Uma Prova de Amor escrita por Lauren Reynolds, Jéh Paixão


Capítulo 15
Capítulo 13 - Josh Cullen




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Capítulo 13 – Josh Cullen

This Love – Sarah Brightman

Edward

Minha mãe suspirou profundamente e ficou em silêncio, comeu tranquilamente seu croissant; por um instante perguntei-me se ela iria falar-me sobre meu irmão ou não. Entretanto, ela sorriu singelamente, bebeu um gole do suco de laranja e então começou:

- Seu irmão estava em Oxford, no final de um expediente, quando uma menina de 13 anos chegou ao escritório dele. – Isabella, pensei. – A menina estava sozinha e trazia consigo uma pasta, com vários arquivos. Ela lhe disse que queria sua emancipação médica. Josh estranhou uma menina de 13 anos falar tão bem sobre algo tão complicado, então ouviu o que ela tinha a dizer.

“A menina, Isabella Swan, contara que tinha uma irmã mais velha, de dezesseis anos, sua irmã chamava-se Emma. Quando Emma nasceu ela já foi diagnosticada com uma diferença na quantidade de glóbulos vermelhos e, dois anos depois a menininha fora diagnosticada com leucemia. Então, os pais de Emma fizeram uma combinação genética para gerar a menina perfeita, que salvaria a irmã.” Minha mãe suspirou.

Eu não interrompi, embora não quisesse saber sobre Isabella, mas sabia que ela estava intimamente ligada a nossa família. Tomei outro gole do suco e continuei ouvindo que minha mãe dizia:

- Depois que Isabella nasceu ela foi submetida á vários tipos de tratamento, ficou internada inúmeras vezes e acabava por ficar doente mais fácil do que qualquer outra criança. Então, anos depois, sua irmã, Emma, até então com dezesseis anos, teve de ser internada ás pressas, pois um de seus rins começaram a diminuir as funções e, em poucos dias iriam parar. Nessa época Isabella tinha treze anos. Ela foi ao encontro de Josh.

“O pedido era simples, dar a ela a emancipação médica. Seus pais se rebelaram e acharam que ela estava matando a irmã. O caso rolou por mais dois anos, até que Emma era maior de idade e pôde falar por si mesma. Infelizmente não pôde ir a um tribunal, pois estava debilitada, assim, a Juíza fora ao seu quarto e ouvira o depoimento. O caso foi a julgamento e então a juíza entrou em recesso, para que o veredicto pudesse ser decidido.

“Naquela noite, Emma morreu nos braços da mãe, dormindo, silenciosa, sem dor. Na mesma noite, seu irmão sofreu de uma crise epilética e bateu com o carro numa árvore, só que essa árvore não sustentou o peso do carro e caiu numa das ribanceiras, batendo em outras árvores, massacrando seu irmão. A epilepsia foi só uma das causas; os legistas disseram que ele estava vivo quando o carro finalmente parou, uma lesão na sua medula impedia que ele se movesse, e uma perfuração num órgão fez com que ele morresse por causa de uma hemorragia interna.

“No dia do enterro de Josh, Isabella estava com os pais. Foi seu pai quem entregou a ela um envelope com os resultados do caso. Ela havia ganhado a emancipação médica e não pôde dar qualquer explicação aos pais, porque eles a deixaram lá e foram embora.”

Enxuguei algumas lágrimas.

- Você ficou muito abalado, não quis ouvir durante todos esses anos. Nós tentamos te contar. – Minha mãe sentou-se do meu lado e enxugou uma lágrima que insistia em escorrer pelo meu rosto. – Josh havia nos pedido para não contar a você sobre a epilepsia, Edward. Ele tinha crises muito eventuais, e naquela noite teve uma.

- Eu...

- Isabella não é a culpada pela morte dele e nem pela morte da irmã.

- Por que? – Perguntei.

- Porque Emma havia pedido para ela fazer aquilo. Se Isabella doasse um rim e metade do seu fígado, ela ficaria doente e dependeria de medicamentos pelo resto da vida. E sua irmã não iria sobreviver a cirurgia. – Minha mãe dizia, com lágrimas nos olhos. – Josh não cobrou nada pelo caso de Isabella, ele nos dizia todas as noites que sentia pena dela, que não era justo o que ela estava sofrendo. Que era difícil para ela, porque ela amava a irmã, que queria fazer o certo, mas que amava os pais também.

“Depois que Isabella foi abandonada, ela foi levada ao orfanato e com a ajuda dos funcionários e do padre da capelinha, ganhou algumas roupas, foi sendo educada junto com aquelas crianças e passou a cuidar de todas elas. Quando fez dezoito anos saiu de lá e alugou um pequeno apartamento num bairro simples aqui em Londres. Até então, quando ela transferiu sua faculdade para cá, nunca soubemos dela, seu pai tentou achá-la, mas não conseguia. Quando ela chegou no escritório dele e disse seu nome, ele soube imediatamente quem era ela, e ela soube quem era ele.

“Isabella passou maus bocados, Edward. Não precisa da sua pena, nem da sua caridade, nem do seu dinheiro. Ela só precisa de alguém que entenda o que ela fez, que a perdoe por isso e que esteja ao lado dela.”

- Ela tem Alice. – Falei.

- Ela tem a melhor amiga que foi encontrada pelo padre, com dez anos, num manicômio abandonado. A mãe era louca e tinha cuidado da filha lá dentro, porém morreu de causas desconhecidas. Então foi mandada ao orfanato. – Minha mãe sorriu. – Sim, ela é uma boa amiga. Mas não se engane, Isabella só é forte por fora. Ela precisa de você, para ajudá-la com a Jane. Porque ela acha que estará fazendo algo que não pôde fazer.

Deixei minha cabeça pesar e, junto com ela, senti o peso na consciência.

- Eu havia dito coisas horríveis a ela. Eu disse a ela que ela matara a irmã e meu irmão. Ela me contou que tinha sido abandonada, mas eu não ouvi. – Passei os dedos entre meus cabelos. – Eu fui horrível, hipócrita, egoísta.

- Você perdeu seu irmão, seu ídolo, porém você não o viu sofrer, Edward. Bella viu a irmã sofrer por muitos anos, e sabe-se mais o que ela viu e não nos falou. – Minha mãe sibilou.

- Obrigado, mãe. Desculpe pelas coisas horríveis que eu te disse, que eu fiz. – Ela me abraçou.

Como há muito tempo, eu chorei, mas dessa vez não foi de tristeza, foi apenas um desabafo, foi pelo peso na consciência, foi pelos erros, foi por tudo o que eu deveria ter feito e não fiz. Chorei pelo meu irmão, por meu pai, minha mãe, por Emma e por Bella. Chorei como uma criança que recebe a notícia da morte de um animalzinho de estimação; chorei feito um bebê nos braços da minha mãe.

Manchei o robe dela com minhas lágrimas, senti os dedos dela fazendo carinho em minha nuca e sua mãe afagando meus cabelos. Ouvia suas palavras de consolo em meu ouvido.

- Por que não nos arrumamos e saímos para almoçar? Receio que você queira conversar com alguém, certo? – Ela falou, com a voz suave, cheia de ternura e carinho, que eu me negara a sentir durante os últimos cinco anos.

- Você está bem? – Perguntei a ela, receoso.

- Sim, querido. Obrigada.

Uma hora depois eu estava dirigindo o volvo. É incrível o poder que as palavras têm; é incrível o poder que elas exerciam sobre mim, considerando toda a conversa que eu tivera com minha mãe, e considerando a conversa que eu teria com Isabella, talvez elas pudessem ter um efeito melhor ainda. Na verdade, eu esperava que ela me perdoasse.

Era o meio do dia de segunda-feira, o trânsito estava ligeiramente lento e muita gente entrava e saia das estações de metrô espalhadas pela cidade. Demoramos mais do que o esperado para chegar ao hospital, mas eu tinha certeza que nem meu pai e nem Isabella tinham saído para almoçar.

Deixei o carro na garagem, no primeiro andar do subsolo e peguei o elevador privativo e, em menos de cinco minutos estávamos caminhando em direção ao escritório do meu pai, na ala de oncologia. Bati na porta e um “entre” soou. Quando ele nos viu, sorriu, surpreso.

- Isso é novidade. – Ele riu.

- Vamos almoçar querido? Receio que Isabella precise de um tempo maior de almoço, certo, Edward? – Minha mãe insinuou.

- Sim. – Assenti.

Nos despedimos e eu andei pelos corredores, em busca de Isabella. Visualizei a silhueta de Isabella em um dos quartos, Aproximei-me da parede de vidro, meio fechada pela persiana e olhei entre os vãos da cortina. Vi uma cena que me comovia como algo nunca havia me comovido antes. Isabella estava abraçada a uma menina que chorava em seu ombro. Uma menina careca.

Esperei em frente ao quarto por mais alguns minutos. Meu coração estava acelerado de antecipação. Quando me dei por conta, ela estava saindo do quarto e parou em frente a mim.

- O que houve?

- Vamos almoçar? – Perguntei.

- Está fazendo caridade? – Não respondi. Continuei encarando-a. – Certo, desculpe. Me dê alguns minutos. Já volto.

Continuei num dos bancos daquele corredor enquanto ela não aparecia. No quarto, a menina sem cabelos continuava a chorar, agora, abraçada a uma senhora, que imaginei ser sua mãe.

- Então, aonde vamos? – Ela perguntou.

- Num lugar diferente. – Respondi, guiando-a em direção ao elevador privado.

Durante os vinte minutos que levamos entre o hospital e o restaurante, não falamos absolutamente nada.

- Então, o que aconteceu? – Ela perguntou.

- Me desculpe. – Disse.

Isabella encarou-me. Sentia como se seus olhos castanhos queimassem sobre minha pele e como se meu rosto fosse derreter de tanta culpa que eu tinha. Eu pouco sabia sobre como entender outras pessoas, mas sobre Isabella, eu parecia entender que aquilo seria importante para ela.

- Minha mãe me contou tudo. Perdoe-me por dizer que foi você quem matou sua irmã e meu irmão. Sua irmã já estava fadada aquilo... – Escolhi cuidadosamente as palavras. – E meu irmão foi uma fatalidade.

Ela continuara em silêncio.

- Obrigada. – Disse de repente, derramando algumas lágrimas. Bella pegou o guardanapo e passou cuidadosamente sobre seus olhos, enxugando-os. – Nós dois perdemos alguém.

- Sim, eu sei. Me desculpe, mesmo. É só isso o que eu tenho dito nesses últimos minutos, mas eu realmente me sinto péssimo, Bella. Eu não sou um crápula, sabe. Eu era diferente antes de tudo. Vamos recomeçar, ser amigos, trabalhar juntos pelo caso da Jane. – Sorri. – Achei que ela não fosse resistir aquele dia.

- Mas resistiu e vai sair de lá e voltar para a Itália. – Bella dizia confiante. – Entretanto, você não fez isso por mim ou por você, não é?

- Eu sou tão fácil de ler?

- Não. Mas você não viria se desculpar e ultrapassar seu orgulho só por você ou só porque você me deixou extremamente magoada. – Ela deduziu.

- Você está certa. – Sorri. – Fiz por meus pais. Carlisle não merece ter que me ver definhar e Esme...

- Esme é doce demais e não merece voltar para seus remédios anti-depressivos.

- Como-

- Isso é evidente. – Ela deu uma garfada no ravióli de cogumelos. – Obrigada pelo almoço.

- Não tem de quê, afinal, fazer caridade é uma das minhas qualidades. – Disse com um tom zombeteiro.

- Claro, claro, Cullen. Só porque eu te desculpei, não significa que eu tenha te perdoado e nem que eu confie em você. – Ela respondera.

- Sim eu sei. – Sorri em agradecimento.

E agora, mais que antes, Isabella Swan me intrigava. Era diferente de todas aquelas garotas estereotipadas. Não se convencia como a maioria delas, não se deixava abater por qualquer coisa que ouvia. Aquela garota, eu tinha que admitir, tinha a tão falada beleza interna. Então, depois de chegar às inúmeras conclusões sobre Isabella Swan, eu me perguntava: Eu ainda seria o canalha que fui outrora, ou tentaria ser diferente?


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