Um sussurro. Um pequeno barulho quase inaudível – era o que a garota podia ouvir.

   Envolta da escuridão, não podia dar um passo sem a incerteza de que estava indo para o caminho certo – isto é, se tivesse algum caminho para seguir. Entretanto, seguiu em frente, um pouco vagarosa, mas depois se acostumando, até chegar a andar normalmente, sem preocupações.

   Como parou ali? O que tinha antes daquela escuridão? Não lembrava. Só pensava em andar. Quem sabe encontrasse algo interessante no final.

   Depois do que pareceu dias, finalmente avistou algum ponto de luz. Curiosamente, o pequeno ponto ia para lá e para cá, como se estivesse dançando sem algum apego. Também, não se ouvia nenhuma música por perto. Só o escuro e o silêncio.

   Mas para o espanto da jovem, um alegre riso infantil começou a ecoar no lugar, que lhe pareceu assustador, dado as circunstâncias que se encontrava no momento. E a luz já não era uma luz, mas sim um vestido de manga larga simples e branco, que uma criança de aparência vazia – graças aos seus olhos opacos – vestia.

   A pequena dançava e dançava, embora cada vez mais lentamente, e o riso que ecoava na escuridão ficava cada vez mais baixo, trocando de lugar com murmúrios diversos, tão rápidos que era difícil de entender o que estava sendo dito.

   Então, a garota observou a dançarina ficar triste, falar algo como "não é com você que vou dançar desta vez", e, repentinamente, ser puxada por ela. Em poucos segundos, uma luz forte cegou seus olhos, e ela teve que fechá-los para continuar.

   E ao abri-los, estava em uma cama de Hospital, com diversas flores – algumas até datavam o mês passado. Uma enfermeira distraída correu para avisar os médicos o que havia acontecido. A garota, que não entendia nada, recebeu explicações adequadas de todos logo depois: ela passou por um acidente de trânsito grave, e ficou em coma até então. E neste dia, estava marcado para desligar as máquinas que a mantinham viva.

Ela havia escapado da morte.