Cisne Negro escrita por AgathaBastos


Capítulo 1
Cisne Negro


Notas iniciais do capítulo

Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente.- William Shakespeare



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                        Ela andava pela rua com seu protótipo de nicotina entre os dedos da mão direita. Havia terminado de passar por uma viatura policial, várias vieram depois. Andou mais devagar, ajeitou seu sobretudo e abriu o guarda-chuva. Poderia sentir o cheiro de sangue que logo seria diluído pela vindoura chuva.

                        Jogou seu cigarro no chão e pisoteou-o com força brutal, virou à esquerda em um beco escuro. Grandes caixas de lixo se espalhavam aos cantos daquele estreito lugar. Um mal-cheiro entranhava seu nariz, mas isso pela primeira vez não adiantou. Sabia que teria de matá-lo logo, o monstro dentro dela, estava a consumindo. Virou a palma das mãos para cima, e viu nela a marca de um crime cometido. Sangue. Jogou no chão o sobretudo, deixou-se lavar pela água da chuva. Lembranças invadiram sua memória com irrestrita violência.

- Eu estou afundando, sozinha. Não faça isso, não comigo.

                        Sua mente doía, o corpo estava a esquentar-se por dentro. Mexia as mãos abrindo e fechando os dedos. Os últimos momentos tinham sido igualmente bons e ruins. Mas principalmente mortais. Não precisava, mas queria lembrar de todas as cenas, dos seus pecados.

- A culpa é sua, inteira e somente sua.

                        Estava olhando-o de cima, uma visão privilegiada. Jorrava sangue de seu pescoço. Ele tentava desesperadamente alcançar seu celular quando ela o pegou. Olhou para ele com toda sua glória e sorriu. Como sempre costumava sorrir, mas esse era um sorriso melhor, era sádico, doentio.

- Ah...

                        Ele tentava pronunciar algo patético. Nunca saberia o que era, mas com certeza era patético. Agachou e olhando fundo nos seus olhos, pegou sua mão e pôs nela um papel amassado pela angústia. E o observou abrir o papel, e com rapidez, e tremenda suadeira ler o que estava nele escrito.

- Lembra daquela noite, bem, esse foi o fruto dela. O fruto que eu, prometi cativar, para que somente você pudesse comê-lo.

                        Com o telefone na mão, ligou para a emergência relatando algo como um assassinato. Ele já estava morto. Sabia que haveria tempo de fugir. E sem pressa pôs o celular em sua mão e fechou seus olhos com os indicadores. Sumiu entre os milhares de carro, saiu pela porta da frente, sem nenhuma desconfiança.

                        Tirou a faca de dentro do cós da calça. Ainda recheada de sangue. Sangue-ruim. Pressionou-a entre as duas mãos e apontou-a em direção ao peito.

- E eu provei do fruto que cultivei para que comesses, no momento em que o ódio tomou meu controle. Uma vez acordado, só poderei adormecê-lo ao matar seu objeto.

                         “Não faça isso, não me mate. Eu alimentarei tudo isso dentro de você, seu ódio. Com seu amor poderia construir uma nação, mas com meu ódio eu posso ajudar-lhe a derrubar o mundo.”

                        O Cisne Negro dentro de si gritava por uma chance. Por uma vida que só ela poderia lhe dar. Muitos Cisnes Negros viriam depois, corroer almas, matar pessoas e destruir vítimas. Mas ela não queria fazer parte disso, já havia cumprido seu papel, teria de assassiná-lo agora, para poder enfim, passar para a próxima etapa.

                        Uma etapa, assim encarava a morte. A idéia de um inferno ruim era ridícula em sua cabeça, já havia ido para o inferno vezes o suficiente para saber que lá, só os fracos sofrem, e os fortes como ela, lá encontram o seu céu.                 O céu vermelho do encontro entre a lua e o sol.

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- Foi assassinado hoje o importante executivo Josh Water, dentro de um estacionamento de um motel que freqüentava costumeiramente. Os funcionários não nos deram detalhes, mas na cena do crime foi encontrado um papel manchado de sangue com as seguintes palavras “Que monstro você me transformou, me fez mentir, enganar, fingir e machucar. Mas agora, eu agradeço por tudo, e fique sabendo, que esse demônio que despertou em mim, foi o grande responsável por esse seu grande fracasso.” Aqui é Dianna Harley para o Jornal Noturno.


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Notas finais do capítulo

Review? =D



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