Sem pensar eu puxo o gatilho.

Fecho os olhos e ainda posso ouvir a respiração do menino. Será que fiz a coisa certa? Finalmente abro os olhos. Deparo-me com o garoto no chão me olhando assustado. Paraliso, não existe nenhum sinal de sangue nele. Olho para a arma, oque será que eu havia feito de errado? O menino sorri e começa a se levantar. Eu não penso afinal não existe oque pensar, então simplesmente corro mata adentro ignorando os pedidos dele para que eu volte e suas promessas que não me faria nenhum mal. Vocês podem até me chamar de doida, mas me chamariam de idiota caso eu ficasse e morresse.

O caminho era difícil, pois havia muitas arvores e o chão estava molhado provavelmente por causa da chuva que acabava tornando o caminho solido em uma grande poça de lama. Eu escorregava ali e tropeçava ali, mas me recusava a parar.

-Thalia!- Eu podia ouvi-lo gritar em algum ponto atrás de mim.

Ele estava próximo, me esforcei para correr mais rápido, mas minhas pernas mal aguentavam. Onde estava aquela menina que participava de protestos e vivia em guerra contra os EMOS e os Skinheards? Eu não sabia.

O psicopata já estava no meu campo de visão, apenas a alguns metros de mim. Lutei contra qualquer impulso de parar e me render e tentei acelerar, foi um grande erro. Perdi o controle e cai na lama rolando barranco abaixo.

-Thalia!- Os olhos azuis desesperados do menino e sua voz grossa e firme foi a ultima coisa que ouvi antes de apagar.

Annabeth andava de um lado para o outro, inquieta, todos já haviam ido. O enterro havia acabado e o desespero havia tomado conta, Luke, Nico e Jason, o sobrinho de Frederick, haviam ido atrás de Thalia, mas nenhum deles retornará.

-Quer que eu vá atrás deles?- Se ofereceu Percy pela terceira vez.

-Não Percy, daqui a pouco eles estão ai- Silena falou em uma tentativa fracassada de acalmar todos.

-Eu vou atrás deles- Annabeth falou indo em direção à porta, mas Percy a impediu segurando seu braço.

-tá maluca? Já está tudo escuro!

-Ela é minha irmã- Annabeth bufou.

-E dai? Acha que faria o mesmo por você?- Percy perguntou.

-Percy eu não sou como você, eu me importo com as pessoas- Annabeth falou e abriu a porta dando de cara com Nico, que estava totalmente molhado.

-Nico!- Silena gritou assustada com a aparência do amigo. Ela correu para abraça-lo, mas desistiu assim que sentiu seu cheiro.

-Oque aconteceu?- Percy e Annabeth perguntaram juntos.

Nico sorriu e entrou na casa sem se importar com as pegadas de lama que deixava no carpete da sala.

-Eu Jason e Luke achamos melhor nos separar, não achei nenhum deles- Nico fez uma pausa pegando um copo com chá sem se importar de quem era e passou a tomar e então continuou- E  um bode maluco apareceu e me jogou na lama- Nico cheirou suas roupas e sorriu- Bom eu acho que não era lama.

Silena fez uma careta e se apresentou para levar Nico até o banheiro. Ela sabia que Percy e Annabeth tinham assuntos a tratar.

-Se eu não me importasse com as pessoas não estaria aqui- Percy murmurou abrindo a porta e saiu ignorando a forte chuva.

Annabeth o seguiu.

-Não finja que veio até aqui por minha causa!

-Então por que acha que eu vim?- Percy virou-se para encarar Annabeth. Seus cabelos pretos molhados agora grudavam em sua testa, mas isso o fazia parecer ainda mais sexy.

-Vai fingir que não sabe? Você veio por causa do testamento-Annabeth gritou.

Percy balançou a cabeça negando e começou a caminhar até Annabeth. Sua expressão era de indignidade.

-Você acha que quero dinheiro? Eu não voltaria para esse lugar nem por todo o dinheiro deste mundo! –Percy levantou os braços indicando o lugar a sua volta- Eu perdi minha família aqui, você sabe quantos momentos ruins passei aqui. Eu jurei que não voltaria aqui nunca mais!

-Eu ficaria feliz se tivesse mantido seu juramento- Annabeth falou com dureza se virando. Percy segurou seu braço- Me solta!- Annabeth gritou balançando o braço tentando se soltar.

-Eu aprendi a quebrar minhas promessas pelo oque vale a pena, Annabeth. - Percy falou soltando-a. Annabeth abaixou a cabeça e neste momento Percy percebeu a besteira que havia dito.

-Bom saber isso Perseu- ela respondeu entrando em sua casa batendo a porta com força. Ela trancou a porta assim que entrou, ela não queria ver a cara dele. Nunca mais.

“Eu aprendi a quebrar minhas promessas pelo oque vale a pena, Annabeth.” Isso respondia todas as suas duvidas, todos os seus problemas. A faculdade, a carreira que ele sonhava ter era mais importante que ela. Como ela podia ter sido idiota a ponto de pensar que era mais importante.

-Não foi por isso meu anjo- Annabeth ouviu a voz de seu pai disser- ele apenas percebeu que era pouco demais pra alguém como você...

Annabeth olhou para a poltrona de seu pai e simplesmente podia vê-lo ali, como sempre antes de morrer, com sua postura exatamente perfeita e sua xicara de chá escrito “aqui bebe o melhor pai do mundo” Ela havia dado aquela Xicara para ele. Lagrimas brotaram de seus olhos. Se ele estivesse ali nada disso teria acontecido. Percy não estaria aqui, nem mesmo Silena nem Thalia. Ela provavelmente estaria feliz em sua vida miserável. Ela olhou de novo para a poltrona de seu pai. Ele ainda estava ali. Ela podia sentir. Ela podia vê-lo.

-Por que você tinha que me deixar?- Ela perguntou olhando para o seu pai. Seu pai de sua imaginação.

-Querida, eu nunca quis deixar você. – Annabeth balançou a cabeça talvez aquela voz fosse imaginação dela, mas ela não se importava em conversar com a sua imaginação.

-Por que não volta pra casa?- Ela perguntou, mas seu pai havia sumido e ela estava sozinha com sua imaginação turbulenta. Não, ela não estava sozinha, atrás dela se encontrava Percy Jackson paralisado a encarando.

-Quer que eu volte para casa?- Ele perguntou, sua voz era mais calma, um tanto quanto doce.

-Não- Annabeth simplesmente respondeu subindo as escadas e em sua cabeça ouvindo a voz de seu pai dizendo que ela ainda amava Perseu Jackson, mas que eles jamais ficariam juntos novamente.

“A cama do hospital era macia” foi o primeiro pensamento de Thalia ao se dar conta que estava viva e em um hospital. Ao lado de sua cama estava o mesmo garoto, ele estava com um livro preso entre seus dedos e sua cabeça apoiada na poltrona em um sono profundo. Ele era diferente do garoto que estava atrás dela. Ele não tinha cicatriz no rosto, seus cabelos eram ainda mais louros que o do outro garoto e uma testa maior que o “psicopata”. Seu segundo pensamento foi como ela havia aparecido ali, será que este jovem a havia encontrado e a salvado? Será que o carinha não era um psicopata?

Thalia se levantou e observou melhor o menino, o livro não tinha nenhum titulo interessante, o garoto tinha também uma carteira. Ela achou um RG e uma carteira de motorista. O nome do menino era Jason Grace, oque fez com que Thalia se assustasse, por que eles tinham o mesmo sobrenome? Coincidência? Em sua foto o garoto tinha olhos azuis idênticos ao de Thalia, azuis elétricos, ameaçadores.

Um pensamento sombrio lhe ocorreu, será que os dois eram irmãos? Ela tinha olhos azuis, sua mãe olhos castanhos e seu pai olhos azuis claros, ela sempre havia acreditado que havia um tipo de mistura entre as duas correr tornando seus olhos assim, mas e se não fosse?

Thalia abriu a porta e olhou o corredor, seu pé e sua cabeça doíam de uma forma inexplicável. Ela conhecia o hospital. Achou o quarto que tanto precisava encontrar. Sua mãe paralisou quando a viu.

-Não esperava que eu viesse?- Thalia perguntou fechando a porta do quarto, sua voz não tinha um pingo de amor.

-Sinceramente, Não – respondeu Ava.

-Eu tenho um irmão?- Thalia nunca foi de cerimonia ela sempre ia direto ao ponto.

-Isso realmente importa?- Ava retrucou olhando para a TV.

-Pra mim importa- Thalia estava se segurando para não gritar, pois sabia que logo eles podiam chamar os guardas e tiraram-lhe dali.

-Talvez você tenha, por que eu tenho que saber isso?- Ava mudou de canal.

Thalia estava furiosa.

-Porra será que da pra uma vez prestar a atenção em mim?

-Se eu te disser a verdade você não saberá lidar com ela, afinal você nunca sabe lidar com a realidade.

-a realidade que minha mãe é uma vadia? Bom eu sempre soube como lidar com isso.

Ava riu.

-Indo pra cadeia?

-Lutando pelo oque eu acredito- Thalia a corrigiu.

Ava apenas assentiu.

-Eu tenho um irmão?- Thalia repetiu.

-Talvez, como posso saber?- Ava muda novamente de canal. Ela não tem coragem de encarar a filha.

-Frederick é meu pai?- Thalia pergunta tentando manter um tom de voz autoritário como se ela mandasse na situação.

Ava ficou em silencio por um tempo analisando a TV. E então enfim respondeu.

-Não, Frederick não é seu pai.

Thalia se manteve de boca fechada esperando mais detalhes que não veio por isso continuo a perguntar.

-Quem é meu pai?

Ava mudou novamente de canal e coçou uma das pernas.

-Uma vez que você souber a verdade, jamais conseguirá esquece-la- Ava falou desligando a TV.

Thalia se sentou na poltrona ao lado da cama da mãe e se debruçou sobre ela.

-Conte-me tudo.