Capítulo 2 – Jacob Black.

“Não se esqueça que os estranhos são os amigos que você não conhece.” (Abrahan Lincoln)

Só depois de um bom e calmante banho foi que consegui digerir todas as informações. Eu agora tinha um pai, um pai de verdade.

Carlisle era diferente de qualquer pai que um dia a minha imaginação fértil conseguiu criar. Loiro, alto, o tipo de pai perfeito, daqueles que parecem modelos da Calvin Klein. Vestia-se de um jeito clássico, mas muito charmoso. Um pai de contos de fadas. E era assim que eu me sentia num próprio conto de fadas, onde a princesinha – no caso, eu - não era a pessoa mais linda e doce do mundo, mas ainda assim merecedora de um final feliz.

- Sim, você merece – falou uma doce voz, que vinha da porta.

Era Edward, - e pelas vagas informações que recebi de Carlisle - ele lia mentes.

- Er, oi - falei dando um leve aceno.

- Desculpe invadir sua privacidade – disse ele meio sem jeito – mas, desde que você chegou eu não tinha conseguido ler seus pensamentos, e enquanto vinha aqui para te perguntar se você sabia o porquê, consegui quebrar o bloqueio e finalmente te ouvir.

Ele abaixou a cabeça por vergonha - imagino eu.

- Bom, o meu dom se retraí quando fico meio sentimental. – fiz uma careta.

Ele riu.

- Bom se é assim, por favor, fique sentimental mais vezes. Sabe o quanto é frustrante não conseguir a mente de alguém? – perguntou ele.

- Não faço ideia.

- Bom um dia eu te conto. – falou ele dando leves passos virando o corredor.

A semana passou extremamente rápida, e serviu para que o laço de amizade entre eu, Rose, Alice e Emmett ficasse mais forte. Edward e Jasper estavam mais distantes. Eu sabia que Jasper mantinha distância com medo de me machucar – como se isso fosse possível. Mas o que realmente me intrigava era Edward. Porque essa distância? Pelas histórias que Carlisle me contou ele era um dos mais velhos da casa, então o autocontrole não era o problema. Mas o que causava essa distância?

Isso eu realmente não sabia. De acordo com Alice ele estava passando por uma fase muito difícil e preferiu se afastar.  Fase difícil hum, sei.

Balancei a cabeça saindo dos meus devaneios. Hoje era meu primeiro dia no colégio. Alice havia exigido que eu estivesse totalmente apresentável para poder ter uma chegada totalmente triunfal. Mas sinceramente, não sei se quero chamar atenção. Esse era o tipo de coisa que me fazia esquecer a minha parte vampira e me transformava em uma humana totalmente desastrada. Mas Alice é Alice, melhor não contrariar.

Decidi usar apenas um jeans básico com uma blusinha de alças e rendas. Passei direto pelos all stars, tenho certeza que Alice reprovaria qualquer um deles, então calcei um sapato de salto alto – corrigindo, bem alto – e escolhi um casaco cinza-claro cheio de botões, e peguei uma bolsa qualquer. Deixei grande parte dos botões aberta, assim revelando um decote bem avantajado.

Fui até o espelho e me avaliei. Eu estava realmente bonita, meus longos cabelos loiros estavam soltos e caiam delicadamente sobre meus ombros. A calça jeans escura contrastava com a minha pele pálida. Meus olhos azuis estavam bem marcados por causa da sombra preta e minha boca havia adquirido um tom vermelho natural.

Desci as escadas rapidamente, eu sabia que todos estavam lá embaixo e não queria avaliação ou comentários sobre o que vesti então, antes de eles perceberem eu me sentei ao lado de Rosalie no largo sofá. Assim que ela me viu abriu um lindo sorriso.

Havíamos construindo uma forte amizade, mesmo eu estando lá há apenas uma semana. Ela se abriu comigo, me contou que estava com Carlisle desde 1933 quando foi violentada pelo noivo e alguns amigos dele. Eu sei que foi muito difícil para ela se abrir comigo, afinal, eu sou só uma desconhecida, mas foi bom saber que não sou a única a ser machucada pelo passado.

Alice me tirou dos meus devaneios.

- Show! Sensual e clássica, adorei!

- Ãn, obrigada Alice. - eu falei com as bochechas coradas pela imensa vergonha que estava sentindo.

- Ela tem razão meu bem – falou Esme e sua linda voz de sinos – Você está realmente muito linda.

- Obrigada, mas vamos parar com os elogios. Estão me deixando constrangida. – falei.

Carlisle deu um leve risinho, ele sabia que no fundo eu tinha puxado isso dele.

-Certo, então vamos conversar sobre a sua história. – minha história? – Agora você se chama Lilian Marie Hale, tem 17 anos e é a irmã mais nova de Jasper e Rosalie. Você havia sido adotada por uma tia distante que morava no Brasil, mas infelizmente ela faleceu há pouco tempo, com esse acontecimento você veio para cá conosco. Chegou há quatro dias decidiu começar a estudar logo para não perder muito conteúdo.

No fundo isso tinha um pouco de lógica. Rose, Jasper e eu éramos realmente muito parecidos.

- Tudo faz bastante sentido, podemos ir logo? – perguntei já me levantando.

- Nós sim. – começou Alice – Você não.

Eu já ia perguntar o porquê, mas ela se adiantou.

- Para ter uma entrada totalmente triunfal você deve chegar sozinha. E use o presentinho que lhe deixei na garagem.

Antes que eu pudesse responder ela e os outros já estavam dentro do carro de Edward. Pude ouvir Carlisle e Esme conversando do segundo andar. Achei melhor obedecer.

Andei lentamente até a garagem com receio do viria a seguir, mas foi exatamente o contrário do que eu imaginava.

Era um Porsche Turbo Preto. Muito parecido com o que eu possuía no Brasil. Não perdi tempo pulei para dentro dele. Os bancos eram avermelhados, todos de couro, o carro era realmente lindo.

Em cima do painel estava um bilhetinho escrito com a mais divina caligrafia.

“Lili não me decepcione, use-o hoje.
Beijos Alice.”

A baixinha realmente não tinha limites.

Não perdi tempo. Aproveitei que a porta da garagem estava aberta e sai sem me despedir de Carlisle e Esme. Sei que eles entenderiam.

Não foi difícil achar a escola, embora eu nunca tivesse ido lá. Como a maioria das outras coisas, ficava perto da rodovia. Não parecia uma escola – o que me fez parar foi uma placa escrito Forks High School. Era um conjunto de casas iguais, construídas com tijolos marrons. Havia tantas árvores e arbustos que no início não consegui calcular o seu tamanho.

Estacionei perto do Volvo reluzente de Edward, que por aqui, era o melhor carro. Respirei fundo peguei minha bolsa. Você consegue, falei para mim mesma mentalmente.

Sai do carro lentamente. É agora que a tortura começa.

Eu recebia olhares de todos, e o pior é que eles nem faziam questão de disfarçar. Ainda seria pior, nesse horário poucos alunos haviam chegado.

Andei lentamente até o primeiro prédio, onde tinha uma plaquinha na porta dizendo SECRETARIA.

Lá dentro o ambiente era bem mais iluminado e mais quente do que eu imaginava. O escritório era pequeno; uma salinha de espera com cadeiras dobráveis acolchoadas, carpete laranja manchado, recados e prêmios enchendo as paredes, um relógio grande tiquetaqueando alto. Havia plantas em toda parte, em vasos grandes de plástico, como se não houvesse verde suficiente lá fora. A sala era dividida ao meio por um balcão comprido, abarrotado de cestos de arame cheios de papéis e folhetos coloridos. Havia três mesas atrás do balcão, uma delas ocupada por uma ruiva grandalhona de óculos. Ela vestia uma camiseta roxa, o que de imediato fez com que eu me sentisse produzida demais, eu não devia ter ouvido Alice.

A ruiva olhou pra mim.

- Em que posso ajudá-la? – ela assim como os demais me encarou um pouco surpresa, pela palidez provavelmente.

- Meu nome é Lilian Hale – eu lhe falei, e logo vi a atenção iluminar seus olhos. Eu era esperada, assunto de fofoca sem dúvida. A Hale mais nova se junta ao lar.

- É claro – disse ela. E cavoucou uma pilha instável de documentos na mesa até encontrar o que procurava. – Seu horário esta bem aqui, e há um mapa da escola.

Ela indicou minhas salas de aula, destacando no mapa a melhor rota para cada uma delas, e me deu uma caderneta que cada professor deveria assinar e que eu traria de volta no fim do dia.

Quando sai da secretária, o vento frio logo me atingiu, mas não era só isso que havia mudado. A garoa tinha parado de cair, além disso, muitos outros alunos haviam chegado e a maioria deles me secava. Mal cheguei, e já estou com vontade de ir embora.

Desisti de procurar minha família, antes mesmo de tentar. Isso com certeza atrairia mais olhares curiosos pra cima de mim.

Depois de chegar ao refeitório, foi fácil localizar o prédio três. Senti que começava a ofegar à medida que me aproximava da porta.

A sala de aula era pequena. Parei na porta para pendurar meu casaco, aqui dentro era quente o suficiente para que eu pudesse ficar sem o casaco sem que ninguém estranhasse.

Entreguei a caderneta ao professor, um careca alto, que pelo crachá que carregava seria o Sr. Mason. Ele me encarou surpreso ao ver o meu sobrenome – aquela com certeza não foi uma reação que me encorajasse.

- Srtª. Hale? – ele perguntou ainda meio atônito.

- Sim.

- Por favor, apresente-se á sala. - que ótimo.  Como se não bastasse os olhares pra cima de mim, ainda teria de que me apresentar.

- Meu nome é Lilian Hale. Eu morava no Brasil até pouco tempo, mas com o falecimento de minha tia, vim para Forks morar com meus irmãos. – falei da maneira mais humana que pude.

- Aqui está – falou o Sr. Mason me entregando a caderneta assinada – sente-se ao lado do Sr. Black, por favor.

Olhei para o fundo da sala. E lá estava um garoto moreno muito musculoso, o que de imediato me lembrou de Emmett.  Andei devagar em sua direção assim ele levantou a mão demonstrando ser o Sr. Black. O que me incomodou foi ao contrário dos outros ele não fazia questão de disfarçar sua curiosidade e me encarava freneticamente.

Eu não sei o que houve mais seu cheiro me chamou atenção, era madeirado, não como um perfume, mas um cheiro natural.

Sentei-me ao seu lado, e ele ainda não tirava os olhos de mim. Decidi encará-lo também, qual a pior coisa que poderia acontecer? Sinceramente, eu não queria saber. Assim que eu o olhei ele desviou o olhar, e ainda encarando a mesa falou:

- Lilian Hale?

- Sim. – respondi.

- Jacob Black, muito prazer. - falou ele.

Assenti com um pequeno sorriso e examinei a bibliografia que o professor me dera. Eu já havia estudado isso antes então achei melhor pensar em outras coisas. Uma delas seria Jacob.

 Ele não era parecido com nenhum dos outros garotos daqui, - não era pálido e nem magricela - ao contrário, era muito musculoso, cabelos curtos e negros. Seus olhos me lembravam a pérolas negras.  Ele vestia um jeans escuro e uma camiseta azul petróleo, básico eu diria.

O silêncio entre nós dois permanecia enquanto os outros alunos conversavam animadamente. Eu não iria quebrar o silêncio, até mesmo porque ele fez isso.

- Então veio do Brasil?

- Sim.

- E como é lá?

- Ensolarado. – ele apenas olhou pra mim com um sorriso lindo no rosto e balançou a cabeça negativamente.

O que foi? Ele esperava que eu fizesse um relatório completo sobre o Brasil e ainda o indicasse os pontos turísticos?

 -Você é bem monossílaba.

- Não - revirei meus olhos e respondi – talvez.

O resto do primeiro tempo passou em silêncio. Jacob não voltou a me encarar então tudo ficou bem mais fácil. Os outros tempos foram tranquilos, mas agora chegara á tão temida hora do almoço.

Vesti meu casaco assim que saí da sala. Eu odiava ter que usar casacos sem que sentisse frio.

Assim que pisei no corredor todos me encaravam, ótimo pensei.

Fui a uma velocidade humana razoável, e assim que avistei a porta do refeitório encontrei minha linda irmã. Dei um sorriso fraco para ela.

- Olá maninha. – falou Rose assim que me aproximei.

- Olá Rose.

- E então, como foi? O povo de Forks ainda não pirou você?

 - Olha sinceramente, essa é uma boa maneira de dizer a verdade sendo delicada.

Ela riu com o meu comentário.

- Vamos entrar? – perguntou Rose.

Eu apenas assenti.

Assim que a porta do refeitório foi aberta os olhares se viraram para nós.

- Adoro pessoas discretas.

- Você é uma Hale, chamaria atenção em qualquer lugar. – falou Rose convencida.

- Ó que indelicadeza a minha, desculpe senhorita Hale. – respondi colocando a mão no peito teatralmente.

Pegamos as bandejas e entramos na fila do almoço, decidi pegar apenas um refrigerante e uma fatia de pizza. Rosalie fez o mesmo.

Sentamos na mesa onde os outros Cullen se encontravam.

- Olá. – falei assim que me sentei entre Alice e Edward.

- Oi. – responderam todos.

- Então Lili, como foram seus primeiros horários? – disse Emmett.

- Hum, legal. – respondi.

Eles não se convenceram, nem eu. Meus pensamentos vagavam para outro lugar. Jacob Black.

Era estranho, mas, ele não saia da minha cabeça.

Os outros horários foram tão entediantes quanto os primeiros, e a cada minuto que passava mais perguntas surgiam em minha cabeça. Quem era Jacob Black? E de onde ele veio?  Quantas dúvidas, nenhuma resposta.

Entrei no carro e acelerei para casa.