, então Rachel suspeitava que aquilo era simplesmente o cheiro de seu shampoo. Daquele cheiro Rachel gostava. Não foram poucas as vezes em que ela iniciou uma guerra de travesseiros, almofadas, ou qualquer outra coisa macia que fosse só para por Quinn em movimento e consequentemente deixar aquilo um pouco mais marcante. Valia também para às vezes em que Quinn a abraçava... Ela gostava também do abraço de Quinn. Era tão perfeito quanto o abraço de Kurt, mas de um jeito diferente. Com Kurt, ela podia sentir o queixo dele contra o topo de sua cabeça e gostava de caber ali, em um ponto onde terminava o tórax e começava o pescoço dele; era só se ajeitar. Com Quinn, ela não precisava se ajeitar, porque Quinn fazia por ela com uma naturalidade quase nata. Não sobrava espaço e nem faltava espaço em lugar nenhum. Simplesmente encaixava. Encaixava, e é claro, tinha cheiro de rosas.

Rachel ainda divagava entre as comparações em que Quinn estava sempre implicada quando se viu rodeada pelos braços de Finn. Ela ergueu o rosto para conseguir respirar. Ele entendeu como um sinal e sorriu o sorriso torto que mexia mais com ela há alguns meses atrás do que agora. Rachel fechou os olhos quando ele se inclinou, mas não abriu a boca para a língua do rapaz. Sorriu quando ele se afastou e suspirou enquanto se ajeitava no banco do passageiro e Finn dava a volta no carro, pensando que ela estava fazendo muito aquilo de comparar tudo e todos à Quinn Fabray.

Rachel preferiu pensar que era apenas saudade e teve que se controlar muito para não perguntar a Finn se Quinn ia estar na festa de Puck.


– Por que eu estou aqui mesmo? - Quinn perguntou ainda dentro do carro. As mãos permaneciam no volante e ela sequer tinha se importado de tirar o cinto de segurança ainda.

Mick se debruçou sobre a janela aberta, enfiando a cabeça pra dentro do veículo.

– Não sei.

– Se você não sabe, quem sabe então? Porque eu não sei se você se lembra, mas foi você quem me convenceu a vir.

– Eu só estou com um bom pressentimento.

Quinn rolou os olhos em resposta ao sorriso pretencioso de Mickahill, enquanto desatava o cinto da trava. Fechou a porta do carro e ativou o alarme enquanto se dirigia para a casa de Puckerman. Teve que desviar de um dos meninos que ela reconheceu ser do time de futebol quando ele se ajoelhou no jardim, aparentemente botando para fora todo o álcool ingerido até aquela hora da noite e tudo o mais que tinha lhe servido de refeição ao longo do dia. Quinn franziu os lábios, prendendo a respiração para evitar a onda de náuseas. Ela olhou ao redor e pode reconhecer que o local estava muito mais iluminado do que deveria estar normalmente. Não soube definir se Puck tinha colocado luzes extras ou se eram apenas os anjos dos já desmaiados adolescentes que se espalhavam pelo jardim que lhe davam aquela sensação.

A música extremamente alta foi a primeira a lhe recepcionar quando ela entrou na casa. Puck foi o segundo, passando o braço da mão que ele usava para segurar sua cerveja ao redor do pescoço da loira e Quinn sentiu o coração apertar quando a cópia de Beth lhe sorriu. Ela nunca se acostumaria com isso.

Deixou que Puck a guiasse para dentro da casa. A festa era exatamente o que ela acharia que fosse. Bebida e putaria. Sim, putaria, porque não tinha outra coisa que definisse melhor o que Azimio estava fazendo com duas das cherrios em seu colo que não fosse putaria. Quinn tentou não olhar. Ela também desconfiava que Puck tivesse convidado o pessoal do coral e ele realmente tinha. Ele a levou para uma outra sala, em que Brittany dançava agarrada à uma Santana que já parecia mais do que feliz enquanto Sugar beijava Artie em outro canto do cômodo. Kurt se debruçava em Sam que ria de alguma coisa que Tina tinha dito a Mercedes e Mike esbarrou em Quinn quando passou com mais copos do que parecia conseguir carregar. Felizmente ele não derrubou nada e Quinn continuava seca. Por enquanto.

Era impossível não sorrir.

Ela sabia que tanto Santana e Brittany quanto Mike e Sam estavam em habitat natural. Não era necessário que estivessem ali, em uma sala meio à parte do que rolava no resto da casa. Quando comparada ao restante da festa, aquela particular do Glee Club, parecia muito mais saudável e um tanto quanto mais entediante, se julgada pelos padrões adolescentes. Ainda assim, eles permaneciam unidos. Isso era o que ela mais gostava no Glee Club.

Quinn ainda sorria para o nada quando Puck a soltou e agarrou-se a um dos companheiros do time de futebol, cantando uma parte da música (que Quinn julgou ser do Usher, mas não pode confirmar porque sinceramente hip hop não era lá muito a sua cara), e se afastou em busca de mais bebida alcoólica. Ela por instinto acompanhou-lhe com os olhos enquanto ele saía do cômodo. Então ela pode vê-la.

Rachel estava encolhida em um puff, no canto da sala. Uma das mãos descansava sobre o colo enquanto a outra brincava com uma mecha de cabelo castanho. Quinn suspirou, imaginando se havia no mundo alguma outra cena mais adorável que aquela. Ela não parecia muito feliz, tampouco à vontade. Quinn ainda olhou em volta para ver se achava algum sinal de Finn, mas não teve muito sucesso.

– Fabray! - A voz de Santana saiu um tanto mais lenta e pegajosa que o normal e Quinn não pode deixar de rir quando ela tentou se aproximar sem sucesso. Brittany teve que ajudar.

– Quantas dessas você já tomou, Satã?

– O suficiente para achar que você fica muito gostosa quando usa jeans. - Brittany riu, antes de beliscar-lhe a cintura - Ai, amor! Você sabe que eu sou só tua. Mas os quadris enormes da Juno estão me tentando hoje.

– Desculpa, Q. Eu deixei ela sozinha quinze minutos e quando eu cheguei, ela já estava assim.

Quinn beijou o rosto de Brittany antes de beijar o de Santana. Quando voltou a olhar Rachel, não conseguiu evitar o calafrio que o contato direto com os olhos cor de chocolate causou. Então teve o pescoço enlaçado por Mercedes e se sentiu erguer do chão quando foi a vez de Sam. Quinn não iria nunca assentir, mas adorava aquele amor todo que era despertado nos amigos todas as vezes que tinha álcool envolvido na história.

Todos os amigos devidamente saudados, quando Quinn voltou a procurar por Rachel, ela já não estava onde deveria estar. Tentou suprimir um suspiro desgostoso, sem muito sucesso.

– Eu não vou te rodar, não vou te amassar e também não vou te cantar. Tudo bem para você?

O sorriso novamente foi involuntário quando ouviu a voz atrás de si. Dessa vez foi ela quem envolveu Rachel pelo pescoço, quando se virou. Rachel por sua vez achou o lugar para seus braços ao redor da cintura delgada e ganhou um beijo por bom comportamento quando estreitou o abraço.

– Eu estava com saudades.

Quinn quis responder que não, ela não estava. Que ficasse com seu namoradinho imbecil. Que ela não se importava.

– Eu também... - Entretanto essa foi a única coisa que ela conseguiu falar.

Relutou em deixar Rachel ir. Mas quando o abraço pareceu demorar um pouco mais do que deveria, ela deixou que os braços caíssem ao lado do corpo. Santana de alguma maneira tinha conseguido um copo de plástico para Quinn, cheio de alguma coisa não identificada que ela relutou em tomar.

– É melhor você beber, nem que seja em goles pequenos. Eu me recusei e ela simplesmente me obrigou a tomar duas doses seguidas. - Rachel disse enquanto trazia seu puff para perto do sofá em que Quinn se sentava.

– Você virou duas vezes? Não parece nem mesmo alta.

– Digamos que Santana não é lá assim tão esperta quando está bêbada. - Rachel riu da própria piada e Quinn a acompanhou, mas com bem menos entusiasmo.

Ela devia imaginar que Finn não perderia uma festa daquelas por nada nesse mundo, mesmo que para isso, precisasse trazer Rachel com ele. Suspirou quando o silêncio se tornou incômodo e os olhos agiram por contra própria quando vagaram pela sala, estranhando Rachel estar sozinha.

– ... Finn?

– Na piscina. - A rapidez da resposta de Rachel fez com que Quinn erguesse uma das sobrancelhas em desconfiança. Rachel porém não pareceu que iria dar continuidade ao assunto, prestando uma atenção exagerada aos polegares que brincavam entre si, descansando sobre o próprio colo.

E de repente, a bebida que Santana vinha empurrando para Quinn lhe parecera muito interessante.

Alguns copos a mais daquele líquido depois, copos estes que Santana fazia questão de providenciar, Quinn já se sentia um pouco mais leve. Rachel permanecia no puff ao lado do sofá, mas Quinn tinha achado um lugar entre Mercedes e Tina, que riam igual ou ainda mais do que já estavam rindo no começo da festa. Para a menina judia, parecia que apenas ela não estava se divertindo ali.

Finn continuava perdido em algum lugar e Rachel sinceramente não estava preocupada em ir procurá-lo. Uma parte de sua consciência insistia em lhe dizer que antes Finn perdido que um Finn grudento e meio bêbado. Por instinto, acompanhou com o olhar quando Puck adentrou a sala ocupada pelo Glee Club outra vez, se movimentando ao que parecia ser o ritmo de uma música não identificada e que era tocada no último volume. Por algum motivo, talvez o jeito que Puck olhava para Quinn enquanto caminhava, Rachel desviou os olhos dele para a menina loira, só para constatar que Quinn também sorria para Puck de um jeito estranho. Ele estendeu a mão direita e Quinn aceitou-a de bom grado. Rachel sentiu o estomago começando a incomodar. Noah passou o braço de Quinn ao redor do próprio pescoço e Rachel se empertigou no puff, segurando com força o tecido da saia preta. Quinn riu e escondeu o rosto na curva do pescoço do rapaz e ele lhe sussurrou alguma coisa que lhe arrancou uma outra gargalhada. Quando por fim ele envolveu a cintura delicada com ambas as mãos, ela não pode mais se controlar.

Levantou-se e saiu a passos duros e rápidos porta afora, certificando-se em esbarrar no esboço de casal que se abraçava. Rachel não entendia porque Quinn estava se portando daquele jeito. Puck tinha sido um canalha, não tinha? Rachel não entendia também porque sentia como se alguém estivesse lhe apertando o pescoço. O nó na gartanga não era lá uma coisa muito agradável de se sentir e ela preferia pensar que era somente porque Quinn tinha preferido ir se esfregar em Puckerman a lhe fazer companhia. Elas eram amigas afinal de contas, não eram?

Foi secando uma lágrima teimosa que insistiu em correr pela bochecha um tanto mais vermelha que o normal que Rachel ganhou a varanda da casa de Noah.

A partir daí então, tudo pareceu ficar meio borrado. Rachel não tinha muita certeza se eram as lágrimas as culpadas por isso ou se era a adrenalina potencializando a pouca bebida que ela tinha ingerido durante a noite.

Finn se debruçava sobre uma das cherrios. Rachel pode ver quando ele lambeu a própria mão e logo em seguida a barriga da menina que estava deitada em alguma coisa que ela não conseguiu identificar o que era. Mordeu o pedaço de limão que se prendia entre os seios fartos e se ergueu, aclamado pelos outros rapazes que o cercavam. Então a moça se levantou, agarrou-o pela gola da camiseta e lhe mordeu no ponto em que a mandíbula se dobrava, dois ou três dedos abaixo da orelha, também sorrindo.

Rachel permaneceu estática. As mãos fechadas em punho, enquanto ela tentava lembrar a si mesma que deveria inspirar pelo nariz e expirar pela boca. Quase em câmera lenta ela viu Finn girar em torno de si mesmo, os outros meninos ainda gritando. Ele então levou a garrafa de cerveja que tinha em mãos até a boca e sorveu a bebida. Bebida que foi cuspida tão logo os olhos dele dobraram de tamanho e ele reconheceu a figura da namorada.

– Rachel! - Finn gritou e ela correu. Não sabia para onde, afinal de contas ela não conhecia lá tão bem aquela parte da cidade. Mesmo assim, correu, dando a volta na casa de Noah Puckerman e ganhando a rua quando cruzou o jardim.

Quinn ainda estava nos braços de Noah quando ela escutou Finn gritar. Puck a conduzia em uma espécie de dança sem música, enquanto passava-lhe as cantadas mais baratas que ele conhecia. Era um antigo jogo deles. Noah, afinal de contas, fora por um bom tempo seu melhor amigo. Eles tinham se afastado por um tempo depois, é verdade, mas isso não diminuía o carinho gigantesco que ela sentia pelo rapaz.

Então Hudson gritou e Quinn colocou-se em alerta. Não deixou mais que Noah a balançasse e agarrou-se à camiseta branca dele para conseguir olhar para fora. Viu o vulto de Rachel desaparecendo atrás da casa e em seguida viu Finn tentando correr atrás dela. A líder de torcida ainda se segurava em sua jaqueta, entretanto, e ele quase a derrubou. Desvencilhou-se de Puckerman então, sem muita delicadeza e também correu para fora. Cruzou com um Finn que parecia à beira do desespero no jardim e com Mickahill em seu encalço, parou no meio da rua, ponderando sobre qual lado Rachel escolheria para correr.

– Bem... Ela é canhota. - Mick disse tentando parecer o mais despretensiosa possível, ao parar exatamente do seu lado.

"Ela não conhece essa região..."

– Eu sei.

"Você viu o jeito que ela saiu da sala em que nós estávamos?"

– Uhum...

Quinn suspirou, apertando a ponte entre os olhos e enfiando as duas mãos nos cabelos loiros logo em seguida.

– Ela é canhota... - Mickahill repetiu, indicando a direção com a cabeça. Quinn não pensou duas vezes antes de seguir na direção que o anjo lhe indicava.

– Onde você vai, Fabray?

Ela escutou Finn gritar, mas não deu atenção. O bairro de Puck não era o dos mais seguros e Rachel estava sozinha na rua quando já passava da uma da manhã. Finn Imprestável Hudson podia esperar para ter seu traseiro chutado. Quando ele tentou se aproximar dela, gritando seu nome mais uma vez, Quinn só precisou se virar e encará-lo para que ele por instinto se encolhesse dando um passo para trás. Bom assim, ela pensou quando voltava a andar pela rua, sem Finn por perto agora.

Andou por cerca de cinco minutos na direção indicada por Mick para só então a encontrar. Rachel estava sentada em uma espécie de banco de ferro, recostado em uma árvore do jardim de uma casa duas ruas acima da casa dos Puckerman. Estava escuro, e se não fosse pelo brilho de Josselyn, Quinn provavelmente nunca a teria encontrado. Quinn aproximou-se com cuidado. Rachel apoiava os cotovelos nos joelhos e afundava o rosto nas mãos. Josselyn tinha ambas as mãos enfiadas nos cabelos castanhos e Quinn não precisava se esforçar muito para conseguir distinguir os movimentos do tronco de uma Rachel em pranto de choro. Sentou-se na outra ponta do banco, com todo o cuidado do mundo, sem ter muita certeza do que fazer.

Pode perceber quando Rachel parou de se movimentar por um instante e quase pode sentir quando os olhos de chocolate se ergueram para ela. A menina judia ainda permaneceu um par de segundos inerte, para só então se levantar. Quinn não se lembrava de ter sido tão rápida daquele jeito antes, mas antes que ela mesmo percebesse, tinha a mão presa ao redor do pulso de uma Rachel que parecia querer se livrar para fugir dali mais uma vez. Quinn sentiu-se deslizar para o meio do banco quando levou a mão esquerda para também ajudar a segurar Rachel, quando a tarefa tornou-se quase impossível. Quando teve ciência do que acontecia novamente, sentiu Rachel escorregar e novamente agindo por impulso, levantou-se, passando as mãos ao redor da cintura delicada, prendendo o corpo pequeno junto do seu para evitar que caísse. Com certo esforço, voltou a sentar-se, trazendo junto consigo uma Rachel que já não lutava e que voltara a soluçar. Sentou-a em seu colo, a mão direita certificando de que ela ficaria segura sobre suas pernas. Quinn fechou os olhos, voltando a abraçá-la com força. O corpo parecendo agir por conta própria quando passou a se balançar para frente e para trás, sem nunca soltar Rachel. Quinn cantarolava uma canção que sua mãe lhe cantava quando ela ainda estava naquela época da infância em que se cai muito e se está sempre com os joelhos ralados. Ela só cantarolava, porque não sabia a letra. Era uma velha cantiga francesa e Quinn não falava francês desde que a avó materna havia falecido. Quando a música acabou, ela continuou a balançar Rachel. A testa apoiada contra o ombro esquerdo da outra, que se sentava de lado em seu colo, em uma posição não muito confortável. Mas Rachel não reclamou e se para Rachel estava bem, para ela estava bem também. Depois de um tempo assim, Rachel se ajeitou. Escorregou um pouco mais no colo de Quinn e envolveu-lhe o pescoço com os braços, passando ela então a apoiar a cabeça na curva do pescoço de Quinn, agora praticamente de frente.

– Eu vi você com o Puckerman. - Rachel disse e Quinn franziu o cenho perante o tom acusador. Os olhos por instinto procuraram os olhos de Barbra que tinha Josselyn.

"Ela acha que você está novamente com o menino judeu."

Josselyn disse com simplicidade, não parecendo mais tão preocupada com as regras assim.

– Puck é o meu melhor amigo. Eu o amo.

Quinn pode sentir quando Rachel enrijeceu e tentou se levantar de seu colo outra vez. Mãos firmes em sua cintura a impediram. Não demorou muito para Rachel voltar a ceder, voltando a se ajeitar no colo de Quinn. O que preocupava a menina loira agora era quanto das pernas de Rachel estavam à mostra, uma vez que ela estava de saia. Mas bastou olhar em volta para ter certeza de que nenhuma maneira, alguém poderia ver alguma coisa.

Rachel suspirou um par de vezes. O fôlego ainda tremido, fôlego de quem chora demais.

– Ama?

Quinn não pode evitar a risada baixinha e prematura, já em razão da própria piada.

– Desde que ele mantenha as mãos longe de minhas calças... Ou de qualquer outro lugar que me faça ter vontade de bater nele.

Rachel voltou a suspirar. Só então erguendo os olhos para Quinn.

Os fios de cabelo castanho que se colavam à pele molhada do rosto não eram poucos. Quinn tirou um a um com toda a paciência do mundo, tentando não olhar diretamente para os olhos de Rachel e tentando não pensar no quão íntimo era aquele gesto.

– Eu o vi lambendo uma cherrio.

Quinn sorriu, antes de perguntar.

– E depois veio bancar o romântico comigo? Aquele cachorro do Puckerman!

Rachel balançou a cabeça, boa parte dos cabelos voltando a colar-se no rosto dela.

– Não. Não Noah. Finn.

Quinn sentiu o seu sorriso morrer nos lábios. Suspirou outra vez, voltando a afastar os cabelos do rosto de Rachel simplesmente porque ela precisava de alguma outra coisa pra pensar que não fosse no quão bom seria ter sua roupa suja do sangue Hudson naquele exato momento.

– Sabe, eu estava lá, na sala ao lado. Eu entendo que eu não seja tão bonita quanto essas meninas que torcem, mas... - Rachel não pode falar mais simplesmente porque Quinn tinha agora dois dedos sobre seus lábios.

Ela balançou a cabeça em silêncio algumas vezes, antes de finalmente voltar a falar.

– Você não tem culpa nenhuma do seu namorado ser um imbecil, Rach...

Rachel suspirou. Se permitindo só então olhar Quinn nos olhos.

– Eu não sou bonita, Quinn... Eu sempre soube disso...

– Eu não sei quem foi que lhe disse isso... Talvez tenha sido até mesmo eu - Rachel sorriu, um sorriso fraco, porque o seu passado com Quinn definitivamente não era engraçado - Mas quem quer que seja que tenha lhe feito acreditar que você não é uma mulher linda, é um completo animal.

– Está se chamando de idiota, Ice Queen?

Quinn riu baixinho mais uma vez, se deixando inclinar. A testa ganhou a bochecha direita de Rachel e então ela apertou as mãos que tinha em volta da cintura da judia. Não conseguiu conter um suspiro delicado, deliciada com a quantidade de calor que se desprendia de Rachel.

– Idiota não... Animal. – Quinn sussurrou.

Ela não estava pensando muito e sinceramente não se importava muito com isso também. O rosto de Rachel deslizou um pouco mais para baixo e então o nariz de Quinn acariciava-lhe a bochecha sem pressa alguma. Quando por fim Quinn pressionou os lábios em um ponto um pouco abaixo da orelha de Rachel e Rachel estremeceu, ela não conseguiu mais se conter.

Quinn não soube exatamente como aquilo aconteceu, mas no instante seguinte, ela tinha os lábios de Rachel roçando os seus. Rachel beijou-lhe o lábio superior em quase adoração e Quinn não teve muito o que fazer além de entreabrir os lábios. As mãos de Rachel se enfiaram por entre os cabelos loiros e no momento em que Rachel puxou-lhe os cabelos para trás foi que Quinn soube que estava perdida. Rachel tinha gosto de guaraná e de alguma outra coisa que Quinn julgou ser de céu, porque era bom demais para ser qualquer outro gosto.

Também foi Rachel quem quebrou o beijo primeiro. A testa descansou contra a testa de uma Quinn que lutava para conseguir controlar a respiração irregular. Rachel aconchegou-se no pescoço da menina loira e Quinn suspirou uma vez mais, voltando a apertá-la contra o próprio corpo, ainda de olhos fechados.

Quinn não soube dizer exatamente quanto tempo ficaram ali, daquela maneira. Mas quando Rachel por fim se afastou, ela teve que conter um gemido de frustração. Sabia que era perigoso e que não deveriam ficar na rua até muito tarde. Então ela simplesmente aceitou a mão que Rachel lhe estendia e a conduziu novamente para a porta da casa de Puck.

A festa não parecia ter sido afetada em nada pela cena de Rachel e pelo canto dos olhos e pela janela da sala, Quinn pode ver Finn falando ao telefone dentro da casa.

Rachel não pareceu notar e ela ficou feliz por isso. Por enquanto, que tudo ficasse como estava, era o melhor.

Ainda segurando a mão de Rachel, ela buscou a chave do carro no bolso de trás da calça jeans e desligou o alarme do carro. Primeiro, ela abriu a porta para que Rachel se sentasse, depois deu a volta no carro e se sentou ao volante. Seguiram para a casa de Rachel praticamente em silêncio e quando chegaram, Quinn ganhou mais um beijo de boa noite, antes que Rachel entrasse e apagasse a luz. Ela esperou até que a luz do quarto de Rachel estivesse acesa para só então dar a partida no carro e seguir para a própria casa.

Quinn sabia que aquela calmaria não duraria muito. Que provavelmente, tão logo o dia amanhecesse, Rachel surtaria. Ou ela própria surtaria primeiro. Mesmo assim, quando Quinn se encolheu debaixo de suas cobertas usando o seu pijama favorito (o de coraçõezinhos roxos), ela ainda estava sorrindo. E foi sorrindo que adormeceu.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu ainda estou suspirando...
Bom dia.
Amo vocês.