Viciados na Depressão escrita por Khunyoung


Capítulo 1
Um brinde a nossa dor.


Notas iniciais do capítulo

Bem, eu havia postado essa one-shot anteriormente, na minha outra conta, a somah_chan. Mas eu quis fazer outra conta então laskdjfnghbn agora to postando de volta, e exclui da conta velha que usarei pra outros projetos não relacionados a kpop. Essa one-shot terá uma continuação, em longfic, que vou por o prólogo ainda hoje. Damien rice ou Coagulation do SuJu são boas pedidas caso queiram ouvir algo enquanto lêem. Agradeço a VenusNoir por ter betado.



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Você sempre me olha assim, com esse olhar vazio. Eu tenho certeza que lhe devolvo o mesmo tipo de olhar, porque afinal somos vazios por dentro. Sou sua muleta e você é a minha.


          Precisamos de ajuda, mas talvez não queiramos ser ajudados. Parece que temos gosto pela dor, pelo sofrimento. Talvez tenhamos sido feitos um para o outro; para preenchermos o nosso vazio interno e tão intenso. Somos tão desprezíveis, nos lamentando por tudo de ruim que nos aconteceu e nos acontece. Somos miseráveis por continuarmos rastejando em meio a essa sujeira.


         As drogas parecem não te satisfazer mais. Alias, quando foi que começamos a usá-las? De repente estavam lá, em cima da mesa, enquanto você ajeitava a fileira e mergulhava suas narinas naquele pó branco. Ficávamos altos várias vezes ao dia. Era um jeito de esquecermos de tudo e de todos, um jeito de ficarmos livres desse mundo já que é ele que nos deixa assim tão... desolados. Bebíamos o máximo que conseguíamos e no dia seguinte passávamos o dia tomando remédios para dor de cabeça. Era nossa rotina. Depois eu saia e ia para o trabalho patético que tinha naquela loja e você ia dar umas voltas pelas redondezas da casa daquele que você realmente amava.


         Desde o começo, nós nunca nos amamos, apenas fomos abandonados. Vimos um no outro o consolo que precisávamos. Nunca existiu amor, amizade, somos apenas companheiros de tristeza, o que sentimos não passa de necessidade. Necessidade de preencher o vazio que nos consome, que nos corrói. Mesmo que, ao fim do dia, suas mãos alisassem meus cabelos, mesmo que seus lábios fossem colados aos meus e assim acontecia tudo novamente. No fim, o que prevalecia era o mesmo vazio que nos consumia diariamente.


          Então, nós bebíamos novamente:


          "Um brinde a nossa dor..."

Sua voz saia como um sussurro. A taça ao alto, brindando ao nada, porque eu sempre estava ocupado na minha solidão e não tinha tempo para erguer a minha. Depois de bêbado, você me abraçava e reclamava por tudo que sofreu. "Sungmin, estou cansado dessa dor... quero acabar com ela..." Sim, eu também quero acabar. Mais do que ninguém, eu quero que essa dor nos deixe.


           Por que, afinal, vivemos? Essa sempre foi a grande questão. Estamos tão acabados, tão afundados na nossa própria melancolia, nessa depressão sem fim que nos consome, que nos engole e deprecia. Nossa vida tão sem sentido, tão acabada. De fato, estamos juntos. De um jeito ou de outro, nos afundamos juntos nessa água negra. Mesmo assim, você não me ama e, é claro, eu também não te amo. Não importa se você faz o que quiser de mim, isso não é sinônimo de amor. Eu realmente não te amo e pensar nisso só faz minhas lágrimas descerem, afinal, você não me ama.   


           É tão difícil assim esquecê-lo? Você continua o procurando mesmo sabendo que ele já tem outro e toda vez que você vai, você fica mais destruído. Sim, é isso o que ele faz: te destrói, mais e mais. Ele pisa em você e, ainda assim, por que continua o procurando? É algum tipo de masoquismo? Eu não consigo te entender, você me confunde tanto!


           Depois você volta com os olhos inchados, vermelhos e soluçando. Cada vez mais quebrado por dentro. Cada vez quebrando o que resta de mim. Cada vez me deixando pior, me afundando mais e mais nessa depressão compartilhada. Eu não aguento, a única coisa que posso fazer é estender meus braços para que você se aconchegue neles, assim sempre acabamos chorando juntos e, novamente, sou usado para preencher o vazio que ele deixa em você. Mas quem preenche meu vazio? Quem pensa nos meus sentimentos? Não é a mim que você quer, é a ele! Eu estava tão enganado pensando que também te usava. O único usado aqui sou eu, no fim das contas.

"Me dê um cigarro, qualquer coisa." E novamente entram as drogas, as bebidas. Nos deitamos no chão e lá mesmo você me faz seu. É só nesse momento que sinto que sou único. Nos outros sou apenas segunda opção.


           "Qual o problema?"


           "Não é nada, Kyuhyun."


           "Eu estou te machucando, Sungmin-Hyung?" Sim, está. Não fisicamente, mas está.


           "...não, é claro que não."


           Nossa vida não passa de um looping eterno onde nos prendemos por escolha própria e isso realmente me atormenta. Me atormenta tanto que, durante o meu banho, tive pensamentos estranhos, pensamentos suicidas. Não que nunca tivesse pensado nisso, você me faz querer isso todos os dias, e você mesmo já o tentou. Quantas vezes não toquei em suas cicatrizes? Não apenas eu, é claro. O que importa é que eu tentei, mesmo sem sucesso, deixar-me afogar. Pra variar, eu falhei, por ser muito covarde ou até mesmo involuntariamente meu corpo tenha reagido, prezando minha vida. Eu quero tanto acabar com isso, daria qualquer coisa para essa dor acabar. E no outro dia começava tudo novamente. Quanto tempo vivemos assim? Eu ouvindo suas reclamações, limpando suas lagrimas, cuidando de você e me esquecendo de mim. Ah, estou tão cansado!

            "Eu vou tentar de novo" Você parecia tão aéreo quando essas palavras saíram de sua boca.


           "Tentar o que?" Custei em perceber suas intenções.

 "Você sabe, passar a navalha no pulso." Falou com desdém.
    Pois bem, se mate. Acabe com tudo isso assim estará livre dessa dor e me deixará livre também. O que estou pensando...?


           "Por que tão de repente?"


           "Não é de repente. Eu só estava esse tempo todo pensando num jeito mais eficaz." Andou até o armário e tirou um frasco de remédios para dormir. "Acha que consigo dormir pra sempre?"


           Observei por alguns instantes antes de dizer que sim.


          "Por que não dorme comigo então?"


           Foi nesse instante que percebi que faria qualquer coisa por você. É claro que, se você se deitasse no colo da morte, eu deitaria junto, afinal, ao contrário do que eu disse antes, eu te amava. Mais do que tudo, mais do que minha vida. Eu era obcecado, completamente apaixonado. Tudo em você me deixava louco e o verdadeiro motivo da minha depressão sempre foi você. Suas palavras de amor ao outro sempre me machucavam e por isso eu me afundava em tristeza. Você nunca foi meu e nunca seria. Os seus beijos eram vazios e roubavam tudo o que me restava. Seria você algum tipo de carrasco me preparando para esse momento, o momento de minha morte? Então que ela venha e me embale em seus braços, mas que seja com você.


         "Eu não vou tomar os remédios. Eu quero outro meio."


         "Tudo bem, eu vou te ajudar. Tomarei os remédios eu mesmo, uma dose bem reforçada que vai garantir minha morte súbita." Seus olhos se encheram com um brilho fenomenal, algo que eu não conhecia. "Não parece maravilhoso, nos livrarmos dessa dor e dessa mágoa?" Sim, parecia maravilhoso. "Seremos finalmente livres e eu rezo para renascermos num lugar diferente, mas juntos, onde nada nos incomode, Sungmin" Sim, renasceremos. "Já até consigo ouvir nossa marcha fúnebre tocando." Eu também consigo ouvir. "De que jeito você quer morrer?" Não importa, contanto que seja com você.


          "Eu já tentei varias vezes, mas não consegui. Eu acho que preciso de alguém que me segure." Kyuhyun pareceu não entender. "Estou falando da banheira, quero que você me afogue."


         "Parece um bom jeito" Como podia ser tão frio? "Vamos, eu vou te ajudar"


          Estava decidido. Nenhum de nós voltaria atrás. Mais uma vez nós bebemos, nos preparando para o próximo passo, nos preparando para dizer adeus a este mundo, que sempre pareceu nos odiar. Foram tão poucos motivos que tivemos para sorrir que até parecia ser a coisa certa a se fazer. O caminho até o banheiro pareceu longo de mais. Kyuhyun, você ficou louco. Você chegou no seu limite, então eu cheguei também no meu limite. Você tomaria os remédios com ou sem mim, não voltaria atrás. Era o seu jeito. Eu também não voltaria atrás, eu morreria por você, com você.


          Nos beijamos uma ultima vez, pareceu tão verdadeiro, por um momento pensei que poderíamos esquecer aquela idéia tola. Mas já era tão tarde para me iludir. Seu gosto morrerá junto comigo, aquele gosto que só seus lábios tinham, aquele sabor especial.


          A banheira encheu num piscar de olhos. Entramos com roupas e tudo, você abraçado em mim, com o frasco de remédios na mão. Foi questão de segundos até eles todos estarem no seu estômago. Agora tudo tinha que ser rápido, se não você iria primeiro e eu ficaria. Suas mãos gentilmente afagaram meus cabelos e afundaram minha cabeça na água. No fundo eu conseguia ouvir você cantando com sua voz rouca, parecia meio triste. Meus olhos abertos em baixo da água, olhando para você, assim eu tinha certeza, na próxima vida não me esqueceria de seu rosto. Quando o ar começou a faltar, tenho certeza que minhas pernas e braços se debateram violentamente. "Por favor, não torne tão difícil, minha visão já está ficando turva..." Era agonizante.

         "Sungmin, nos encontraremos numa próxima vida, e eu farei o possível pra te amar"

         No fim, você nunca me amou. Este sentimento nunca foi recíproco. Você amava o chinês, eu te amava, ele não. Eu sabia que um dia nos cansaríamos disso. Meu único desejo era ter dito pelo menos um "Eu te amo" antes de partir. Mas quando eu tentei abrir minha boca, a água calou minhas palavras. No fim, esse é meu único arrependimento.

         Nos encontraremos uma próxima vez, menos tristes e mais felizes, assim espero, é nisso que quero acreditar, é nisso que preciso acreditar.

"Como eu posso?
Se eu não puder te ver de novo, então como eu posso?
Amanhã de manhã, quando eu alcançar o telefone
O que vou fazer, então?
Diga-me o que fazer
Eu quero sorrir e saber que você será feliz
Mas quando eu olho para você
Todas as lágrimas
Finalmente caem"
   

   
   


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Notas finais do capítulo

Gentem, quando eu começei a escrever essa one-shot, a intenção era ser uma KyuMin triste e tals mas acabou ficando mais do que eu imaginei. Acho que desabafei muita coisa das minhas madrugadas bebadas em casa NSUAHHSAUH tense. Gosto da história, fazia tempo que não escrevia nada. Espero que acompanhem a longfic também ^-^